segunda-feira, 31 de dezembro de 2012


Retrospectiva 2012



Nossas expectativas no ano que se finda foram até certo ponto satisfeitas, tudo que está aí para ser consumido à vontade, basta ter grana que, pouco ou muito, todos que trabalham têm. O Brasil que eu pensava jamais voltar ao tempo do pleno emprego me surpreende. Felizmente filhos e netos estarão garantidos. Bem verdade que impomos sacrifícios à natureza e a nós mesmos, que vivemos hoje num outro mundo, virtual, em vários sentidos. O mundo real um espelho, que reflete  uma imagem pouco condizente com nossa humanidade.
Sabemos quão grandes os desafios a enfrentar nos próximos anos, herança do ano que se finda, surpreendente a barbárie que nunca deixa de acontecer. A cada passo para frente parece que temos de retroceder, o que requer força redobrada, busca constante, paciência infinita. Temos de estar preparados. Ter consciência disso já é de grande importância. Refletir sobre nossa condição presente e nos preparar para o que vem. Parece que o melhor e pior já aconteceram, experiências que podem ajudar na nova caminhada para uma vida mais humana e feliz. Não percamos as esperanças.
Dizem por aí  que o próximo ano não vai ser mole, estamos num crescendo assustador de desastres, é só olhar para trás e sentir o que nos aguarda. Os adivinhos a preverem horrores para 2013, e espero que eles estejam longe de acertar. Desastres naturais sempre ocorrem, e não se descarta nova tragédia em alguma usina atômica e outras coisas possíveis de acontecer. Precisamos da energia atômica, e temos que correr o perigo. Pagamos caro por tudo de que precisamos, e que está a nosso dispor.
Os saltos que o progresso dá e também o sobressalto que temos de suportar para gozar das benesses nunca dantes experimentadas. Rompemos a barreira da ignorância científica e tecnológica, por milênios andando a passos de cágado, que salta como canguru no presente, e pode virar um cavalo saltador daqueles de parque de diversões, onde ninguém consegue ficar na sela sem cair estatelado no chão. Mesmo assim, todos saem contentes do brinquedo por ter experimentado da brincadeira. Eta mundo bão!
O brasileiro de um modo geral mais instintivo que racional, principalmente na política. Os brasileiros, diferente de outros povos, não se dividem entre liberais de um lado e conservadores do outro, certamente devido a nossa colonização, da qual evoluímos para uma nação livre. Nossa liberdade medida pela alegria e descontração, que nos faz acreditar no futuro de paz e prosperidade, mesmo nos faltando mais sobriedade e responsabilidade. O carnaval e o futebol promovem a felicidade do povo, e fazem propaganda do país lá fora, às vezes de modo inadequado.
Não somos tão bobos, bonachões, como dizem. Tem aquele que carrega o piano  e o que toca o instrumento, cada um  com talento e preparado para o ofício que exerce. Os que pensam que a vida é um mar de prazeres estão equivocados. Os seres humanos iguais na essência, segundo  a lei divinas e da natureza, resguardados a garantia dos direitos e deveres para todos, de acordo com o que foi estabelecido pela sociedade brasileira, em obediência à Constituição. No ano que passou a justiça no Brasil solenemente garantiu sua supremacia, punindo exemplarmente a corrupção.
Sejamos otimistas, a tecnologia se causa algum mal recorrente, ela nos livra de maiores catástrofes, que acontecem sem que se possa prever, diante das quais temos a nosso dispor desde  vacinas até radares, o mundo todo conectado, numa globalização virtual sem precedente. Não teríamos do que nos queixar. Mas as coisas não são tão simples assim, e não adianta consultar os astros nem recorrer ao outro mundo, pois a solução está diante de nós, da nossa inteligência, da nossa boa vontade, do esforço constante para superar as dificuldades usando a razão, tendo fé em Deus.

              

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012


                             NEM TUDO VALE A PENA 


       Saber o que vale ou não a pena é dilema na atualidade. Às vezes parecemos crianças, a cada momento tendo de escolher uma coisa ou outra, decidir entre isso ou aquilo, um verdadeiro manancial de ofertas que quase nos tira a razão. Tudo que se põem diante dos nossos olhos, do nosso desejo, que se torna também ilimitado, quase incapacitados de distinguir o certo do errado, o que nos convém ou não, o que é bom e o que não presta. Ainda bem que não se pode ter tudo. Devemos saber de antemão que muita coisa não vale a pena. Pior que não poder ter tudo, ou mesmo ter muito pouco, é fazer escolhas erradas. Além do mais, o que é bom para uma pessoa pode não ser para outra. As escolhas certas é que nos ajudam a viver melhor. Daí se ter de decidir de modo correto o que ter e não ter, o que fazer ou não fazer. 
    A razão deve comandar a vontade. A filosofia moral de Immanuel Kant distingue duas maneiras de a razão comandar a vontade, dois tipos diferentes de imperativos. O imperativo hipotético, sempre condicional, para atingir determinada coisa, e o imperativo incondicional, categórico, que tem sintonia com a razão, fundamentada na moralidade. A razão para Kant é eu ser livre para agir a partir de um imperativo categórico, ou seja, não em interesse próprio, arbitrário. Por exemplo, eu não devo fazer promessa que de antemão não possa cumprir. Sobre o sexo Kant enfatiza a diferença entre a ética do consentimento ilimitado e uma ética do respeito pela liberdade e dignidade dos indivíduos. A autonomia kantiana exige mais do que o consentimento baseado nas decisões individuais. 


        O valor das ações dos seres racionais, que têm dignidade como tal. Somos verdadeiramente livres quando agimos de acordo com a lei moral e universal, quando escapamos dos ditames da natureza e das circunstâncias. Para Kant ser livre é exercer a vontade, fazer escolhas, a partir de princípios não empíricos, ou seja, do domínio inteligível e não do sensível. As ilusões descabidas saem do campo da inteligência para atuar no da incongruência. Já o filósofo utilitarista John Locke, que foi o primeiro a falar do direito da pessoa desde o nascimento, diz: “Todos somos, por natureza, livres, iguais e independentes, situação da qual ninguém pode ser excluído dessa situação e submetido ao poder político de outros sem que tenha dado seu consentimento.” Do lado de Kant, Michael J. Sandel, no seu livro “Justiça”, descarta o consentimento individual de Locke, argumentando que “a autonomia kantiana exige mais do que o consentimento baseado nas decisões individuais, pois não somos apenas um amontoado de preferências e desejos.” 
      As frustrações, desilusões, ódios, que não foram dominados, podem nos levar a agir irracionalmente. Locke inspirou a Constituição dos Estados Unidos, e seu individualismo autônomo nos faz pensar nos massacres ocorridos naquele país, de jovens que invadem escolas para matar outros jovens, até crianças, por acharem que lhes foi negado direitos individuais, mentalidade arraigada nos americanos. Todos com direito de usarem armas para defesa pessoal, individualistas ao extremo, que caçam e são caçados, como se fossem bichos, e não seres humanos. Sem a moral de Kant, a liberdade preconizada por Locke pode ser mal interpretada. Como doeu ver aquele ser tresloucado matar crianças inocentes que fugiam apavoradas sem saber o que acontecia na escola, onde estudavam para ter um futuro. As armas utilizadas pelo assassino eram altamente destruidoras, que a própria mãe colocou nas mãos do filho, por quem foi morta friamente. Pais americanos adeptos das armas que se comercializam livremente no país, um estímulo à violência. E perguntamos: Vale a pena ter armas em casa, mesmo para se defender?
     



terça-feira, 25 de dezembro de 2012



                                     CRISTIANISMO E CIVILIZAÇÃO 



    Para os religiosos - cristãos e de outras crenças - o mundo foi criado por Deus, que deu aos seres racionais o livre arbítrio, concedendo-lhe uma alma propensa para o bem, mas sujeita à tentação do pecado, cuja salvação vai depender da fé (os protestantes) ou das ações (os católicos). Todas as pessoas iguais perante o Criador, também, diferentes. Há os que se salvam pela fé, e os que se perdem, o que constitui um grande desafio para a humanidade, desde o primórdios da civilização. De um lado o universalismo religioso e cristão, fator civilizatório, que une as pessoas e do outro o secularismo ateu que as separa. A secularização com poder de acentuar as diferenças. 
   No contexto secular está descartado o fator religioso, somos indivíduos políticos, com direitos e deveres, autônomos. As soluções são apenas racionais, a humanidade preparada para resolver os problemas humanos físicos e emocionais, com decisões individuais e políticas sociais adequadas ao homem moderno, tecnocrata. Como explicar, então, tantas práticas religiosas no mundo que se diz pós-religioso? Uma espécie de desafio à própria razão. Como diz Pascal, “o homem tem razão que a própria razão desconhece.” A razão de ser da fé religiosa, que é a união das pessoas para dar um sentido à vida, superior á busca pela satisfação apenas dos instintos primários. Os povos pagãos com vários deuses, a identidade das pessoas ligada à religião que professava cada grupo, cada família. 
    Os hebreus, de fé monoteísta, escreveram o livro extraordinário que é a Bíblia, a base para o cristianismo ocidental, a princípio um pequeno e obscuro culto de perseguidos. Um dos perseguidores dos cristãos o judeu ortodoxo Paulo, responsável pela morte de Estevão, convertido a caminho de Damasco, após o que deu contornos à fé cristã para que se tornasse universal, adotada por Constantino para unir o Império, resolvendo a grande tensão entre romanos e não romanos. Ele não quis ser Deus, como os outros imperadores, e sim o eleito de Deus, a quem devia obediência. O Ocidente seria civilizado pela fé cristã, e muita água havia de correr por baixo da ponte até que se consolidasse em bases tão firmes, duradouras. 

               FELIZ NATAL, PRÓSPERO ANO NOVO!

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012


                      A Casa



   Desde sempre a humanidade sonha com a segurança, quer ser feliz, para tanto ergue civilizações, casas, as melhores e mais seguras possíveis, mas que se findam, desmoronam. A pessoa individualmente também sujeita a essa fatalidade. Antes habitantes das cavernas, depois em frágeis tendas, o ser humano ainda sem maiores defesas contra as catástrofes naturais e assalto dos inimigos, que podiam ser animais ferozes ou o próprio homem. Em Jericó, a primeira vila urbana, as casas erguidas com tijolos, produto feito da mistura do barro e cal com a água, posto para secar ao sol, depois no forno, tecnologia aperfeiçoada ao longo dos tempos, até que surgiu o cimento para dar maior resistência às grandes construções, melhor acabamento. Tijolo por tijolo casas são construídas, tornaram-se símbolo da segurança, que existe na medida em que for utilizado material bom, adequado, no caso, a família, a educação o conhecimento, a fé, tijolos da casa feliz, afortunada. 
   Temos de entender que a felicidade não é um fim em si, mas a liberdade de erguer nossa casa, construir nossa vida, num lugar seguro, que nos proteja das intempéries. Tempestades, inundações, muita coisa mais pode acontecer de catastrófico, e temos de estar bem equipados para enfrentar, e não despreparados, com pés descalços e mãos vazias, soltos no descampado. Firmeza de atitude e de caráter o que mais ajuda para não deixar a casa cair, o barco ficar à deriva nessa viagem da vida, que tem seus perigos. E como manter o leme do nosso destino nas mãos? Uma luz está ali para nos ajudar, temos que acreditar nisso, é a consciência alicerçada no bem, para que nenhum chamado suspeito nos desvie da rota. Os amigos podem ajudar, e temos de reconhecer os que nos convêm, pois amigos inconvenientes, abusados, não vão faltar. Principalmente, acreditar em nós mesmos, ter humildade, sabedoria diante dos desafios. A mulher, por exemplo, que é esposa e mãe e ainda exerce uma profissão, desafio e tanto, que tem de enfrentar nos novos tempos. 
    Querer voar alto, muito alto, como uma águia, sem temer ir o mais alto e longe, é perigoso cair, sem nunca alcançar a tão sonhada vida feliz, nem de perto. Às vezes já somos felizes e não nos damos conta disso. O caminho a seguir está ali aos nossos olhos e preferimos arriscar uma felicidade passageira, picos que gelam nossa alma e pode quebrar nossos ossos, o que acontece se acreditamos como crianças imaturas apenas na diversão e no prazer. Nem nas histórias da carochinha a vida é sempre risonha e franca, pois elas nos ensinam a pensar, principalmente, que não se deve persistir no erro. Consertar a rota se for preciso, pois nem sempre temos consciência dos passos que damos, seguimos apenas um impulso imediato, ou o que nos leva para longe de nós mesmos. Primeiro aprender a distinguir o certo do errado e ter consciência a cada passo. 
    Se o mundo não foi feito para nós - o que é mais certo - temos a razão, que nos dá meios de comandar nossa vida, o que nos difere dos outros animais. Temos o livre arbítrio, que não é tão livre assim, por sofrer interferências, para o bem e para o mal, e quando damos conta entramos numa enrascada. A casa, erguida nesse mundo maravilho e cheio de novidades, coisas que avançam num tropel, querendo nos dominar. Inclusive, fazer a casa perder o sentido original. A tecnologia a seduzir pelo que oferece, mas se transformou numa nova modalidade de bruxaria, quase satanismo, a tomar o precioso tempo das pessoas, principalmente os desocupados de plantão diante da tela, livres, leves e soltos. Ainda tem gente que se queixa de tédio, e convenhamos o tédio não é tem ruim assim, pode acontecer para o bem nosso de cada dia. Só mesmo no inferno é que não há tédio, porque lá o desespero tomou conta de tudo. 
    Hoje dentro da nossa casa temos uma sedutora máquina que é o computador, veículo de informação e comunicação fácil, para ser monitorado dia e noite pelos pais das crianças e dos jovens, que perigam se comunicar de modo prejudicial. O computador, no entanto, veio para ajudar, mas aos que aprenderem a utilizar “a coisa” com racionalidade. E não façamos dele a casa, a família substituta.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012


A ALMA NÃO É PEQUENA


O potencial que tem o ser humano para  desenvolver alma e a mente não se pode mensurar, transcende a estrutura física que abriga energia tão extraordinária, psíquica e espiritual que anima a vida e guarda nossa ancestralidade de animal que evoluiu. Herança recebida ao sermos gerados, e nos faz evoluir sempre, até a morte, quando então o mundo acaba para nós, e nos tornamos remanescentes através dos nossos descendentes. O ser humano é o bendito fruto da evolução. Devemos ter consciência de que cumprimos um papel importante, deixando herdeiros diretos, ou não, pois marcamos nossa presença por onde passamos nessa vida.
O instinto de preservação faz com que a espécie permaneça existindo, como qualquer outra espécie animal. Os seres racionais, todavia, com potencialidade para desenvolver uma grande alma. Cristo foi essa grande alma. Como justificar então nossa alma tão pequena, depois dois mil anos de cristianismo e sete mil de vida civilizada? Parece que foi insuficiente para nos tornarmos seres evoluídos de verdade. Oscilamos esse tempo todo entre civilização e barbárie, um processo que não tem fim. A luta é constante.

Eis que fomos alertados para a chegada do fim do mundo, que estaria marcado para 21-12-2012, segundo o calendário Maia. Uma civilização extraordinária a dos maias, povos pré-colombianos, entre os séculos IV a IX a. C. Grandes matemáticos criaram o calendário para acompanhar ciclos solares e celebrações sagradas, estabelecendo com exatidão os 365 dias do ano, onde consta tal data fatídica que , na realidade, corresponde aos 5126 anos para fechar uma era, das várias eras que o mundo já passou, segundo os maias, erroneamente interpretados como profetas do fim do mundo. Não há fundamento científico para o mundo acabar, pelo menos tão cedo.
O certo mesmo é que entramos numa nova era. Trata-se da Era Digital, que nos trona povos não apenas citadinos, mas universais. O universo contido num tablet, que nos conecta com tudo e todos, coisa fenomenal. Mas temos que ter cuidado com o que nos é servido de bandeja, selecionado sabe-se lá como, sem questionamentos, numa velocidade assustadora. Parece mesmo o fim do mundo. Corremos perigo, sim, o que  depende de como vamos nos comportar diante de mudança tão radical. As mentes despreparadas, confusas, sem condição de digerir tanta informação, tirar bom proveito da virtualidade.
Podemos até rir do pavor que teve Sócrates com o fim da linguagem oral para a textual, salto que deu a civilização no passado, e que damos hoje da  textualidade para a virtualidade, sem medo de ser feliz. As mudanças, na realidade, tão radicais e rápidas que o cérebro humano vai ter de se adaptar na mesma medida. Assim a alma que tem de crescer em valores se não quiser perecer no infortúnio de um inferno interior.  Um novo ciclo, uma nova era está apenas começando, chance de engrandecimento humano, que não se torne apocalíptico.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012


                            MALDADE x BONDADE 

    Momento doloroso esse, em plena comemoração de Natal de 2012, um jovem nos Estados Unidos entra numa escola e mata mais de vinte crianças, além de professores, incluindo a mãe do próprio assassino. Temos que falar na maldade que existe e se torna corriqueira nos últimos tempos de massacres em escolas, parques e etc. Essa maldade extrema é o fim de um processo. Pessoas que passam a agir de modo estranho, a maldade como que fazendo morada em suas almas. Gente que age e reage a qualquer coisa com maldade, o que é patológico, pois a alma sadia sempre procura a bondade, que vai servir de guia em suas atitudes. Acreditam os malvados no seu poder de sedução como malvados, sadomasoquistas, para se sentirem pior e não melhor. Acontece no mundo dito civilizado em que vivemos, sem amor, sem fé. Não apenas a fé religiosa, mas fé nas pessoas, em si mesmo, na vida. Pai e mãe malvados, que não dão exemplo de bondade aos filhos, prontos a reagir com maldade a qualquer coisa que os frustrem na satisfação pessoal. Acontece, por exemplo, com aqueles que abandonam o lar, a família e os que matam “por amor”. Quem ama não abandona, não mata. Qualquer frustração pode desencadear o mal nessas pessoas. Há famílias sujeitas ao círculo vicioso da maldade, numa verdadeira barbárie intelectual e emocional. 
  Ainda há gente boa nesse mundo! É o que se costuma dizer, espécie de consolo diante da maldade. O ser humano tem a razão, que o torna diferente dos outros animais. A evolução pessoal de cada um dependendo dos mecanismos utilizados por sua mente racional no sentido do crescimento espiritual, no amor e na concórdia. Sem o que a mente seria colocada num beco sem saída, levada a tomar atitudes prejudiciais a si mesmo e aos que os cercam. Ser racional, ter bons sentimentos, não significa aceitar tudo, ao contrário, é ser leal às pessoas que amamos, a nós mesmos.
  Bondade é ter respeito próprio e para com os outros. Sofrear esse apetite insofreável, insaciável, que leva à depressão. Agir sempre como uma pessoa boa, sem mágoa ou ressentimento, só assim as coisas melhoram, e a vida pode seguir seu curso tranquilo, sem maiores transtornos. Exemplos de bondade não faltam, tantas pessoas boas que existem, temos apenas que sentir no fundo da alma o coração bom, aceitar o bem. As almas boas também se atraem. Em princípio, temos que buscar dentro de nós mesmos essa bondade. Resgatar o bem em nossa alma, em nossa vida. O estudo e as boas leituras podem ajudar, são aquelas que impulsionam para frente, que elevam a alma, baseadas na experiência com a bondade. Acreditar, esperar, doar, atitudes de quem ama e quer ser amado, possível de alcançar, sim. Basta querer e agir nesse sentido.




                              CENTENÁRIO DE LUIS GONZAGA




Saltar fogueiras, dançar quadrilha, costume dos colonizadores portugueses, que se tornou popular no Brasil. E nada melhor para animar uma festa junina, já bem brasileira, do que o baião. Lembro-me daqueles idos de 1950, em que Luís Gonzaga, “o rei do baião”, com sua cara feliz de lua cheia, cantou no  pátio do colégio Maristas, a convite dos padres e das freiras  do Santa Teresa. Talvez o sanfoneiro não tenha recebido outro pagamento a não ser a alegria de alegrar a meninada, um presente de Deus:...”Olha no céu meu amor, veja como ele está lindo... ”Quando eu chego na cancela, minha Rosinha vem correndo me abraçar, é pequenina, miudinha, mas não tem outra mais bonita no lugar”. Suas canções falam também da seca inclemente. Contrastava com a música do amargurado  Herivelto Martins para provocar Dalva de Oliveira, e ela respondia na mesma pisada: “Errei sim, manchei o teu Nome”.
Luís Gonzaga se estivesse vivo faria agora em 2012 cem anos, e podemos compará-lo, em termos de sucesso, com Roberto Carlos. Cantores que embalam as almas românticas, a das mulheres, em especial, se bem que muito marmanjo nesse momento pode estar repetindo para a amada: “Esse cara sou eu”.  Um fenômeno “o rei” Roberto Carlos aos setenta ainda fazer o mesmo sucesso de tempos atrás. Gonzagão, nos seus últimos anos de vida estava meio esquecido, sendo substituído com sucesso por Gonzaguinha, o filho carioca, criado no morro de São Carlos, das canções engajadas, falecido num desastre de carro, amado, principalmente pelo hino O que É, O que É? Canção que exalta a pureza  da criança, aquela que existe  em cada um.
O centenário de nascimento do nordestino ilustre está sendo festejado também na tela do cinema, com o filme de Breno Silveira “Gonzaga - De Pai para Filho”. O mesmo cineasta que filmou a vida de Zezé Di Camargo, em “ Os Dois Filhos de Francisco”, em ambos os casos evidente a influência dos pais na carreira dos filhos artistas. Enredos que pecam, todavia, pelas mazelas exibidas, sobrepondo-se à música. Luís Gonzaga, que começou a tocar sanfona ao lado do pai, aparece no filme levando uma surra da mãe, depois sendo expulso de casa, quando então deixou sua Exu natal, sem suspeitar que iria tão longe e tão alto. No caso, a vida não imita a arte. O rei do baião andou por esse Brasil embalando sonhos de felicidade, no entanto, teve ainda de fugir do seu primeiro amor, pois o pai da moça, político poderoso, quis matá-lo. Casou com sua secretária, primeira e única esposa até a morte, do que muito se orgulhava.
Segundo o filme, nos últimos tempos Luís Gonzaga levava uma vida precária numa chácara no interior, até ser resgatado por Gonzaguinha que já fazia sucesso. Bom mesmo é ver pai e filho, sem mágoa, cantarem juntos no show que fizeram no Rio de Janeiro, como mostra o feliz documentário para a televisão, onde podemos apreciar melhor as canções que embalaram a juventude nos anos cinquenta e sessenta.  A música de Gonzagão e Gonzaguinha de características diferentes. O nordestino com chapéu de vaqueiro e gibão cantava o tradicional baião, que surgiu do lundu, para lembrar a seus conterrâneos - os que se aventuravam no sul do país – a esperança de felicidade que não deve morrer. As mazelas do sertão e do seu tempo ficam de fora, no que Gonzagão fez bem, o povo quer é ter essa alegria pura, inocente, acima de tudo. 

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012


OS HOLANDESES NO MARANHÃO



Av. dos Holandeses em São Luiz- Maranhão
Apenas por três anos (1641-44) os holandeses permaneceram na capital maranhense. Tempo recorde, já que em Recife ficaram por mais de quinze anos. Da Nova Holanda faziam parte o  Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Ceará. Os batavos não perdiam tempo, nem esforço, onde aportavam punham-se a trabalhar, construindo fortes, extraordinárias galerias de escoamento de água, como as de S.Luis, e belas pontes, as da capital pernambucana. Um povo acostumado a vencer intempéries da natureza na terra natal, que a duras penas tomaram do mar. Ao contrário dos brasileiros que viviam numa terra vasta e fértil, que não lhes causava grandes sustos.
Os novos conquistadores estavam acostumados, inclusive, ao castigo do ordálio, provação pela água, dado aos preguiçosos na Holanda. O condenado devia esvaziar a água que caia sem parar dentro de um reservatório, se não o fizesse podia morrer afogado. O laborioso e supersticioso povo holandês um exemplo de luta para deter o monstro marinho ameaçador das águas, além das nações inimigas que ameaçavam a liberdade da República. No nosso país essa cultura do trabalho forçado ia fazer com que os neerlandeses exigissem esforço dobrado dos maranhenses, descendentes de índios, um povo acostumado a deitar na rede e mandar a mulher pescar o peixe nos piscosos rios, logo ali perto. Todavia, eram os silvícolas ferozes guerreiros, sabiam lutar, e foi assim que ajudaram os portugueses a expulsar os aldases protestantes das terras ludovicenses.
Fundada em nome do rei da França, a capital maranhense dele recebeu o nome, e acaba de fazer quatrocentos anos, a data festiva foi 8 setembro de 2012. Depois da expulsão dos franceses fundadores, chegaram os holandeses. Quem era mesmo esse povo? Segundo Simon Schama no seu livro “O Desconforto da Riqueza”, o gênio característico do holandês é ser ao mesmo tempo comum e incompreensível. Para o escritor, o neerlandês ideal  do século XVII devia possuir as virtudes de bravura e zelo. Só assim eles se sentiam merecedores da recompensa de Deus, a riqueza  alicerçada no trabalho e vontade de perseverar na adversidade. Fartura e perigo  andavam juntos, não podiam esquecer disso.
A virtude do sacrifício patriótico, da incorruptibilidade e  magnanimidade, que dizem estar presente na cultura holandesa, não tocava muito o povo maranhense, católico na sua maioria, fruto da miscigenação do branco, preto e índio, pouco disposto a lutas raciais, ou outras quaisquer, além da sobrevivência, que ficava ameaçada com a intempestiva ocupação. Rapidamente reuniram forças para expulsar esses hebreus redivivos, ou estoicos batavos, sendo fundamental a participação dos índios, pois eles não entendiam nada de trabalho forçado, tampouco de ordálio. Nem mesmo o sacrifício redentor tocava alma indígena guerreira.
Teria sido então a obsessão holandesa de purificação pelo ordálio o motivo por que esses conquistadores foram tão rapidamente expulsos das terras maranhenses? Mas os  holandeses deixaram marcas no imaginário da cidade, hoje homenageados com uma das principais avenidas da cidade nova ­– a  bela Avenida dos Holandeses no bairro do Calhau. Outra importante via na nova S. Luís é a Avenida dos Franceses. Dois inesquecíveis invasores.


terça-feira, 11 de dezembro de 2012


                               Vermeer no Brasil


     Neste mês de dezembro de 2012, São Paulo recebe Mulher de Azul Lendo uma Carta, quadro pintado entre 1662 e 1664 por Johannes Vermeer (1632-1675). Uma das 29 magníficas obras, consideradas autênticas, que o artista pintou na sua Delft natal, onde morreu aos 43 anos, cheio de honras e de dívidas, principalmente em consequência dos prejuízos da família com as inundações, costumeiras na Holanda, país que lutou contra invasões estrangeiras e das águas até o século XVII, justamente quando floresceu o gênio da pintura holandesa e sua República. Na Holanda republicana e de grandes nomes, se destaca Vermeer, mestre do barroco alegórico. A arte barroca, da reforma católica, ou contrarreforma, tinha o intuito dar informações ao observador, razão das extraordinárias composições de cena que Vermeer armou num canto da sala, espécie de representação teatral, e que ainda usou uma câmara escura para projetar as imagens numa folha de papel ou lâmina de vidro. As magníficas cores, típicas de Vermeer, assim como sua técnica e modernidade, os visitantes do MASP vão ter oportunidade de admirar. Em cada detalhe uma lição e um segredo por trás, que pode transmitir algo importante para os dias de hoje. 
     A obra desgastada pelo tempo implacável teve de sofrer intervenção da moderna tecnologia, sendo restaurado o esplendor da pintura original, segundo os entendidos. Do Rijksmuseum em Amsterdã saiu, então, a imortal mulher de azul para percorrer o mundo. Muito a propósito anexo um texto que escrevi sobre o quadro em exposição no MASP. Venho há tempo estudando a pintura de Vermeer, tentando interpretar suas pinturas, que vão além do que se observa à primeira e muitas vistas. Em breve pretendo publicar meu estudo no livro “Revelando Vermeer”. 



     “Mulher de Azul Lendo uma Carta mostra a imagem de uma mulher concentrada na leitura de uma carta, vestida com bata no tom azul, em correspondência com o semblante tranquilo, próprio de quem usa tão elegante vestimenta, última moda. A cor azul, típica de Vermeer, pigmento que ele tirava de uma rocha rara, o lápis-lázuli, entre outros produtos valiosos usados pelo pintor na fabricação de suas maravilhosas tintas, até hoje provocando puro deleite ao espectador, pela sensação que transcende a realidade, o cotidiano. O azul raro fala da vida rara, íntima, familiar, de uma dama da burguesia na recém-criada República holandesa, considerada da paz e da prosperidade. Ela parece esperar um filho, também aguardar o companheiro em suas longas viagens marítimas ao Oriente, por exemplo, para o comércio, outro tipo de guerra entre as nações, além das tradicionais. A carta avisa, então, que ele logo estará de volta para o casal ocupar aquelas duas cadeiras vazias. A carta e o mapa na parede falam, pois, da ausência e consequente esperança de retorno da felicidade pessoal, familiar. 
    “A sensibilidade daquela mulher, aguçada pela gravidez e pelas notícias, não altera seu semblante que transmite dignidade, coragem interior, exemplo para seu tempo, também, para o nosso tempo presente, onde nada parece merecer respeito, consideração, as esperanças como que perdidas, num vendaval de ambições e desilusões, coisa que aquela mulher também sofre, mas tem paciência de esperar que passe, de quem tem fé, para não se expor ao mal que sempre ronda o mudo, as pessoas. Não há janela no quadro de recatada interioridade, e a luz que envolve a elegante leitora viria, em especial, da nova mensagem de fé, esperança e caridade. As três virtudes teologais adquiridas nas leituras femininas da época, que fortalecem o caráter, elevam a alma. A leitura como status, e alguns textos impressos estão empilhados na mesa em frente à dama. O aparelho cognitivo fator decisivo para a evolução do ser humano, dando-lhe capacidade de reflexão, de comunicação, através da leitura; o pensamento transformado em conceitos e juízos. A vida moderna passa a contar com publicações impressas, e já naquela época era grande o número de impressores holandeses, que se destacavam em seus empreendimentos lucrativos.” 


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012



                 O MÉRITO



As ações que não envolvem apenas o indivíduo, e são quase todas, têm critérios a ser avaliados, e se possa fazer justiça quanto a seus propósitos, virtudes. Não é fácil julgar com equidade. Todo dia julgamos as pessoas, suas atitudes, afinal vivemos em sociedade, a começar pela família. Deve-se levar em conta que o princípio de não discriminação pode ser passo importante para que se faça justiça e se honre a quem de direito. Mas em primeiro lugar qualificar a ação na essência, para evitar o controverso, sendo difícil avaliar quem ou o que merece ser honrado, recompensado. Se alguém por um motivo qualquer age por interesse, mesmo que sua atitude naquele momento seja bem avaliada, trata-se de uma escolha acidental que pode se chocar com as virtudes essenciais. Avaliar, pois, finalidade, objetivo, propósito, para se chegar a um consenso sobre o que e quem deve ser honrado e recompensado.

A torcida inquieta sabe de que lado ela está do jogo, nada importa além do comprometimento, da simpatia, para com o time, o clube, determinada pessoa. Está ali na torcida pela vitória, e torce com esse objetivo. A vida também é um jogo, no dia a dia as pessoas levadas a disputar uma partida, em que entra nossa competência para jogar e conquistar a simpatia dos outros. Nossas escolhas direcionadas para a vitória, contando com a torcida. Você pode ser uma boa pessoa sem participar desse jogo? Se for para ter uma vida boa será fácil concluir que sim. O bonachão escolhe ser simpático, fazer concessões mútuas, o fingimento; o reclamão opta por ser antipático, não fazer concessões, ser verdadeiro, protestar. É a política que ambos adotam para alcançar um status na vida. Mas porque não posso viver sem essa política, simplesmente ser virtuoso? Diz Aristóteles que está em nossa natureza sermos políticos, quando nos realizamos plenamente. A natureza nos ensinou modos de ter uma boa vida, ou uma vida boa, cada um seguindo sua natureza. Felizmente a natureza também nos ensina a deliberar sobre o que é certo ou errado, o que é justo ou injusto, basta não nos desviarmos da nossa natureza humana, da nossa humanidade. 



sexta-feira, 7 de dezembro de 2012


O FUTURO JÁ COMEÇOU


A maior massa populacional que a humanidade já produziu está aí em plena força, instintiva, o que se pode dizer. São milhões de jovens cheios de disposição e  audácia, prontos para agir. Mas em que direção vai essa multidão, que caminha, ou se desencaminha, nesse mundo moderno, de progresso científico e tecnológico, cheio de contradições, onde a força animal aparece preponderante, aguardando redenção? O que os jovens podem esperar do país? Que educação eles recebem dos pais? É o que resta indagar para que aquilatos o futuro que nos aguarda.
Os jovens estão sendo bem educados? Sabemos que para se alcançar um mundo mais justo, mais feliz, há que seguir preceitos, ter certos cuidados. E mais que nunca devemos  estar atentos sobre o processo de desenvolvimento das crianças e jovens, o que vai depender das famílias, das instituições, do país, investir em educação, em primeiro lugar. O economista Gustavo Ioschpe observou uma família de Xangai e viu o quanto ela se sacrifica pela educação dos filhos, ao contrário da família brasileira que jamais está disposta a grandes sacrifícios pela educação dos filhos, sacrifício que sem pestanejar faria para a compra de uma geladeira, por exemplo. Quando a prioridade devia ser os filhos, e não deixar que façam o que querem, por pura exibição, como se faz por aqui.
Valorizar as crianças não quer dizer que pais e avós se sacrifiquem apenas para vê-las cheia de si, como uns pequenos deuses, ou melhor, monstrinhos, tendo dificuldade na convivência familiar, sem respeitar limites, sem cooperar com nada. A cooperação que deve ter mão dupla.   Nos Estados Unidos, nação capitalista, desde o berço as crianças são incensadas, sua autoestima, mesmo soberba, elevada aos píncaros, consequentemente, a dos próprios pais. Ao contrário do que ocorre na China comunista, cujo foco é a responsabilidade social, a começar do indivíduo para consigo mesmo, o que passa de pais para filhos.
A educação ocidental, moderna, criou um problema, que cresce a cada geração: a dos pequenos narcisistas, que avançam em idade, mas não amadurecem. Com egos inflamados os jovens americanos não aceitam críticas, se perdem em expectativas além das possibilidades. E chegam a tal ponto de ficar sem rumo e achar que se não podem ser o maioral, devem ser marginal. No Brasil acontece o mesmo problema. Em vez de pessoas produtivas o que se vê é uma  geração que não sente motivação para seguir em frente, quase incapazes.
Triste destino desse nosso mundo moderno, que tem possibilidade da melhor educação, do mais promissor futuro para si e para legar a seus filhos, no entanto, todos a si sentirem pouco felizes e realizados, constantemente insatisfação. Tudo por conta da visão distorcida que adquiriram da realidade. Aprenderam que podem tudo e não aceitam as limitações que lhe são impostas pela própria vida. Muito menos são capazes de aprender  com os erros cometidos.
Sabemos, até mesmo por intuição, que não se deve desmerecer os filhos, deixar de assisti-los. Do mesmo modo, não é bom insuflar-lhe o ego em demasia, o que não garante o sucesso deles, pode até mesmo atrapalhar seu desempenho. São atitudes desastradas, que se costuma ter, às vezes inconscientemente. O melhor é criar os jovens com disciplina, sem lhes negar a atenção necessária para que realizem com tranquilidade suas potencialidades. A tentativa de recomeço ainda é a grande chance que se apresenta às pessoas de tempos em tempos. Sendo assim, não deixar que os jovens percam as esperanças, e que mantenham sempre amor pela vida.  

PORQUE A DOUTRINA CATÓLICA É A MELHOR

                                              Maria Scott Muniz
O cadinho cultural que era Roma nos primeiros séculos, fez com que a fé cristã se consolidasse em bases universais. Paulo foi o genial ideólogo do cristianismo, seguido pela inteligência privilegiada de Agostinho, que vai livrar a fé das heresias que ameaçavam uma doutrina tão bem arquitetada, dando solidez a seus alicerces. Com o cristianismo o espírito evoluiu, marco civilizatório, extraordinário trunfo nas mãos dos romanos, que  ergueram no Ocidente uma nova civilização, depois dos bárbaros indisciplinados, que em ondas anárquicas destruíram o Império.
Por sua vocação maior de agregar, por seu poder civilizador, a fé cristã seria a base da  civilização ocidental. A igreja de Pedro intitulada católica porque é universal; apostólica, dos apóstolos; romana, por sua sede em Roma. Pedro, o primeiro apóstolo, considerado  a  pedra sobre a qual se ia erguer um monumento de cultura  e fé, a partir da concepção divina na casa de Davi, com o nascimento do filho de Maria numa gruta a caminho da cidade para participar do recenciamento. Maria e José chegam a Jerusalém  com o filho predestinado a modificar o mundo. O fenômeno que era o menino Jesus, obediente a José, seu pai adotivo, com quem ainda criança parte para o Egito em fuga da perseguição de Herodes. Reaparece já adulto, sua história a do próprio povo hebreu.
Muitas correntes do pensamento religioso cristão foram consideradas heréticas, submetidas ao crivo dos concílios que aconteceram nos primeiros séculos, afinal tinha que haver um consenso   sobre o que seguir, que fosse digno de fé, que elevasse a humanidade mental e espiritualmente. Heresias não deixam de gravitar em torno do núcleo central do cristianismo encetado por Paulo, que se distancia do judaísmo, sem renunciar à herança bíblica. A corrente principal do cristianismo se afasta do gnosticismo do passado, inferior à gnose platônica seguida pelo bispo de Hipona. Em vez das revelações anteriores, inclusive a mosaica, uma verdade acessível aos fieis, contida nos Evangelhos, a de João considerado uma porta aberta para o gnose.
A intenção da crença cristã não era atrair a simpatia das autoridades religiosas judaicas, que prendem Jesus. Pilatos manda o prisioneiro de volta ao povo judeu para que o julgassem em definitivo.  Começa a perseguição aos cristãos que se escondem nas catacumbas, até a religião tornar-se oficial. Quando o Império desmorona, os cristãos  outra vez se refugiam, dessa feita nos mosteiros. Para fugir da anarquia a alternativa foi apelar para a solidão coletiva, onde a fé se resguarda. A elite intelectual não deixa de cultivar o saber para, à primeira oportunidade, interceder por um mundo melhor, mais justo. No século XII ocorre o renascimento carolíngio, os mosteiros transformados em centros de preservação e difusão cultural. Erguem-se catedrais, principalmente em homenagem à Mãe divina, onde funcionam escolas, que aos poucos vão evoluir para as universidades.
Até então os fundamentos da fé alicerçada no platonismo agostiniano. No século XIII a fé se vale da escolástica, que tem como base o sistema científico e filosófico aristotélico, ideal religioso superado no século XIV por intelectuais como Petrarca e Boccacio, que serão os precursores do humanismo do século XV, quando retorna Platão.  Os ensinamentos dos neoplatônicos Marsílio Ficini e Pico della Mirandola se baseiam em Hermes Trimegisto, Zoroastro, Moisés, Orfeu, depositários de uma mesma verdade oculta. A ideia era de que o futuro luminoso para a humanidade se devia buscar no conhecimento de antigas culturas, onde se encontram verdades ocultas, o conceito é de uma “revelação primordial”.
No século XVI um cisma religioso vai abalar a cristandade, com a Reforma de Martinho Lutero, monge agostiniano, professor de teologia da Universidade de Winttenberg, cujas meditações sobre Paulo e Agostinho o levam a considerar a predestinação individual  de salvação, ou justificação, unicamente pela fé, descartando as obras. O movimento protestante veio a calhar para os príncipes que não queriam mais aceitar a autoridade papal, e adotam a nova fé, que logo se difundiu. Por sua vez a fé católica organiza sua própria reforma, intitulada erroneamente de Contrarreforma. Reformas que marcaram o advento dos tempos modernos. Os germanos, que pertenciam a heresia ariana antes de serem evangelizados pelos missionários católicos Ulfila e Bonifácio, agora são protestantes.
Com a descoberta de novos territórios e expansão comercial,  os missionários católicos e protestantes para amenizar os efeitos da colonização, ou exploração, e preservação da fé cristã,  criam uma elite escolarizada, o caso da América, onde os povos pagãos foram convertido nem sempre de modo dócil, até com violência, devido a ambição, principalmente de poder. Mas os resultados das Missões religiosas são alvissareiros, também na China e Japão, onde os missionários plantaram sementes da fé cristã por algum tempo e em poucos lugares. Na África as missões de evangelização tiveram grande sucesso,  tanto protestante quanto católica.
Algumas culturas indígenas sobreviveram aos colonizadores, as que ficaram isoladas, o caso dos ianomames, por exemplo. O que resta é pura figuração do que foram um dia, culturas hoje utilizadas por aventureiros, exploradores de plantão. Os povos da floresta com uma crença baseada no espírito dos ancestrais, partícipes da vida social dos vivos. Para eles a alma humana pode continuar existindo depois da morte física para assombrar os vivos, ou causar-lhe benefícios. A crença é que existe um reservatório de substância psíquica no qual a alma retorna a um estado indistinto. Lógico que essa é uma explicação racional para o mistério, e tem correspondência com as ideias de certas seitas gnósticas conhecidas.
O xamanismo dos índios da América do Norte, que não é uma religião, mas um conjunto de métodos extáticos e terapêuticos, cujo objetivo é manter contato com o universo paralelo,  invisível, em que os espíritos atuam sobre os humanos. Isso nos faz acreditar que os antigos habitantes do continente chegaram aqui pelo estreito de Bering, quando trouxeram o xamanismo dos mongóis e dos povos do ártico, que foram convertidos a várias religiões universais como o budismo, judaísmo, zoroastrismo, maniqueísmo, cristianismo, islamismo. A instituição do xamanismo no presente seria um resgate do passado autóctone, cuja história se desenvolve em relativo isolamento. As pinturas rupestres dão pistas de um passado remoto, xamânico.
A riqueza do catolicismo romano é incomensurável, sua doutrina constitui um bem cultural da humanidade, do que ela   vivenciou no campo espiritual e mental, seus conceitos universais. O conhecimento filosófico entra como grande auxiliar na empreitada da fé católica para se assimilar a ideia de Deus, transcender para o amor em nível superior, divino. Meio necessário para viver bem consigo mesmo, se relacionar melhor com os semelhantes. A fé católica é a que melhor toca o coração da humanidade, enquanto outras crenças, no mais das vezes produtos de mentes individuais, são veículos com motor possante, mas descarrilhados. 

  
  
  


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012


    
As olimpíadas e o fator psicológico



Estamos ameaçados de ter um desempenho pífio na Olimpíada de 2016, se forem levados em consideração resultados anteriores. Segundo Carlos Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, a razão seria nossa fragilidade emocional, trememos diante do obstáculo. Em outras palavras, somos covardes, e por conta disso acabamos caindo de bunda no chão, ou desistimos de competir na hora do pulo para a vitória, quase certa, alegando a força do vento, o mesmo que soprava para todas as competidoras. Acho que somos irresponsáveis para com nós mesmos, em primeiro lugar. Afinal, para que ir até o fim, para que nos dar a chance da vitória? Melhor desistir, que avançar sobre o obstáculo para vencê-lo. Mas somos mestres em avançar sobre o outro, gratuitamente, só para rir da cara dele. Por sinal o riso é o nosso forte. Dizem que a prova da condição humana é o riso. Então somos o povo mais humano do mundo, o que não deixa de ser um consolo. Parece que a seriedade nos incomoda. Seria herança da ditadura que nos tolheu os passos, ou melhor, reprimiu politicamente, nos infernizou individualmente até bem pouco tempo?
      O caso é que temos medo de vencer. E ainda poder chorar pela derrota, condição indispensável para sermos consolados. O prêmio de consolação nos agrada mais que a medalha de ouro, de prata ou de bronze.  O riso e o choro se alternam na vida dos brasileiros, como num teatro de marionetes. Esperteza é o que não falta, e o exemplo vem de cima. Ganhar na esperteza e não na competência. Nesse campo minado perde-se a imensa força de trabalho que é a juventude, por falta de oportunidades de mostrar o seu valor, quando todos saem perdendo, de uma maneira ou de outra. Os políticos, todo mundo sabe como eles vencem nesse nosso país, comprando a consciência dos eleitores e depois os ignoram, ocupados em suas falcatruas. Chegam à reta final saltando obstáculos, não como atletas profissionais, mas como amadores que deram um jeito de conseguir a vitória enganando o eleitor, agindo sempre de modo obscuro. Diante dessa realidade a moçada se desilude, deixa de ter ideal, fica acomodada, acovardada, pois não pode mostrar competência, afinal a maioria está abaixo da média, num país onde a educação não é lavada a sério, como tudo o mais. A pesquisa recente realizada na Inglaterra sobre o nível de educação, entre quarenta países o Brasil ficou no penúltimo lugar.
     Será que nossa fragilidade é apenas psicológica, ou é mesmo falta de caráter? Podem dizer que isso se deve à colonização católica, portuguesa. Ou mesmo alguém sugerir a mistura de raças como a causa da nossa felicidade, também, desdita. O mais certo é que falta educação, cultura, amadurecimento, ao povo e a nosso país de apenas quinhentos anos. Temos que correr contra o tempo. Agora, mais que nunca, com a copa e a olimpíada chegando. Mas estamos mesmo é rindo atoa. Os atletas brasileiros como o povo em geral se contenta por estar feliz vendo o país sediar tão importantes  eventos.  Nesse sentido Nuzman é categórico: “Falta ambição pela vitória”. Não resta dúvida que o Brasil rico pela natureza e abençoado por Deus, tem um povo que gosta de sofrer, tanto quanto de ri atoa. Se  conseguimos chegar onde chegamos, seria o tal milagre brasileiro, é o que se propaga, com ufanismo. Tenho impressão que os outros países a essa altura estão zombando de nós.