quinta-feira, 30 de novembro de 2017



                    RELEMBRANDO  MOUNIER






Dia após dia queremos estar na mesma casa, na mesma mesa, na mesma cama, no mesmo trabalho, no mesmo lugar de diversão, ter as mesmas pessoas em volta. Em suma, queremos ser sempre os mesmos.  Ninguém gosta de mudar por mudar, mas que a vida transcorra bem em sua rotina, sem grandes sobressaltos, ou novidades. Pessoas conscientes almejam, mais ainda, perseverar em seus valores. E a explicação da ciência é que nosso cérebro não foi feito para mudar de ideia. Um cérebro especial o nosso, que fez do animal homem um ser que pensa, raciocina, pondera, e pode, assim, responder por seus pensamentos, palavras e obras. 

Cada um de nós é uma pessoa, que tem uma vida íntima e se relaciona com o mundo. Sobre isso trata Emmanuel Mounier (1905-1950), filósofo do personalismo cristão, com o qual respondeu fascismo e nazismo, e tratou de dar novo alento de vida à civilização ocidental. Ao  mundo exterior que nos afronta, ensina o filósofo personalista, se deve reclamar respeito e não aceitar o esvaziamento do seu interior. Estar preparado para o confronto, a provocação, o desafio. Ser receptivos, se doar, mas não se perder no outro, sem se despersonalizar. Evitar a excessiva exteriorização, e cumprir os ditames da Lei, inserida em seu interior. A filosofia de  Mounier se destina às alturas do intelecto, mas que, na prática, tem se encarnado na vida cotidiana. Minhas leituras de juventude, junto com a de outros pensadores católicos, como Jacques Maritain, G. K. Chesterton e mais. 

           “Mil fotografias sobrepostas não nos dão um homem que anda, que pensa e que quer” — palavras de Mounier, que ele diria sobre as redes sociais e sua postagens, ápice da exposição. E que se evite a objetivação excessiva, se perder no outro. Ter abertura, mas demarcar espaço. O contato pessoal, por exemplo, pode ser, inclusive, no mínimo, para adquirir anticorpos. Penso na mente moderna, objetivada e perversa, preconizadora de mudanças radicais, a que se deve contrapor com a formação interior, com a conversão aos conceitos universais, que são as raízes da vida civilizada. Há a vontade humana, que faz avançar as mudanças, mas que nosso ser permaneça o mesmo,  em essência. Não se queira mudar, para depois sofrer com a vida sem sentido, esvaziada de tudo. Se ganhamos por um lado, há perdas, que devem ser compensadas, e o que for colocado no lugar tenha  valor, valha a pena.

Nota- A palavra "pessoa" vem de per-sona: para soar através da máscara. A mascara que os atores gregos usavam e tinha uma fenda por onde passava a voz.
PERSONA - MOUNIER



terça-feira, 28 de novembro de 2017



NOIVADO 

PRÍNCIPE HARRY E MEGHAN MARKLE

O PRÍNCIPE HARRY,  SEGUNDO FILHO DA PRINCESA DIANA COM O HERDEIRO DO TRONO INGLÊS, O PRÍNCIPE CHARLES, FICOU NOIVO COM A ARTISTA, ATIVISTA E FEMINISTA AMERICANA MEGHAN MARKLE. TANTOS "ISTAS" DA NOIVA, E O QUE E O QUE SE PODE DIZER, NO PRESENTE MOMENTO, É QUE O CASAL ESTÁ SE DIVERTINDO MUITO COM A NOTÍCIA DADA AOS SÚDITOS DA RAINHA ELIZABETH II.   

segunda-feira, 27 de novembro de 2017




                        
        AFETO, AMIZADE, CARIDADE
           


     A feto, amizade, caridade, são formas de amar, e diz respeito à totalidade do ser. Essencialmente humano amar e ser amado, o que pouco tem a ver com o desejo, ou com Eros. Não se deve confundir amor com prazer oriundo dos sentidos. O que confere  a nós, animais racionais, status de humanos é o sentimento do amor, que anima, premia, eleva a alma. 
    
   Amar não é a mesma coisa que desejar, a diferença é grande. O amor nos faz verdadeiros, em vez de falsos; educados, em vez de rudes; filósofos, em vez de ignorantes; crentes, em vez de céticos; trabalhadores, em vez de vagabundos; santos, em vez de pecadores.  
   
   A falta de amor provoca vazio na alma, que pode ser ocupado por más tendências. Sabemos o quanto a vaidade corrompe; o egoísmo empobrece; a paixão desequilibra; a indiferença desgoverna; o ciúme envenena. O vaidoso, o egoísta, o cético, o pecador não ama, ele deseja como um louco ter a posse do outro, apossar-se de tudo, até mesmo quer ser dono do mundo.  Tem aqueles que fazem qualquer coisa para satisfazer seus impulsos, o caso do estuprador e do pedófilo, doentes da alma. Anomalias, ou desvairos do desejo, que destroem a capacidade de amar.

     Quem ama preserva a saúde da alma, que se renova a cada dia através dos bons  sentimento. Amar a casa em que se vive, a cama em que se dorme, a mesa das refeições, o trabalho e a diversão, tudo que é nosso por direito. Principalmente amar as pessoas. A luz vai se apagar para nossos olhos cansados continuará iluminando outros vidas. As pessoas que amamos hoje, continuarão a ser queridas amanhã, gerações a gerações.  O amor nos eterniza.



domingo, 26 de novembro de 2017




                   SÃO TÃO JOVENS!










Já dizia minha avó Carmem, e faz tempo, as crianças e os jovens não deviam ser “puxadas”, ou seja, que não lhes exigissem além do que podiam, nos estudos e tudo o mais. Intuitiva em sua psicologia, a avó falava que os pais e professores deviam respeitar o tempo de seus filhos e alunos, e não querer que avancem além da conta, e acontecer de suas cabeças ficarem “cansadas”, isso dito em termos antigos, quando não havia designação científicas para a situação. Aqui e ali gênios na infância que decepcionaram na fase adulta, e crianças medíocres que alçaram às alturas.  Verdade verdadeira que a tendência é a meninada não render o que pode se a aprendizagem for acelerada, em vez de ir no ritmo certo.  Para tudo tem seu tempo, não resta a menor dúvida.

A juventude atualmente vivenciando dias difíceis, sem corresponder às exigências, que se tornaram insuportáveis. Estressada, deprimida, é como vive grande parte da população jovem, quando não reagem com fúria, como aconteceu com um estudante de uma universidade particular ao quebrar a sala de aula, ao ser reprovado, e julgou que a aprovação lhe era devida.  Os jovens hoje vivenciando maus momentos, quando pensam ingressar numa faculdade, ou vislumbram um futuro incerto, tolhidas as expectativas de sucesso apesar de todo esforço. Eis aí a questão, o sucesso, que deve ser conquistado a qualquer custo. Há diferenças entre os jovens, mas eles são tratado de forma semelhante, em que todos caminham para a mesma direção, que pode ser a frustração.

A coisa ficou difícil de suportar, e o pessimismo domina a juventude.  A ansiedade como praga,  alguns  para  sempre  incapacitados pela doença que atualmente virou epidemia, a depressão.  O comprometimento da saúde mental tem levado à tentativa  de  suicídio  alguns jovens, os menos fortes para suportar as cobranças. O certo é que todos acabam prejudicados, os estudantes, a família, a escola, e, em especial, o Estado que deixa de contar com as melhores cabeças, avariadas devido à pressão lhes ter sido insuportável. Tem algozes para todo lados, para todos os gostos.


Vida desgostosa essa em que não sobra tempo para ficar parado, sem pensar em nada, ou pensar no que   se quer. Livre do pensamento acelerado que só faz mal. Falta acolhimento, atenção, afeto redobrado, para dar liberdade aos jovens seguirem tranquilamente sua vida, melhor encaminhá-los, e possam calmamente ter o futuro que merecem como pessoas responsáveis e felizes. Pais, professores a sociedade como um todo devem repensar seus procedimentos para com os jovens, estudantes, que os mais espertos cedo deixem de se preocupar com os estudos, e podem se dar bem, até melhor do que alguns estudantes vencedores, que se tornam adultos estressados.     

quinta-feira, 23 de novembro de 2017


LIVRO: RESENHA





NESTE ENSAIO E AUTO FICÇÃO, LYA LUFT LEVA OS LEITORES AOS CÔMODOS  DE SUA CASA IMAGINÁRIA, UMA METÁFORA DA PRÓPRIA EXISTÊNCIA. PALAVRAS DA AUTORA: "ESTE  LIVRO FALA DO SER HUMANO MUITO ALÉM DE MIM, ESSA CRIATURA QUE SONHA, LUTA, SENTE  MEDO, E MESMO ASSIM  VAIA TÉ À ÚLTIMA HORA O ÚLTIMO SUSPIRO E O ÚLTIMO DEGRAU DA MISTERIOSA ESCADA,  FRÁGIL, MAS ESSENCIAL,, ENCOSTADA NUM VELHO  MURO NO FUNDO DO JARDIM DA CASA QUE INVENTAMOS E NOS INVENTA." RADICAL E PESSIMISTA LYA LUFT PERGUNTA: "SERÁ POSSÍVEL CONSTRUIR UMA CASA, A CASA DA VIDA, ESFOLANDO O JOELHO, REBENTANDO AS MÃOS, DESMONTANDO E REMONTANDO CABEÇA E CORAÇÃO - E NÃO SUCUMBIR?"




                             TÃO DIVERSOS E TÃO FELIZES!




             

             A Suprema Corte americana três anos antes havia declarado inconstitucional a discriminação racial nos bancos acadêmicos, e foi assim, amparada pela lei, que a afrodescendente Elizabeth Eckford preparou-se para enfrentar o que vinha pela frente. No seu primeiro dia de aula foi recebida aos gritos de protesto na Escola Central de Little Rock em Arkansas, frequentada apenas por meninas brancas, que protestaram contra sua presença. Quando deviam receber com festa essa nova aluna, que fora aprovada nos exames para frequentar a conceituada instituição. Mas iniciava-se ali um novo tempo, findo um processo vergonhoso de discriminação. Elizabeth conquistou a admiração das gerações futuras. Enquanto as baderneiras só teriam motivo para envergonhar-se do seu péssimo comportamento.
            
         Espanta que tenha acontecido logo ali, em 1957, mas foi Estados Unidos, de maior e mais cruel discriminação racial. E em se tratando do Brasil, dou testemunho que nessa mesma época, no Colégio Santa Teresa, não havia diferença entre as alunas, que eu percebesse, havia uma espécie de cota, na melhor instituição de ensino para meninas de S. Luís-Ma. E grande era simpatia pelas meninas de cor, contando ainda mais a seu favor a dedicação que tinham aos estudos, no que eu, branca miscigenada tinha igual  empenho. Inconcebível discriminar uma colega, nem para aquelas que ficavam em último lugar no boletim escolar, lido em classe pela mestra todo fim de mês. Lembro-me bem das primeiras colocadas, eu entre elas, graças a Deus.

        Penso no Santa Teresa da minha vida escolar, também na minha casa, igual a tantas outras, arrumada de forma confortável e definitiva, onde a infância vivia sua santa inocência. O senso comum ainda não estava estragado pela paranoia desses novos tempos em que vivemos hoje. A sorte de estar abrigados em um lar, mesmo que houvesse algum desentendimentos, comuns em todos os lares entre os mais velhos. “Tem gente que faz tempestade em copo d`água”, alertava a madrinha, de pele negra. 

     Já os  olhos azuis da minha infância eram menos chegados à benevolência "gratuita", como se dizia. Poucas palavras, e alguns silêncios de arrepiar. E ainda em criança eu pensava que seria um céu se as pessoas tivessem maior afeição uns com os outros, e demonstrasse isso, o que penso ainda hoje. O tecido familiar uma trama bem ou mal urdida, que aqui e ali se rasgava, nada que um habilidoso  cerzido não pudesse reparar. Louvo minha família pela boa convivência com a diversidade, e a capacidade de superar a adversidade. Somos assim também como povo: Tão diversos e tão felizes! Assim seja!

terça-feira, 21 de novembro de 2017





                          

                     “ QUEM NÃO DEVE NÃO TEME...”
      






       Tempos atrás vivia-se no purgatório do disse-me-disse, as notícias espalhavam-se como rastilho de pólvora, principalmente as más. E veio a nós a internet. Na era da internet e suas redes sociais estamos todos conectados, e a maledicência nossa de cada dia corre como foguete. Sempre há o lado bom e o obscuro das coisas, sendo assim, em vez do céu, teríamos adentrado o inferno da comunicação via satélite.
       
       Todos hoje em dia gozam do prazer de se comunicar, até mesmo podem sair do anonimato. O ideal seria a pessoa ter critério em transmitir aos outros o que valha a pena, mas nem sempre é assim. Infelizmente o detestável também acontece.  Enquanto o mundo gira, a internet gira, tudo gira, a gente gira e pira. Virar notícias nas redes sociais, que coisa mais doida. Gente que pode ser promovida a celebridade de uma hora para outra, ou, ao contrário, ter sua reputação jogada por terra.
         
         Na pior que cair na tentação de agir e falar de forma inapropriada, até mesmo criminosa e a coisa ir parar nas redes numa velocidade incrível. Um velho jornalista, profissional com anos de estrada levando a notícia para o público televisivo, de repente, vítima da execração pública. Disse e repetiu uma frase apenas: “É coisa de preto”, ao reclamar sobre uma buzina insistente quando ia entrar no ar. Captada sua fala idiota, sem que se possa afirmar que o cara seja racista. O desastre consumou-se, e ele virou notícia ao lado de outros famosos e endeusados diretores e artistas do cinema americano, denunciados por abuso sexual e estrupo de pessoas vulneráveis.
                
         O sol já não nos protege, furamos a camada de ozônio, assim como furamos o filtro da nossa própria vida. Na ânsia de aparecer podemos ser engolidos pela turba, que está pronta para endeusar, quem quer que seja, ou massacrar. O debate público, que não acontece como devia, foi desviado para outros fins, e acabou no insulto, no abuso. A divulgação de notícias falsas é viral, gente que aproveita para extravasar seu ódio, suas frustrações, via internet. 
                  
      O homem contemporâneo sofre as consequências da sua febre de inventividade. Impossível fugir da ditadura da internet, que avisa pelas redes sociais: “Quem não deve não teme”. E eu me pergunto: “Quem se salvará”? Estaríamos todos para sempre condenados? A tecnologia é o que há de melhor para esse nosso mundo superpopuloso, mas que haja consciência do seu valor, e se entenda que a técnica pode muito, mas não tudo. Individualmente menos ainda. A tecnologia não está cima do bem e do mal. A conscientização começa por aí. 

           Adotemos o Dia da Consciência Humana.

  

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Concierto Barroco (guitarra barroca y zanfona)







CONTO


                                            
                             A TIA LINDA DA MENINA      





    Início da tarde, o sol já entrava pela janela, hora da tia da menina colocar o dedal no dedo, enfiar a linha na agulha, e sobre o tecido esticado no bastidor começar seu bordado, todo dia era assim, após descanso do almoço. A toalha de mesa já estava pronta, agora era a vez dos guardanapos, o que escutara a tia dizer para a irmã, mãe viúva da menina, que veio morar junto. Os balõezinhos encantavam a menina, que puxava conversa, depois dos estudos, antes de descer à tardinha para pedalar com a prima, dona da bicicleta. Pensava que seria ainda melhor se a tia saísse com sua sobrinha querida para um passeio de bonde, dariam uma volta, até podiam saltar em algum lugar para comprar aquela caixa de lápis de cor, objeto de cobiça da menina, que a prima já exibia a sua na escola. Pensamento bobo, as coisas caras, e poucos podiam ter, o jeito se conformar e continuar observando o ir e vir da agulha no tecido azul cor do céu.
    
Quem dera fosse um céu o casamento para aquela noiva, tão tranquila, mas às custas de medicamento para enxaqueca, há cinco décadas que esperava a realização da promessa de casamento que lhe fizera o noivo no baile de fim de ano. Ele era um estranho, mas que chegou fazendo zoeira, e mesmo sob suspeita, despertou a cobiça de algumas moças da redondeza, o que elas negavam veementemente. Cobiçado, ou não, ninguém podia adivinhar o  caráter de uma pessoa antes de conviver com ela. Foi o que a menina escutou de uma convicta solteirona, tempos depois. O certo é que moça alguma queria ficar solteira, ou seja, deixar de casar e ter filhos, sem o que a vida perdia o sentido, não apenas para a tia da menina, era assim para qualquer mulher, na época.
    
Entre namoro e noivado da tia lá se ia meia década, a avó da menina contando o tempo, enquanto comentava com a outra filha sobre o casamento que já estava perto de acontecer, e ela não sabia a razão, mas sentia o coração apertar toda vez que pensava na filha indo embora de casa com aquele homem. O noivo aceito com reservas, e que chegava para visitar a noiva vestido como um dândi e trazendo balas nos bolsos, o açúcar impróprio para as crianças, a menina de antemão avisada. Até que em maio, mês das noivas, realizou-se o casamento. Erguido um altar naquela mesma sala, o padre amigo da família dando sua bênção e desejando aos nubentes os melhores votos de felicidade,  em nome de Deus. O casal ia morar não muito longe da casa onde a noiva nascera e se criara

Hora de ir para o novo lar, local que a esposa adentraria carregada nos braços do seu eleito, tudo dentro dos conformes. Mas ainda na calçada, em frente à porta, eis que surge uma figura sinistra, era um matador de aluguel, que dispara a queima-roupa um tiro certeiro, que foi parar na coluna do marido da tia da menina, e o deixou paraplégico. O crime fora encomendado pelo pai de uma moça desvirginada pelo ainda noivo da tia da menina, que fugira do compromisso de casar. Fato passado, a menina ia visitar a tia na sua nova residência, e a encontrava sempre debruçada sobre a máquina de bordar, de onde tirava o sustento dela e do marido, além dos agregados, inclusive a filha que o marido tivera antes de casar e a mãe morrera no parto.

O casamento podia ser anulado, por engano de pessoa? Podia, mas não devia, ou devia mas não podia, tanto faz, no caso em questão. Mas o que é a providência divina, tempos atrás a tia da menina havia feito um curso de bordado no Ceará. E foi assim que a moça prendada tornou-se mulher empreendedora. Criou uma grife, e com sua equipe de bordadeiras, trabalhava sem parar. Já tinha encomenda até do exterior. Vieram as filhas, só de dois em dois anos, a conselho do médico, também amigo da família, como o padre. A tia da menina só paria mulheres, que o pai, caixeiro-viajante encostado, brincava da sua cadeira de rodas, que elas iam formar um time de futebol quando crescessem. Mas a mãe parou na oitava, quando escapou de morrer de parto, e formou um time de bordadeiras, só uma seguiu a carreira de enfermagem. A tia Linda, e ela era linda mesmo, teve sorte de escapar da morte e da pobreza, contando com sua paciência e seu trabalho, além do amor...

quarta-feira, 8 de novembro de 2017





                                                           

                                         CORAÇÕES UNIDOS


                             



          Tem pessoas de natureza apaixonada, até mesmo passionais, que não querem apenas as doces sensações do amor, mas as trepidações da paixão. Há  a feição, a amizade, a caridade e o amor sexual.  Já disseram que o amor entre os sexos tem esse poder, de provocar uma espécie de abalo sísmico em todo o ser. A experiência parece única, mas se repete, nunca da mesma forma. A escala pode ser de maior ou menor intensidade, depende do momento que ocorre, da predisposição. Eros em ação, em que o prazer sexual fala mais alto. Irrefutável o prazer que o sexo provoca, e lá se vão a contenção e a paz, para quem não sabe amar. É para ser assim? A amizade,  a afeição, a caridade, também são formas de amor, menos fatais.
     
      Ninguém está imune de sofrer por amor, o que pode acontecer com todo mundo,  ter o coração abalado, ou ferido pela seta de cupido. Os religiosos evitam os prazeres do sexo, pela transcendência. O que Paulo desencoraja a quem a falta de sexo pode abrasar. Há que distinguir os amorosos dos amorais, que já foram encontrados até dentro das igrejas, pedófilos, que podem estar ali para cometer seus crimes. Já os homens bons controlam os sentimentos, não têm o prazer como fim, e, sim, meio de realização, de atrair uma parceira adequada para si.
      
     Com o pai e a mãe é que se aprende a amar, a conviver com as diferenças  físicas e psicológicas entre os sexos. Também há bons exemplos em torno de cada um, dentro e fora do lar. Também péssimos exemplos, que comprometem o equilíbrio das emoções. Entre homem e mulher existindo diferenças e semelhanças necessárias para que a vida em comum seja harmônica. Diferenças que não podem ser eliminadas, nem acirradas, elas existem por si mesmas, e devem ser respeitadas. Mesmo que as mulheres, hoje em dia, estejam mais parecidas com os homens em seus desejos, queixam-se delas os homens, nem todos. Mas se elas e eles estão menos diferentes, porque os feminicídios estão acontecendo com tanta  frequência?
         
      No passado havia quase uma incompatibilidade entre os dois sexos, compensada por uma grande família, e  muitos filhos. A natureza impõe regras irrevogáveis, sejam quais forem as condições que a irracionalidade queira impor. As pessoas são naturalmente cheias de desejos, que querem satisfazer, em especial, o desejo sexual. E assim como o alimento serve para manter vivo o corpo, o sexo serve à perpetuação da espécie, não esqueçamos disso. Podemos viver sem sexo, sim. Mesmo que seja forte o impulso em direção ao outro, a atração que o homem sente pela mulher, aquela que vai satisfazer o seu sexo e ao seu ser, de forma adequada. Implícito o desejo pelo sexo oposto, que se exterioriza na relação sexual.

         
     Uma energia maravilhosa da nossa natureza animal é o desejo sexual. O prazer que advém desse desejo é maior à medida que se reconhece racionalmente no outro sexo o parceiro ideal para sua satisfação. O homem ama a mulher não apenas pelo prazer que ela possa dar, e vice-versa. Mesmo um ser voluptuoso, não busca uma parceria apenas para satisfazê-lo em seus primitivos impulsos. Prazeres existem fora do amor, que , na realidade, é uma emoção madura, de amar e ser amado, quando então o sexo entra como um complemento valioso, mas não é tudo. Grande vantagem tem o jovem casal que estuda e reza junto, o que vai favorecer o casal, a família e a criação dos filhos.

Pronunciamento de nosso Bispo Diocesano Dom Félix

terça-feira, 7 de novembro de 2017




                                        

                                              
                             
            UNIDOS AO ENTARDECER


            

     Se fosse perguntado às pessoas sobre seu propósito de vida, poucos não ficariam atrapalhados. A noção da existência de uma razão de viver talvez só tenha surgido com a consciência civilizada. Evoluímos, quando então passamos a reservar tempo e pensamento para ter um propósito, ou projeto de vida, e nossa passagem pela Terra faça sentido. É justamente isso que impulsiona a pessoa, individualmente, e em sociedade, a seguir em frente, consciente dos seus valores. Em suma, o ser humano almeja transcender para além de sua condição animal. E haja a graça de estarmos todos unidos ao entardecer.
       
       Não apenas viver por viver, mas saber de antemão o que pode ser feito, e contar com a vontade para sustentar o projeto de vida. Acertar o alvo a que se proponha, sem ter que atirar para todo o lado, afinal ninguém quer, nem deve, cometer crimes por aí, intencionais, ou não. Há um projeto de vida, implícito em cada um, uma missão a cumprir. Certo que, na conspiração da audácia, vamos conviver eternamente com a desordem. Na tragédia Júlio César, de Shakespeare, Metelo e Brutos conspiram contra Júlio César, e, decididos a cometerem o crime, questionam se devem recorrer ao filósofo Cícero, e assim dar credibilidade ao feito. Diz o primeiro: “A prata dos seus cabelos nos comprará a boa opinião e obterá vozes humanas para realçarem nossos feitos.” O segundo retruca: ”Oh não, nossa juventude e audácia não aparecerão nem um pouco, porque tudo ficará sepulto na gravidade dele”. Cássio confirma: “Então vamos deixá-lo de lado”. Por fim Casca dá sua opinião: “Sim, ele não convém.” O bardo inglês dissecando o poder em seus meandros, obscuro poder, de pouca luz.   

       Ter um propósito não significa tomar o poder à força. Os moços querendo mudar tudo, enquanto os mais velhos acreditam que ainda há muito a fazer, e podem entrar em acordo no essencial. Vivemos, todavia, uma fase crítica, os de menos idade achando que não precisar de mais ninguém, frustrando as espectativas dos que têm mais anos de estrada, e pensam não servir para mais nada. A natureza que amamos, o próximo que respeitamos, e, em especial, a paz que almejamos, acalentaram e ainda acalentam nosso projeto de vida. E mesmo que não nos deixem em paz e nos odeiem, mesmo que haja terror por toda parte, mesmo assim, não devemos desistir do melhor caminho, e ir além, no conhecimento de nós mesmos, e no amor de Deus. 

domingo, 5 de novembro de 2017




                  
                 REDES NOSSAS DE CADA DIA

   
  


              “Verdade!” “Amém! Exclamações de concordância na internet. As postagens feitas nas redes sociais recebem aprovação, seja do que for.  Afinal, quem sabe onde está a verdade? E a mentira, onde se esconde? Somos enganados, ou nos enganamos, hoje mais do que nunca, todos os dias, todas as horas, todos os minutos. Sair em defesa dos animais foi a primeira ideia a ser acalentada para atrair simpatia nas redes sociais. A natureza também com muitos defensores. Os preconceitos expostos de forma abusiva. As crenças defendidas, ou atacada com a ferocidade de uma nova inquisição. No final das contas, a descrença aumentou, acirraram-se os preconceitos, a natureza sofre mais do que nunca, assim como o abandono dos animais não ficou menor que o dos humanos. O pouco interesse  pela vida ao redor continua, menor ainda a propensão para o pensamento, para o debate de ideias, para a conversão. Estariam as pessoas propensas ao ódio, ao ciúme, à inveja?
        
           No seu programa “Conversa”, Pedro Bial foi categórico: “A internet é movida a ódio”. John Green,  autor de sucesso escrevendo para jovens, é também categórico quando fala na Veja do caráter tóxico da internet, que se imiscui em qualquer lugar, todo mundo zangado, sem conseguir ter moderação, raras as conversas boas e produtivas. E digo aqui sem errar que é um reflexo do que acontece com o mundo contemporâneo em suas relações humanas. Aquela demonstração de amor das pessoas nas redes, os melhores amigos, e de uma hora para outra a coisa vira do avesso.  Entrei em pânico logo no início, mas já estou acostumada. Se bem que, de vez em quando, ainda sinta arrepios, com as “verdades”, ou mentiras deslavadas, ditas aos quatro ventos. Algumas denúncias frutos do feminismo, interessado em denegrir, quando o que se devia era agir, indiscriminadamente. O grande alcance da internet podia ajudar a abrir as cabeças para os graves problemas sociais. Uma utopia, ao que parece.

          A verdade não depende do olhar de fora, nem da maneira como o outro se apresenta. Há pessoas sedentas de aprovação, querem ser amadas a qualquer custo, e para tanto procuram impressionar. Um espaço propício para exposição são as redes sociais, coisa deveras arriscada, conquanto corajosa. É terrível o que há por trás dessa comunicação em que se julga uns aos outros, até em desacordo com o próprio juízo, costumam ir na onda. E há quem se ofenda por tudo, qualquer opinião é motivo de provocação. Não é deitar e rolar nas redes, tem que haver responsabilidade. Algumas postagens  são tentativas de amenizar os possíveis conflitos virtuais: “A verdade de cada um só Deus sabe!” Ou ainda: “Cada pessoa é que sabe dos seus pedaços que ficaram pelo caminho!” Há algum valor nas redes sociais? Sim, mas infelizmente, às vezes, parece que se trata de redes de intrigas, atuando mais como provocação para a guerra de egos. Conquanto uma guerra santa às vezes seja necessária.  
                

sábado, 4 de novembro de 2017





                            “SE CONHECE PELOS FRUTOS”
 


           
          Adão e Eva eram recém-chegados ao paraíso terrestre, com Deus ao lado do casal atendendo suas necessidades, só com uma ressalva que não provassem do fruto da árvore do bem e do mal, e ela estava no centro daquele pomar de delícias. Racionais pela evolução nossos primeiros pais tinham adquirido o direito de fazer suas escolhas. Enroscada naquela árvore estava a serpente que passou a seduzir a mulher, e ela levasse o homem à experiência do fruto proibido. A serpente do desejo, que foi atendido, e de imediato provocou a ira de Deus. Poder avassalador, majestade intolerável, para aqueles dois seres em desolação, por se verem nus. Envergonhados fogem do lar paterno, e como criadores, tratam de vestir-se. Mais ainda, cobriram-se de todos os adornos, de todos os saberes, engalanaram-se, longe da presença divina.
           
         O centro da vida ia deslocar-se, o que seria em benefício da própria vida,  menos inocente e mais consciente para ambos. A razão como um fruto verde que devia amadurecer. Deus havia ordenado aos nossos primeiros pais: crescei e multiplicai. Ordem divina anterior ao pecado original, o que ficou valendo para sempre. Do paraíso ao jardim das aflições, vai ser o itinerário do ser humano, que seguiu seu destino, ou melhor, seus desejos, cada vez maiores, assim como suas necessidade. E mesmo que não estejam traindo sua natureza, são os desejos que passaram a comandar as ações do homem. Quanto maiores os desejos, mais as necessidades. De posse do saber bíblico o   homem passou ter noção da moral, da contenção, imperativo para que se religue a Deus.
          
           Ressentimento, falta de confiança, desamor e destemor acompanha o ser humano ao longo da sua jornada na terra, mas sempre com o desejo de gozar outra vez da presença divina, de retornar ao paraíso. Ressentidos, mimados, que quer comprar, em vez da salvação, a perdição. Basta no entanto que deixe de apostar em sua idiotice, nos seus delírios, e respeitar o legado recebido como dádiva divina. Ao sentimento de abandono acreditar em seu lugar privilegiado no universo, e que para todo privilégio tem a contrapartida da responsabilidade, muitas vezes fora dos interesses imediatistas.
       
          Maturidade, teu nome é autoconfiança, autocontrole, que resulta em bem estar para cada um, e no bem comum. Sendo que o começo da felicidade é gostar de si mesmo. E quando as escolhas não são boas, péssimos serão seus frutos, o que acontece na atualidade, quando o que se produz são modos de se perder, em vez de libertação e salvação. Imprudência, impetuosidade, desamor, são frutos da imaturidade moral que existe nesse nosso mundo contemporâneo. No contexto atual, o que fazemos é retornamos aos primitivos arroubos, ao comermos outra vez o fruto proibido, ou os frutos, muitos dos que são oferecidos por aí, venenosos, mortais, fruto da irracionalidade, da imaturidade moral.

       
       Uma vida plena se conhece pelos frutos, os bons frutos que a razão produz, suas raízes profundas e não planta rasteira, erva daninha, de uma modernidade na inconveniência dos desejos, no descontrole dos afetos, sempre fora do paraíso, longe da presença de Deus. É mister a busca por uma forma universal de comportamento que premie a ética e a moral, e que nosso mundo possa ser mais justo e coerente, como nós mesmos.