GALERIA VERMEER

sábado, 30 de março de 2013


         


                  P Á S C O A




O nome páscoa advém do hebraico pesah, passagem, que nos remete à celebração do Pessad, ou Passover, a páscoa judaica, quando é comemorado e êxodo dos israelitas da escravidão do Egito à liberdade. Assim acontece com a “passagem” de Cristo da morte para a vida. A páscoa católica celebra a ressurreição de Jesus Cristo. E o que vai frutificar daí para frente. Vindo do paganismo o significado de fertilidade. Na mitologia anglo-saxã, teutônica, a deusa Ostera segura um ovo. Inanna a mais importante divindade feminina do panteão mesopotâmico (em acádio Ishtar) e Astarte, ligadas à fertilidade, de onde vem Ostera, deusa da Primavera O poder gerador da lebre e ovo do começo da vida, fazem parte dos mitos, símbolos da  renovação, utilizados pelos povos antigos para festejar a  primavera. Faziam a alegra das crianças lebres e ovos coloridos, que foram absorvidos e incluídos nas comemorações judaico-cristãs, ou a Páscoa. Coelho ou lebre era o símbolo de Gefjum e suas sacerdotisas, que previam o futuro abrindo as entranhas de uma lebre.
 Festejamos a Páscoa de 2013 com o papa Francisco, recém-eleito, quando as esperanças se renovam na Igreja Católica. Que frutifique as melhores obras, por inspiração dos santos Francisco de Assis e Francisco Xavier, a quem nosso Francisco pede a interferência divina. Que os santo dos pobres e o missionário jesuíta da educação tragam, principalmente, mais fé, esperança e caridade aos católicos de todo o mundo.   

BOA PÁSCOA!      

quinta-feira, 28 de março de 2013

              



                                      
                                            
                                           REBELDES COMPULSIVOS



           
         Nora, personagem do escritor norueguês Ibsen, saiu de casa para que pudesse crescer. No tempo atual, a mulher se pondo no olho da rua, dessa feita levando toda a família. (Não demorariam retornar ao lar, apavorados com a violência, fruto da decadência da civilização que se tornara palco de exibições as mais estapafúrdias, de decadência dos costumes, de violência). A vida contemporânea acossada de todos os lados. Se não estão fora de casa, as pessoas entregues compulsivamente aos aparelhos eletrônicos. Os contatos afetivos feitos pela tela, inclusive do celular, outra modernidade que teria vindo para unir as pessoas, ou separá-las de vez. Mas a maior reviravolta nos lares foi a das crianças adquirirem poder para obrigar os pais a lhes fazerem todas as vontades, e ainda os deixarem com a consciência pesada. Chegou-se ao extremo de achar que os filhos serviam de exemplo aos pais, e não o contrário. Alguns, inclusive, testando a paciência dos superiores, que perdiam a autoridade, ou por se tornarem demais autoritários. Até que, no ambiente permissivo e confuso da pós-modernidade, o cinema mostra as possessões de uma menina (Linda Blair) no filme O Exorcista. Logo a seguir veio Mafalda (Mara Wilson), uma bruxinha que seria do bem pelos poderes sobrenaturais, com os quais passa a infernizar os mais velhos, seus pais trambiqueiros e irresponsáveis... Atualmente as ditas rebeldes levantam bandeira dos gays e demais minorias, pessoas que têm seus direitos, sim, principalmente, de não serem expostas como acontece nas redes de relacionamento. Parece que querem mais é constranger, ao expor uma realidade que merece respeito e menos exibição. Uma defesa escandalosa que nem todos os envolvidos gostam de ter, assim como rejeitam o escracho que é a Parada Gay.

quarta-feira, 27 de março de 2013




Acaba de ser aprovado no Senado uma lei que beneficia as empregadas domésticas, dando a elas os mesmos direitos que aos demais trabalhadores. Justo reconhecimento! A dona de casa tem que se adaptar e não pensar em demitir, pois as coisas não são difíceis como se pensa de início.




No quadro A Senhora e a Criada uma serviçal sai do escuro com uma carta na mão para entregar à senhora, que escreve o que pode ser suas confissões pessoais, comuns à época, ou mesmo calculando seus ganhos, até assinando uma carta de crédito, quando a criada chega. Criada dando as cartas? A senhora tira a atenção da escrita particular e coloca a mão no queixo, o que nos intriga, assim como ela própria parece intrigada com a mensagem que está prestes a receber. A elite que toma ciência sobre o direito pessoal da criada, em particular, ou das duas mulheres, direito inalienável de todas as pessoas, que não pode ser dado ou vendido. A relação do trabalhador com o patrão, ou patroa, que vai resguardar os direitos e deveres das partes, e no que diz respeito à liberdade individual. O que não significa total autonomia, quando não se tem direito no contexto social. O quadro de Vermeer expressa, pois, o pensamento básico de direito natural inerente a todos, e que precede a qualquer acordo, uma revolução no pensamento social, segundo a filosofia de John Locke (1632-1704). A filosofia política do inglês é que ao governo cabe assegurar o bem-estar dos governados, em um relacionamento não de senhor e escravo, nem de pai e filho, seu poder limitado, cabendo a soberania ao povo que elege seus governantes e os mantém enquanto nele confiar.  


domingo, 24 de março de 2013


                 O MUNDO POSSÍVEL




Mais pagã que cristã a imagem feminina que admiramos no quadro A Mulher da Balança. Uma representação da justiça, com poder para equilibrar as forças da natureza, tanto quanto avaliar os vícios históricos do homem. O prumo da balança, o da consciência humana diante dos desejos, fortemente ativo no mundo moderno. Acredita-se no peso justo dado às ações humanas, a todas as coisas, o que livraria do medo infundado e também dos excessos. Na ideologia tripartite indo-europeia a primeira das três funções é a justiça, espaço “sagrado”. A Delft holandesa de Vermeer como Delfo. Em plena Grécia clássica, a velha aristocracia cede lugar a polis-democrática, em que Apolo é vencido pela deusa da sabedoria. O poder de Atena direcionado às artes, ao comércio, que deu vida à primeira mulher, Pandora, a Eva dos gregos, que recebeu uma caixa fechada de presente, inadvertidamente aberta, fazendo com que os males se espalhassem pelo mundo. Mas restou a esperança para que não se acredite no inexorável, e sim nos deuses, ou num só Deus, ao lado dos homens, na alegria e no sofrimento.
A mulher da balança está diante de sua mesa de trabalho, coberta por um tecido no tom azul escuro, parte amassado, dando ideia do mar, o que se confirma na figura estilizada do animal marinho alinhado logo baixo, uma sutil presença do abstrato, imagem surrealista. O mar navegado de lá para cá e de cá para lá; a vida transitando entre o alto e o baixo, entre o abjeto e o sublime. A caixa paira sobre o mar de Vermeer, e faz a vez de embarcação, da qual pende uma corrente de ouro e um colar de bolas de prata. Prisão ao solar e ao lunar? Caixa de Pandora, que carrega as riquezas explorados no continente americano, e vão despertar o apetite, agitar a alma, pesadas as consequências. O ouro e a prata que serviam de troca no comércio europeu em forma de moedas, quatro delas sobre a mesa. Também ali se encontra boa quantidade de pérolas extraídas dos bancos de ostras no golfo de Paria na região que hoje faz parte da Venezuela, reservas que se exauriram após intensa extração, e serviam para enfeitar o colo e a cabeça das moças europeias. Ao lado da riqueza e vaidade a miséria do tráfico nrgreiro, também de mulheres.  A esperança feita de sangue a cor do fundo da caixa.
A realidade moderna na experiência individual do conhecimento, da comunicação e dos prazeres, do que trata a arte de Vermeer. O rosto doce e sereno da mulher, ou da civilização, com sua balança, e diz do juízo de autoridade da mulher, por um poder recém-conquistado. A própria humanidade que tem o poder para medir, conciliar, em equilíbrio dos sentidos e das ações. Intriga a segurança e tranquilidade dessa figura, como em estado de ataraxia, do grego ataraktos, ou seja, sem inquietação, o que Epicuro compara ao mar tranqüilo, quando nada vem revolver a superfície, ou agitar as ondas, diferente do outro mar, o tenebroso. Típico da cultura helênica a sanidade, a consciência, o limite, e em especial a modéstia e o sentimento do dever, que alerta sobre os males da intemperança, dos excessos daqueles que cultivam a irracionalidade. 
O importante é acreditar na vida, ter esperança, fruto do desejo de viver, de perseverar como autêntico ser humano. Nada como um dia após o outro, o que se diz quando as coisas não vão como a gente quer, sempre havendo esperança, fé, de superação das dificuldades. As dores que podem ser de uma perda, ou da queda em desgraça por qualquer motivo. O tempo sempre fluindo a favor, e não contra nós, se quisermos que seja assim. A esperança ás vezes feita de sangue.  Não o sangue das guerras, da escravidão, da violência, pois, por mais desastrada que seja a civilização, a individuação, em qualquer tempo, se deve acreditar na capacidade humana para superar adversidades, vencer os obstáculos surgidos à frente. É a esperança que alimenta a alma, e nunca devemos desistir de nós mesmos, dos nossos sonhos, quase sempre possíveis, já que os criamos na mente, e não ter pensamentos negativos que nos afetam, de nós mesmos e dos outros. A sabedoria a nos dizer que tem quem acredite em nós. E se há os que nos desprezam, e ameaçam desistir da gente, não podemos seguir por esse caminho.
O esboço do Juízo Final serve de pano de fundo no quadro, drama histórico de um passado de medo, na atmosfera dos tenebrosos dias do século XVI, quando estava ainda em jogo o próprio destino da humanidade e da civilização. O quadro dentro do quadro para lembrar a ideia cristã da culpa e respectivo castigo, sinal de que o mal existe no mundo, e não se deve relaxar. Em Vermeer não há, todavia, noção de fatalismo, mas de destino humano, sua busca pela razão, pelo juízo, que não seria final ou do outro mundo, mas aqui mesmo na terra.  Os valores conceituados universalmente, levando-se em conta cada sociedade em suas particularidades, cada pessoa em sua individualidade, afastada a ideia do julgamento fatal que pode trazer inquietude. Mas se deva apelar para o juízo que faça valer a pena viver sobre a terra. A cabeça da mulher  paralela à imagem iluminada de Cristo ressuscitado no painel de Miguelangelo. O modo esperançoso de ver o mundo através do Cristianismo.
O aqui e agora decepciona por não se querer olhar à frente, mas agir aleatoriamente, imaturamente, sem ter aprendido nada com o passado, sem ver as perspectiva futuras, e desse modo sair atirando em todas as direções, até que se entregar ao desânimo. Aprender a saborear a existência com gosto de viver o presente, que deve ter em vista o futuro. É o que de melhor o jovem pode fazer, mesmo em qualquer idade, em qualquer tempo. Um trabalho de paciência e, principalmente de persistência. Ser feliz depende da fé em nós mesmos, na nossa natureza racional, respeitado o irracional, que não se deve negar, nem explorar inadvertidamente. O século XVII e XVIII da promoção do ser humano, em espírito e matéria. Havia esperança de se viver melhor, eliminada a opressão, o sofrimento das mulheres, dos negros, dos trabalhadores, todos os responsáveis pela riqueza que transbordava no mundo.
 No mundo moderno homens e mulheres no luxo; outros oprimidos no trabalho indigno, mal remunerado, o que é uma violência contra a dignidade humana. Tantas pessoas ainda vítimas do abandono, sofrendo com os vícios, que priva as pessoas da felicidade, da cidadania. Essa pouco conhecida na época de Vermeer, que também desconhecia a ideia de civilização e progresso, como se pensa atualmente, sem se levar em conta as condições de bem-estar para todos. Cidadania significa educação, acesso à cultura, e consequentemente ao trabalho e lazer, necessários à realização pessoal e social.  O descaso com a educação, a falta de políticas públicas eficazes, é desastroso para o ser humano, que deve se desenvolver como ser biológico e psicológico.  O mundo que sonha com o progresso, principalmente, no sentido de justiça para todos, quando muitos ainda padecem por ignorância, desesperança. Sangue derramado, mas que ele tenha a força da redenção, sob pena de sermos tomados pela descrença na própria humanidade, e não passaríamos de bichos, monstros, e não gente de verdade.
Aconteceu o milagre da esperança nos povos pagãos que acreditavam nos deuses, como nós acreditamos em um só Deus, capaz de ofertar grandes bens a todos, sem discriminação. Os cristãos acreditando na força do sofrimento redentor. Por outro lado grandes são os males que decorrem da falta de ética, dos desacertos pessoais e sociais, da ausência do bem no mundo. É necessário capacitar as pessoas para que elas construam, modifiquem coisas erradas, mas sem destruir o que existe de bom. Não se destrua a natureza, a civilização, a si próprio, a razão de viver e ser feliz. O homem contemporâneo se valendo da ciência e tecnologia. Mas, nos avisa a santa experiência - que dá cobertura à nossa santa ignorância - que se deve ter parcimônia, e adotar a caridade, virtude humana por excelência. Sem sermos  muito duros, nem benevolentes demais. Nobre e heroica humanidade que desde sempre vem lutando pelo conhecimento, pelas luzes do saber que liberta.  Nosso passado histórico, mitológico, em evolução até o universalismo cristão.
No medieval as mulheres a fazerem suas simpatias, bruxarias, colaboradoras do conhecimento alquímico, subsidiário da ciência. Para Hipócrates “há um sopro comum a todas as coisas, e que estão em simpatia.” Ou em espelhamento, como diz atualmente a ciência. Fluxo social de ação e reação, num acordo que deve existir diante dos fatos e exigências do momento. No século XVI, Século das Almas, santas mulheres renovam a fé católica, ao constituírem mosteiros, congregações, abrigos, ao se engajarem na melhoria de vida para suas irmãs.  Às portas de uma nova Era, Santa Verônica de Giuliana(1660-1727), irmã clarissa, exerce no mosteiro de Cittá Del Castello todos os ofícios, desde cozinheira, enfermeira, professora das noviças, até abadessa. Personalidades femininas fundamentais na reconstrução da Igreja,   exemplos de vida no amor e na fé. Luisa de Torelli, condessa de Guantala, em 1530, funda as “Angélicas de S. Paulo”, dedicadas às moças órfãs, ditas da vida, que merecem uma oportunidade de vida melhor. Outra grande figura a se destacar é Ângela de Mereci (1474-1537) que, inspirada em Santa Úrsula, funda as “Irmãs de Caridade”, reunindo moças que iriam viver para louvar a Deus, na pobreza, castidade e obediência. As ursulinas tornam-se responsáveis pela educação das jovens de todas as classes, enquanto os jesuítas ocupam-se da instrução dos rapazes. Religiosas e religiosos que grandes serviços prestaram e prestam até hoje à educação, à fé. Por conta disso, nossa modernidade é mais luminosa que sombria ao se perseguir a luz da razão. As pessoas livres do medo infundado, e possam acreditar na justiça. A fé servindo de mediadora da renovação, ao obrar na caridade. O mundo que necessita mais que nunca da força espiritual, que se renova, assim como da razão no sentido de paz, de justiça.

LEMBRANÇAS DA AVÓ                                           

Na casa da rua das Hortas a avó Carmelita cuidava do seu jardim. Lá para o fim da tarde fazia sua lista de compras com um lápis de ponta rombuda, o ouvido grudado no zumbido do rádio, centro das atenções na casa. Sempre confiante no aconselho divino: “Faz, que eu te ajudarei!” Filha de pais abastados, casada com comerciante promissor, cedo enviúva, quando então se pôs a trabalhar em doces e salgados finos para festas. Acontecia na Europa o segundo e último conflito mundial do século XX e o país inteiro ligado nesse quase instrumento de guerra que era o rádio. Não tardaria estarmos todos diante da TV, esse extraordinário veículo de comunicação. As novas transmissões ao vivo e a cores, prova do espetacular progresso humano, também da sua barbárie, nossa barbárie. As guerras, por exemplo, não deixariam de acontecer, vistas hoje no momento mesmo em que acontecem. Do mais pobre ao mais rico, em qualquer idade, quase todos de telefone celular em punho, objeto imprescindível na comunicação moderna, imediatista e ansiosa, num mundo que muda a cada passo, sem que se saiba se para melhor. O computador a consumir boa parte da vida das pessoas que passaram a se comunicar através de e-mail e nas redes de relacionamento, como o Facebook.


                                   


– Nada de novo no Front! – Falou minha avó.
Ia começar o blackout. O jeito era se recolher aos braços de Morfeu.
– Esqueceu vó? Amanhã começa o retiro, vou passar o dia no colégio. Bênção!
– Deus te abençoe!
Eram três dias de silêncio para escutar o voz de Deus e do palestrante. Só retornávamos para casa após a última palestra do Arcebispo Dom José, já no fim da tarde. Toda minha vida escolar fiz no Colégio Santa Teresa, do primeiro ano primário ao científico, a fé piamente cultivada naquele estabelecimento de ensino, para que tivéssemos um futuro sem grandes percalços, no que acreditava, e ainda acredito. Não me via como religiosa, apenas abençoada pela paz interior que a religiosidade proporcionava. As mestras exigentes com as alunas para a nota máxima em religião, comportamento, civilidade e ordem, sinal de que não havia complacência com nossa natureza original. O boletim escolar dando destaque aos itens necessários para uma vida correta, e nos tornarmos pessoas civilizadas, evoluídas. A evolução um tanto custosa para alguns temperamentos, não muito afeitos à santidade preconizada pelas Irmãs; os desejos quase todos julgados negativos, e se alimentados no íntimo, causariam feridas. O saber considerado insuficiente para uma vida social e familiar santa. Importava, todavia, nos livrarmos da ignorância na língua portuguesa, na matemática, história, geografia e outras matérias. A sociedade patriarcal e paternalista evoluía para o exercício da cidadania em nova ordem de justiça social e progresso.

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O ano de 1945 e meu irmão com seus soldadinhos de chumbo, em pleno ataque, quando soube do fim de Hitler, consequentemente, término da guerra. Tio João disse indignado: “Aquele lá era uma besta quadrada”. Estava encerrada no cenário mundial a ação ridícula e perversa de um louco. Ano especial, o de 1945, e eu toda feliz caprichava na caligrafia com meu lápis ponta afinada. Já sabia ler e escrever, e tudo de bom me podia advir do grande feito. Aos sete anos, o trunfo civilizador da palavra escrita, depois da evolução de andar e falar. Tinha entrado na idade da razão, o que disse a avó, entusiasmada comigo. A explicação que deu era que se perdia o suposto paraíso para, em contrapartida, adquirir discernimento para assumir responsabilidades. As crianças sob os cuidados das mães; ora austeras, ora de uma sofrida benevolência. Mães instintivas, ainda não adeptas de ideologias permissivas, como a da autodeterminação das crianças, coisa para futuras gerações. E que tipo de gente sairia do rolo compressor que então se formou?

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A fina flor da sociedade carioca disputava palmo a palmo os salões do Clube Militar, ornamentados em homenagem a Baco deus do vinho e da alegria. Chegamos quando a orquestra brindava o seleto público com o hino carioca: Cidade Maravilhosa /Cheia de encantos mil/...Coração do meu Brasil.  De arrepiar! A prima com sua extravagante cor de cabelo, recém-pintado de acaju, por erro do cabelereiro. Temerosa, a dizer que não conseguiria nem um pião de obra para dançar, se aparecesse algum por ali.  Acontece que logo de início Lenita atraiu a atenção do simpático rapaz que vagava entre os foliões a procura de um par. Não teve dúvida, achara. E não desgrudou da moça de cabelos de fogo durante os três dias de folia, e também nas sessões de cinema no Metro Tijuca. Ele não era pião, mas filho de militar graduado.
A certa altura refugiei-me na sacada do Mezanino, dali ver o movimento, saudosa dos carnavais maranhenses. A folia no auge, e minha animação em baixa. Ainda na cidade natal Vicente se despedira friamente ao partir de muda para Recife com pais e irmãos. Teria notado a decepção em meu rosto? O pessoal cada vez mais animado no salão. Pensava na avó Carmelita que sentiu o desânimo da neta e veio consolar: “Ninguém mais deseja que sejas feliz, e faz tempo que eu planejei essa viagem, quero que me acompanhes.” Fiquei surpresa: “Tão depressa assim?” A avó prosseguiu: “Já está tudo acertado, vou visitar parentes, que estão contentes em nos receber. Podes continuar os estudos.” Abracei-a com gratidão: “Você acha que sou uma boba e egoísta?” Recebi resposta tranquilizadora: “Não, pois não há quem deixe de passar por momentos assim, de desesperança. Precisas saber o que queres para tua vida. Dá tempo ao tempo.” Segurava minha mão, como se temesse que fugisse dela, precipitadamente, como fizera a filha tempos atrás.
Em pleno baile de carnaval pensava no passado e também no futuro. Quando vi minha avó e sua irmã arremessadas para além da sacada de onde os mais velhos acompanhavam os filhos naquele alvissareiro e, também, perigoso reino de momo, brigas sempre aconteciam. Despertada do meu torpor, desci apreensiva, para logo recomeçar meus saracoteios ao som das marchinhas, misturado com o barulho característico do assoalho antigo. A dança proporcionava um prazer imenso naquele momento, e havia a esperança da folia carnavalesca transbordar para outra, a matrimonial. Uma coisa não tendo nada a ver com a outra, mas tudo na vida é tão paradoxal! 

sexta-feira, 22 de março de 2013


O MOVIMENTO DAS MISSÕES


Vermeer em homenagem ao jesuíta Francisco, o primeiro papa das Américas.


Com as descobertas marítimas e a ocupação das terras conquistadas, a Igreja assume a missão de preservar a fé e educar os colonizadores, dever que se estendia aos povos nativos para convertê-los e livrá-los da exploração. No século XVI o missionário espanhol Bartolomeu De las Casas elaborou as primeiras defesas dos direitos humanos. Ao saber das ações cometidas pelos espanhóis contra os nativos nas Américas declara: “Todos os homens são iguais no que diz respeito a sua criação.” Os primeiros europeus que embarcaram para viver no Novo Mundo eram vítimas das perseguições religiosas nos países ibéricos e na Inglaterra. Mais tarde, colonizadores  atravessaram o oceano em busca de terras para viver ou comercializar com os nativos o ouro, a prata, o fumo. Na tela de Vermeer Mulher com a Jarra de Água o que mais seduz o espectador é a expressão de felicidade daquela que pode ser uma noviça segurando uma jarra ao mesmo tempo que olha com devoção para o pálido vitral renascentista da janela do mosteiro, de onde ela vai partir na segurança que lhe dá a fé cristã. Vai vivenciar o novo, no trabalho educacional, missionário, atividade que lhe proporciona realização, lhe dá oportunidade de mostrar o próprio valor. O humanismo medieval constituído pela fé existente, herética ou não, que teve início com as missões nestorianas, coptas e cristãs célticas.
A mulher, a civilização, renovada pela fé cristã. A renovação pelo espírito, que purifica o sangue derramado na conquista do poder político e territorial, comercial, aquém e além-mar, inclusive do “além”. A Europa, saída das trevas das superstições e perseguições religiosas, vendo possibilidades no mundo em expansão. A jarra de água difere dos vasos fechados de cerâmica em outros quadros de Vermeer, contendo produto destilado, oculto. A água é do batismo cristão. A origem da vida nas águas. Sem água e sem luz não existiria vida. Capaz de se transformar em matéria sólida ao frio e voltar a se liquefazer, ou evaporar ao calor, a água é substância vital, que constitui um terço do corpo, sem a qual ninguém sobreviria mais que três dias. O mesmo se pode dizer da fé, que tanta falta faz ao espírito, a ponto de não haver felicidade sem ela. Próxima da abstração pela transparência, a água pura do batismo cristão. A prata da jarra servindo de metáfora para a fé missionária, tridentina, contrarreformista.
A noviça sorri feliz por pertencer a algo que lhe dá  uma boa consciência e sentido à vida, compromissada com a sociedade, com a família, com o mundo em que vive. Importa a realidade que vai além da simples vontade e liberdade, tanto para a fé, quanto para o gênero feminino, sujeito a valores, e não aos próprios desejos, nem aos quereres dos outros. A mulher retratada no quadro goza da felicidade de ter uma missão a desempenhar, em   sincronia com o mundo, fruto da ação católica, que passa a atuar fora dos mosteiros. Há um caminho novo a percorrer, abertos pelas Missões em todo o mundo, daí o mapa pendurado na parede. A fé renovada, em ação de caridade, após a ruptura protestante e lutas religiosas. Luminoso despertar para quem tem uma fé que a protege, com a qual pode ver o mundo, as outras pessoas, as coisas, como são de verdade. Conjurado o fantasma da angústia, da dúvida, do medo.
Ao sair do confinamento do lar, ou do convento, para enfrentar a vida, emerge uma nova mulher, que tem consciência de si mesma, e que vê o mundo de modo mais límpido, transparente. As armas que vai usar contrapõem-se às de fogo das guerras, ou das coisas que exacerbam as paixões na alma. São as dos valores cristãos e seus conceitos. Em vez de ideias sombrias, de fogos-fátuos, as obras missionárias ancoradas na fonte viva da espiritualidade cristã. A trajetória do espírito em missão evangelizadora faz companhia à mente em busca do conhecimento racional, científico. Velhas certezas e incertezas, acrescidas de novas esperanças que chegam à Europa através dos navegadores, dando notícia da natureza exuberante. O mundo mágico da América, decantada por Pero Vaz de Caminha em sua carta, sobre as riquezas da terra brasílica, recém-descoberta, “em que se plantando tudo dá”.
 Para o confucionismo, a principal meta da existência é o desenvolvimento do caráter. Na doutrina de Confúcio (600-500 a.C.) o pessoal é o social. O taoísmo de Lao-tsé (VI-V a.C.) prega que o “pessoal é a relação com a cultura”. O caminho do Tao é para que se forme uma sociedade harmoniosa com fé na natureza humana e tolerância para com os homens sem instrução e cultura, pois o que importa é a sintonia com o ritmo da vida, de acordo com o que lhe é próprio. Todavia, o taoísmo discorda da ideia da bondade inerente ao ser humano. A Europa seduzida pela filosofia oriental, quando os missionários da Companhia de Jesus foram acusados de irem longe demais ao condescenderem com as superstições, não só chinesas, mas dos povos nativos do Novo Mundo, no trabalho das Missões. Acusação feita pelos jansenistas contra os jesuítas que teriam adotado as superstições com uma boa vontade suspeita. Heroicos missionários, de quem Vermeer teria absorvido ensinamentos. Vizinhos de sua casa, os jesuítas lhe encomendaram um quadro sobre a fé. Fez dois: “Alegoria da Fé” e “Moça com Jarra de Prata”. Heroica a trajetória humana, suas paixões, a par de um conhecimento que se quer racional, científico. 
No limiar dos tempos modernos encontram-se razão e fé. A busca é por uma vida interior rica, ao lado do também rico existir cotidiano, mundano, transoceânico. Grande parte das mulheres europeias boas religiosas, prontas para prestar serviço à Igreja como missionárias, ou no exercício de outras funções sociais. Catarina de Gênova dirige um hospital com rara competência e santidade, dentro da fé católica, preocupada com a melhoria de vida material e com a conversão das almas. O grande padre missionário Antônio Vieira acreditava na conversão universal a cargo da Coroa lusitana, em sua aventura pelo mundo afora, seguindo o desiderato de um destino venturoso, após a derrota na batalha na África em que morreu o rei de Portugal, dom Sebastião. Em sua “História do Futuro” o jesuíta, considerado “apóstolo das navegações”, abençoa o trabalho missionário. No Brasil, diz Vieira aos maranhenses: “Os homens de quem aqui fala Davi são aqueles que estão nos dois últimos extremos da terra onde nasce o dia e a noite; uns nos confins do Oriente, que são as Índias Orientais, outros nos confins do Ocidente, que são as Índias Ocidentais.” Lá no fim do mundo, de onde teriam buscado o papa Francisco para Roma, conforme suas próprias palavras.
 Motivo de otimismo os europeus tinham com tanto ouro, prata e pedras preciosas, exploradas na América espanhola, depois no Brasil português, a partir de 1700. “Um Eldorado achado nos trópicos”, como diziam. A fé caminhando ao lado do poder temporal, onde são travadas lutas tenebrosas na disputa das almas e das riquezas, no mar, na terra e no “céu”. Parece que tudo de bom e de mal da modernidade começou a vicejar no século XVII. Aos grandes educadores jesuítas devemos o bom costume da leitura, quando o pioneiro padre Vieira fez chegar ao Brasil as primeiras publicações. Vieira, grande propagador da fé católica, também dos nativos, contra o massacre cultural e o trabalho escravo. Grande a paixão pelas Missões. No Brasil, os missionários fundaram o primeiro colégio em São Paulo, dedicado ao “ensino dos rudimentos”, ou elementar, de ler, escrever e contar, justamente por onde a evangelização se efetiva, ou seja, através da educação.




terça-feira, 19 de março de 2013


NOSSO PAPA FRANCISCO

A Igreja Católica Apostólica Romana, nesse 19 de março de 2013, dia de São José, entregou ao papa Francisco o pálio de lã de carneiro, símbolo do Bom Pastor, e o anel do pescador, com a imagem de Pedro,  para que ele conduza seu rebanho de mais de um bilhão de pessoas que adotam a fé, e ainda converta outros mais à fé católica. O novo papa de nacionalidade argentina com ascendência italiana, deixa de se chamar Jorge Mario Bergoglio, pois o pontífice dos católicos no mundo todo não tem nome próprio, nem nacionalidade. O nome de Francisco escolhido aponta o caminho a seguir, ou seja, dos santos católicos que foram essenciais para a difusão e consolidação do catolicismo no mundo: São Francisco de Assis, grande reformador, e São Francisco Xavier, missionário de extraordinário valor na propagação da fé, pertencente à tropa de choque da Igreja que é a Companhia de Jesus. Sendo jesuítas o novo papa seguirá o rigor da Ordem a que pertence, acrescido da humildade pregada pelos franciscanos, ambos necessários nos novos tempos. É o primeiro jesuíta eleito papa, conquanto a Ordem dos franciscanos já tenha feito oito pontífices.
O trono de Pedro ficou vago com a renúncia de Bento XVI que se sentiu velho e cansado para resolver os graves problemas da Igreja no momento.  O mundo parece que virado de cabeça para baixo e a fá junto com ele. Enfrentar tal desafio requeria determinação, muita devoção e redobrada proteção.  Foi convocado o concílio de cardeais, que se reuniu na Capela Sistina, enquanto milhares de pessoas aguardavam a fumaça branca, que anunciaria o eleito. Como sempre, gente de várias nacionalidades ficaram de vigília diante da Basílica do Vaticano, inclusive, pra ver o cardeal de seu país escolhido papa. Também os milhões de espectadores das TV pelo mundo afora. A eleição só demorou dois dias e quatro escrutínios, e lá estava ela, a fumaça esperada. Minutos depois o cardeal Jean-LouisTauran na sacada da Basílica anunciou: “Habemus papam!”. E que o nome do novo para seria Francisco, o primeiro papa com esse nome. Surge então o eleito, o rosto iluminado pela fé, mas que parece hesitar diante da multidão. Teria pensado em causar alguma decepção? Os brasileiros, por alguns segundos, esperançosos de verem Dom Odilo Scherer. Após “Oh!” de surpresa que ecoou pela praça, a grande felicidade com a figura santa que lhes era apresentada. No dia seguinte foi uma grande graça acompanhar pela TV o papa Francisco se dirigir à igreja de Santa Maria Maggiore, padroeira de Roma, carregando um buquê de flores para fazer uma homenagem à Mãe divina.
O papa do fim do mundo, conforme brincou o recém-eleito ainda na sacada do Vaticano, tem muito trabalho pela frente. Pela idade pode ser um pontificado tampão, como acreditam alguns. Mas é provável que surpreenda. Vindo da Argentina, ou das Américas, foi certamente por isso que teria escolhido a prata, exibida no Cristo crucificado que o papa Francisco usa pendurado no pescoço. Nossa rica prata que alimentou o comércio mundial no passado, e pode também significar nosso passado cultural, o importante trabalho missionário aqui realizado. Por um retorno ao que há de melhor na fé e no ser humano, e que parece esquecido. Sabemos o quanto os jesuítas sempre respeitaram a cultura religiosa em todas as frentes, o que o mundo contemporâneo quer abolir para seguir numa total liberalidade, de pensamento e costumes, como se não tivessem passado, nem futuro, só o presente. Muita coisa tem que ser corrigida, muito há que fazer para o mundo evoluir de verdade, para as coisas entrarem nos eixos, pelo menos para os católicos, que devem contar com a caridade, sempre. A Igreja de Francisco tendo missão importante nesse momento tormentoso, inclusive para ela mesma 

sexta-feira, 8 de março de 2013


NOSSO BRASIL
Dia Internacional da Mulher

Estudante de direito da UFRJ recebeu prêmio da UNESCO com o texto “Pátria Madrasta Vil”. O tema proposto era “Como vencer a pobreza e a desigualdade”.  Em vez de mãe gentil madrasta vil? E Brasil sinônimo de vil? Vil contraditório! Para Clarice Silva, mãe verdadeira seria a que nos cobre de mimos, sem exigir nada em troca?  Na verdade, abençoada terra, que abriga pessoas aqui chegadas em épocas distintas; primeiro os índios, depois os brancos, por fim os negros, que acabaram por formar uma mistura de raças, amálgama de culturas. E foram felizes para sempre.  Mas não é bem assim. E por que?
Antes dos portugueses, os antigos habitantes organizados em tribos, não conheciam a civilização, mas tinham seu modo de viver e ser feliz, possuidores de primitivas crenças. Com a pele acobreada e os olhos puxados, foram intitulados índios pelos brancos, que aqui chegaram em 1500. Lutas ferozes ocorreram pela primazia sobre as terras. Os índios nunca se deixaram escravizar. Já os negros que vieram para cá como escravo, depois de algum tempo foram libertos. Justiça humana e divina que pode tardar, mas chega. A importância que teve o negro e o índio para a nossa cultura, o nosso progresso, para nossa identidade, em suma.
Os índios que ficaram isoladas obtiveram por lei direito às terras em que habitam. Quanto aos demais temos informação deles ao nos olhar no espelho.  Aconteceu com a humanidade há milhares de anos: raças se misturaram; culturas são assimiladas.   Hoje vive no Brasil quase duzentos milhões de pessoas, a maioria sem que se possa distinguir se é branco, negro, ou índio.  Uma população bem engendrada e feliz numa pátria amada? Não é o que dizem, nem o que querem? Como assim?
Nem mãe gentil, nem madrasta vil. Mas pátria de um povo varonil, desejoso de liberdade e fraternidade. Principalmente, responsabilidade dos brasileiros   com seu país: homens e mulheres, pobres e ricos, feios e bonitos, baixos e altos, que eu não vou falar de raça, nem de religião, ou do que mais exista para separar as pessoas. Que haja empenho de todos os brasileiro para com o Brasil. A nação brasileira que precisa, antes de tudo, amadurecer, mudar seu povo de mentalidade para deixar “o venha a nós, e ao vosso reino nada”.  Os políticos comecem a prestar contas aos eleitores, se convertam aos bons costumes de trabalhar em prol do bem comum, e não roubar. De cima é que vem o exemplo e não há um pior do que a querer se dar bem a qualquer custo. Tanto os ditos esquerdistas, quanto os direitistas.
Homens e mulheres compromissados com o Brasil, para vê-lo crescer de verdade e nele se sintam felizes e confortáveis por fazer parte desse país rico e maravilhoso. O exemplo vem justamente de Portugal onde educação e saúde são prioridades, a ponto do ensino público superar em qualidade o particular. O país dos nossos avós brancos, mesmo em crise, não deixa de investir nas prioridades. Não adianta querer recriminar a mãe pátria brasileira, culpá-la de tudo. Sempre a mãe e nunca os filhos desobedientes, que contradizem as ordens, fogem das responsabilidades, fingem rebeldia por pura covardia.
Neste 8 de março de 2013, Dia Internacional da Mulher, como mulher brasileira, conclamo a todos a manterem respeito à pátria em que nasceram. E que aprendamos a votar, e não nos deixemos levar por promessas vãs, por intensões vis.  

sexta-feira, 1 de março de 2013


O DIA DO ADEUS

Bento XVI deixa, não por morte e sim de livre vontade, o Trono de Pedro, após oito anos do seu pontificado, por lhe faltar energia material e espiritual para comandar o rebanho, o que o papa declarou ao ler sua carta de renúncia dirigida a todos os membros da Igreja, em especial aos fiéis seguidores do catolicismo, que são mais de um bilhão em todo o mundo.  Acompanhamos tudo pela TV, até a despedida emocionada do bávaro Joseph Ratzinger, que passa a ter o título de Papa Emérito.  Desde o início Bento XVI pareceu estar deslocado no cargo, assim como o risonho João Paulo I que não aguentou o peso da responsabilidade e veio a falecer um mês depois de empossado. A despedida nesse dia 28  de fevereiro de 2013 foi à altura do emérito homem de fé e intelectual sério, grande auxiliar de João Paulo II, a quem sucedeu. Pensar naquele jovem que, por contingência e não por escolha, fez parte da juventude nazista e se tornou papa é um desafio para a consciência católica. Um soldado de Hitler? Seria cobrado por isso, também pela alta capacidade intelectual dentro da fé que abraçou. Tantas vezes posta à prova, o que certamente fez com que deixasse o posto mais alto da hierarquia da Igreja Católica, não por covardia, mas para que outro mais apto complete a obra de renovação da Igreja. O primeiro passo foi dado, desafio imenso para o sucessor de Bento XVI.
O mal ronda as ações humanas e a Igreja não está isenta dele, sempre muito assediada pela malignidade. Até um mordomo apareceu par colocar lenha na fogueira, personagem que fazia tempo não aparecia na cena do crime como culpado. Foi perdoado, e a partir daí se tornou necessário averiguar o que estava acontecendo por trás do roubo dos documentos pontifícios, escândalo apelidado de Vatileaks. Bento XVI encomendou a três cardeais de sua confiança uma averiguação minuciosa, e o resultado foi por demais desabonador para o alto clero. Sucumbiu o emérito papa ante tão triste realidade, de ver os “peixes ruins na rede de Pedro”, conforme suas próprias palavras, ao expor a triste realidade de sexo, roubo e chantagem nos corredores e quartos da Santa Sé.  Bíblicos vendilhões, que ainda podem influenciar no conclave que vai eleger o novo papa. Mas o alerta foi dado, e não poderia vir de forma mais contundente do que a revelação da malignidade, e consequente renúncia. Como é doloroso aos católicos, e mesmo não católicos, ver um homem afeito ao saber, às discursões filosóficas, dedicado a sua fé, a sua Igreja, ser tristemente apunhalado pelas costas, derrubado justamente por aqueles que dizem acreditar, como ele, em Deus. Mas quanta impiedade!