segunda-feira, 31 de março de 2014

Bota fè_Trailer




             

                                         POBRES DE NÓS

               
                           Obra de Edvard Munch- A Tempestade-(1893)

       Não adianta, não tem jeito, falta amor, falta fervor. Falta caráter, sobra dor. Atualmente é assim, a meta é a satisfação imediata dos desejos, ter coisas, pelas quais as pessoas são capazes de trocar a própria dignidade. O interesse material de um lado e a verdadeira razão de viver do outro. A mulher é quem mais sofre com essa cruel realidade. Ter aquele anel de ouro ou mesmo bijuteria no dedo, ostentar aquela bolsa de grife, calçar aquele sapato da última moda, ir para abalada mais quente do pedaço, é o máximo de felicidade que a moçada pretende alcançar hoje em dia. Os desejos primários satisfeitos e fica tudo bem. Perdemos a capacidade de ser feliz de verdade. Estaríamos sendo forçadas a isso, envoltos que estamos em um mundo de contingências? Perdido o sentido da vida, que ficou reduzido a ínfimos prazeres.
    
                    


               
                                  50 ANOS SE PASSARAM

                 

            Hoje faz 50 anos que ocorreu um golpe militar no Brasil, em 31 de março de 1964. A maioria do povo brasileiro e mesmo a população mundial à época apavorada com o comunismo que ameaçava os países ocidentais com suas armas nucleares, com seu ateísmo. O comunismo russo em choque contra o capitalismo e as liberdades individuais, as maiores conquistas da civilização ocidental. Estados Unidos e Rússia vivendo a chamada “guerra fria” e o resto do mundo na expectativa de um conflito nuclear entra as duas potências, que ameaçavam destruir uma à outra. No nosso país o momento era conturbado, a loucura de Jânio Quadros cedia lugar à irresponsabilidade de João Goulart. Com a renúncia do primeiro assumia a presidência da república o afilhado de Getúlio Vargas, títere do cunhado Leonel Brizola, político sagaz, que se dizia comunista, mas na realidade um oportunista.  Jango causava apreensão, chamado às pressas da radical China comunista para ser presidente, cargo para o qual não fora eleito. No poder Jango se deixa enredar por Brizola e suas contradições, daí o apoio dado aos militares pelas várias camadas da sociedade.
            
               Com o golpe militar foi implantada uma ditadura no país, não prevista pelos que apoiaram o movimento para livrar o país do comunismo, a favor da democracia. Foram vinte anos dos militares no poder, o país sufocado por um regime ditatorial. Outras ditaduras aconteceram pelo mundo afora, mas acabaram por ruir todas elas. As nações precisam da liberdade para escolher seus dirigentes, capazes de implementar políticas públicas adequadas ao país. No Brasil foi restaurada a democracia, sendo dada anistia para os crimes da ditadura e dos guerrilheiros comunistas, jovens imaturos, mas não menos perigosos. Com o esfacelamento da União Soviética, o comunismo acaba por ser banido para sempre, embora tenha quem ainda acredite no regime totalitário, que sobrevive em Cuba, um país, antes progressista, falido desde que Fidel Castro assumiu o poder. O capitalismo vitorioso, adepto da riqueza e liberdades individuais. As nações capitalistas, democráticas, cujo sucesso depende do progresso, e que seja para todos.  Fazer valer a justiça social e banir a corrupção. Ambições desmedidas continuam a ameaçar a paz mundial, em foco o expansionismo russo.  




quinta-feira, 27 de março de 2014

Youth Orchestra of Bahia and Lang Lang - Tico-Tico no Fubá




                                     A INTERNET NOSSA DE CADA DIA


         


            Penso, logo existo? Frase muito conhecida e pouco entendida, dita por Descartes no século XVII. O perigo das pessoas hoje deixarem de pensar por conta própria. Aconteceu depois da internet,  com as  redes sociais, onde a sensação é que estamos sendo manipulado, e sem saber o quanto. Causa medo as “boas” intenções desse mundo virtual, pouco virtuoso, mas imediatista e apressado. Amor e paz ao alcance de todos, ou um inferno sem precedente, o que se anuncia. As questões pessoais e mundiais resolvidas num piscar de olhos, literalmente, assim como as guerras a serem travadas. Inegável que temos na internet a informações, inclusive, pelas páginas dos veículos de comunicação – rádios, jornais e revistas. Notícias que recebemos antes mesmo de passar na televisão. “Mundo velho sem porteira”, dizia Érico Veríssimo no século passado. Imagina se ele tivesse convivido com toda essa virtualidade! Minha avó, por exemplo, como a neta, acharia que vivemos um caos. Mas certamente gostaria desse caos, pois quem não ama assistir os melhores intérpretes do mundo, as melhores orquestras, basta acessar o YouTub. Ver em detalhes as cidades e suas ruas, o que é possível pela emissão das imagens dos satélites de um lado para outro da Terra. Pura magia tudo isso! A internet nossa de cada dia, como o pão para o corpo, alimenta a mente, fortifica a alma. Mas pode ser tóxica, quando transmite produto falsificado, perigoso para o consumo.  Temos que estar prevenidos, tomando doses diárias de boas leitura para  fortalecer o espírito. 

Urgente: Para reger o uso da internet no Brasil, a Câmara aprovou no dia 25 de março próximo o Marco Civil da Internet que vai reger o uso da internet no Brasil, com nossos direitos e deveres, como uma constituição.

terça-feira, 25 de março de 2014




                 ROMANTISMO VERSUS REALISMO




   
   No passado as uniões estavam mais próximas do amor romântico, menos sexuais e mais ideais, focadas na felicidade conjugal e familiar, o que a exigência do sexo pelo sexo não pode realizar. Pura ilusão, engodo de outros tempos? Em princípio, o que move um homem e uma mulher a se unir sempre foi instinto sexual, não tem como ser diferente. Mas o casamento acontece também por outros interesses, quando se leva em conta, segundo os entendidos, o instinto de preservação, não só da espécie, mas do próprio indivíduo. Considerada de padrão darwiniano a união com a finalidade da realização do prazer sexual, consequentemente a perpetuação da espécie. Enquanto seria mais humana a relação em que são cumpridas regras pré-estabelecidas pela natureza, também pela sociedade, pela formação pessoal, seguindo uma consciência universal e própria de cada um. O certo é que risco de ser infeliz só ocorre a quem não ama. Compreendendo-se que amor não significa simplesmente sexo, pois tem várias formas de amor: materno, filial, a Deus, etc.

   O Primo Basílio de Eça de Queiroz mostra o olhar crítico do autor para com a tragédia do romance entre os primos Luísa e Basílio. A tendência do macho seria a aventura sexual, e se afastar satisfeito em seu instinto, o que acontece com Basílio, que retorna mais tarde, para encontrar Luísa vivendo o enfado de sua vida de casada. Eles voltam a se relacionar por conta daquele aventura romântica da juventude, o que leva Luísa a trair o marido, sendo outra vez deixada para trás pelo agora amante. A facilidade com que os românticos se enganam no amor. O drama do romantismo diante da realidade. A traição feminina, além do mais, acontece pelo caráter do personagem. A realidade de Eça fala para a mulher, romântica por natureza, que ela não ceda ao oportunismo do homem, nem ao seu próprio oportunismo. Uma mulher que vai sofrer, por ter traído, principalmente, a si própria, fracassando em suas uniões, por falta de sentido para sua vida, que seriam os filhos, uma profissão, religião, etc. A religião estaria fora para o autor, que se dizia ateu.

   O desfeche trágico do romance de Eça teria sido pelo realismo do escritor, também pela censura, que faz a heroína sofrer até à morte. O controle excessivo da criada, ou da sociedade preconceituosa, uma primitiva megera, não impediu que Luísa se jogasse numa aventura, mas fez com que ela morresse de medo e desgosto. Também Capitu de Machado de Assis, cuja traição não é comprovada, questão de estilo do autor. A dúvida que vai perdurar para sempre em Bentinho e nos leitores. O inocente Ezequiel, filho de Capitu, seria a redenção do casal, porém a prova do crime. Machado, todavia, preferiu a dúvida a uma certeza de difícil comprovação à época. O drama é o mesmo, tanto de Capitu quanto de Luísa, a traição, que acontece para o bem e para o mal. Só que Machado colocou um ingrediente importante, a dúvida, antes da ciência, que na realidade não pode dirimir todas as dúvidas.

domingo, 23 de março de 2014



                     

                       
                       
                       O AMOR NO OUTONO DA VIDA

                                                                 ficção

           Sempre ao cair da tarde, ele sonhava com o reencontro.  Após o trabalho ficava sentado no café perto do seu edifício de classe média, pensando que ela chegaria apressada, ele a espera para vê-la meiga a sorrir. Ela também vinda do trabalho. Doce o seu beijo, quente o seu abraço, eles presos para sempre em doce laço. Faz algum tempo! E cada vez mais ele sentia a sua ausência, muito que ela o fez feliz. Reencontro tantas vezes postergado.  Sabia que ela estava só, ele também, vivendo solitários o que poderia ser a fase melhor de suas vidas. Deixaram por um tempo de ser únicos um para o outro, tempo de encontros e desencontros. Injustos que foram um para com o outro. Ele tinha agora medo de esquecer e ser esquecido para sempre. Às vezes, a vida faz com que a mente se ocupe do que passa em volta, e deixe de fora o amor, que vai apagando do coração, da memória. Crueldade com as pessoas que se perdem, sem que haja remédio de farmácia para isso.  O que o amor exige é paciência e coragem para enfrentar o inverno, que passa, e ver surgir as flores da primavera.  Casais, hoje felizes, tiveram momentos difíceis, mas lutaram contra o desamor, sem medo. Essa é a vida verdadeira.  Parabéns para aqueles casais que estão chegando juntos e felizes ao outono da vida. Não faltam conflitos na vida pessoal, que para dirimi-los há de se recorrer ao diálogo, em vez de acessar armas letais. É o caso das nações que querem resolver as coisas no enfrentamento, sem a mediação do bom senso, que seria a política da boa vizinhança, pregada por Roosevelt, que ora falta à Rússia.   

sexta-feira, 21 de março de 2014



               JOSÉ DE ANCHIETA, “O APÓSTOLO DO BRASIL”

         



         Há os que entram, ou melhor, invadem, para nada acrescentar, apenas se locupletar. Acontece nas famílias e comunidades, que crescem em tamanho mas não em bens, os mais importantes que são os bens espirituais, ou sejam, fé, esperança e caridade. Verdadeiros vândalos, que surgem para sugar tudo que podem, quando não destroem, e ainda se fazem de vítimas. No passado foram os colonizadores nas terras que descobriram, ou melhor, exploraram. A importância que tiveram os jesuítas que para cá vieram como elo civilizatório, e aqui chegando fundaram cidades, a partir da criação de um colégio, o caso do Colégio São Paulo, que deu origem à grande metrópole brasileira. Uma carta de Anchieta aos seus superiores diz o seguinte: “A 25 de janeiro do Ano do Senhor de 1554 celebramos em uma paupérrima e estreitíssima casinha, primeira missa, no dia da conversão do Apóstolo São Paulo, e por isso a ele dedicamos a casa.”
      Os jesuítas também livraram os nativos da escravidão e os catequizaram no amor de Cristo, aos milhares.  Nascido nas Ilhas Canárias, em 1534, José de Anchieta foi denominado o Apóstolo do Brasil, sendo considerado ainda pai da literatura brasileira, gramático, poeta, teatrólogo e historiador, escrevendo em português, espanhol, latim e tupi. Refém dos Tamoios em Iperoig, compôs o famoso “Poema à Virgem” escrito na areia da praia, segundo a lenda. Caminhava José de Anchieta duas vezes por mês, os 105 quilômetros entre Iritica e Vitória, com pequenas paradas para pregação e repouso nas localidades de Anchieta, Guarapari, Ponta da Fruta, Barra Jucu – percurso que vem sendo percorrido por peregrinos, semelhante ao Caminho de Santiago, na Espanha.
       Missionário extraordinário, que desde sempre todos tinham como santo, José de Anchieta, após quatro séculos de sua indicação, vai ser canonizado pela igreja católica no dia 4 de abril. Reconhecidas as realizações do jesuíta em prol da boa formação do nosso país, ao lado de outros companheiros da Ordem, fundada por Santo Inácio de Loiola, que só agora tem também um dos seus membros no trono de Pedro. Eleito o papa Francisco com júbilo, pela competência no trato com as coisas da igreja e por sua humildade. A restauração da fé, abalada por escândalos, que esse jesuíta realiza, acostumado a dialogar com o povo, saber de suas necessidades, escutar suas queixas. A santidade que irradia Francisco, tanto quanto João Paulo II e os demais santos da Igreja.        

quinta-feira, 20 de março de 2014



                                   O AMADO CLEMENTINO


  



                                                                                       conto             


               Quais seriam os limites para as escolhas? Pode-se especular que há no nosso mundo moderno a tendência de algumas pessoas fugirem da realidade social e acadêmica, que seria por demais desgastante. Menos saber e mais viver a que se dispõem alguns, em estoicas e paradoxais intenções, para não se comprometerem muito com o mundo em volta. Pessoas que passam a se preocupar mais com a própria felicidade, inconscientemente, tramando contra ela. Todavia pode ser apenas prova de insegurança, ou deslavada covardia. Tempo estranho, em que vicejam incompetentes para serem realmente felizes. Quando ainda jovem Clementino tornou-se herdeiro de uma fortuna, quis viver perto da natureza, depois fechar-se em seu lar, para ser feliz ao seu modo
               Cheio de romantismo Clementino casou-se com uma mulher nada romântica, acostumada a fazer sucesso, principalmente com suas roupas e calçados de grife, agora com um troféu, o marido ao lado. Cinco filhos não foi pouco, criados na fartura de bens materiais e pouco afeto. O caminho que eles seguiram não podia ser outro, a rebeldia, para não caírem no desfrute puro e simples, com os pais na retaguarda, que ninguém é bobo de sair por ai de máscara na cara para reclamar contra Deus e todo mundo sem apoio holístico. A filha mais nova comediante, a vida artística com intenção de curar sua hereditariedade familiar. Dizia: “No palco curamos nossa esquizofrenia”. A arte, às vezes, esquizofrênica, era como falava o radiologista, dr. Filogônio no século passado. 
              Com o que se vê hoje, o mundo teria enlouquecido, e poucos escapam da sua bipolaridade?


                               
         



                              TODOS NO MESMO BARCO
           



         Nações explodem como uma panela de pressão, os conflitos quase insolúveis, o que acontece na Ucrânia que deseja negociar com  União Europeia depois de tanto tempo sob o jugo da poderosa Rússia. Mas que continua em sua ambição expansionista e hegemônica, após o desmantelamento da União Soviética, o que põe o mundo em alerta. Houve a experiência devastadora dos Estados Unidos de George Bush que invadiu o Iraque em consequência do terrorismo do 11 de Setembro, o que seria justo, mas só causou maiores problemas para a grande nação americana e sua invejável democracia, assim como para a nação invadida. Mas a Rússia quer avançar sobre o país vizinho ora dividido, sem poder deliberar o caminho a seguir depois de tanto tempo sob o jugo da antiga nação comunista. Aqui e ali beiramos um novo conflito mundial, pois hoje, mais do que nunca, o que acontece num lugar reflete nos demais, já que estamos tão próximos com a globalização da economia. Todos no mesmo barco, que quer soçobrar, e requerer que os povos se deem as mãos, sem se entregar. 
        As nações mais ricas e poderosas entendem muito bem que uma guerra pela hegemonia do planeta é coisa medieval, um erro terrível. Assim como foi o totalitarismo pregado pela ideologia comunista. No mundo globalizado medir forças para ver quem é o mais forte, defender interesses próprios, em detrimento dos outros, não é boa política. Os presidentes russo e americano devem entender os países em conflito, que pedem mediadores, sim, bons mediadores. Na Ucrânia o que vemos é a Rússia mediar de acordo com seus interesses. Na Síria as coisas fugiram do controle, onde as milhões de crianças sofrem abandono, miséria, estupros, o que escandaliza o Ocidente ao ver tais barbaridades em pleno século XXI. A violência explode perto e longe, fantasma de antigas lutas. Aqui perto, na Venezuela, a população dividida, revoltada, cuja violência de uns poucos transformou em guerra os protestos nas rua. Diante dos graves impasses da civilização moderna, nações menos afortunadas podem perder o rumo, e querer seguir  ideologias superadas. A sedução dos extremos, por acreditar na violência como única saída. Impasse a que chegou o mundo contemporâneo seduzido pelos extremos. Mas como tomar posição que seja menos radical e mais racional para resolver os problemas que acontecem em volta?

         A boa vontade que é necessária, e o que ainda falta nesse momento de tensão mundial. Reconhecer também os poderes que emanam das trevas, e não devem ser ignorados. Não podemos ignorar a falta de respeito para com os valores democráticos, humanos. A sociedade sente que chegou a um impasse: a corrupção de um lado e a miséria do outro. O certo é que nada se resolve sem que haja uma mudança de mentalidade, a responsabilidade que todos têm para com o progresso e a paz mundial. Sabe-se que cada povo, cada sociedade, como cada pessoa, tem seu modo de ser, de viver. E se compreenda que o direito de um termina quando começa o do outro. Temos um mundo que se diz civilizado, e sabemos que sendo assim nele deve existir boa vontade e autoridade moral. Se temos um mundo civilizado, nele deve existir boa vontade e autoridade moral. Promover a reconciliação e a paz entre os povos, é um dever que a humanidade não pode desprezar. Nesse sentido foi criada a ONU, para ajudar nas questões mundiais, nos conflitos entre as nações. E há o Tribunal de Haia para julgar as agressões aos direitos humanos em todo o mundo. Além da Igreja Católica, autoridade incontestável quanto à defesa dos direitos humanos, que elegeu o papa Francisco um líder tão importante neste momento. 

quarta-feira, 19 de março de 2014

segunda-feira, 17 de março de 2014

Mitos e verdades sobre labirintite e zumbidos




                                     O  QUE SERIA  DA  POESIA


                                                         Murilo Moreira Veras



O que seria da poesia,
se não fossem as flores, o desabrochar do campo,
As folhas secas no caminho.
O que seria da poesia,
se o amor não louvasse a alma,
a brandura das mãos não amanhecesse
No dia de sonho.
O que seria a poesia,
se o poeta não decantasse a vida, a natureza,
uma cachoeira de sonhos.
O que seria da poesia,
se o horizonte não cruzasse com os olhos
da eternidade, fundidos em esperança.
O que seria da poesia,
se o poeta, na sua insânia denunciativa
não perfurasse o caminho errado da vida
E dos homens.
o que seria da poesia,
Se o céu não abrigasse sua ternura edênica
para a assertiva lírica do poeta.
O que seria, enfim, a vida,
sem a poesia, o cântico das entranhas madrigais
dos loucos vates, de antanho e de hoje,
pelas ruas, calçadas, cafés, bares,
Até encontros acadêmicos.
O que seria o mundo sem a poesia?
– um grande vazio, uma saudade perdida

nos escombros da vida.





 Alegres Campos, Verdes Arvoredos
              
                                                        Luís Vaz de Camões






Alegres campos, verdes arvoredos,

 Claras e frescas águas de cristal,

 Que em vós os debuxais ao natural,

 Discorrendo da altura dos rochedos;



Silvestres montes, ásperos penedos,

Compostos em concerto desigual,

Sabei que, sem licença de meu mal,

Já não podeis fazer meus olhos ledos.



E, pois me já não vedes como vistes,

Não me alegrem verduras deleitosas,

Nem águas que correndo alegres vêm.



Semearei em vós lembranças tristes,

Regando-vos com lágrimas saudosas,

E nascerão saudades de meu bem.





Comentário de Murilo Carlos Veras.



Diz Aristóteles que a percepção que naturalmente mais agrada aos homens é o visual, mas a percepção “auditiva”, o saber ouvir e compreender, é que permite melhor alcance das coisas universais e perenes.

O homem facilmente se vislumbra com a grandiosidade e solidez de montes majestosos, com a delicadeza de verduras deleitosas e a rapidez e fluidez de águas cristalinas; ou se atemoriza com a aspereza e inconstância de campos agrestes e rudes penedos.

É da fraqueza de meu eu vacilante que brotam percepções de inconstância, veleidade e superficialidade, são percepções que fazem meus olhos ledos, que se desmancham nas primeiras provações, nas vicissitudes da vida.

É da robustez do nosso eu mais interior que emergem atitudes universais de serenidade, coerência e firmeza.

Por entre a dissipação das coisas sensíveis, superando-as, o nosso ser interior ao poucos carrega e transmite, ainda que entre lágrimas, fontes perenes de fidelidade, persistência, fortaleza e nobreza.

É daí que podereis “ver” as verdadeiras fontes, as autênticas lembranças, de um bem maior que um dia se revelará em frutos de saudade interior e eterna.


Intervenção de Murilo Moreira Veras.  

Este soneto de Luis de Camões é pouco conhecido, nem por isso perde em perfeição e agudeza de espírito, virtudes naturais dos grandes sonetistas e escritores, como, por exemplo Shakespeare, Dante e nosso Raimundo Correa. Tua interpretação está simplesmente impecável, sensível, maravilhosa. Talvez eu não fizesse melhor. Foste ao âmago da mensagem transmitida no soneto, que é a volatilidade do ser, o ser-em-si heideggeriano, onde as coisas são essencializadas, em estado puro, o interior do interior, a grande aventura do estar-no-mundo. Direi mais, porque, na realidade, tua exegese vai mais além, busca o chamado "estado d'alma", tão utilizado pelos poetas, muitas vezes desconhecido pelo leitor apressado, que não  sabe ler "nas entrelinhas", apenas atentando para o léxico superficial das palavras e o que elas linearmente querem dizer. De certo modo, tu procuraste, no teu magnifíco texto, desvelar a alma, na sua plena caminhada pelos desvãos do mundo e da vida. Quando a alma está pura "os campos são alegres, os arvoredos  ficam mais verdes, a água corre cristalina pelos vales", mas é preciso manter a alma, assim, sempre pura, posto que, contaminada, toda essa visão celeste se desfaz, como diz o poeta dos Lusíadas: "semearei em vós lembranças tristes" e depois só fica a saudade representada pelas lágrimas que só a bondade permite contemplar. Este soneto espelha o cristalino da alma, sua imortalidade, a infinitude do ser cósmico.
Parabéns!





Murilo Moreira Veras <cdletras@gmail.com>
17 de março de 2014 15:18
Para: Murilo Veras <veras.murilo@gmail.com>


Danubio Azul. Concierto de Año Nuevo de la Orquesta Filarmónica de Vien...



FESTA DE DEBUTANTES DE 1953 NO GRÊMIO LÍTERO MARANHENSE. MINHA ETERNA GRATIDÃO AO MANO CHICO POR SER PARTE DA MINHA HISTÓRIA E POR SUA ESPECIAL COMPANHIA NA VALSA DOS MEUS QUINZE ANOS. 

sábado, 8 de março de 2014

                                                         
Homenagem ao Dia Internacional da Mulher - 8 de março


                                   
                            

                       







                     

                AMÁLIA E SUAS IRMÃS


                                                              conto


  1.     Diderot havia declarado do alto do seu iluminismo no século XVIII: “Tudo deve ser sacudido, sem exceção e sem timidez”. As três irmãs, Maria Carolina, Maria Judite e Maria Amália, meio burguesas, meio aristocratas, até certo ponto românticas, não se deixavam atingir pelo iluminismo redivivo da época em que viviam, meados do século próximo passado. Rebeldes a maneira delas; mais pacíficas que amorosas. Acompanhavam de longe e com simpatia, diga-se a bem da verdade, a revolução feminista, mas sem se disporem à ceder aos instintos. Os românticos, nostálgicos da aristocracia, zombavam dos burgueses por gozarem seus prazeres – se por acaso os tivessem – de modo muito criterioso, soberbos e sóbrios até no vestiário. Não queriam, isso sim, ficar à mercê do destino, revidava a burguesia, que dera largada ao progresso econômico da produção e do consumo. Mas tornou-se uma classe de acomodados e pacatos partícipes da evolução dos costumes, voltavam as críticas. Recebiam tréplica, as exibições eram coisas para os emergentes burocratas corporativos, que almejavam ascensão social de qualquer jeito. A burocracia que viria a ser útil ao processo de consolidação das instituições, e se impunha, como a burguesia, mais para o bem que para o mal.
  2.          Tempos das cabeças femininas na janela, o local mais público onde as mulheres podiam se deleitar em ver e serem vistas pelos homens. Tantas calças masculinas pelas ruas, que elas iriam usar um dia, e nem desconfiavam o quanto, assim como adotariam o trabalho fora de casa. Só eles saíam da casa para trabalhar e se divertir no Brasil. No início dos tempos modernos, no século XVII, Jan Vermeer retratou as mulheres perto das janelas; abertas, semiabertas, ou fechadas, o olhar voltado para fora, enquanto liam e escreviam cartas. Moças que tinham suas atividades cotidianas restritas ao ambiente privado, isso até meados do século XX para a maioria das mulheres. Já em Paris as mulheres desde os fins do século XIX podiam ser vistas em público, “saídas”, como no quadro O Primeiro Passeio, de Auguste Renoir. Com a industrialização elas passaram a ser arregimentadas para o trabalho, as operárias, filmadas por Lumiére, saindo apressadas do trabalho, o que o público assistiu estupefatos em 1895, o primeiro filme produzido no mundo, A Saída da Fábrica. Acontece que em 1857, em Nova York, operárias haviam morrido carbonizadas dentro da fábrica de tecido onde estavam reunidas em greve por melhores condições de trabalho. Incêndio criminoso, cuja data passou a ser comemorado como “Dia Internacional da Mulher” a partir de 1910 por recomendação da ONU. 
  3.       As três Marias não eram janeleiras, nem alienadas, tinha plena consciência do que acontecia no mundo e pensavam em melhores dias para as mulheres, que sofriam privações, sem trabalho e mal assistidas, mesmo perseguidas. Todas sofriam o descaso para com o gênero feminino. As duas mais velhas logo casaram, ficou Amália que foi em passeio ao Rio, nossa Paris, para "arejar' a mente. Se brigavam entre elas, era sem relevância, e nunca recorrerem às lágrimas, o que seria fraqueza humana, nem se dobravam aos instintos. No século XIX o burguês Darwin, que marcou o mundo com sua teoria da evolução, alertou sobre a competitividade, típica dos seres humanos, possuidores de egoísmo e crueldade inatos. E a burguesia, que teria domado seus instintos com a educação e também - diziam seus detratores - com muita hipocrisia, via o mundo moderno se movimentar, ou correr para novos tempos. O progresso avassalador num mundo que logo entraria em crise, descrente de Deus e ao mesmo tempo em guerra com a razão. A Segunda Guerra fez a humanidade viver uma barbárie sem tamanho, a do nazismo, o que havia sido previsto pelos evolucionistas ao tentarem prevenir a consumação de tais catástrofes. Darwin... Rousseau...! As irmãs Dias eram reticentes com as elucubrações do Dr. Filogônio, médico e amigo da família. Achavam por bem guardar distância desses ateus, com medo de suas ideias, que podiam contaminar o espírito cristão. Todavia, possuíam uma fé religiosa sem grandes entusiasmos; mais prosaicas e humanistas que poéticas e sublimes. Da religião admiravam seu lado ético e estético.
  4.        Teve aquele rapaz simpático, recém-chegado da Europa, tão tímido quanto culto, apresentados por amigos, com quem Amália, que já havia rompido um noivado por falta de fidelidade do pretendente, conversava sobre a vida, sobre no mundo. Os pais dele portugueses, como os dela. Uns poucos encontros, e de repente Nestor some de vista, só restando aquele retrato dos dois em passeio pela Praça da República no Rio, o que excitava a curiosidade da sobrinha-neta, que insistia para ela contar um pouco sobre aquele retrato, imaginando muita coisa por conta própria. O certo é que depois dos dias ao lado do amigo, quase namorado, o rapaz volta para o velho mundo, o que Amália soube por terceiros, que ele ia cumprir nova missão intelectual, e nunca mais se veriam. Nestor não tinha espaço a ceder, atarefado em sua criação literária, que a amiga lia de relance, pouco interessada em poesia, mas querendo se interessar. Quanto ao poeta, ele teria lastimado por aquela alma inculta e tão ingênua, quase a desprezá-la por isso. Teria resistido a ter a alma violada por aquele poder feminino? Amália, nada romântica, inofensiva, estava mais preocupada com a família e a guerra, o sobrinho aquartelado, a quem ela visitava para saber o estado de saúde do jovem, que escapou do pior, ir para o front, a guerra chegou ao fim sem sua participação. Quanto a Amália e Nestor, nunca eles tiveram um gesto maior de aproximação mais íntima um para com o outro. A moça, mais esperançosa, não ficou desiludida, desde o início adivinhando o que estava escrito em algum lugar para eles, o destino de solteiros a vida toda. O destino era brabo naqueles tempos...
  5.        O romantismo de Amália e suas irmãs poderia ser classificado como racional. Jamais seriam românticas sexuais ou transcendentais. Esclarecidas, e convictas de que os encantamentos místicos, assim como os ensinamentos por demais dogmáticos, eram coisas do passado; nefasta tanto a crendice quanto a extremada racionalidade. A ciência com sua real importância, mas também merecedora de restrições e controle. Inegável os feitos extraordinários na ciência e nas artes, o que as tias de Maria acompanharam, até o dia em que viram o homem a pisar na Lua. Mais extraordinário ainda, ver os passos do astronauta aqui da terra através de um veículo chamado Televisão. Na casa da sobrinha Deizinha, Amália acompanhava tudo o que se passava em volta, e não era pouca coisa o que acontecia na família e no mundo em transformação. As notícias de fora sabia através do rádio, enquanto as da família de viva voz, ou  lhes chegavam por cartas. Telefone ainda não existia, mas a telepatia que funcionava em casos extremos, por exemplo, quando a tia recebeu a notícia da morte de um parente. Na época as pessoas sem demonstrar grandes medo, nem preocupações exageradas, o que seria prova de fraqueza humana, já que se devia confiar acima de tudo na ajuda divina.
  6.         O importante era não voltar atrás o relógio do tempo, coisa para bobos, dizia Amália, que viveu com alguma autonomia individual – mais que as irmãs casadas. Viveu sua longa vida sem alegar necessidade de nada, embora deva ter sentido, sim, falta de muita coisa, inclusive de um companheiro. Perdera ainda a chance de aprimorar mais sua cultura, o que pouco lhe teria valido naquele tempo, a não ser o prazer pessoal. Tempos avançados já naquela época, mas o assunto era tabu, o caso de uma alta funcionária, prima de uma amiga da família, que morava no Rio, Adelaide, e vivia com uma francesa, coisa que a tia de Maria não queria comentar, pouco convivendo com elas durante sua estada na capital federal. Era hóspede da outra prima, solteira, que não dividia a cama com ninguém. Na terra natal, Amália pouco frequentava o confessionário de frei Policarpo, mas aos domingos lá estava cumprindo humildemente seu compromisso maior com Deus. Gozava de alguma liberdade, sem se afastar demais daquilo que fora engendrado pela família, por seu meio social, pela religião, poderes tutelares. Mas por acreditar principalmente em si mesma, acontecia de ser livre da condição de simples tutelada.  A certa altura da vida comprou uma casa no campo, onde por muito tempo ainda foi viver tranquila sua vida solitária. Estaria cansada da intimidade com as pessoas, e vice-versa. As frustrações que acontecem no convívio constante. Nas férias escolares recebia os sobrinhos, e a tia sempre visitava a família. Alguém poderia dizer que Amália serve de exemplo para o naturalismo de Rousseau. Ledo engano.
  7.  



sábado, 1 de março de 2014





                                            A VIRGEM MARIA NA UCRÂNIA

        
                                        Igreja de Santa sofia



                                Kiev destruída durante a Segunda Guerra             
             

            Ucrânia, nome que me faz lembrar de imediato às aparições da Virgem Maria, que aconteceram naquele país na década de cinquenta, ou um pouco antes, não sei bem a data. É um fato que ainda me toca, assim como tocou toda a juventude católica no pós-guerra, início do comunismo naquela país europeu. A Ucrânia ameaçada por nazistas e comunismo, impasse que teve fim após a Segunda Guerra, quando o país foi anexado à extinta União Soviética, cujo regime comunista e ateu, passou a perseguir os religiosos do país. Foi justamente quando aconteceram as visões do padre católico, seu nome guardado em minha memória até há pouco, uma pena que não possa mais citar aqui, inclusive, porque não encontrei referência alguma a essas aparições, que raramente acontecem aos religiosos, principalmente do gênero masculino. A notícia que correu mundo, o muito que deve ter representado para os católicos ucranianos. O certo é que tenho essa lembrança da fé católica, que resistia ao ateísmo na Ucrânia, como em outras partes do mundo. Registro aqui a fé do povo ucraniano, e certamente sua dor por ter convivido com o ateísmo por tanto tempo. A quase totalidade da população ucraniana tem vocação religiosa, a maioria de cristãos ortodoxos, mais de 80%, enquanto o grupo menor é constituído de católicos romanos, protestantes, judeus e mulçumanos.  Apenas 3% de outros, inclusive ateus.

             O cristianismo ortodoxo oriental influenciou fortemente a arquitetura, a literatura e a música do país. A Rússia, por sua vez, deixou de ser um país comunista e ateu, após a extinção da União Soviética. Foi a promessa feita pela Virgem Maria aos videntes de Fátima em Portugal, ainda em 1917.  Na era soviética houve o chamado genocídio ucraniano. Com a extinta União Soviética ocorreu a independência em 1991, restando aos ucranianos, além da liberdade, uma boa infraestrutura para seu país, e um exército maior de toda a Europa, só perde o russo. O maior país europeu,  com solo fértil, e por muito tempo considerado celeiro do mundo, hoje a Ucrânia é composta de 24 províncias e uma república autônoma (Crimeia) e duas cidades com estatutos especiais. Kiev, a capital, onde ocorreram as rebeliões contra o presidente Viktor Yanukavich, e Sevastopol, onde acontecem tensões contra o governo provisório. Na fronteira, a Rússia faz exercícios de guerra, alertada por outras potências mundiais sobre o erro de avançar sobre Ucrânia. Que a Virgem Maria mais uma vez tenha o olhar voltado para os ucranianos.