terça-feira, 29 de janeiro de 2013


          SANTA MARIA CHORA



Solidário, todo o país chora junto com a cidade de Santa Maria,que acaba de sofrer uma grande tragédia na casa de show Kiss, que fez mais de duzentos vítimas fatais, a maioria estudantes, feriu outras tantas, asfixiados, ou pisoteados. Jovens cheios de sonhos, alguns iniciando, outros terminando o curso superior na Universidade local, que comemoravam o novo ano de estudo. Vidas promissoras, parte do futuro do Rio Grande do Sul e do país, que se esvai em poucos minutos, sonhos que se foram nas chamas.
Tragédias acontecem, algumas dela evitáveis, se não fosse  a irresponsabilidade de uns poucos que resistem ao cumprimento da lei, que existe para ser cumprida, não para ser burlada. Leis que devem se adequar aos novos tempos, das grandes concentrações humanas, da tecnologia avançada. Num ambiente fechado como de uma boate a segurança deve ser a primeira preocupação dos donos, e a fiscalização inclemente quanto a isso. Fica-se agora sabendo que locais interditados por falta de segurança, recebem alvará, e são reabertos, continuando do mesmo jeito, isso no país todo, as leis burladas. As pessoas arriscando suas vidas em ambientes que não inspiram confiança, o que vai depender da sorte para não  acontecer o pior. Um absurdo que seja assim.
Santa Maria, nome que nos remete à Mãe divina, é considerada cidade da cultura, alegre, feliz, principalmente, por receber estudantes vindos de outras cidades para estudar na sua conceituada Universidade. Que fique a lição, e não mais aconteçam no Brasil tragédia desse tipo é o que rogamos à Nossa Senhora para que dê conforto aos parentes das vítimas fatais e aos sobreviventes, que continuarão com as marcas da tragédia por algum tempo, ou para sempre. Como aconselhou na TV um sobrevivente de outra tragédia: “Sai do sofá, vai ajudar quem precisa, vai se encantar e sorrir com o que o mundo oferece de bom e de belo!” Antes, agradeça a Deus por ter ainda tempo de fazer algo para si e para os outros.
       

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

SALVE JORGE II

Nos dias atuais, em que pouco se lê, as pessoas sempre diante da TV, o que elas veem? Na rede Globo, líder de audiência, assistem o folhetim das 9 por alguns meses a cargo da noveleira global, Glória Perez, que se propõe a mostrar o drama do tráfico, consequência das mazelas causadas pela ignorância e falta de educação ou, simplesmente, maldade do ser humano. Coisa de louco as  “pegações” em Salve Jorge, uma trama em que a grande vilã, Lívia mata Jéssica,  personagem que durante todo o tempo em que esteve no ar parecia tonta no papel de traficada, o que tem lógica. Realmente terrível o drama do tráfico de mulheres e bebês.

rota de tráfico-crime hediondo
As personagens femininas idiotizadas, presas fáceis para os criminosos, que estão de olho e, à primeira oportunidade, atacam. E muitas caem feito patinhas. Na Turquia as mulheres com melhor comportamento, os costumes que há século são cumpridos à risca, e para lá é que os traficantes levam as mulheres brasileiras traficadas para o sexo.  No Alemão elas se expõem na laje e pelas ruelas, numa baderna vigiada por uma polícia montada, que não vê nada, não sabe de nada. Basta algum esperto subir ali e dizer que é boa gente, quer ajudar, e engana todo mundo, o caso do Russo que traficou a filha de Lucimar e conquistou a mãe na maior facilidade. Gente assim, sem pudor, sem amor próprio, parece merecer o que sofre.
Frágeis criaturas, carentes, na mesma proporção que querem se fazer de fortes, despachadas. Possuidoras de  numa dubiedade revoltante, que se deixam iludir  por qualquer vilão que apareça. Foi para isso que veio a liberação das mulheres? Para que elas  gritem e esperneiem como loucas, depois de enganadas, depois de agirem sem o mínimo bom senso? As mulheres da novela parecem débeis mentais, o que não agrada nem a gregos nem a troianos, e a audiência também em nível baixo.
Não pode nem se dizer que Salve Jorge seja um simples besteirol, como é o caso de Guerra dos Sexos, que distrai sem se arvoar de querer sensibilizar o espectador para os  problemas da sociedade, que se duvida atingir esse objetivo. Nas novelas é costume que a atenção se prenda a uma grande vilã, ou vilão, que se odeia. Também com uma heroína de verdade, que todos torcem por ela. Essa magia parece esgotada. Theo seria o grande herói, como São Jorge, mas até agora é só mais um boboca dentro da trama.
    

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013


           ELE É O CARRO!

Tem uma história o Audi-A1 que compramos há poucos meses. Não é de agora nossa simpatia por esse carro alemão, um sonho quase impossível, pois é uma marca que só visto a por aqui dos modelos  grande e de grande luxo, o preço lá nas alturas. Além disso, o perigo do carro importado, de algum ladrão achar que se trata de gente rica e tentar sequestrar o dono, melhor não arriscar. Nosso antigo carro de porte médio espremido pelo do vizinho ao lado, com seu veículo maior atravessando na vaga, e não satisfeito ainda trocou-o por um desses tanques nacionais, que só tem tamanho e nada mais. Acontece que nas garagens de prédio, aqui e ali, ocorrerem imbróglios entre os moradores. Conosco coisa pequena, se comparada a outras por aí, mas que nos causava certo desconforto, já que não somos mais crianças.
O outro vizinho da frente também adquiriu o seu de igual porte, inclusive, com cara de dinossauro, feio que só ele, e sabe como são os carros nacionais quanto à tecnologia, chamados até de carroças por um presidente, que acabou cassado, não  por essa declaração, mas por seu personalismo, seu prazer de roubar, iludindo a população que elegia um “caçador de marajás”. Os servidores públicos tidos como os grandes vilões da história. Coitados do povo do nosso país, que se ilude com personalidades nada confiáveis. Parecia uma provocação, mesmo humilhação, os dois mastodontes frente ao nosso carrinho. Acontece que precisávamos trocar de carro, já com cinco anos. Eis que em visita ao Parkshopping, nos deparamos com o Audi-A1, lançamento, por preço acessível ao bolso da classe média. Acredito que com a crise na Europa vieram para cá em busca dos consumidores brasileiros, nossa economia  numa fase boa, inclusive, com uma boa indústria automobilística, que saíra da fase de produzir carroças... Ainda não somos primeiro mundo, mas vamos chegar lá. Aliás, pessoalmente não tenho do que me queixar dos carros que possuí.




Compramos nosso Audi A1, modelo esportivo de duas portas, coisa de primeiro mundo, direção e manobras espetaculares. Chegamos com o  pequeno, mas fabuloso carro importado, e parecia que conduzíamos David com sua funda, pronto para enfrentar, não um, mas dois Golias. Lógico que a garagem não era  arena romana, mas lugar de vaidades, os carros como deuses para certas pessoas.  Estávamos na desforra. Quando ainda possuíamos o Clio, uma amiga que passava uns dias conosco no Rio,  e resolveu tripudiar, não se sabe por que cargas d´águas, falou ao marido em Brasília por telefone para que ele fosse nos buscar no aeroporto com o carro velho, em vez do novo. Constrangimento do qual nos safamos driblando o casal e  pegando um taxi. Na cabeça dessa nova rica só merecíamos entrar num carro inferior, não estávamos acostumados com o que era bom... E dizer que a tal cortou cana no passado de pobreza. Nosso Audi veio suprir uma necessidade de conforto pessoal, além de podermos exibir o que há de melhor. Somos normais como todo mundo, até mesmo exibidos. 





              SALVE MARIA II


As crenças arcaicas se resumem no temor de que a vida esteja ameaçada por forças hostis, irracionais, e que devem ser sempre conjuradas, segundo o romeno Mircea Eliade, que nos faz percorrer os territórios das antigas crenças e mitos, capaz de elucidar muita coisa sobre a  Mãe divina, tão venerada pelos católicos. Ao longo dos tempos a busca pela transcendência deu-se de formas diferentes, que guardam semelhanças entre si. Nos mistérios de Mithra, a escada (clímax) cerimonial tinha sete degraus e cada degrau uma meta diferente. A ascensão estática do xamã ocorre através da ave simbólica, que é invocada para a subida com mais ligeireza.  Os heróis turcos-mongóis, em seus ritos, promoviam viagens aos céus, que se  assemelham aos ritos xamânicos, sendo Genges Khan um reputado xamã mongol, que sobe em seu corcel, animal que é sacrificado na chegada ao céu. Temos então a história bíblica da burrinha de Balaão que é obrigada a seguir em frente por seu dono, mas que resiste a tão perigosa subida para ambos. Reconhecer a fragilidade humana é sinal de mais sabedoria, o que ensina os hebreus em sua avançada cultura.
Jacó adormece sobre uma pedra e sonha com uma escada cujo topo atinge o céu, por onde os anjos do Senhor subiam e desciam. Subir aqueles degraus não era para qualquer um, requeria um espírito maduro, bem  preparado. O cristianismo conserva a tradição ao tratar das fases da perfeição mística como subida ao Monte Carmelo, do místico São João da Cruz, mas que avisava às noviças não ambicionarem atingir o cume da montanha, experiência que não era a coisa mais importante na religiosidade. A ascensão mística, que tem origem no Oriente, gozou de grande popularidade nos últimos séculos da Antiguidade. Tanto o orfismo quanto o pitagorismo contribuíram para sua difusão no mundo greco-romano. O transcender, ou evoluir da condição humana, em busca de um “devir”. O orfismo pretendia alcançar a ruptura do ciclo de reencarnações. No cristianismo a morte ritual como forma de neutralizar as forças inferiores, seguida da ressurreição divina.

Nas culturas mais antigas o culto à divindade feminina, adotado por várias crenças, tem ligação com o céu, ou mais especificamente, com a lua, pela correspondência entre a estrutura lunar e crescente. A primeira letra do alfabeto hebraico, Alef, significa touro, o símbolo da lua na sua primeira semana. Segundo um texto tântrico a deusa deve ser meditada a partir do primeiro dia da lua nova e durar toda a quinzena luminosa, uma inovação brâmane recente. O cerimonial tântrico dá importância capital à mulher e às divindades femininas. No catolicismo a crença em Nossa Senhora, tornou-se dogma de fé, com muitas aparições da figura feminina no esplendor da glória divina, uma imagem que foi concebida conforme uma visão de Catarina Labouré, no convento das Irmãs de Caridade,  em Paris, no século XIX. Na aparição a intitulada Nossa Senhora das Graças  deu instrução à noviça para que cunhasse uma medalha com a figura que ela via no altar à sua frente. Foram cunhadas duas mil moedas em 20-06-1832. Devoção que se ampliou no mundo todo.
Na revelação da divindade de Maria encontramos o  sagrado celestial numa estrutura impessoal, intemporal, a-histórica. A imagem da Virgem Maria aparece a Catarina de Laboure em cima do globo   terrestre,  tendo a seus pés o chifre=crescente, representação das crenças arcaicas e das fases sincréticas nas religiões mediterrâneas. Mundo tauroctônico-mágico-sexual, que a refinada  mística cristã e católica transfigurou. As aparições de Maria constituem fatos mágico-religiosos que dão “sinais” reveladores da “ação do sagrado” que se tornaram paradigmas no passado e ressurgem para os novos tempos da fé. Poderes anteriormente valorizados são esvaziados das suas forças elementares, ultrapassadas. A fé com nova face, no sentido de direcionar o ser humano para um novo caminho, revelado na imagem divina e consoladora de Maria, que transcende o universo sublunar. Em Maria o devir humano cíclico (lunar), associado à lua nas culturas antigas, arcaica, adquire existência superior, absoluta (humanidade plena). Saem das mãos de Nossa senhora das Graças raios divinos que iluminam, ou os fios que “tecem” o véu da fé, do amor, sobre as criaturas de Deus. As 12 estrelas sobre a imagem divina representam as tribos de Israel, povo messiânico, do qual Maria é descendente, de acordo com as escrituras sagradas da Bíblia e dos Evangelhos.
A evolução cristã e universal da religiosidade  se  completa na figura divina da Virgem Maria.  A seguir, a cronologia de algumas aparições:
Ano 39 - (depois da Assunção), na Espanha, Santiago Apóstolo viu aquela que seria intitulada Nossa Senhora do Pilar.
352 - o papa Libério, em Roma.
1208 - São Domingos de Gusmão e a instituição do Santo Rosário.
1251- São Simão Stock recebe o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo.
1531- São Jean Diego, um indígena no México pinta a extraordinária a imagem de Nossa senhora de Guadalupe.
1717 – Um grupo de pescadores encontra no mar a imagem de Nossa Senhora Aparecida, que se tornou a Padroeira do Brasil.
1830 – Santa Catarina Labouré, em Paris na França, tem o encontro com Nossa Senhora das Graças.
1858 – na localidade de Lourdes, na França, Bernadete Soubirous, afirma ter visto uma figura feminina que se autodenominou de Imaculada Conceição.
1917 – Três pastorzinhos, Lúcia, Jacinta e Francisco têm o encontro com Nossa Senhora, em Fátima Portugal.
1981 – Um grupo de jovens católicos recebe, periodicamente, a visita de Nossa Senhora, em Medjugorje, na Bósnia e Herzegovina.  

     

terça-feira, 15 de janeiro de 2013



INTEGRIDADE



São constantes as alterações que as pessoas sofrem no decorrer da vida, interna e externamente, o mesmo acontece no que diz respeito à vida familiar e social. Temos que nos adaptar a isso e estar preparados, bem amparados, para sobreviver às mudanças e não soçobrar na ansiedade, mal que acomete aqueles que se deixam abater. Nossa estrutura psicológica alterada durante o processo de desenvolvimento, e motivos não faltam para desestruturar, mesmo os de pouca relevância. As pessoas sofrendo de ansiedade no processo de transição econômica, de transformação cultural, assim como a sociedade ansiosa, até mesmo desagregadora. 
Uma emoção normal que é a ansiedade, mas que pode se transformar em patologia grave se não houver controle. O medo que nos domina, principalmente de fracassar. O sentimento de fragilidade, que algo de ruim pode acontecer, sem que tenhamos força para agir ou reagir diante das circunstâncias, nem sempre favoráveis. Mesmo se estivermos bem preparados podemos sofrer decepção, perder a motivação, numa sociedade em que se despreza a competência, o valor pessoal. O bem que faz a família atenta, preparada para ajudar nas dificuldades. Ou, ao contrário, alguém que pode sofrer com a família negligente, que não está bem estruturada para amparar.  Estilos de famílias que podem ajudar ou atrapalhar o desenvolvimento dos filhos. As influências positivas que são negligenciadas, enquanto são deixadas livres as negativas para atuar.
Querer agradar todo mundo também causa a maior tensão no indivíduo, a ponto de paralisar a pessoa, que deixa de receber a boa acolhida, ou de ofertar o melhor de si, que não seja a subserviência, o medo. A rebeldia como forma de extravasamento só piora a situação. Pessoas altamente talentosas, de repente, são acometidas de transtornos, justamente porque não abraçam seu potencial com racionalidade, que se deixam levar por alguém, ou algo, que não merece confiança. Importa dar limites a si mesmo e aos outros. Quando ocorrer qualquer transtorno, enfrentar com competência e coragem a situação.
A natureza de cada um deve ser preservada, mantidas suas características físicas e psicológicas. Com o tempo mudanças acontecem,  e as modificações que ocorram por nossa deliberação sejam para melhor, afinal a tendência é o instinto de preservação falar mais alto que o de destruição. Poucos os que agem ao contrário, ou seja, modificam sua natureza para pior, o que pode ocorrer por equívocos da própria pessoa, ou influências externas negativas, ruindades que ameaçam nossa integridade. Muito cuidado!
     

     SALVE MARIA!


Na Anatólia, nome originário do grego e associado a Mãe. Hoje faz parte da Turquia, onde ao longo do  II milênio a. C. foi criado um grande reino, encontro da civilização mesopotâmica e a cultura indo-europeia, com várias divindades convivendo no mesmo panteão, fruto da síntese, assimilação. Esse modelo retornará na época romana. Na região mesopotâmica foram encontrados  em diversos sítios neolíticos estatuetas que reproduzem uma imagem feminina, a reprodutora, no sentido de fertilidade da terra, não era uma leitura histórico-religiosa. No panteão mesopotâmico, a deusa Inana (em acádio Ishtar), da fertilidade da terra, faz  par com o pastor Dumuzi (Tamuz em hebraico e aramaico). O mito das bodas entre o pastor e a deusa fala sobre renascimento e morte, fundamentado no ciclo das estações. O sacrifício de Dumuzi e o desaparecimento da deusa, com sua descida ás regiões infernais, provoca uma crise cósmica que esteriliza o mundo. A realeza suméria, também cíclica, estava subordinada aos caprichos da divindade, que se interrompe com a recusa de Gilgamesh às ofertas de Ishtar. Na epopeia do rei de Uruk está presente o processo de separação do homem da natureza, mito da fundação da inevitabilidade da morte, ao mesmo tempo do limite e da medida da realeza humana.
O Império Romano incluía a região asiática da Anatólia cuja capital passou a ser Constantinopla. Faz parte da história de Roma a evocação das divindades “estrangeiras”, fórmula ritual antiquíssima, pertence ao substrato indo-europeu.  Roma republicana orientou-se mais no sentido de realidade histórica, e não através dos mitos, segundo Paolo Scarpi.  O patrimônio cultural sistematizado e definido pelos pontífices.  Os cultos  que Roma teve de enfrentar, ou externa superstitio. O culto da Grande Mãe frígia, Cibele, acolhida por Roma por sugestão do Oráculo Sibilinos em 204 a. C. Também foi acolhido o culto da deusa Atargatis, envolvido com a revolta dos servos em 134 a.C.  O primeiro imperador romano, Augusto (27ª.C. a 14d.C.) proibiu a celebração dos rituais de Ísis, e Tibério ordenou que o santuário da deusa fosse demolido e a estátua jogada no Tibre. Atitude análoga em relação à astrologia e à magia, com a suposição de que o culto  retirava do indivíduo a responsabilidade pessoal e civil, inclusive a jurídica, uma vez que agia com o próprio encanto, ou veneno. O segredo compartilhado por iniciados torna-se fator discriminante. Os bacanais   do culto de Dionísio-Baco preocupava Roma pelo seu aspecto “obscuro”, desagregador, já haviam sido condenados em 186 a. C. Os cultos greco-egípcios sofrem maiores hostilidades no senado republicano de Roma.
O cristianismo foi considerado em Roma como culto “estrangeiro”, ocorrendo perseguições as mais cruéis contra seus adeptos que foram, inclusive, acusados  de terem colocado fogo em Roma, coisa de Nero, que era louco e odiava a própria mãe.  Roma imperial não era mais a Roma republicana (509 a. C. – 27 a. C.) e diante da expansão tinha que legitimar seu poder diante dos súditos. A ideia era a eternidade do Império e da própria Roma. O processo de divinização dos soberanos, uma resposta à crise de valores e de certezas pela qual passava a sociedade à época. O poder concreto dos senhores  produzia uma dinastia que não garantia uma existência no mundo e abria a possibilidade para fugas ao esoterismo dos cultos dos mistérios e orientais, até o ocultismo, a magia, o pensamento filosófico-religioso que de certa modo prometia salvação para o presente. Constantino (272-337) sonha então que a vitória sobre os inimigos do Império Romano devia acontecer sob a bandeira do cristianismo, o que se realiza, dando início a uma nova civilização.


Dentro do cristianismo o antigo culto  à Mãe, ainda no neolítico, se perpetua e renova,  depurado de toda mácula.  Os Padres da Igreja veem em Maria uma nova Eva, assim como Cristo é o novo Adão. Em vez do fruto proibido, o fruto abençoado que Maria gerou por obra e graça do Espírito Santo. A maternidade divina de Maria, uma descendente da casa de David, consta dos Evangelhos, a partir de suas humildes palavras diante da vontade de Deus para que ela fosse  a mãe do Redentor: “Faça-se em mim segundo a Tua vontade.” Em seguida veio a  saudação de Isabel ao ver sua prima grávida:” ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre.” Palavras que formam a “Ave Maria”, saudação que os católicos, que adotaram o culto a Maria, repetem em todo o mundo ocidental, civilizado e cristão.
O culto à Maria é especial, uma ritualística que santifica a vida, a família, e vai além dos cultos anteriores às deusas Mães, das culturas primitivas. Fé que representa uma modalidade universal de ver o sagrado na vida humana, seu destino ligado a novos valores, possibilitando uma experiência religiosa mais rica, uma comunhão divina simultaneamente mais “pura“ e mais completa. A fé na maternidade divina triunfou após a  proclamação dessa verdade no concílio de Éfeso (431). Todas as prerrogativas que a fé cristã reconhece em Maria, filha de Ana (o mito de Inana?), celebrada antes mesmo da definição do dogma, com  a festa da Imaculada Conceição no Oriente, desde o sétimo século, e no Ocidente, desde o nono. Finalmente o papa Pio IX proclama-a dogma de fé. Com a ressurreição em Cristo, filho de Maria, se finda o ciclo de  nascimento e morte, de reencarnações.  




quinta-feira, 10 de janeiro de 2013



ALEGRIA,  ALEGRIA!


O dia de Reis encerra os festejos do Natal, e já no dia seguinte a rede Globo começa a anunciar a festa de momo com a vinheta da globeleza. Sempre uma mulher de corpo escultural, nu e artisticamente pintado. O Big Brother vem junto, com mais de dez pessoas confinadas numa casa, fazendo suas  maluquices, se expondo, o que a televisão filma  durante três meses, atrás de espelhos. Espelho, espelho meu, há alguém pior do que eu? O que se perguntam os concorrentes a um milhão e meio de reais, o prêmio do ganhador. É tempo de férias, e sem ter algo melhor a fazer, ao que parece, como ler livros, fazer cursos, ao contrário, fica-se dia e noite diante da telinha, o que   é a felicidade para muita gente, que dá palpite, vota. Aliás, em termos de felicidade, o Brasil está em 25º lugar dentre 400 países pesquisados. Em primeiro lugar ficou a Dinamarca.
Não precisava nem perguntar a nenhum dinamarquês qual o segredo da felicidade, o que Fátima Bernardes fez a um descendente direto daquele povo que se diz feliz. A resposta é que todo mundo já sabia, o país prima pela igualdade, mas no sentido evolutivo, onde todos gozam da melhor educação, têm o melhor sistema de saúde,  há emprego para todos que queiram trabalhar, e ninguém se arvora de ficar sem fazer nada, embora fiquem parte do ano debaixo da neve. Estaria aí o segredo, em vez do sol a neve? O certo é que somos considerados um povo dos mais felizes, do mundo - no calor, não no frio.  Calorosos brasileiros, mas não tão felizes quanto o povo da Dinamarca. Por aqui falta de tudo, menos alegria de viver.
No carnaval que se aproxima o Rio de Janeiro torna-se capital mundial da alegria, do prazer, pronto para receber os turistas de braços abertos; não só os membros superiores, os inferiores também. O apelo ao sexo dos cartazes de mulheres turbinadas, o que já foi pior, mas, “cria a fama e deita-te na cama”. Infelizmente é assim, o orgulho brasileiro ainda é ser o país do carnaval e do futebol. Vamos sediar a Copa e as Olimpíadas, a atenção das autoridades voltada para esses eventos, tratando de resolver problemas nas cidades, de transporte e bem estar. Que o conceito do Brasil lá fora cresça na proporção do dinheiro e empenho despendido. Temos uma das mais belas paisagens do mundo, onde os descendentes de emigrantes vivem como em seu próprio país, respeitada a diversidade racial e cultural. Findo os eventos que os turistas venham admirar nossa arquitetura e urbanismo, nosso desenvolvimento, educação e cultura. A hora é essa!  



                OBRIGADO!


Não desmereçamos o que foi recebido da família, da sociedade,   das  instituições de ensino, que contribuíram para nossa formação. A segurança que nos dá a boa educação e cultura, o apoio financeiro e moral, para o melhor desempenho das responsabilidades impostas pela vida, e se possa gozar de bom conceito dentro da sociedade. Por tudo que recebi muito tenho a agradecer! 
“Na casa da Rua das Hortas minha avó  Carmen cultivava seu jardim. Lá para o fim da tarde ela fazia sua lista de compras com  um lápis de ponta rombuda, ouvido grudado no zumbido do rádio,  o centro das atenções na casa, onde a família escutava as notícias, acompanhava as novelas, o que se vê hoje ao vivo e a cores na Televisão. O país inteiro ligado nesse quase instrumento de guerra na época do segundo conflito mundial do século XX. O radinho de pilha foi um grande avanço, que as pessoas passaram a carregar para onde iam. Não tardou estarmos   conectados ao celular, ou diante da televisão e do computador; do mais pobre ao mais rico, todos sob o poder desses espetaculares inventos da civilização, também vítimas de sua barbárie, que nunca deixa de acompanhar o ser humano. A barbárie, das guerras, por exemplo, vistas no momento em que acontecem. Os aparelhos de transmissão e comunicação imprescindíveis na vida moderna, imediatista, ansiosa, a tecnologia aos saltos, que muda as coisas a cada instante,  sem que se saiba se é para melhor.
“Ao chegar do colégio encontrava os pacotes e pacotinhos de açúcar, manteiga, trigo, e outros produtos, empilhado sobre o mármore da mesa, à espera da alquimia da avó que ia transformar tudo aquilo em doces e salgados para festas. Deus lhe teria dito: “Faz tua parte, que te ajudarei.” Já para Nazária, de meia idade quando me entendi por gente, “o que o homem põe, Deus dispõe”. Ninguém a se sentir, mesmo, muito seguro naqueles tempos, principalmente as mulheres; os homens herdeiros do mundo no comando de tudo. A geração de entreguerras, anterior à nossa, de resignação para a mulher; a de pós-guerra instrumentada com o conhecimento  para reverter a situação. Findo o conflito mundial, o mundo ia passar por mudanças radicais, dentro de casa ou fora. Por enquanto só a falta d’água incomodava a população, minha avó sem água para as plantas, sua paixão. Não tinha gosto para criar animais, mas  avisava que não se devia maltratá-los. O gato da  casa escondido debaixo do “cantanhede”, o apelido do móvel, vindo  da pessoa de quem ele foi comprado, em estilo indefinido, onde o gato se escondia, a poucos passos do corredor que dava para a cozinha.


“Meu irmão brincava com seus soldadinhos de chumbo, em pleno ataque, quando escutamos pelo rádio o fim de Hitler, consequentemente, término da guerra. Ecoou pela casa a voz indignada do meu tio João: “Aquele lá era uma besta quadrada”. Encerrava-se no cenário mundial a ação ridícula e perversa de um louco. Ano especial para  mim o de 1945, e eu toda feliz aos sete anos, com o lápis apontado caprichava na caligrafia do cabeçalho do meu primeiro caderno escolar. Entusiasmada aprendera a ler e escrever, que tudo de bom me  adviria do grande feito. O trunfo civilizador da escrita. As crianças sob os cuidados das mães; ora austeras, ora de uma sofrida benevolência. Mães instintivas, ainda não adeptas de ideologias permissivas, como a da autodeterminação das crianças, coisa para o futuro, de pessoas compulsivas, ansiosas.
“A formalidade do uso do sobrenome para os rapazes no colégio conferia importância ao orgulho da família. Meu irmão bajulado, e eu jamais tratada como frágil e indefesa, ainda bem.  “Esta menina tem uma saúde de ferro”, o que ouvia. As crianças bem cuidadas em nossa casa.  Os meninos estimulados a progredir, enquanto as meninas voejavam a sua volta. Aos quinze anos elas dispostas a casar, quando deixavam para trás qualquer ambição profissional, sem pensar. As que não demonstrassem  desamparo, e sonhassem em ter  autonomia, eram consideradas ousadas, poucas na verdade! Avisava madre Arruda: “Medo é coisa de satanás!” O medo abusivo, que ninguém devia jogar com o destino, arriscar no desconhecido e, sim, aprender a ter vontade própria, a lutar pela  vida.
“Os recursos financeiros da família  tornam-se escassos, depois da morte prematura dos chefes da família em das gerações seguida, tempo de bonança que se foi. Mas o dinheiro nunca faltou, assim como o afeto, as necessidades supridas a contento, sem as solicitações que iriam surgir, com pai e mãe a se desdobrarem para satisfazer os anseios materiais, deles e dos filhos. Nas reuniões familiares todos pareciam de bem com a vida, pouco preocupados com a decadência da família, da cidade, do mundo saído da guerra. Entrávamos em recuperação e tínhamos o futuro pela frente. As expectativas femininas ainda calcadas na ambição da procriação, o que levaria aos bilhões de habitantes do planeta, seus vorazes consumidores. “As crianças tratadas como crianças de verdade, sem se envolverem com os problemas dos adultos, bem verdade que eram, às vezes, relegadas a um segundo plano.
“Nem tudo um mar de rosas, não mesmo, mas as mulheres, sempre habilidosas, com afeto e labor cuidando para que os valores humanos – respeito e afetividade, por exemplo - fossem preservados.  Minha mãe, aluna aplicada, poderia ter sido uma médica, ou pianista, mas casou com meu pai, sua grande paixão, com quem foi morar no interior. Ficamos com minha avó, eu e meu irmão  mais velho, para ter melhor formação escolar na capital. Da avó Carmen temos que agradecer a acolhida, sua dedicação, seu interesse pela nossa saúde e cultura, ela sempre dentro de casa, mas ciente do que acontecia pelo mundo, notícias que colhia inclusive através das freguesas, empolgada com a viagem de uma dela ao  Egito; queria saber da Europa, de Portugal, filha e esposa de português, mas se contentava com o Oriente. Um privilégio conviver com essa avó, principalmente, em S.Luis, cidade rica em tradição e valores culturais, de grande desenvolvimento no Império, seu imponente casario eleito  Patrimônio Cultural da Humanidade.” (Excerto do livro de contos “Sempre Memória”, da autora deste blog).  










segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

                                 A GUERRA DAS NOVELAS 



   A novela Salve Jorge, da rede Globo, escrita por Glória Peres, causa polêmica mesmo antes de ser levada ao ar. Pelo nome, já se sabia o que vinha por aí. Nome de santo da igreja católica e ao mesmo tempo de Ogum, entidade da Umbanda e do Candomblé, religiões afro-brasileiras. Os neopentecostais resolveram boicotar o programa de maior audiência da emissora global, numa espécie de “guerra santa”, como toda guerra há interesse financeiro embutido, além da defesa das consciências. O interesse maior era esvaziar a audiência de uma rede para alavancar a da outra, a Record, onde passa a reprise da novela Rei David. Comparar o rei hebreu com o santo guerreiro não é coisa do outro mundo, mas desse nosso mundo mesmo. Como a liberdade religiosa é garantida pela Constituição, todos podem exercer sua crença, manifestar-se publicamente sobre o que crê e deixa de crê. O santo já foi até banido do catolicismo, hoje deixado em paz, muitos os devotos do patrono da Polícia Montada. As espadas do Rei David e do Jorge guerreiro abrindo os bons caminhos, e não o dos infernos aberto por outros meios, quando as coisas podem ficar ruins de verdade. 
   O certo é que a novela das nove trata de assuntos de real importância no mundo atual, globalizado, propício a negócios de toda a espécie, os personagens a transitarem sem parar de um lugar para outro, de um país para outro, de uma cultura para outra, com rara facilidade. No palacete brasileiro uma elite rica e retrógrada, cuidada por um mordomo, vive seu doce far-niente à custa das rendas deixadas por algum nababo do comércio ou indústria. Já no morro, pacificado, sem tráfico,o que já foi uma grande coisa, mas é preciso fazer mais, muito mais, para erradicar de vez esse mal que invade a pobreza, continuando a comunidade carente, desperdiçando suas vida em brigas fúteis e exibições na laje. Ambientes desprotegidos, onde atua também outro tipo de criminoso, oculto nas falhas do tecido social, ocupando o vazio em termos de educação, de perspectivas.
   Pessoas que não conta com ações efetivas, nem da família, nem do poder público, um campo propício para a atuação das criminosas Wanda e Lívia, personagens tipo camaleão que têm um pé lá e outro cá, como se diz. Sub-repticiamente, elas atuam na favela, assim como estão infiltradas na alta sociedade, mundos aos quais não pertencem efetivamente, ou deles já pertenceram, de onde saíram por motivos até agora desconhecidos. Formaram uma quadrilha de traficantes de mulheres, de bebês, de drogas, que dirigem com mão de ferro, aproveitando a situação de fragilidade moral da sociedade, para praticar seus crimes. Antônia, foi a primeira a ser fisgada por Lívia, nunca fez nada e agora que o endinheirado marido perdeu tudo, quer trabalhar, ingênua, pensa que as coisas podem cair do céu. Dessas pessoas que não foram bem preparadas para a vida, por terem sido muito protegida ou, ao contrário, sem a devida desproteção.
   Faz contraponto com as laboriosas criminosas, outro par de mulheres - as ociosas, que já ultrapassaram em muito o limite da maioridade, e ainda não conquistaram nada, nem mesmo o tal príncipe - o do momento é o capitão da polícia, ou outro qualquer, sempre em fuga, na mesma proporção que elas avançam neles. Refletem uma sociedade que não quis crescer. Como cinderelas estão acomodadas na casa da madrasta, que não tem amor por elas , dedicada à cadelinha Émile, que trata como princesa. Submetidas ao suplício das virtudes da humidade e paciência, tão desprezada por essa geração, apenas por conta da partilha de uma herança deixada pelo pai, que podem nem receber. No morro, como nos bairros dos bem nascidos, vemos o mesmo dilema: a falta de amor familiar, de cuidados efetivos, o que leva as pessoas a quererem se dar bem a qualquer custo, o que não resulta em boa coisa.
   Morena e Jéssica estão sofrendo horrores na Turquia, traficadas pela dupla criminosa brasileira, sem conseguir escapar do cativeiro sexual, onde foram parar por ingenuidade, de onde fugiram duas vezes e tentaram se comunicar com a polícia local, mas entregues de volta aos traficantes. O machismo que o núcleo turco da novela apresenta, e todos sabem como são as coisas para a mulher naquele lado do mundo. As moças brasileiras queriam trabalhar honestamente, faltando-lhes consciência da maldade que campeia no mundo, a ponto de se deixarem levar pela promessa de ganhar em dólares numa lanchonete no exterior. Como tantas outras, querem ser donas do nariz, sem escolher bem com quem se metem, acabam nas garras de gente inescrupulosa, até mesmo na prostituição. Morena, tem uma mãe meio confusa, mas amiga dela, e já tinha encontrado um pretendente para casar e ser feliz, o tenente Theo, seu “santo” protetor, mas largou tudo pela aventura no exterior. 
   Habitante do morro a bela Lurdinha, coitada, tem uma mãe com filhos de vários pais, espalhados pelo mundo, no presente momento embeiçada por um presidiário em liberdade condicional, a quem cobre de mimos, em vez da filha, mas o cafajeste gosta mesmo é de outra, morena como ele, certamente um caso antigo. A branca e a morena, ambas sem vergonha na cara, vivem em brigas homéricas de ciúme pelo morro. Lurdinha já se sabe que é irmã de Aysha, traficada ainda bebê, mas teve a sorte de ser bem educada, amada pelos pais adotivos, um casal de turcos bem sucedidos no comércio, à procura dos pais biológicos da filha no Brasil. O tráfico de bebês, como o de mulheres para a prostituição, é assustador, o que se vê na novela. A bela Lurdinha já está na mira das traficantes, que pode escapar da cilada com ajuda da irmã adotada, afinal, a adoção é coisa para se levar a sério, como tudo o mais. 
   A delegada Helô, profissional bem sucedida, parece uma árvore de natal de tantos adornos que carrega, sempre em duplicata, como os cintos, pois é uma consumidora compulsiva. Está encarregada dos casos de sequestro no morro, separada do marido, um advogado bem sucedido, com quem deixou a filha, agora recém-casada, que vai para a Turquia, onde o marido tem garantido um trabalho no comércio de tapetes de Mustafá, pai de Aycha. Mas o jovem casal só quer boa vida e já foram pegos em falcatruas pelo turco. Facilmente manipuláveis, são incapazes de responder a questões simples da vida, não desenvolveram a capacidade de escolhas responsáveis. O vampirismo desses jovens, que vão entrar para a quadrilha de Wanda e Lívia. Êta mundo ruim e feio! Tem ainda o romance da periguete brasileira, interpretada por Cleo Pires, um escândalo ela ser livre daquele jeito, e ingenuamente acreditar que vai ser aceita numa comunidade por demais arraigada aos costumes, que submete a mulher ao homem. O romance serve para alavancar a audiência que vai fraca das pernas, não por conta história, mas do boicote dos seguidores de Edir Macedo, que não são poucos.