terça-feira, 28 de julho de 2015




                   
          TEM NOVIDADE NA PÁGINA VERMEER

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Mahler: Symphony No. 6 "Tragic" / Lorin Maazel : Royal Concertgebouw Orc...








                               O BEM, O MAL, O MAGISTRAL

 




           Gente boa evita falar dos outros para acusar; gente ruim, ao contrário, tem que achar culpa, ou desculpa, para tudo. a diversão preferida do malvado é apontar erro nos outros, no mínimo, um chato. Mas tem os gênios da maldade, que seduzem. Pior é que costumam, inclusive, colocar seus próprios defeitos na conta dos outros. Chegam a ser convincentes. Geralmente uma pessoa memoriosa. Ser malvado é para alguns uma arte, assim como tocar piano, fazer teatro. Seriam artistas frustrados? O malvado despreza o bom, a quem pode devotar até ódio, enquanto se derrete para quem o trata com indiferença, desprezo.

            Conviver com quem vê mal em tudo e em todos, não é fácil. O mundo realmente está um descalabro, aumentou a quantidade de gente e diminuiu sua qualidade. Mas podemos encontrar pessoas de qualidade, sim, só que não andam dando sopa por aí. Adorarmos encontrar pessoas boas, e ter alguém para chamar de meu tipo inesquecível é o máximo. Alguém que não se pode esquecer, por suas boas qualidades.  Nem sempre podemos escapar das passagens pouco gradáveis, que nos incomodam a memória, e só resta fazer catarse, através da leitura, da escrita e outros meios. Tratar de esquecer as coisas ruins e só  lembrar das boas, ou alguma  experiência magistral.  Tão rica que é a vida!   

quarta-feira, 22 de julho de 2015








                  JUVENTUDE

                      Mocidade
                                              
                                                 FLORBELA ESPANCA
 

 
A mocidade esplêndida vibrante,

Ardente, extraordinária, audaciosa,

Que vê num cardo a folha duma rosa,

Na gota de água o brilho de um diamante;

 

Essa que fez de mim Judeu Errante

Do espírito, a torrente caudalosa,

Dos vendavais irmã tempestuosa,

- Trago-a em mim vermelha, triunfante!

 

No meu sangue rubis correm dispersos:

- Chama subindo ao alto nos meus versos,

Papoilas nos meus lábios a florir!

 

Ama-me doida, estonteadoramente,

Ó meu Amor!, que o coração da gente

É tão pequeno...e a vida, água a fugir...

 




 




 

sábado, 18 de julho de 2015






                       A GRANDE FAMÍLIA



 

     A família não tem de ser necessariamente grande em número de pessoas, o que hoje em dia é improvável que aconteça, apenas algumas reminiscentes. Em compensação, deve ter aquela grandeza, pela maneira como seus integrantes agem entre si e como tratam as demais pessoas fora do seu núcleo. Acolhedora sem ser por demais permissiva, assim como acontece com as pessoas individualmente. Esse negócio de ter a porta aberta dia e noite para quem quiser se abancar, nem para os membros mais chegados. Esperar o convite e nunca ser inconveniente. É o respeito que mantém as coisas nos eixos. Não ser a “casa da mãe Joana”, expressão vinda do século XIV segundo Câmara Cascudo. Joana I de Nápoles e condessa de Provence, teve uma vida conturbada, envolveu-se com uma conspiração e que aos 21 anos foi exilada pela Igreja, e se tornou dona de bordel, lugar onde cada um faz o que quer, sem nenhum tipo de regra.    

     No passado as famílias moravam em casas espaçosas, e era comum os filhos continuarem residindo com os pais depois de casados, geralmente por necessidade, ou mesmo comodismo. O casal, ou os casais, permaneciam nessa situação por muitos anos, até a vida toda. A coisa aceita como norma, e todos se dando bem em família. Por falta de dinheiro, também porque a mulher era induzida a casar muito cedo, e  sem maturidade para arcar sozinha com a responsabilidade do novo lar, cuidar do marido e dos filhos. Era o que a família original pensava. Havia casos em que o novo par assumia a direção da casa e tudo ficava numa boa, os pais felizes por terem quem cuidasse deles na velhice. Havia abusos de poder, mas tudo bem, valia a pena pela família, que permanecia unida.

      Ou melhor seria que cada um casasse e fosse morar em sua própria casa? O alerta veio em boa hora, que os casais começaram a se desentender, cada um querendo puxar a brasa para sua sardinha. É uma brasa, mora? Roberto Carlos que o diga, com casamentos um atrás do outro, incentivando a moçada. Não apenas ele,  especialmente a turma dos psicólogos. Acomodar-se em casa dos pais, ou partir para a experiência mais importante da vida que é ter seu próprio lar? A ruptura foi drástica, e muita gente saiu de casa para morar sozinha, que o barato, mesmo, era estar livre, leve e solta. A profissionalização foi a mola mestra da mudança. E o pleno emprego da época, que os mais novos deixavam de depender financeiramente dos mais velhos. E emocionalmente? Ninguém queria pensar nisso.

       Longe da casa e do controle, que se dizia burguês, as pessoas foram viver suas experiências. A tecnologia dava condições para que a vida fosse cada vez mais confortável, mais fácil. A expectativa era grande, e a desconfiança idem, na mesma data, que a família sumisse, ela que vinha se deteriorando. Mesmo assim a nova geração era reverenciada como se tivesse atingido o ápice da evolução, os mais velhos, vistos como primitivos habitantes da terra, e alguns eram assim mesmo. Mas o que estava ali para todo mundo usufruir era fruto do trabalho e do saber, acumulado geração após geração, gente que acreditou no progresso e foi leal aos bons princípios. Não entender isso é navegar em águas turvas, e todo mundo sabe disso. O certo é que, hoje, para se ter uma grande família, não precisa que ela seja numerosa em número de filhos, nem é conveniente que seja assim, mas se exija dos seus membros  respeito e cooperação.

         


sexta-feira, 17 de julho de 2015






       LIÇÃO DE MÚSICA

 

 

                                  

                        O liberalismo econômico e, em especial, a fé reformada, faz com que o progresso e o dinheiro deixem de ser mal vistos. Às portas da modernidade, na rica República holandesa recém-inaugurada, a mulher começa a sair da obscuridade. Momento  teria compensado  a espera, justamente quando Vermeer pinta seus quadros. A intenção da arte barroca é, principalmente instruir, o que faz o pintor ao mostrar para as moças, modelos de comportamento, além de fazer propaganda dos produtos que expõe. Foi Vermeer um dos representantes da famosa arte holandesa do século XVII. As mulheres pintadas pelo artista exercem atividades diversas, bem vestidas e penteadas como para uma festa, salvo a leiteira no quadro do mesmo nome, cuja intenção é o glamour para esconder o aspecto tosco, comum em algumas dessas mulheres. No quadro Lição de Música a cena mostra uma moça cercada de objetos, que podem ser da coleção particular, ou expostos para serem negociados. Ela  certamente pertence à burguesia próspera, e é revelador que esteja de pé frente ao piano e de costas para o espectador que a vê dedilhar um instrumento musical, sua face  refletida num espelho pendurada na parede logo acima. Ao seu lado um mestre  e instrutor.
 

                         O barroco é a expressão artística com a qual o pintor de Delft mostra a nova postura feminina, uma farsa por trás do que se vê na aparência. No quadro, um espelho raro e caro, onde a mulher se mira, assim como o piano, onde ela exercita sua arte e vaidade, também nos demais objetos expostos, com o mesmo fim. Vermeer a se penitenciar por ser ao mesmo tempo artista e propagandista, menos por gosto e mais por dinheiro. Com menos gosto ainda Vermeer expõe em sua pintura-vitrine o feminismo, o consumismo, que então se esboça. O instrumento musical é simplesmente um rico e belo objeto de consumo, e não passaria de um estímulo à vaidade da moça, que simula tocar algo. Pensava-se a música como bálsamo para o espírito, o que está escrito no tampo do virginal: A Música companheira da alegria, balsamo para o espírito. Os reformistas, que se dizem herdeiros do povo hebreu, e certamente Vermeer junto com eles, pensam, todavia, que a instrução musical seria uma forma das pessoas se afastarem da fé, e tática das mulheres fugirem das suas reais funções de esposas atenciosas, mães dedicadas, filhas obedientes. O pintor barroco não estava de todo sem razão. Seria uma incógnita a nova Republica, assim como o progresso, o feminismo, e o próprio arte de pintar.

 

                        Os homens até então ocupados em suas viagens comercias e de conquistas pelo mundo,  em cruéis batalhas contra o poder espanhol. Enquanto isso, as mulheres ficavam reclusas nos lares e nos conventos, longe da violência, mas também da vida pública. As armas dos homens feitas para matar, diferentes das armas femininas da sedução maternal e sexual. Com a riqueza acumulada, muda a sociedade, e também suas mulheres, que  optam pela instrução. No século XVII as holandesas leem e escrevem, assim como tocam algum instrumento musical, o que faz parte da educação liberal para elas, que passam a evitar, sim, e com toda a razão, a sexualidade e a maternidade, compulsórias. Penso que para Vermeer tudo seria engodo, trama, do feminismo, que então se esboça, o que ele denuncia, como se previsse  nossa pós-modernidade, as mulheres, em sua maioria, optando por não casar, não ter filhos, e a consumir desastradamente, inclusive, roupas desbotadas e rasgadas, numa simulação, em sentido oposto à lição de música do pintor. A lição de Vermeer, como pintor barroco, são os comportamentos. Houve progresso, material, sim, mas a sociedade cresceu em injustiça, e nela infelizmente não se pode confiar, ao contrário, atemoriza. Mas a promessa era bela e justa, de que a pessoa se fartaria de tudo que a vida tinha a oferecer ao plantio e boa colheita... 

quarta-feira, 15 de julho de 2015

The Fountain — Marcel Lucien Grandjany








                             MUNDO EM TRANSE



 





   Diz-se da vontade que ela move o homem, e o prazer seria um truque para a sobrevivência da espécie. A humanidade com uma história urdida para, fatalmente, ir do truque ao transe. As pessoas em transe eufórico pensando viver o paraíso na terra, mas o que têm é um arremedo de felicidade, ou quase inferno. As ambições desse ser racional e transcendente remete a grandes satisfações, ou amargas frustrações. E somos todos hoje obrigados a suportar um mundo louco, que chegou aonde chegou a duras penas e parece que ninguém aprendeu a lição.

     As gerações passadas não estão isentas de culpa, pois contribuíram para o processo desagregador. Não resta alternativa senão arcar com as consequências dos erros cometidos, da imperícia geral e irrestrita. Um legado extraordinário da ciência e tecnologia não resta dúvida, mas jogado aos pés de tanta gente despreparada para absorver seus benefícios. Como se não houvesse amanhã queimam tudo numa fogueira de ambições e vaidades. A natureza é que mais sofre, além dos autores da destruição.

      Os problemas atuais são de um mundo em transe, o que implica  tenha a espécie humana consciência da situação, e da sua condição de herdeiro digno de tanta riqueza, herdada e adquirida, que deve ser preservada. E não seja feita a nossa vontade, mas a Vossa.  “Assim na terra como no céu”.     

  

segunda-feira, 13 de julho de 2015






                A MATEMÁTICA DA FELICIDADE

      






        Antes de qualquer operação mais complexa, temos que aprender cálculos elementares: somar, diminuir, dividir, multiplicar. Com a vida também temos que saber o básico, ou pouco se pode fazer. Somar boas ações, diminuir frustações, dividir alegrias e multiplicar esperanças. Ser feliz é o que todo mundo quer, e sendo assim, obedecer certos princípios, entender que a felicidade não é um fim em si, mas consequência de como se age diante da vida.

       Tem gente que é feliz por natureza, ou por sua genética. Mas também se aprende a matemática da felicidade e ser grato, bondoso, atencioso, estudioso, atitudes que atraem simpatia e ser simpático é importante para processar a felicidade nossa de cada dia. Mas não se preocupar em ser feliz. A preocupação desvia a atenção das metas a seguir. Dos prazeres, preferir os mais simples, o que mais contam pontos: um abraço que se dá e recebe, um sorriso, um bom conselho na hora certa, coisas elementares e tão importantes para dar a felicidade a outem, com retorno certo.

       Viver em um mundo cada vez mais complexo não é fácil, e requer cada vez mais atenção ao que se faz e como se faz. Ter uma atividade criativa, desafiadora, por exemplo, dá uma felicidade danada. Estar engajado idem. E sorrir, ou melhor, dar risada, o que não significa euforia, que deve ser evitada. O eufórico é diferente do sorridente. Não confundir as coisas, euforia e felicidade. Ter pois motivo para sorrir, e mesmo sem motivo sorrir. Rir por nada é um bem exercício. Serve mais ainda nos momentos de crise, quando não se  tem motivo para rir e podem até escarnecer: “Tá rindo do que?” Mesmo assim sorrir.

       A satisfação com a vida pode baixar quando há crise, seja ela qual for, a econômica, por exemplo, com o desemprego, que bate à porta, e vai comprometer o bem-estar pessoal e da família, fase que atravessamos agora, depois da euforia econômica. Todos passam em algum momento por crises, às vezes, sem ver um saída. Preocupação não adianta, tem que pensar em sair da crise sem se afobar, e que a família e os amigos possam ajudar.

      Ter dinheiro para satisfazer as necessidades básicas e adicionar algum extra na conta é necessário para assegurar bem estar, traduzido em casa confortável, viagens, amigos, mesmo interesseiros, mas amigos, em estabilidade do casamento. Os acomodados são outra classe de gente, não arriscam nada, mas perdem o gostinho de aventura que a vida tem, e merece ser experimentada. Afastado o terror da pobreza, pois nada pior do que não ter como pagar as contas,  nem mesmo assegurar a alimentação, o básico do básico. Terror maior é o da pobreza de espírito.
       O dinheiro já disseram que é a mola do mundo, hoje transformado na engrenagem toda. Os Bancos tratado como um organismo vivo, que deve ser mantido saudável, senão, pluft. E se o dinheiro não traz felicidade, o consumo simula a felicidade para quem não sabe ser feliz de outra forma, geralmente saem do nada para o tudo. Mas dizem as pesquisas que os religiosos são mais felizes, justamente os que têm menos dinheiro, ou dinheiro algum. O que os religiosos têm, sim, é vida de qualidade. A segurança que há na fé em Deus. O oposto  daqueles que pensam que a felicidade é ter isso ou aquilo, é acumular dinheiro.
 

domingo, 12 de julho de 2015






A VIDA É MESTRA


   As mudanças fazem parte da vida. Mudamos física e emocionalmente até o fim da vida. A face com rugas e os cabelos brancos na velhice são mudanças na aparência, outras imperceptíveis, mas não menos marcantes!  Parece que nada é para sempre. Passei a infância e juventude na mesma casa da minha avó na Rua das Hortas, um lar acolhedor que, de repente, como que se desfez no ar, literalmente, abandonado por seus habitantes, cada um com motivo para partir. Fui a última. Ás vezes é bom deixar a vida nos levar, e quando sentir necessidade de ir, não ficar ou, ao contrário, ficar se não quiser partir.

        Assim como a cada ano escolar tem que haver a renovação da matrícula, também acontece na escola da vida. Hoje é duro acompanhar o progresso, que vai a passos céleres, e nos faz sofrer mudanças, a preço cada vez mais alto. As coisas que adquirimos cobiçosamente, acabam descartadas, sem que haja o menor sentimento de perda, o que ameaça acontecer com as pessoas. Nada melhor que a moda para mostrar o quanto tudo na vida é transitório. Ninguém escapa disso. Mas não deixar que as ambições exijam de nós além do que se possa pagar, nem que desafie o bom senso. Vontade não falta de estar de todo livre, quase como um pássaro. A sensação inicial que se tem quando se muda, até de cor do cabelo, é de que se vive um novo momento. Feliz de quem pode mudar sem arriscar muito, e sempre mudar para melhor. No caso de “pior a emenda que o soneto” não desanimar. Atingir a maturidade e não apenas a maioridade, deve ser a grande realização do indivíduo.

        Não falsificar-se, a tendência de quando se chega à vida adulta, disse Isabela Boscov ao comentar o filme Cidades de Papel, baseada no livro do mesmo nome, de John Green, escritor sensação do momento, ao abordar temas da juventude.  A protagonista já impressiona por ser chamada pelo nome completo, Margo Roth Spiegelman e só andar de bicicleta em pé. Igual a tantos jovens fortes e bem instruídos, só na aparência. Uma juventude que vive um momento estranho, com pais indiferentes, permissivos, sem noção. Não contam também com o exemplo dos professores, pessoas nem sempre com boa formação. Os amigos, por sua vez, se não babam ovo, fazem bullying. Margot não se sustenta, desaba, perde o controle, ao ser traída pelo namorado, quando então convida  um enamorado de infância para ajudá-la a perpetrar uma vingança em série. Após uma noite de destruição nas residências dos envolvidos na traição, ela some, de casa, da escola, do amigo de infância.  

        A vida é mestra, e sentir seu gosto doce e amargo faz crescer. Normalmente, não fugimos, mas empreendemos uma mudança de vida: mudamos de estado civil, mudamos de casa, mudamos novamente de casa que a família cresceu, mudamos de carro, os filhos mudam e saem de casa, renovaram-se nossas expectativas, e por aí vão as mudanças. Mudar faz parte do aprendizado. Importante é termos  lembranças boas para guardar, não esquecer das pessoas especiais que fizeram parte da nossa história.  Certo que só possuímos de verdade o que podemos levar conosco aonde quer que se vá. Um sonho, por exemplo,  é a coisa mais dura de se deixar para trás, mesmo assim, continuar sonhando, ter outros sonhos –  isso é maravilhoso. E o tanto que a vida nos surpreende! Experimentar um dia vender tudo, desde a casa aos móveis e utensílios, mas sem se desfazer do mais importante, a fé e a esperança. Sem perder o brilho da infância.


quinta-feira, 9 de julho de 2015






                                O MAGO

                                                  







             
Há algumas décadas surgiu no cenário editorial brasileiro e internacional uma figura de performance surpreendente e que fez sucesso imediato, Paulo Coelho. Seus livros fenômenos de vendas, nos quais o escritor conta de forma pessoal e romanceada suas experiências com a magia, além de aconselhar os leitores, entre outras coisas, que cada um crie sua própria lenda. Acenava ainda com a possibilidade de qualquer pessoa tornar-se um mago,  fazer chover, como ele próprio diz que faz. Criou em sua volta uma multidão e admiradores. E tão famoso ficou, que se dizia ter a rainha Elizabeth II um livro do mago brasileiro na cabeceira.  

       “O Diário de Um Mago” foi aquela explosão de leitores, o que se estendeu com “O Alquimista” e nas publicações seguintes, até hoje. O escritor vinha de experiências com drogas pesadas, e internações em hospitais psiquiátricos. Tinha sido parceiro de Raul Seixas, os dois cada vez mais envolvidos com sexo e magia negra, quando então o letrista resolveu abandonar aquela loucura, principalmente depois de ser preso e torturado na ditadura militar. Coelho passou então a adotar um misticismo próprio, para o deleite dos seus milhões de fãs mundo afora.

      Com as descobertas científicas houve uma revolução nos costumes, o alvoroço das drogas, as legais para a cura das doenças, inclusive para os distúrbios mentais. Logo ficou evidente a gravidade da dependência química, os danos que podem causar ao cérebro. No início os alucinógenos chegaram a ser receitados aos doentes psiquiátricos, procedimento que foi logo descartado. Sigmund Freud causou impacto sem precedente na medicina, ao apontar a sexualidade como fator importante no equilíbrio do corpo e da alma. Já seu aluno, Carl Jung, resolveu estudar o melhor a questão do psiquismo, afastando-se do mestre. Guardada as devidas proporções, algo que aconteceu com Paulo Coelho ao se afastar de Raul Seixas, auto intitulado “Maluco Beleza.

       Jung buscou desvendar o que estava para além do desejo sexual, e que dizia respeito à vida espiritual, às profundezas do ser. Pesquisou os símbolos vindos  de um passado remoto, de intenso misticismo. Certos mistérios também estavam guardados nos sonhos, onde estariam chaves preciosas para desvendar segredos da vida pessoal dos pacientes, que o médico suíço passou a analisar, num processo terapêutico para a cura dos males psíquicos. Com a ciência, mas fora do seu domínio, correntes de pensamento formaram-se. Allan Kardec fundou a doutrina espírita, enquanto Helena Blavatsky criou a Teosofia, que causaram grande impacto no pensamento ocidental.

       Uma aventura enveredar pelo saber espírita e teosófico. Mas quem na mocidade não gosta de aventura? Foi o que aconteceu com  muita gente ao ler, por exemplo, “O fogo Criador” do teosófico e escritor J.J. Van Der Leeuw. Ninguém mais podia ignorar certas coisas. Surgiram os carismáticos católicos, com o acompanhamento espiritual da igreja, para que as experiência não se desvirtuassem. Paulo Coelho a essa altura havia amadurecido, quando então o mago ficou seduzido, menos pela doutrina católica e mais por sua especial magia. Permanece todavia Coelho um bom mago e escritor medíocre, a distribuir ”simpatias”. O certo é que magia, assim como o sucesso, é um mistério, coisa que não é para qualquer um.

 

      

quarta-feira, 8 de julho de 2015






                       O MEMORIOSO

  
      Tem gente que grava na memória qualquer coisa, ditas em abordagens rápidas, fatos que acontecem de somenos importância, nada que mereça atenção e cuidado. Pessoas há que se gabam de ter uma memória prodigiosa. Mas a ciência nos informa que a inteligência é seletiva, e seu grau não pode ser medido pela memória. Ter boa memória é muito bom, sim, mas esquecer também é importante. No caso da internet, deletar. Atitude hoje imperiosa, como os veículos de comunicação, onde a superficialidade toma conta de tudo. Coisas que devem ser avaliadas precisam sofrer uma peneirada, em vez de serem retidas.


        A mente atravancada perde a capacidade de interpretação e análise. Numa clicada e a internet traz o mundo para dentro de casa, tudo que há de bom e também de ruim. As redes de televisões vinte e quatro horas no ar, com todo tipo de informação, ou desinformação. Umberto Eco acaba de fazer uma entrevista para Veja, e coloca a internet no lugar do personagem memorioso de Borges, o Funes, que lembra tudo, não esquece nada.  O escritor de “O Nome da Rosa” faz uma crítica feroz contra a internet, onde ele diz que campeia a imbecilidade. Um cabotino de primeira esse milanês. Mesmo assim lhe dou razão.

       Penso na diferença que há entre memorioso que tudo lembra e o memorialista, que seleciona o que é importante guardar na memória. O critério que se deve ter sobre o que lembrar.  E que inferno seria se a gente não tivesse capacidade de esquecer. E parece que tem gente nesse inferno. Sempre tem alguém que conhecemos e age como um memorioso, assim como sempre há um memorialista, graças a Deus. A boa memória para informar dos fatos relevantes que acontecem na família, por exemplo, que deve ter sua árvore genealógica, o que não seria esnobismo.

        A boa memória ajuda a inteligência. Mas quanta inutilidade guarda o memorioso. Ele que chega de repente com uma frase dita, ou um fato que teria acontecido e o outro não consegue, ou não quer lembrar? A língua afiada, de quem tem o prazer de surpreender com sua memória, mas só lembra do que o outro já esqueceu, deletou. Além de memoriosos, são imaginosos, concebem na memória o que lhes convém. O certo é aproveitar bem o potencial da sua memória, caso contrário, é uma tortura, uma fraude.

         Não privar a mente do que é importante, as verdades, que a todos interessam. Um bom exercício espiritual é descartar as bobagens que não servem para nada, e focar no bem a ser praticado. A boa memória é educada, disciplinada, não se presta a certas coisas, como fazer pegadinha com os outros. A memória pode ser parceira, também trapaceira, cuidado com ela!

domingo, 5 de julho de 2015





                              
 
                                     QUE TEMPO BOM!

 

     As redes sociais na semana que passou estiveram repletas de palavras de desagravo endereçadas a Maria Júlia Coutinho, ou Maju Coutinho, como é chamada carinhosamente a apresentadora do tempo no Jornal Nacional.  Ela foi vítima de racismo no Facebook, por três ou quatro internautas, e não gostou nada dos insultos, lógico. Tomou as devidas providências para coibir tais baixarias, contra ela, ou quem quer que seja. Mas não deixou de sorrir lindamente sobre de tudo isso, sendo ainda mais admirada pessoa que é, além da competência. Disse com muita propriedade: “Que tempo bom! É assim que a vida continua bela para quem merece que assim seja, com amor no coração, sem ódio, nem rancor.   




                O SILÊNCIO É DE OURO?

 


      Quando se diz que “o silêncio é de ouro” pode ser verdade em alguns casos, mas em outros, ao contrário, é arma letal. Todas as relações dependem, sim, de muita conversa. Falando é que as pessoas se entendem.  Mas tem quem ache melhor calar, deixar as coisas correrem numa boa... Boa para quem? Para ninguém serve silenciar quando é necessário o diálogo franco, sincero, amigo, com quem convivemos. Tem que falar, pois não vale a pena calar para escapar dos julgamentos, dos questionamentos, que podem ocorrer.  Não ter medo de falar, nem de escutar. Pior é ficar mudo ou surdo, quando então as coisas vão acontecer à revelia.

     Calar para fugir de discussões, de brigas? Mas às vezes é preciso enfrentar essa possibilidade, que ninguém é sempre um anjo. Sempre é melhor falar que criar insegurança, o que causa o silêncio de alguém com quem se convive, e acha que deve ficar calado, ou falar apenas o que lhe interessa. Quando o essencial numa relação é o diálogo. Falar a verdade, ou meias verdades, pois ninguém precisa sempre ser tão verdadeiro, a ponto de causar constrangimento ao outro. Não é hipocrisia ter compreensão, bondade para com o próximo. Matraquear não vale. Para não ser maledicente esclarecer as coisas. E se for alvo da maldade alheia, ter paciência, e deixar que o tempo se encarregue de levar o que é ruim e traga coisas boas.     

    O medo que se tem de errar o alvo, ser inconveniente. Mas quem aprende com o silêncio? Em certas ocasiões ele pode, sim, ser de ouro, noutras é uma pedra no caminho. O outro não merecer confiança, por exemplo. Aí não tem jeito. E quando chega a vez de “discutir” a relação é que a coisa fica feia.  Mesmo assim vale a pena tratar sobre o que vai mal. É infantilidade achar que o outro tem que aceitar tudo, sem questionar, o que pode resultar em aborrecimentos futuros. A omissão  compromete a relação entre as pessoas com quem se convive. Pode até ser confortável a curto prazo, mas ao longo do tempo é desgastante. Melhor  desabafar o que sente, para não sofrer depois. 

     Dizer o que se pensa na hora certa, falar o que se quer, ou não se quer, pode salvar uma relação do fracasso. Pior é ter um convívio opressivo com alguém, quando se tem de aceitar tudo calado, protestar jamais. Pode custar muito tempo de aprendizagem, mas um dia a gente aprende, inclusive, que nunca se deve sair de uma conversa sem antes entender bem o que foi dito. Nem sempre interpretamos bem as palavras do outro, muito menos o que pensa. Falar claramente, para que não haja mal entendidos. Duvidar não é crime. Mas esclarecer certas dúvidas é necessário, para que se enfrente a vida com competência e ser mais feliz.     

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Gustav Mahler: Symphony No. 2 "Resurrection" (Lucerne Festival Orchestra...




          GUSTAV MAHLER – (7.07.1860 – 18.05.1911)

 



 

Gustav Mahler era judeu, nascido no antigo Império Austríaco, no pequeno burgo de Kalischt, da antiga Boêmia, atual República Tcheca. Sobre suas origens dizia o maestro e compositor: “Sou três vezes apátrida. Como natural da Boemia na Áustria; como austríaco, na Alemanha; como judeu, no mundo todo. Em todo lugar um intruso, em nenhum lugar desejado”. A atmosfera era pesada no lar onde nasceu, fato que também o marcou para o resto da vida.  “Quando penso em tudo isso, experimento ainda uma estranha sensação. Mas sem essa aliança matrimonial nem eu nem a Terceira (sinfonia) existiriam.” Teve suas primeiras aulas de piano aos seis anos dadas pelo mestre-capela em Jihalava. Aos quinze anos ingressou no Conservatório de Viena, onde teve aulas de piano com Julius Epstein, e sofreu discriminação por não pertencer à aristocracia e por ser judeu, o diretor era Joseph Helimesberger antissemita.

 Aos vinte anos atuava como assistente de regência de orquestras que se apresentavam em pequenos teatros, como o teatro Hall na estação de águas na Alta Áustria, onde também fazia faxina do fosso do teatro após o espetáculo.  Em 1876 obteve vários prêmios de composição e piano, quando então decidiu-se pela regência decepcionando seus admiradores. Recebeu influência da tradição alemã com Johann Sebastian Bach, também com Richard Wagner, que em 1876 encontrava-se em evidência. Mahler todavia se dizia ser admirador de Anton Bruckner, músico de mais idade, pela sua alma feliz e natureza infantil, a quem devia gratidão pelo seu desenvolvimento como artista e como homem. Em 1883 em Olmültz na Moravia inicia realmente sua carreira de maestro. Assume o posto de diretor da Ópera Real de Budapeste, onde teve liberdade de trabalhar e a oportunidade de salvar a companhia da falência. Por essa época estudou literatura e filosofia entre seus autores preferidos estavam Dostoievski e Nietzsche.  

Compositor de música complexa Mahler queria que o mundo fosse representado, e quem sabe ele próprio. Iniciou sua carreira de compositor uma  cantata e com o ciclo de canções. Mas a partir de 1888 data da sua primeira sinfonia passou a se dedicar a esse gênero, produzindo mais dez sinfonias e deixando uma inacabada. Nunca estava satisfeito e dizia a Jean Sibelius:” A sinfonia é o mundo! A sinfonia deve abranger tudo!” Seu desejo era transformar os mais diferentes sons em harmonia pura. As complexas sinfonias de Mahler são temáticas e influenciadas pela filosofia e literatura, e que necessitam de grande quantidade de instrumentos para sua execução, com passagens alegres que dão lugar às trágicas, o que reflete sua vida atribulada como compositor.

Mahler dirigiu por dez anos o Ópera de  Viena, o mais cobiçado cargo de toda a Europa, de onde se demitiu para aceitar dirigir a Ópera Metropolitana de Nova York, onde chegou em1907  e fez sua primeira apresentação de Tristão e Isolda em 1908. Nesse mesmo ano, nas férias de verão, termina Das Lied von der Erder ( A Canção da Terra). Após um tumultuado período nos Estados Unidos, retornou a Viena já doente e morreu em 18 de maio de 1911. Foi casado com Alma Schindler (1879-1964) vinte anos mais nova, considerada uma das mais belas mulheres de Viena, e teve duas filhas com ela, a mais velha, Anna, escultora como o avô materno, Emil Schindler. Fez consultas com o então famoso psiquiatra Freud em Viena e posou para Rodin em Paris. Considerado o porta voz das transformações musicais do século XX, foi pouco reconhecido enquanto vivo, mas declarou que seu tempo chegaria e chegou, a partir dos anos sessenta.