AMÉM!
PONTO DE VISTA
Vermeer é especialmente admirável na sua pintura Vista de Delft. O cenário idêntico ao da dramaturgia medieval, apresentado em três atos: o céu, a terra e o inferno. A metade superior do quadro ocupado por um céu parcialmente nublado. Logo abaixo, a cidade é vista de longe, às margens do rio Schie, com seu porto, e demais construções em ocre e castanho. Os telhados à esquerda pintados em vermelho intenso, enquanto à direita brilham edifícações em um suave amarelo, que reflete a luz do sol, e rompe as nuvens, dando destaca para a torre da Neunwe Kerk, que se eleva e afina na paisagem, entre outras torres menores. A catredal seria homenagem à eternidade das crenças,. onde descançam herois das guerras, além de abrigar o túmulo de Guilherme I de Orange. Profundas as raízes pagãs da Frísia, local em que cristãos e pagãos convertidos e batizados juntos fizeram sacrifícios ao deus Wotan. Os projetos arquitetônicos da cidade criados por gênios da matemática e geometria, que eram pessoas também devotas. Refletem a riqueza cultural e econômica de Delft, uma cidade pronta e acabada, de exuberância renascentista, já em decadência. A poluição que se nota nas águas turvas do rio recebendo detritos orgânicos, restolhos da produção, além de poluídos pelas embarcações de um mundo mercadológico de conquistas além mar.
Delft, com nome e espaço físico semelhante a Delfo, morada de Dionísio, deus do vinho, como também Apolo, deus da lira e da inspiração. Apolo, conhecido como “aquele que enxerga à distância”, companheiro das Musas. O mérito que as musas têm da passagem do “caos” primitivo ao “cosmo”, responsáveis pela introdução do conceito de ordem e beleza no mundo. Jean de Vermeer, O Apolo de Delft pinta as mulheres de Delft, dando a elas, suas musas, roupagem moderna. Elas ainda passíveis de discriminação, sujeitas a situações vexatórias, mas que expressam a vida ocidental que se transforma na modernidade. As mulheres inspiradas nas deusas da mitologia, e através delas o pintor revela uma civilidade, que passa a valorizar o feminino. A arte ligada ao rito, ao mito, e também às técnicas, que vão impulsionar o progresso. Mas para os puritanos o dinheiro, que começa a circular, é uma abstração frequentemente associado à impureza, assim como tudo o que diz respeito aos negócios. Delft de grande concentração humana, com artistas e artesãos cada vez mais habilidosos e criativos, cuja produção é comercializada num processo de trocas, o que também acontecia globalmente entre o Oriente e o Ocidente. Floresciam oficinas das “artes e ofícios”, chamadas guildas, ou corporações de pintores, tecelões, armeiros, ourives, vidraceiros, trabalhadores, em suma. Vermeer pertencia à guilda de S. Lucas, que chegou a dirigir por duas vezes, onde pode ter trocado ideias para suas pinturas.
O rio que dividir a tela ao meio, serve também de metáfora para o reino subterrâneo, obscuro, que seria ultrapassado nos novos tempos, na plenitude da vida cristã e civilizada, no encontro, ou reencontro da fé com a razão. Ancorados no porto de Delft, as embarcações, que parecem emergir da escuridão, ou surgir das sombras, através da técnica do pontilhado utilizada pelo pintor. Seria o pontilhado das pinturas de Vermeer representação dos “pontos metafísicos” de Leibniz? Unidades de força primitiva, obscura.. As embarcações parecem fantasmas que pairam na escuridão das águas, próprias para viagens gnósticas afinadas com o mundo dos mortos. O maior dos barcos seria de Dionísio, deus do vinho e da orgia, que beira a loucura. O barco menor o de Caronte, com a missão de levar os mortos para o Hades, em troca de uma moeda para a passagem. O outro barco, que emerge da escuridão das águas de Delft, pode ser a carcaça da embarcação da viagem ao Egito dos Argonáutas, da qual participou o teólogo, poeta e místico. Orfeu, filho de Apolo e Clio com a doçura do seu canto, natentativa de libertar Eurídice, que havia sido picada por uma serpente, e descido aos infernos, mas acaba por perder de vez a amada ao olhar para trás quando os dois atravessam os umbrais do império das sombras. Ovídio, por sua vez, fala das três Graças: Tália da abundância, Eufrasine da alegria e Aglae da radiância. Uma mitologia que retorna da antiguidade.
"É próprio do homem amar, como é próprio do sol iluminar." Vermeer impressiona mais ainda ao iluminar uma porção de terra, que toma a ponta esquerda do quadro. Seria a terra da América, onde algumas pessoas estão desembarcadas, os europeus em missão religiosa no Novo Mundo. É a barca Mayflower dos ingleses que vemos ancaorado naquela terra? O mais certo é que represente uma embarcação holandesa, que atravessara as águas tenebrosas do Atlântico para fundar a Nova Amsterdã nas novas em terras recém-descobertas. Caberia a eles levarem adiante o processo civilizatório cristão, expectativa que se confirmaria no futuro. Mas sobre essa porção de terra ensolarada também haverá sombras, uma vez que sobre elas também insidem as nuvens escuras lá no alto. O Brasil, colonizado pelos portugueses com sucesso, mas haveria de receber a visita dos protestantes holandeses, que fracassaram em seu empreendimento, mas deiaxarm marca de seus feitos. Promissor mundo, onde foi realizado um importante trabalho missionário católico na nossa abençoada América.
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MEDITAÇÕES EM DOIS TEMPOS:
1
Ele estava vivo, era uma
sensação de alívio, quando sabia que antes dele um irmão havia morrido ao
nascer. Mas seria uma injustiça ele ter sobrevivido, e não o outro? Devia sentir remorso por estar vivo? Perguntas que certa vez lhe
afloraram à mente, com que sentiu no fundo da sua alma simplesmente gratidão.
E se estava vivo tinha que merecer esse privilégio. A começar por honrar o
irmão morto. O que também devem fazer todos os que estão vivos, ou seja, honrar
os mortos.
2
Você quer
avançar?
Vale
a pena?
Perguntas que lhe fizeram
quando estava na plantação de arroz, a sonhar em sair dali. Tinha consciência que
não se vive apenas desse grão, nem da plantação de trigo do vizinho ao lado, necessários
para a sobrevivência física. Os produtos básicos produzidos no campo a milhares de anos, mas que
não bastaram ao ser humano. Daí veio a cultura religiosa. E ela ali no campo a sonhar com algo mais, ou seja, estudar, para cultivar a mente. Queria conhecer
melhor a cultura que deu origem à civilização, e dela tem notícia pelo padre, um
semeador da Fé. A sombra benfazeja da Igreja, como uma árvore frondosa, sua
semente plantada há milhares de anos.
Urge saber da importância em
se ter essa ajuda espiritual básica, como o arros e o trigo é para o corpo. E ir em frente com sua semeadura.
O mundo avança, e não espera ninguém. Os anos a passarem por ela sem grandes
mudanças. Até que partiu em busca da evolução necessária, para ser o que se
propunha na vida. Deixou sua avó a se queixar do salto no escuro que o mundo ia
dar. Salto já dado, e o mundo virara de cabeça para baixo. E desde então ela soube
o que queria de verdade, ser uma semeadora, não apenas de arroz no campo, hoje com ajuda das máquinas. Mas
semeadora dos bens espirituais, da fé que brota na alma que evolui.
NOTA: O segundo texto foi inspirado nas palavras do papa Leão XIV quando citou a pintura de Van Gogh, “O Semeador no Por
do Sol”
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"SEMEADOR NO POR DO SOL" - VICENTE VAN GOGH |
ELES E ELA
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S. LUÍS MA E SUAS LADEIRAS |
Ela
pensa nos cinco irmãos gerados em escadinha, quando a mulher tinha a função social
de apenas procriar, e mais o gosto por famílias numerosas. Os nascimentos em
grande número, o chamado baby boom, antes dos anticonceptivos, e do avanço
populacional. A maior tragédia na cidade
eram as mortes das mães que sucumbiam aos seguidos partos. Por sorte na família
dela nenhuma mãe, ou bebê havia morrido.
Pensa
nos irmãos crescendo saudáveis, a genética boa, e os cuidados idem, com o que
adentraram à juventude esperançosos e confiantes. E, quando chegaram à fase
adulta, não faltou disposição para
enfrentarem a vida. Seguros de si superaram muitas coisas e seguiram em frente.
Construíram seu destino e a eles foram
fieis. A confiança gravada em seus corpos como um amuleto.
Pensa que eles e ela podiam ter tido uma vida
diferente, até mesmo em cidade maior, o que era uma possibilidade para
todos. Certa que as coisas podiam ter sido talvez melhores e mais fáceis. Ou
não. A cidade pequena, tão familiar, ia tornar-se estranha para ela, que partiu,
quando havia ali mais
vida e mais amores. A dor passando ao seu lado e ela a lhe virar as
costas. Mas aquelas ruinas em que a cidade se transformou assemelhavam-se à
morte.
E pensa, por fim, no que lhe disseram quando ainda
era criança: “Não conseguir o que se quer também pode direcionar para onde você
precisa estar.” E pelo que tem observado
na sua longa vida, ela diz: Não adianta fugir, se acovardar, ou correr
atrás, ser afoito, melhor deixar a vida seguir seu curso, sem pressa e em paz.
ESQUELETO
Ela sofreu uma queda, e
devido à dor e ao hematoma no peito fez um exame de ressonância magnética para o médico saber o que havia acontecido. A
imagem na tela do computador revelou uma pequena lesão na quarta costela à
esquerda, sem gravidade, ia sarar em pouco tempo, apenas devia evitar movimentos bruscos. Surpreendida por ver o próprio esqueleto, pensou no tempo de escola quando aprendeu o nome dos ossos desse arcabouço de sustentação do corpo..
O miraculoso corpo, que tem carne, músculos, artérias, e mais um esqueleto, com cerca de 206 ossos, contituídos de material orgânico petrificado. O fascínio que qualquer criança tem pelos ossos e seus estranhos nomes; clavícula, omoplata, úmero, e por aí vai. E vem ainda a lembraça do espanto que teve na adolescência ao saber que, por conta desses ossos em forma de esqueleto, pôde o ser humano ficar em pé, e ergueu-se acima da sua condição irracional
Frágil corpo, mas quão forte o ser
racional em sua essência humana.
FUMAÇA BRANCA
“Habemus Papam”. O anúncio esperado por uma multidão aglomerada na Praça de São Pedro no Vaticano. O agostiniano Robert Francis Prevost é eleito para o lugar do papa Francisco, e recebe o nome de Leão XIV. Os 133 cardeais reunidos em conclave haviam escolhido pela primeira vez um norte americano para comandar a Igreja Católica e seus mais de um bilhão de católicos. Todos os olhos estavam postos na chaminé, de onde viram sair a fumaça branca da confirmação que haviam atingido o número necessário para a eleição. Depois de algum tempo necessários para os parabéns de seus pares, e preparativos para o novo pontífice aparecer na sacada da Santa Sé, recebe os aplausos, e dá sua primeira bênção. Aqui do outro lado do mundo sinto o coração apertar.
Uma longa vida essa minha com nove papas eleitos para um curto ou longo pontificado. Começo por Achille Ratti, que em 1922 foi eleito papa, e escolheu o nome de Pio XI, numa época de tensão mundial, tendo traçado linhas definitivas sobre a educação cristã, o sacramento do matrimônio e a doutrina social da Igreja para cuja finalidade publicou a encíclica Quadragesimo ano. Quem o substituiu foi Eugênio Pacelli, com o nome de Pio XII, nascido atrás dos muros do Vaticano, tendo atuado na Segunda Guerra, eleito papa em 1939, e defendeu corajosamente a Igreja do facismo de Mussolini. Em 1958 assumiu João XXIII, que convocou o concílio Vaticano II, visando fazer a Igreja empreender mudanças, sem perder sua identidade, nem deixar ruir suas raízes e da própria civilização ocidental.
Com o papa Paulo VI foi concluído o Concílio Vaticano II, e a Igreja pôde seguir com uma face mais atual, sem perder sua dignidade e sua moral. Eleito João Paulo I não resistiu ao peso da tarefa recebida e faleceu apenas um mês. João Paulo II chegou com aquela sua alegria, um papa ainda moço, esportista, que fez a igreja, ou o papa, sair da sua zona de conforto, e andou pelo mundo com seu sorriso, com seu carisma. Após mais de vinte anos desse papado foi a vez de Bento XVI, guia doutrinal do seu antecessor, um sábio, mas acabou renunciando, por estar com a saúde abalada, sem poder continuar à frente de tão grande congregação humana.
Jorge Mario Bergolio adotou o nome de Francisco, o primeiro com esse nome, deu seu recado, e de tal forma admirado por sua coragem e determinação de tornar a igreja ecumênica. Vamos ter agora o norte americano Leão XIV, nome certament inspirado no papa Leão XIII com sua encíclica social Rerum Novarum, quando pela primeira vez a Igreja abordou o tema social, e assim ienfrentar o comunismo. Mesmo que a Igreja sempre estivese ao lado dos menos favorecidos. Agora era questão de se preservar a doutrina católica dos males advindo do materialismo
Preservar é preciso, em especial, a natureza da doutrina religiosa, que nos fornece meios de subsistência espiritual,assim como preservar a Natureza que nos cerca, responsável pela nossa sobrevivência material
Blog Vilms 8.05.25
Nunca abafe sua fé.
Acredite que tem dentro de si sementes de humanidade para cultivar. Desenvolva seus talentos e aptidões com inteligência e boa vontade.
Deixe chegar até você a notícia que pode ser feliz com o que tem. Não é fácil acertar sempre, e até mesmo pode perder tempo em buscas, que não levam a nada. Às vezes, são duras as lições da vida. Mas nunca se rebaixe, nunca desista de você.
E se você não está vestida no rigor da moda, nem penteda como manda o figurino. parabéns. O que realmente importa é
SEMPRE
Éramos estoicos e não
sabíamos. Em meados do século XX eu e
meus contemporâneos podíamos ser classificados de acordo com a milenar filosofia
grega do estoicismo. Desde os bancos escolares, as crianças do meu Grupo Escolar Alberto
Pinheiro, assim como nas demais escolas de S. Luís, e em todo o país, contavam
com parco material de ensino. Mas éramos grandemente compensados pelo empenho dos
professores na educação dos seus alunos. Os livros quase sempre usados, no meu
caso, herdados da prima, um ano mais velha, e por conta disso, beneficiada ainda mias por
frequentar um colégio de elite, como é o Colégio Santa Teresa, até hoje. O
muito que nos era dado e cobrado em aprendizado para uma vida. Gratidão e mais
gratidão! E em uma paródia ao poeta inglês Keats, o último dos românticos, quando
diz que “um instante de beleza é uma
alegria para sempre”, posso afirmar que “ um instante do melhor aprendizado nos valerá
para sempre.”