sexta-feira, 28 de dezembro de 2018





     
     

      ESTADO DE GRAÇA E DE EUFORIA



Maria é a tranquilidade em pessoa, tem como marca a doçura, que só a paz tem; José está quase sempre agitado, seja alegre, ou brabo. A primeira revela um constante estado de graça, que em José é trocado pelo estado de euforia.  Maria irradia bem-aventurança, dádiva indizível, tendo menos a ver com os sentidos, ou a matéria, e mais com o espírito, a alma. Contrasta com certa insegurança que revela o sentir físico, o prazer de José.

Maria escreve e também reza. Há um transcender, que promove o ser a um estado superior. Rezar é transcender, assim como escrever. Dizem dos momentos de deleite intelectual, também espiritual. A sensação de escrever na plenitude que conforta, tal qual a elevação até Deus e o amor entre as pessoas. E enquanto Maria escreve, José dedica-se a outras tantas  atividades, para o consumo material, o que inclui produzir o pão de cada dia.

Nem obsessivas, nem possessivas, Maria e José realizam seu trabalho com amor. Amor e dedicação ao que fazem ao que produzem. Ao contrário, realizações, ou a produção pode gerar mal-estar, constrangimento, nada menos que isso. E o muito que necessitamos de bem fortalecer a alma, e dar ao corpo as necessárias vitaminas, que o corpo precisa. Assim como acontece com as pessoas, um País necessita estar bem fortalecido.

No dia 1º de janeiro de 2019 estejamos todos mais em estado de graça que em estado de euforia. O Brasil terá um novo Presidente, a mudança é radical, mas necessária. Os brasileiros precisam de uma nova visão, de um novo olhar, necessitam ver a vida com outros olhos, livres das doenças que assolam o mundo. Acontece ter o País perdido sua capacidade de ver claro, precisando que se extraia de vez a catarata, ou a corrupção e as mazelas morais, e se coloque no olho doente um novo cristalino. Ainda bem que podemos contar hoje com a tecnologia tanto para dar às pessoas melhor visão, como pode ajudar na comunicação, necessária para a transformação política. No caso da eleição de Jair Messias Bolsonaro, a internet foi de capital importância, nesses novos tempos de renovação.  

terça-feira, 25 de dezembro de 2018



CONTO  
(UM PRESENTE DE NATAL)


OU ISTO OU AQUILO




      Ela gostava de escrever, vasculhava as próprias entranhas, tentava  revolver as vísceras do mundo. Em primeiro lugar era uma mãe de família, apenas filhos homens, quando então quis ir ao encontro de uma profissional da atividade que dizem ser a mais antiga do mundo. O encontro difícil de acontecer, a pessoa procurada, chamada Lia, dificultava, farejando encrenca, polícia. Avisou pelo telefone que a casa dela era de família, os bordéis já em extinção, e foi firme ao declarar: Afinal, coitadinho dos homens, precisam de um local seguro.  Outros telefonemas de ambas as partes, até que dona Lia apareceu, discreta no vestir. Nas falas é que ia denunciar seu modus vivendi. 

           Certo que a vida não era mole, dizia Lia à escritora, encontro no meio da tarde,  que era uma pessoa de bem com a vida, além do mais, satisfeita por poder ajudar um irmão desempregado e ainda pagava o estudo de balé da irmã mais nova, de nove irmãos.  O que mais dizer da conversa que não deu tempo nem para sorver todo o guaraná que pediram, ao se despedirem.  Ao fim, a entrevistada esboçou a seguinte pérola de pensamento: Os homens, coitadinhos, precisam de um lugar seguro! O antigo mangue, ou os prostíbulos eram ruins!  Respondo sua pergunta, as moças, que procuram esse gênero de trabalho,  querem mais é ganhar dinheiro, muito dinheiro. E acrescentou: “isso é ruim”.

         Escândalo para a sociedade, coisa inútil, mas considerado serviço de utilidade pública essa antiga "profissão". A inocência, ou melhor, ingenuidade, de quem vê no sexo a panaceia dos deuses para os homens, e um meio de vida para as mulheres. Não descartada a hipótese de que hajam aquelas que gostam muito disso que fazem, nem pensam em viver de outra forma. Aquela ali pouco tinha a informar, que servisse de inspiração, e assim findou-se o encontro, até nunca mais.

         Um espanto, reconhecia a escritora, que pensou ter falhado na entrevista que fez, ou quis fazer. O resto do dia sentiu a vida, viu o mundo sem graça, e foi assim ainda no dia seguinte, até receber a visita de um amigo, que só queria falar das próximas eleições, o país aos frangalhos, a sociedade dividida. Foi para a cama intranquila, pensando se escrevia sobre isto ou aquilo.  


TODAS AS CRÔNICAS - CLARICE LISPECTOR



NOTA: Conto inspirado em Clarice Lispector no seu livro TODAS AS CRÔNICAS - recém-lançado pela editora Rocco.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018




FELIZ NATAL!



O CULTIVO DA ÁRVORE DE NATAL

                                                 T. S. ELIOT



Há diversas atitudes para com o Natal,
Algumas das quais mão valem a pena:
A social, a torpe, a meramente comercial,
A desordeira (bares abertos até meia noite)
E a infantilizada __ que não é a da criança
Que acha que a vida é estrela, e que o anjo dourado
De asas abertas do topo da árvore
É não apenas enfeite, mas anjo.
A criança se espanta com a Árvore:
Que siga no espírito do espanto
Tendo a festa como evento não aceito por pretexto;
para que o enlevo reluzente, o encanto
da primeira lembrança da Árvore,
Para que as surpresas, deleite de novas posses
(Cada uma com um cheiro seu, empolgante.)
A expectativa de ganso ou peru
E o pasmo espera quando surgem,
Para que reverência e alegria
Não se possam esquecer mais tarde,
No costume, na fadiga, no tédio,
Consciência da morte, consciência do fracasso,
Ou na fé do convertido
Que pode ser maculada por vaidade
Que desagrada a Deus e desrespeita as crianças
(E aqui lembro também com gratidão
Santa Luzia, seu canto e coroa de fogo):
Para que antes do fim, do octogésimo Natal
(“Octogésimo” significando o que for derradeiro)
As lembranças somadas de emoção anual
Possam concentrar-se num grande prazer
Que há também de ser grande medo, como na ocasião
Em que o medo assolou cada alma:
Porque o começo há de lembrar-nos o final
 E o primeiro advento, o segundo advento.
                                           
                                              **********
O poema acima enleva, nele inspirado faço um depoimento no ano que se finda. Meu octogésimo ano de vida, das emoções derradeiras, sim, e quanto prazer em gozá-las. Também dor, medo, e o maior, que já tive, neste ano de tantas bênçãos. Fui atendida em casa pelo SAMU, assolada de medo por conta de uma queda estúpida, estava com o úmero fraturado,  o ombro deslocado, quando até então só havia quebrado um dedinho do pé. E aqui estou, ao fim da jornada de recuperação a escrever estas linhas. A consciência da dor, da morte, que nos tira de chofre a vaidade. Eu mais madura, eu criança, juntas no medo, juntas também na esperança a desejar a todos um feliz Natal. 


sexta-feira, 7 de dezembro de 2018


             

           LUZ  DO MUNDO
                                   Murilo Moreira Veras

É tempo de Natal.
Os dias correm, velozes
como o tempo
— esse ardil feito de esperança
cujos sonhos nos alimentam a alma.
É o ápice da convivência humana.

É tempo de Natal,
o olhar deslizando sobre a janela
do destino
— lá fora, numa simples manjedoura como berço,
nasce a Salvação do Mundo:
— Deus Menino no Menino Deus,
a transcendência que se faz imanente
para envolver a todos no cálice da
Aventura Crística
que transformou nossas pegadas
num caminho em busca do Infinito.

É tempo de Natal

hora de modificar a servidão dos Homens
no auspicioso convívio da Bem-aventurança.

Quo Vadis, Domine?
  Vou ao encontro da Luz,
a mais iluminante Luz
que existe e existirá para nosso Mundo
— chama-se Jesus.
                                                 Bsb,  Natal, 2018

20160701 "Je vole" par l école primaire Fontellaye de Douai France

quinta-feira, 6 de setembro de 2018





SEMANA DA PÁTRIA

          ELEIÇÕES  2018


PALÁCIO DA ALVORADA



Fim de semana, roda de amigos no bar, o assunto são as próximas eleições, uma conversar, uma pergunta é lançada no ar: Em quem votar? O descontentamento é geral, os quatro respondem. O primeiro a falar expõe seu pessimismo quanto ao futuro do Brasil:

            — Neste ano de 2018 está mais difícil ainda escolher alguém que mereça confiança, muito  menos ainda, empolgação. Nós, brasileiros, vamos apertar a tecla de uma urna eletrônica  para eleger um novo presidente, também governadores e deputados. Na disputa ocorrendo candidatos de 30 partidos. Pouca novidade entre os concorrentes, pessoas sem algo que os distinga, faça a diferença, nomes conhecidos. Segundo as pesquisas a maioria dos eleitores apostam ainda no ex-presidente Lula, para voltar ao cargo máximo do país, o que é de estarrecer, já que ele está preso, após ser condenado por corrupção em segunda instância, e acaba de ser declarada pelo TSE sua inelegibilidade.

                 — Meus amigos, o partido dos trabalhadores ainda arregimenta as massas, manipula as consciências. O povão decidido, enquanto a elite aposta em antigos políticos ficha suja, que continuam no páreo através dos seus filhos, ou apostam eles mesmo na reeleição. No cenário em que se desenrola a política no nosso país,. os nomes conhecidos  levam vantagem. Há desconfiança no desconhecido, e a lógica é que os primeiros já se conhecem os defeitos, quanto aos outros o que esperar? Faltam novas e boas lideranças, de há muito que as pessoas sérias, competentes, de confiança, fogem do jogo político.  O que esperar de políticos, que se apresentam como salvadores da pátria, mas na realidade não estão preparados para resolver os problemas do país, o que requer competência e muito empenho.

                     O terceiro a falar foca na corrupção:

             
             — A corrupção é endêmica. Devia ser inventada uma vacina que fizesse retroceder a mazela da corrupção, vacina tríplice, para combater a corrupção, a ignorância e a descrença, que atacam indiscriminadamente políticos, servidores públicos, instituições, que já não merecem crédito. Seria o caso da Lava Jato, sob o comando do juiz Sérgio Moro. O poder do dinheiro escravizando as consciências, assim como o gosto do poder pelo poder. Acompanhamos a ação da polícia contra os ladrões acoitados nas favelas, também prendendo os corruptos, moradores dos bairros elegantes das grandes cidades.

A noite prometia, e nesta primeira rodada, o último afalar, conclui:

          — Nesse imenso latifúndio da corrupção em que se transformou o Brasil, o lema é que tudo está bem, desde que eu tire a minha parte. Custa acreditar que valha a pena ser honesto. Há um prende e outro solta, que faz muita gente querer ainda apostar que o crime compensa. No início do século XX proferiu Rui Barbosa um célebre discurso no Senado brasileiro, onde disse: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar  a desonra; de tanto crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir da honra e a ter vergonha de ser honesto”. De lá para cá as coisas só pioraram. Mas votar é preciso, e em outubro os políticos eleitos esperamos que  pensem na responsabilidade que terão para com a sociedade.



NOTA - Nosso blog está em breve recesso, sua titular em tratamento de saúde. Sofreu um deslocamento no ombro direito, está em recuperação.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018






QUANDO PERDEMOS NESSA TRAGÉDIA, POR DESCASO, ABANDONO, FALTA DE RESPEITO COM O PASSADO, COM A HISTÓRIA! SÓ NOS RESTA CHORAR! MAS O MUSEU VIVE NOS CORAÇÕES DOS QUE TIVERAM A FELICIDADE DE O VISITAR, COMO EU HÁ ALGUNS ANOS ATRÁS. E DEVIA TER ESTADO ALI MAIS VEZES COM OS NETOS. CRIADO POR D. JOÃO VI FOI INAUGURADO EM 1818, EM JUNHO COMPLETOU 200 ANOS. SEDE DA PRIMEIRA INSTITUIÇÃO CIENTÍFICA DO PAÍS. ABRIGAVA O FÓSSIL LUZIA, O MAIS ANTIGO DAS AMÉRICAS. TINHA MAIS DE 20 MILHÕES DE ITENS.

domingo, 2 de setembro de 2018



                                   
                                 "DEUS NÃO ESTÁ MORTO"
                                    -uma luz na escuridão-



CENA DO FILME




             O filme rebate a sentença de Nietzsche, que Deus estava morto. Uma antiga igreja Saint James, localizada dentro do campo universitário aparenta ter sofrido um atentado. Trata-se, todavia, de um equívoco como o espectador fica sabendo logo depois, um aluno revoltado com a namorada, que pôs fim ao namoro, é o responsável pela pichação e a vidraça quebrada no recinto sagrado. Era já noite e o pastor Dave (Dave A. R. White) vem chegando acompanhado de outro religioso, que estava ali para uma visita.  Correm os dois para pegar o infrator, e o visitante entra na igreja para tentar acender a luz, quando então ocorre um curto-circuito, dando origem ao fogo, que espalha-se rapidamente provocando sua morte. 

         A diretoria da Hadleigh University trata o acidente com um atentado, que teria ocorrido porque havia insatisfação com a presença da igreja no local. Em reunião fica decidido que o incidente é a grande oportunidade para tomarem de volta o terreno e em seu lugar construírem um centro estudantil.  Acontece que a igreja está no local bem antes da universidade, construída pela família do pastor, que pretende reformar o prédio e não aceita proposta alguma para a venda daquele espaço considerado sagrado, por sua fé e por seus devotos pais. Resolve recorrer ao irmão advogado, que vem em seu auxílio, apesar de há muito tempo estar afastado da família, e já ter perdido a fé. O embate entre os irmãos é bíblico, o ponto alto do filme, como o embate entre a razão e a fé, em que não há perdedores, as divergências através de diálogos esclarecedores, para o julgamento, ou compreensão dos espectadores.     

          O aluno responsável pela tragédia fica desesperado por seu ato impensado e acaba confessando o crime, movido inconscientemente por um fato anterior, quando sua mãe separou-se do marido que a agredia, e foi acusada pela igreja de ser uma pecadora. A igreja envelhecia, sem se dar conta do que acontecia a sua volta, com prédios em ruínas, ela mesma quase arruinada em suas bases, por ser intransigente em pontos fora da doutrina, onde podia ceder. Aos saltos a modernidade avançava sobre o mundo, e assaltando as mentes com a descrença. Se a ciência podia esclarecer temas até então obscuros, certo que a fé continuava seu papel de colocar as expectativas humanas a níveis mais elevadas, permanecendo em   seu seio gente da melhor qualidade e um belo ideal de felicidade, baseado na moral. A fala dos pastores no filme é para ser apreciada como um raio de luz, mesmo para os não crentes.    

          Desastre maior que o ocorrido seria deixar pessoas de fé sem sua igreja, sem Deus. O pastor conseguiu vencer a batalha, não sem antes ceder aos ditames da razão. Diante de um protesto dos alunos, corajosamente os faz ver o erro que cometiam odiando a igreja, que tinha seu papel reconhecido ao longo dos tempos, e promete construir um novo prédio fora da universidade. O que ele pedia naquele momento era que todos baixassem seus cartazes ameaçadores  e acendessem as velas distribuídas por fieis, elevando-as sobre suas cabeças em sinal de paz. No dia seguinte os universitários podiam ler uma mensagem em seus celulares: “Deus não está morto”.   



sábado, 1 de setembro de 2018







                                              BAGAGEM




          

           Chega o tempo em que damos conta que nos armários da casa não cabem mais nada, também aquele quartinho está tão entulhado que faz pena. Objetos acumulados durante anos, roupas que saíram da moda, adereços quebrada que íamos consertar. Muita coisa esquecida no baú. O que fazer? Selecionar para reforma o que venha a ter ainda utilidade e doar o que possa ser aproveitado por outras pessoas.
          
       Será que além de tão grande bagagem de bens materiais também acumulamos virtudes, conhecimento, saber? Tempos atrás se dizia que uma pessoa tinha bagagem, no sentido que ela era instruída, tinha sabedoria, observava os preceitos religiosos. Alto o nível escolar em meados do século XX, com grandes professores, o que nos últimos tempos baixou drasticamente, juntamente com a perda da religiosidade.
            
         A mente moderna tenta altos voos, mas o que faz são voos rasantes, perigando despencar lá do alto, ou escorregar ladeira abaixo. É costume as pessoas se abastecerem de tudo não importa onde buscam, para escapar das exterioridades. Almejam o autoconhecimento, através dos métodos científicos, mas também de métodos nada ortodoxos, tanto coisa surgiu nesse campo. No passado as pessoas iam em busca de uma fé tradicional, da religiosidade, que era mais que uma válvula de escape. As potencialidades humanas para condução das almas, e não como desvios.
            
           Tenham as pessoas bagagem! Ninguém esteja desprovida de bens, em primeiro lugar, as virtudes! Fé, esperança e caridade, as três virtudes teologais. Ah, a esperança, como precisamos dela no presente momento!


quinta-feira, 30 de agosto de 2018












            Cecília Meirelles - “Viagem”







      







MÚSICA

“Noite perdida,
não te lamento:
Embarco a vida
no pensamento,
busco a alvorada
do sonho isento.

Puro e sem nada,
 rosa encarnada,
intacta ao vento.

Noite perdida,
noite encontrada,
morta, vivida,

e ressuscitada...
Asa da lua
quase parada,

mostra-me a sua
sombra escondida,
que continua

a minha vida
num chão profundo!
— raiz prendida

a um outro mundo.)
Rosa encarnada
do sonho isento,

muda alvorada
que o pensamento
deixa confiada.

Ao tempo lento...
Minha partida,
minha chegada,

é tudo vento...

Ai da alvorada!
Noite perdida,
 noite encontrada...

                          

                         Adélia Prado - “Bagagem”:













.......
“Quando dói, grito ai,
quando é bom, fico bruta,
a sensibilidade sem governo.
Mas tenho meu pranto,
Claridades atrás do meu estômago humilde
 E fortíssima voz para cântico de festas.”
            (verso extraído do poema Com licença Poética)
........
“Mas, o que eu sinto escrevo. Cumpro a sina,
inauguro linhagem, fundo reinos,
(dor não é amargura)
minha tristeza não tem pedigree.”
                 (verso extraído do poema Grande Desejo)
.......
“Quero comer bolo de noiva,
puro açúcar, puro amor carnal
disfarçado de corações e sininhos:
um branco, outro cor-de-rosa,
um branco, outro cor-de-rosa.”
                    (verso extraído do poema Confeito)




terça-feira, 28 de agosto de 2018






               DA FALA 
                E DO SILÊNCIO




Duas amigas encontram-se para estudar, a prova final era sobre a comunicação na vida moderna, estabelecem a seguinte fala: 

 - O Silêncio nem sempre tem o respeito que merece, mas nunca foi tão odiado, como acontece hoje em dia.  Minha amiga, não se você concorda comigo mas o silêncio passou a ser sinônimo de vazio – inumano, aterrador. E o barulho tomou conta da humanidade, que me parece em estágio avançado, ou em plena decadência.  Para os homens das cavernas certamente que o barulho, e não o silêncio, causava estranhamento. Na era do ouro da humanidade homem pouco falava, a linguagem restrita, e qualquer barulho era sinal de inimigo por perto. Evoluímos, aprimoramos, pela fala, e os medos foram embora. Hoje tagarelamos sem parar e nada mais nos assusta.

- Concordo, e digo mais, tempos atrás os pais ensinavam as crianças a ficarem quietas, sossegadas, difícil para quem está descobrindo o mundo, e o barulho faz parte da vida infantil. Uma contradição, mas quando as crianças ficavam quietas era mal sinal. O silêncio era suspeito. Hoje o que se exige das crianças é que se movimentem sem parar, os pais inventando atividades variadas para manter os filhos ativos. Ou em desassossego?

- Desassossego, sim, e cito T.S. Eliot, que orou: Ensina-nos a estar em sossego. Teria o poeta detectado o perigo da obsessão pelo movimento no mundo moderno?  É coisa nova as pessoas serem levadas a estar em contínua atividade, querendo ser vistas, o que exige uma avantajada autoestima, coisa dos novos tempos.  Acharmos que somos merecedores de admiração, elogios, erro que vem da infância,  pais elevando a autoestima das crianças, em detrimento do esforço que elas possam ter em realizar seus deveres. A autoestima lá no alto, mas o quer reina é a confusão, a incerteza, a astúcia. Não há como voltar à certeza, à simplicidade, à inocência. Na descrença, o absurdo é o novo sublime. A vida contemporânea oferecendo esplêndidas oportunidades de vivenciar o absurdo, o caso da exposição do queermuseu.

- Pensamos em elevar nossa autoestima e tudo o mais nos será dado por acréscimo. Ou nos rebaixamos para nos manter em evidência, o que na atualidade significa estar vivo.  A comunicação, ou a solidão. Mas é preferível a solidão, do que estar em ação, lutando contra moinhos de vento, navegando contra maré, afogando-se num mar de lama. Gente que pensa assim manter alavancada uma soberba autoestima. Solidão, não no sentido arcaico de ascetismo, de se deslocar para algum deserto, se enfurnar por aí. A comunicação aleatória, e da sujeira figurada da pornografia partir para a sujeira de verdade. Ter amor próprio para com ele melhor comungar ideias, pensamentos e nobres interesses. 

- Não sei se você soube, mas uma pesquisa atual avaliou que a autoestima da pessoa alcança seu auge aos 60 e permanece assim até os 70, depois decai drasticamente, até os 90. Em se tratando da autoestima, é bom que se diga, quando sabemos que autoestima é diferente do amor próprio, que permanece estável, a partir do momento em que se forma. O amor próprio faz a pessoa ter responsabilidade pessoal, ser focada na eficiência, sem  se descuidar das deficiências, para corrigir e superar. Libertar-se, no sentido de amar o que se faz e, em especial, amar o silêncio e a quietude. Voltar a viver como se estivéssemos numa nova era do ouro, será possível? 

                Após a fala acima, quedaram-se as duas amigas em obsequioso silêncio.



Nota: Texto inspirado no livro A Era  da Loucura  do irlandês Michael Foley.
 Subtítulo: Como  ao mundo moderno 
tornou a felicidade uma meta 
(quase ) impossível)







sexta-feira, 24 de agosto de 2018






                                        DAS   IDEIAS





                    “O que move o mundo não é o amor, mas são as ideias”, frase que a tia escutou a sobrinha-neta falar, assim que ela chegou para sua visita costumeira. A moça extraíra a frase do livro Focados, Gananciosos e Eficientes”, de Vijav H. Vaitheeswaran, conselheiro do Fórum Econômico Mundial. Estudante de administração ela logo pensou em debater o assunto com quem afirmava ser a força do amor capaz de mover montanhas. E o mundo, tia? Para aquela tia sua sobrinha era representante fiel da nova  geração, a cabeça a mil por hora, disposta a se empolgar com qualquer novidade. Mas a mocinha ficasse sabendo que ideias nunca faltaram, mesmo quando não havia computador, internet, nem os modernos meios de comunicação à disposição. "Sim, minha cara, sempre soubemos o quanto as boas ideias são importantes, fazem a diferença."
                 
                  E lá foram as duas elucubrar sobre o mundo moderno, de portas abertas para a imaginação. As inovações pululando, desde meados do século XX, e não mais pararam de surgir novidades. "Há, as ideias, como elas mexem com a gente." Era preciso, sim, cada vez mais  inovar, em todas as áreas, no que estavam estavam as duas de acordo. pensar nos meios necessários para a vida correr mais segura e agradável, amenizar os males do convívio nas megacidades, preservar o meio ambiente. Não acomodar-se, mas que se revejam ideias, ações, que ponham em risco a sobrevivência da espécie. Pessoas especiais pensando e criando meios de subsistir ao caos moderno. A demografia, a imigração, a tecnologia,  avançando, o que requer preparação para bem acolher. 

              A sobrinha certa de que a invenção do computador havia modificado o cotidiano da humanidade. Enquanto a tia tinha sua ressalva, achava que se podia passar sem tanta tecnologia: "Ninguém precisava do computador para ser feliz, até que ele surgiu". Foi questionada: "Então me responda, estamos vivendo o melhor ou pior dos mundos?" Podia  aquela tia nos seus oitenta anos bem vividos responder. A resposta é que o mundo passou a oscilar entre o pior e o melhor. As invenções surgiam diante de grandes desafios domésticos e globais. Os graves problemas sociais, a saúde, a educação a exigirem soluções urgentes. Certo que as benesses surgiram ao lado dos males decorrentes do extraurbanismo, do desperdício dos recursos naturais, o que se deve levar em consideração. As mudanças tecnológicas querendo transformar o ser humano numa outra espécie, sendo precipitada qualquer celebração, antes de ser levada em conta seu papel, de atender às demandas humanas, sociais. 


segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Aos 106 anos, blogueira sueca é sucesso na internet





OS NOVOS “VELHINHOS”.

Eles nasceram no século passado, nos anos cinquenta e sessenta estão entrando na nova fase da vida. Sessenta anos, porta de entrada para a velhice, mas ela ficou para daqui há vinte anos, os oitenta.  Meus filhos estão nessa faixa de idade, daqui a dois anos a mais velha festejará em grande estilo os sessenta anos, foi o que nos avisou, conformada com a proximidade da velhice. Como os amigos, animados “velhinhos”, que neste ano começaram a festejar a dita “meia idade”. Poderão alcançar os cento e vinte anos? Não será impossível.

Velhice não é sinônimo de decadência, e nem sempre as pessoas deixam de ter perspectiva de vida futura quando entram na faixa dos “enta”: quarenta, cinquenta, sessenta, e daí por diante. Chegam os atuais “velhinhos” aos sessenta em muito boa forma. Brincam que há alguns inconvenientes, mas a vantagem é terem a fila preferencial e vaga para idosos nos estacionamentos.  Uns envelhecem melhor que outros, hoje, não sendo raro completar oitenta, noventa e até cem anos, em bom estado geral. Centenários estão fazendo e acontecendo — mais mulheres que homens.  Tem uma blogueira sueca de cento e seis anos, e aos cento e dois anos a brasileira Cleonice Berardinelli continua a escrever e fazer palestras.

Velhinhos anônimos, ou não, estão indo muito bem obrigado, e uma boa quantidade já ultrapassaram um século de vida. Causa maior espanto alguém morrer antes. Em meados de século passado não foram poucos os velhinhos com quem  convivi, até centenários. Morria-se mais na infância. Depois era questão de ter uma vida calma, alimentação regrada, sem excessos, de calorias, não ter vícios. Quanto à longevidade atual, muito se deve à saúde da mulher e aos cuidados com as crianças, que contam hoje com as vacinas, para evitar as doenças endêmicas, o que mais matavam as crianças. O tempo que vamos viver pode estar gravado no nosso DNA, mas o número de anos pode variar para mais e para menos, o que depende de alguns fatores. Cuidar da saúde é primordial.


PARABÉNS SESSENTÕES E SETENTONAS! 


domingo, 19 de agosto de 2018







            BENTO XV E PIO XI

                                                    SEGUNDA PARTE




Por breves e eficazes anos atuou o papa Bento XV, já no limiar dos anos vinte passando a Igreja a intervir em todos os setores sociais, sensível sua presença no cenário político mundial, mesmo onde antes havia sido barrada. A jovem força católica disposta a participar na construção do que se desenhava um futuro fascinante. Pio IX havia proibido os católicos italianos de participarem na vida política do país , o que já tinha sido atenuado por Pio X, que por sua vez rejeitou as Associações Católicas, a dita igreja laica, que mais tarde  receberia aval do Papa..... Não haveria mais uma luta conta a modernidade, mas importava atuar ao seu lado, oportunidade para a Igreja se situar no primeiro plano na história mundial contemporânea. O papa Bento XV teve de inclusive de atender ao apelo da igreja Ortodoxa russa, que sofria perseguição, ao mesmo tempo que tratou de organizar a Igreja católica russa, já que o Ortodoxia deixava de ser a religião oficial.  Bento XV canonizou duas das mais santas figuras da história da França: Santa Margarida Maria Alacoque, a mística iniciadora do culto do Sagrado Coração e Santa Joana d´Arc, tantas vezes invocada como a santa da pátria. 


BENTO XV



















PIO XI



                O catolicismo social nascido na consciência dos leigos, mas levado à frente pelo Vaticano e seus chefes supremos, os papas. Estabelecer a cooperação laica para a difusão da Mensagem, invocando mais fortemente os fiéis à responsabilidade pelo futuro cristão. Pio XI, eleito papa em 1922, a quem o que mais importava no momento era opor ao comunismo algo diferente do que o capitalismo selvagem. Fundamental o papel da Igreja para a paz social, a terra fecundada cuidadosamente por aqueles católicos que proclamavam a encíclica Rerum Novarum, então crescente a influência do catolicismo sobre os partidos e mesmo sobre os regimes. A encíclica Quadragésimo Ano de Pio XI fornece elementos de reafirmação desses princípios, que estão na base de toda e qualquer ação social católica. Resumindo: a encíclica é um ato de fé que deve levar à ação. A grande encíclica Mater et Magister de João XXIII, ia resumir a  encíclica  Quadragésimo Ano. Também no plano intelectual se manifesta a presença do catolicismo social. Era mais que tudo uma reação ao comunismo ateu, que estabelecia regras justas para os trabalhadores, reconhecendo o direito do assalariado e do empregador — a Igreja empenhada nessa ação, a partir de LeãoXIII.


Com Pio XI a Igreja se envolvia, não na política, mas numa ação social efetiva junto às classes trabalhadoras. Enquanto o marxismo revolucionário queria impor uma concepção total do homem e da sociedade, doutrina esta inseparavelmente unida a uma ação — os cristãos podiam, de seu lado, reivindicar outra, e dizer que também eles trabalhavam para promover o mundo de amanhã. As desigualdades escandalosas deviam ser eliminadas, sim,  os cristãos agiam de acordo com os Evangelhos, ao lado dos menos favorecidos, arrancando das mão do inimigo as armas que acessavam sobre a fé cristã. Os católicos então cooptados pela Action Française com suas manifestações de rua e  atos violentos, fato que intranquilizou o episcopado, levando Pio XI a agir com rigor. Condenou qualquer ação fora das regras estabelecidas pela fé cristã.  A crítica da Igreja incidia com rigor sobre dois pontos: o “naturalismo positivista”  e o “ nacionalismo exagerado” . Auguste Comte, autor do Catéchisme positiviste, tornava-se o mestre do humanismo ateu, do qual têm procedido as piores heresias do mundo contemporâneo. Não tardou a prosperar a ideia de ser eliminada a religião da face da terra.  Batalha de ideias, em que felizmente se destacaram grandes escritores católicas e sociais, entre eles Maurice Blondel, Jacque Maritain e G.K Chesterton.    

BIBL. DANIEL- ROPS - HISTÓRIA DA IGREJA - vol. IX  - A IGREJA DAS REVOLUÇÕES II