sexta-feira, 28 de dezembro de 2018





     
     

      ESTADO DE GRAÇA E DE EUFORIA



Maria é a tranquilidade em pessoa, tem como marca a doçura, que só a paz tem; José está quase sempre agitado, seja alegre, ou brabo. A primeira revela um constante estado de graça, que em José é trocado pelo estado de euforia.  Maria irradia bem-aventurança, dádiva indizível, tendo menos a ver com os sentidos, ou a matéria, e mais com o espírito, a alma. Contrasta com certa insegurança que revela o sentir físico, o prazer de José.

Maria escreve e também reza. Há um transcender, que promove o ser a um estado superior. Rezar é transcender, assim como escrever. Dizem dos momentos de deleite intelectual, também espiritual. A sensação de escrever na plenitude que conforta, tal qual a elevação até Deus e o amor entre as pessoas. E enquanto Maria escreve, José dedica-se a outras tantas  atividades, para o consumo material, o que inclui produzir o pão de cada dia.

Nem obsessivas, nem possessivas, Maria e José realizam seu trabalho com amor. Amor e dedicação ao que fazem ao que produzem. Ao contrário, realizações, ou a produção pode gerar mal-estar, constrangimento, nada menos que isso. E o muito que necessitamos de bem fortalecer a alma, e dar ao corpo as necessárias vitaminas, que o corpo precisa. Assim como acontece com as pessoas, um País necessita estar bem fortalecido.

No dia 1º de janeiro de 2019 estejamos todos mais em estado de graça que em estado de euforia. O Brasil terá um novo Presidente, a mudança é radical, mas necessária. Os brasileiros precisam de uma nova visão, de um novo olhar, necessitam ver a vida com outros olhos, livres das doenças que assolam o mundo. Acontece ter o País perdido sua capacidade de ver claro, precisando que se extraia de vez a catarata, ou a corrupção e as mazelas morais, e se coloque no olho doente um novo cristalino. Ainda bem que podemos contar hoje com a tecnologia tanto para dar às pessoas melhor visão, como pode ajudar na comunicação, necessária para a transformação política. No caso da eleição de Jair Messias Bolsonaro, a internet foi de capital importância, nesses novos tempos de renovação.  

terça-feira, 25 de dezembro de 2018



CONTO  
(UM PRESENTE DE NATAL)


OU ISTO OU AQUILO




      Ela gostava de escrever, vasculhava as próprias entranhas, tentava  revolver as vísceras do mundo. Em primeiro lugar era uma mãe de família, apenas filhos homens, quando então quis ir ao encontro de uma profissional da atividade que dizem ser a mais antiga do mundo. O encontro difícil de acontecer, a pessoa procurada, chamada Lia, dificultava, farejando encrenca, polícia. Avisou pelo telefone que a casa dela era de família, os bordéis já em extinção, e foi firme ao declarar: Afinal, coitadinho dos homens, precisam de um local seguro.  Outros telefonemas de ambas as partes, até que dona Lia apareceu, discreta no vestir. Nas falas é que ia denunciar seu modus vivendi. 

           Certo que a vida não era mole, dizia Lia à escritora, encontro no meio da tarde,  que era uma pessoa de bem com a vida, além do mais, satisfeita por poder ajudar um irmão desempregado e ainda pagava o estudo de balé da irmã mais nova, de nove irmãos.  O que mais dizer da conversa que não deu tempo nem para sorver todo o guaraná que pediram, ao se despedirem.  Ao fim, a entrevistada esboçou a seguinte pérola de pensamento: Os homens, coitadinhos, precisam de um lugar seguro! O antigo mangue, ou os prostíbulos eram ruins!  Respondo sua pergunta, as moças, que procuram esse gênero de trabalho,  querem mais é ganhar dinheiro, muito dinheiro. E acrescentou: “isso é ruim”.

         Escândalo para a sociedade, coisa inútil, mas considerado serviço de utilidade pública essa antiga "profissão". A inocência, ou melhor, ingenuidade, de quem vê no sexo a panaceia dos deuses para os homens, e um meio de vida para as mulheres. Não descartada a hipótese de que hajam aquelas que gostam muito disso que fazem, nem pensam em viver de outra forma. Aquela ali pouco tinha a informar, que servisse de inspiração, e assim findou-se o encontro, até nunca mais.

         Um espanto, reconhecia a escritora, que pensou ter falhado na entrevista que fez, ou quis fazer. O resto do dia sentiu a vida, viu o mundo sem graça, e foi assim ainda no dia seguinte, até receber a visita de um amigo, que só queria falar das próximas eleições, o país aos frangalhos, a sociedade dividida. Foi para a cama intranquila, pensando se escrevia sobre isto ou aquilo.  


TODAS AS CRÔNICAS - CLARICE LISPECTOR



NOTA: Conto inspirado em Clarice Lispector no seu livro TODAS AS CRÔNICAS - recém-lançado pela editora Rocco.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018




FELIZ NATAL!



O CULTIVO DA ÁRVORE DE NATAL

                                                 T. S. ELIOT



Há diversas atitudes para com o Natal,
Algumas das quais mão valem a pena:
A social, a torpe, a meramente comercial,
A desordeira (bares abertos até meia noite)
E a infantilizada __ que não é a da criança
Que acha que a vida é estrela, e que o anjo dourado
De asas abertas do topo da árvore
É não apenas enfeite, mas anjo.
A criança se espanta com a Árvore:
Que siga no espírito do espanto
Tendo a festa como evento não aceito por pretexto;
para que o enlevo reluzente, o encanto
da primeira lembrança da Árvore,
Para que as surpresas, deleite de novas posses
(Cada uma com um cheiro seu, empolgante.)
A expectativa de ganso ou peru
E o pasmo espera quando surgem,
Para que reverência e alegria
Não se possam esquecer mais tarde,
No costume, na fadiga, no tédio,
Consciência da morte, consciência do fracasso,
Ou na fé do convertido
Que pode ser maculada por vaidade
Que desagrada a Deus e desrespeita as crianças
(E aqui lembro também com gratidão
Santa Luzia, seu canto e coroa de fogo):
Para que antes do fim, do octogésimo Natal
(“Octogésimo” significando o que for derradeiro)
As lembranças somadas de emoção anual
Possam concentrar-se num grande prazer
Que há também de ser grande medo, como na ocasião
Em que o medo assolou cada alma:
Porque o começo há de lembrar-nos o final
 E o primeiro advento, o segundo advento.
                                           
                                              **********
O poema acima enleva, nele inspirado faço um depoimento no ano que se finda. Meu octogésimo ano de vida, das emoções derradeiras, sim, e quanto prazer em gozá-las. Também dor, medo, e o maior, que já tive, neste ano de tantas bênçãos. Fui atendida em casa pelo SAMU, assolada de medo por conta de uma queda estúpida, estava com o úmero fraturado,  o ombro deslocado, quando até então só havia quebrado um dedinho do pé. E aqui estou, ao fim da jornada de recuperação a escrever estas linhas. A consciência da dor, da morte, que nos tira de chofre a vaidade. Eu mais madura, eu criança, juntas no medo, juntas também na esperança a desejar a todos um feliz Natal. 


sexta-feira, 7 de dezembro de 2018


             

           LUZ  DO MUNDO
                                   Murilo Moreira Veras

É tempo de Natal.
Os dias correm, velozes
como o tempo
— esse ardil feito de esperança
cujos sonhos nos alimentam a alma.
É o ápice da convivência humana.

É tempo de Natal,
o olhar deslizando sobre a janela
do destino
— lá fora, numa simples manjedoura como berço,
nasce a Salvação do Mundo:
— Deus Menino no Menino Deus,
a transcendência que se faz imanente
para envolver a todos no cálice da
Aventura Crística
que transformou nossas pegadas
num caminho em busca do Infinito.

É tempo de Natal

hora de modificar a servidão dos Homens
no auspicioso convívio da Bem-aventurança.

Quo Vadis, Domine?
  Vou ao encontro da Luz,
a mais iluminante Luz
que existe e existirá para nosso Mundo
— chama-se Jesus.
                                                 Bsb,  Natal, 2018

20160701 "Je vole" par l école primaire Fontellaye de Douai France