DOCES DIAS NA CASA DA AVÓ
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FONTE DO RIBEIRÃO - S. LUIS - MA |
A cidade era antiga, com um especial casario, os muros das casas grudados uns aos outros, o seu interior habitado por famílias numeroas, onde não se via cães, nem gatos. Os cachorros na rua, a gozarem livremente a paz de São Francisco. Já os gatos costumavam entrar na cozinha, vindos não se sabe de onde, para sorrateiramente
roubarem a carne, se houvesse descuido. Esses animais de loga data domesticados, que hoje em dia são entes queridos, até mesmo no lugar dos filhos.
E, se antes não estavam nas casas, por onde andavam os cães e gatos com seus pedigrees? Na meia-morada da Rua das Hortas havia apenas
um gato, que a avó trouxe da morada-inteira da Rua Rio Branco. Apenas as galinhas no quintal, com seu cacarejar logo ao
amanhecer, à espera do milho, que Mariana Rosa jogava
aos punhados na terra, para serem devorados por ávidos bicos, antes de irem par a panela.
Na cozinha desde cedo o carvão crepitava no fogareiro à
brasa, e depois de ferver a água da chaleira para o café, estava cozinhando o feijão na panela de ferro. A avó quase em
desespero com a demora dos grãos amolecerem, e se abstinha de colocá-los na
mesa mais vezes, mesmo sabendo da riqueza nutricional do grão. Inútil esperar
um caldo grosso, já bastava o feijão estar bem temperado com toucinho, e no ponto de comer. E saber que os escravos acrescentaram ao feijão as partes menos apreciadas do
porco, rejeitadas pelos senhores, o que resultou na
feijoada, o maior sucesso da culinária do país. Hoje o feijão geneticamente
modificado, e não mais aquele grão duro de doer. Ah o progresso, que acabou com
a escravidão dos negros, de valiosa contribuição para o legado cultural da
nação, além de propiciar esse modo especial de ser dos brasileiros.
O fogão a lenha também já estava aceso desde as primeiras horas do dia, pronto para receber as mães-bentas, os quindins, as queijadinhas, os capuchinhos, as cinderelas, os pasteizinhos de fiambre, dentre os mais apreciados doces confeccionados pela habilidosa confeitera. E hoje eu me pergunto como uma pessoa fransina e quase idosa conseguia dar conta de tudo, não só dos seus doces, mas dava conta de todo o trabalho da casa, e ainda acompanhar as novelasdo pelo rádio, que também lhe fornecia as noticias socias e polítcas, para ela comentar mais tarde com o filho, que ainda morava com ela e também com a filha casada, que visitava a mãe com frequência. As noites regada sonoras risadas com a linguagem do P, em que os dois irmãos eram exímios, e deixavam os demais curiosos em saber o assunto que tratavam. A melhor das brncadeiras era advinhar as charadas, às vezes, impróprias, mas engraçadas. A mãe sempre a cobrar do filho que se casasse com a moça, que andava por lá, encantada com uma possível futura nora, que também almejava tê-la como sogra.
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