sábado, 31 de dezembro de 2016

Roberto Carlos 2016 Especial de Fim de Ano - Rafa Gomes & Roberto Carlos

Roberto Carlos 2016 Especial de Fim de Ano - Marisa Monte & Roberto Carlos





                                A PALAVRA      


        
        Somos capazes de interagir com palavras porque evoluímos, e através da fala colocamos em evidência nossas ideias e intenções. É o precioso dom da palavra. Prova de civilidade é refletir e ter coragem de expressar verbalmente sobre as coisas que acontecem e nos afeta direta ou indiretamente. Positiva a atitude de falar o que nos aflige. Se não for através das palavras como vamos saber dos outros, e que noção os outros vão ter de nós? Diz o dito popular que “o silêncio vale ouro”. Mas silenciar pode ser um modo sub-reptício de não se apresentar, de não revelar o que se é. Pode até tratar-se de astúcia calar, para evitar transmitir o que se  sabe. Certo que nem todos os ouvidos são sábios, nem todos os corações são amigos, e devemos preservar o respeito próprio, em pensamento, palavras e obras.
        
          Melhor ter o que falar, do que nada para dizer. O quanto é incômodo o silêncio, não menos que as bobagens que possam ser ditas. Se há palavras que ofendem, o silêncio também pode ser uma forma de menosprezo, como se alguém dissesse que nada tem a dialogar com o outro.  Mostrar-se pronto para falar, quando for necessário, revela um bom nível mental. Não se trata de ostentação transmitir conhecimento. Triste a covardia do silêncio; dolorosa tirania querer calar os outros. Conversa só com os iguais — alguém quer dizer — ao silenciar, quando o momento é do diálogo. Pouco se escuta um ao outro hoje em dia, o barulho do mundo que cansa os tímpanos, ensurdece, além de atrofiar os sentimentos e as mentes.
          
         Palavras de sabedoria nos legaram nossos antepassados, para formar o mais  sensato e o melhor dos seres, dignos da boa herança.  Mas o que temos hoje é um tempo de ignorância generalizada, e seus erros gritantes. E silentes quanto às verdades. Entendemos a vida como fonte de prazeres, quando não de disputas, consequentemente de dores e decepções. Fugimos de tudo, ou aproveitamos a oportunidade de interagir com um tempo extraordinário. E se há encontro, acontecem também desencontros na comunicação, por exemplo. A dissimulação e a mentira apontam para o nível da desinformação que permeia as comunicações, mais ainda nas redes sociais.   
          
          Fiquei cismada no início de 2016. Pela aritmética, na ordem decimal, o cálculo para o número 2016 2+1+6=9, “noves fora, nada”. E é da forma como acaba o ano, nosso país com nada de bom a registrar, além da prisão dos corruptos que roubaram descaradamente a nação. O ano que passou também de terríveis conflitos mundiais. Mas apesar dos perigos, apesar de estarmos aflitos, saldemos 2017. Estou animada, pois 2+1+7=10, “dez, noves fora, Um”. E na unidade das boas intenções e das sábias ações que tenhamos um novo tempo no novo ano que inicia, e ele seja de mais harmonia entre as pessoas e de menos conflitos entre as nações. Não custa acreditar, é  o tanto que faz bem sonhar.
          
         Um Feliz 2017, com mais palavras verdadeiras e menos silêncios culposos.
       

           

sábado, 24 de dezembro de 2016

sábado, 10 de dezembro de 2016





                    
              





                Nome mágico – férias – tempo de descanso, para quem trabalha, ou estuda. Férias para todos, o que lembra liberdade, alegria, sorrisos. Não há como ser livre o tempo todo, nem fazer sempre o que se quer. Férias longe das mesmices do dia a dia, e se possa vivenciar coisas novas, ou rever antigas alegrias. 
                
          Caprichar no riso solto, também deixar que rolem as lágrimas, para aliviar a dor, acalmar o coração feliz. Deixar de fora as cobranças,  as críticas, sejam quais forem, o ano cheio dessas coisas, arre. O demônio por perto em torpes chamamentos. Fugir correndo para longe, que pode ser longe mesmo. E ficar mais perto, bem perto, ao próprio aconchego. 

           Tempo do  renascer da alegria e paz no coração. Fica para trás um ano difícil, esse de 2016, sem deixar saudade. E se volte o olhar com fé para o céu azul, com o sol a brilhar. E que a chuva molhe a terra com vontade, e os campos úmidos possam ser fertilizados. 


           É Natal, comemoração da primeira vinda de Cristo Jesus, a nos lembrar do nascimento de um novo tempo. E esse ano que se finda anuncie a segunda vinda, tempo da prometida felicidade aos homens de boa vontade.


quarta-feira, 7 de dezembro de 2016





                          FERREIRA GULLAR, O POETA




           Falece no Rio de Janeiro, aos 86 anos, o maranhense Ferreira Gullar, um dos maiores intelectuais brasileiros, nascido numa pacata S. Luís, onde viveu a mocidade, berço de grandes nomes das letras no nosso país. O pai um homem simples, que tinha um pequeno comércio, na verdade, uma quitanda, da qual o poeta lembra das bananas já passadas sobre as quais voejavam abelhas, que delas eu também lembro, expostas na entrada das vendas da nossa cidade querida. Impróprias para o consumo humano — bom para as abelhas — as bananas, para as quais o filho de seu Newton e dona Alzira fez dois poemas e mais um conto. Também nós outros habitante da rua das Hortas, e ninguém se dava conta de tão nobre existência ao nosso lado, coisas da vida.
         
          José de Ribamar Ferreira Goulart, ou Ferreira Gullar, muito jovem ainda, escolheu o estudo, o convívio com os livros e, em especial,  com os seus conterrâneos intelectuais. E mesmo sem estar de todo preparado para enfrentar a vida sozinho, deslocou-se para o sul do país, levando poucos pertences, ou quase nenhum, mas uma considerável bagagem intelectual, indo logo trabalhar na grande imprensa. Começava uma saga, onde não faltaram percalços, como a prisão por questões políticas, o exílio, e, após a anistia, voltar ao Brasil, livre do ódio e certo da vitória pessoal.
          
          Ferreira Gullar, poeta, ensaísta, crítico literário, tradutor e biógrafo, editou ainda em S. Luís seu primeiro livro Um pouco Acima do Chão , declarado pelo próprio autor como “tateio inicial”, “um livro ingênuo”. Mas foi com A Luta Corporal, editado pelo autor em 1954, que o poeta se revelou em todo seu vigor intelectual. Para o crítico Paulo Werneck, “seria a fagulha de um novo tipo de escrita, que nos anos seguintes mudaria as noções tradicionais  de verso, página, livro de poesia — em resumo, a própria poesia”. Com o Poema Sujo escrito no exílio, marcou definitivamente seu nome na história.
         
        Reconhecido como um dos grandes poetas nacionais, o maranhense Ferreira Gullar mereceu ao longo da vida todo respeito e admiração, sendo indicado duas vezes para o Nobel. Resistiu ao fardão, mas há dois anos foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, tendo declarado na ocasião que “a arte existe porque a vida não basta”. A arte que revela o nosso envolvimento com essa consciência superior que existe no homem. Deus o maior artista, e o dom da arte dado àqueles que sabem extrair da vida encantamento e beleza. A arte poética que se constitui de revelações da humana consciência.
 
    
        BANANAS PODRES 2

Naquele canto
                   em sombra
da quitanda
                   a tarde  — o tempo
                   o sol da tarde —
                   nas bananas virava mel
                                                     (aliás
                    mas água
 do que mel)
                        em outubro de 1938
                        .............
                       
       
      INFINITO SILÊNCIO

         houve
                 (há)
um enorme silêncio
anterior aos nascimentos das estrelas

              antes da luz

             a matéria da matéria

de onde tudo vem incessante e onde
                   tudo se apaga
                   eternamente

esse silêncio
          grita sob nossa vida
          e de ponta a ponta
         a atravessa
                    estridente

        
          EVOCAÇÃO DE SILÊNCIOS

O silêncio habitava
o corredor de entrada
de uma meia morada
na rua das Hortas

o silêncio era frio
no chão de ladrilhos
e branco de cal
nas paredes altas

enquanto lá fora
o sol escaldava