terça-feira, 1 de julho de 2025
sábado, 28 de junho de 2025
SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO - PARTE 2
Há sonhos quiméricos, errado apostar neles. Abandonar a razão, optar por aquilo que é controverso, e que se manifesta com a força da paixão, pode acontecer em qualquer tempo e lugar. O teatro grego conta essa história em suas Tragédias, que inspirou Shakespeare a escrever, não uma tragédia, mas dramática encenação teatral, intercalada por uma comédia de bufões. Na Grécia helênica, berço da democracia, está para ocorrer o casamento de Hipólita com Teseu, ao mesmo tempo que acontece o encontro de amor de outro dois casais. Demétrio ama Helena, assim como Lisandro ama Hérmia, nos planos temporal e atemporal das manifestações artísticas e transcedentais, sua ética e estética.
E porque os enamorados foram parar na floresta vizinha em vez de estarem ao lado dos reais nubentes em Atenas? A
floresta é romana, cadinho cultural, assim como vai ocorrer no mundo medieval,
com suas lendas e, em especial, seus magos. Os magos renascentistas, como Tommaso
Campanella (1568-1639) na sua sonhada Cidade do Sol. E não por acaso o Sonho de
William Shakespeare (1564-16160) é de uma Noite de Verão. Em fuga, e devido a cansativa
travessia, os quatro adormecem, numa espécie de hibernação. Naquele estado de
vulnerabilidade longe do lar de origem, tudo pode acontecer, é quando entra em
ação Puck, o gênio da floresta, que vai colocar gotas mágicas nos olhos dos
amantes masculinos. Ao acordarem eles não mais reconhecem suas amadas. Lisandro,
ao abrir os olhos, desconhece Hérmia, e ainda sonolento, resolve conquistar
Helena, ao escutar seu choro pela ausência de Demétrio, também enfeitiçado, que
foi em busca de Hérmia.
O sonho daquela noite de verão vira
pesadelo, por conta dos excessos dionisíacos e bárbaro nos campos de batalha de conquista
territorial da Grécia espartana, que precede a vontade apolínea, histórica,
democrática, em Atenas. Hérmia e Helena são
arquétipos das figuras mitológicas que
validam as mulheres por aquilo que elas são, como fonte de criação, liberdade, compreensão. Nessa encruzilhada, Lisandro
renuncia a graça de Hérmia, e diz para
Helena ”Quem troca corvo por pomba?” Helena representa a estética na arte, atitude que
deixa Helena ofendida com aquele falso amor, e foge dele. Hérmia está sozinha,
com Demétrio já a sua procura, ele também enfeitiçado pela magia do gênio da
floresta, está apaixonado pela pessoa errada.
Os nobres Lisandro e Demétrio foram impelidos a serem infiéis às companheiras. Inconstante e trágico, o mundo das aparências, e por ser infiel ao seu amor, à sua crença, o masculino padece, e faz o feminino padecer também. Sofre o mundo com as forças estranhas vindas das alturas das ambições imperialistas, também das profundezas, tanto na helênica Grécia, como em Roma, ou em outro qualquer lugar no mundo de ambições hegemônicas. É o que ocorre no mundo renascentista, das grandes ambições de onquistas territoriais e marítimas. Poderes estranhos sempre vão querer se sobrepor ao ideal de vida na fé, esperança e caridade cristãs. A ética peotestante rejeita a arte, que é adotada pele catolicismo, em que ética e estética estão alinhadas..