quarta-feira, 22 de outubro de 2025


 NÃO MAIS DO QUE ISSO, INFELIZMENTE!



 


AJA  CORRETAMENTE

LUTE PELO BEM

QUE A SORTE VEM!



 


                                                              RAZÃO DE VIVER



S. LUÍS - MA - ANTIGA PRAÇA JOÃO LISBOA



Em correria pela rua do Egito, Maria foi repreendida pela prima, que a esperava na parada do ponde, e acusou-a de estar desatinada.  Pensou então que desatinada mesmo ia ficar se perdesse alguma pessoa da sua família. No dia anterior havia ficado muito riste com a morte de um jovem por afogamento na praia do Olho D´água. Imaginou a dor que ia sentir se fosse seu irmão. Mesmo mais tarde qando ficaram separados pelas circunstâncias, sabia que ele sempre estaria bem, a salvo, trabalhando, e prestes a se casar. Achou cedo para ele ter essa responsabilidade, ainda mais que ia voltar para o Norte, indo ao encontro da noiva. Na ocasião por sorte estavam morando bem perto, ele trabalhando em S. Paulo e ela ia assumir o BB no Rio. Poderiam se ver constantemente. O destino quis diferente, que caminhassem por caminhos abertos por vontade própria e também à revelia. Mas o certo é que estavam a salvo pela graça de Deus, o que era mais importante. Tornaram-se outras pessoas, melhores, quem sabe? Sem se perderem encontraram a razão de viver, que na verdade está em cada um, aonde quer que se esteja.  


terça-feira, 21 de outubro de 2025

 




 


 

 

 

                                   LIÇÃO DE VIDA


S.LUÍS -MA - IGREJA DOS REMEDIOS

 

 

Maria chegou correndo à parada do bonde  depois da aula, e foi repreendida pela prima mais velha preocupada que perdesse a condução, que ia dar a volta na cidade e só chegaria de volta meia hora depois:

— Você é meio desatinada, Maria.

Ela estava atrasada porque foi espiar a madre preparar o palco para a apresentação do fim de semana, onde tinha uma breve participação. Quando chegou a casa Maria perguntou para a tia:

—O que é “desatinada”, tia?

—Você vê a chuva, útil para molhar a terra, refrescar o ambiente, o que favorece a vida de um modo geral. Mas há as tempestades, que assustam.  Você é jovem, cheia de energia, e sendo assim, às vezes, perde o controle. Entendeu? Estou precisando de alguém para colocar essa massa de doce nas forminhas, venha me ajudar.  

 

 

 


 


    

 

                                              

                    O SAPATEIRO  DA  RUA DAS HORTAS


 
S. LUÍS - MA

 



Havia um sapateiro na Rua das Hortas de nome Marçal, atendia nessa rua, e adjacências, um atendimento ainda necessário na década de cinquenta. Os ofícios na antiga tradição exercidos no sistema das guildas dando ao artesão boa recompensa, e lhe proporcionava uma posição honrosa na cidade. E mesmo na era industrial, com a produção em larga escala, nem tão larga assim, como é agora. Ainda em meados do século XX, os sapatos das crianças e jovens só eram trocados por um novo depois que o antigo par não mais cabia nos pés. E os adultos os tinham por quase uma vida inteira. A sola desgastada era substituída por uma nova, que podia ser a meia-sola, ou a sola-inteira. Maria certo dia foi com a madrinha buscar seu calçado escolar. E o sapateiro, vendo a menina à sua frente, aproveitou para dar-lhe uns conselhos:

— Veja bem, minha amiguinha, seu par de sapatos estava muito feio. Você o recebe de volta “novinho em folha”, e daqui pra frente evite poças d´água. E seu irmão deixe de chutar pedras por aí, que o sapato dele estava em “petição de miséria¨. Dê uma escovada nele quando chegar da rua, e engraxe sempre que for preciso, que ele vai durar ainda muito tempo. E não ande descalça que sua mãe não vai gostar, além de prejudicar sua saúde. Conheço todos dessa cidade e olho primeiro para os pés da pessoa para então dirigir-lhe a palavra, sabendo de quem se trata.

Maria olhou para seus pés descalços, coisa rara de acontecer, mas saíra correndo deixando os chinelos pelo caminho até a oficina do sapateiro, situada no térreo do sobrado em frente a sua casa. Lá chegando com a madrinha teve a oportunidade de ver o trabalho fascinante do sapateiro cortar o couro para fazer a sola depois colar e pregar com tachas no rosto já pronto do sapato, Seduzida até pensou em trabalhar ali como ajudantede do sapateiro. Mas recuou na vontade ao sentir o cheiro desagradável da cola que não lhe ia fazer bem.

Mas as palavras saídas da boca do experiente sapateiro, com gentileza, lhe calaram fundo. É o que a criança, ou o jovem precisa para se sentir importante, ao receber atenção, ser aconselhada. Aconteceu no passado com Maria, que não mais esqueceu essa visita. E ao ver tantos sapatos empilhados nos cantos da sapataria perguntou se tinha gente que esquecia os sapatos, que não vinha busca-los de volta. Ao que Marçal respondeu:

— Sim , tem gente que não vem buscar o sapato e eu aproveito para doar a quem precisa. Acontece poucas vezes. Um par de sapatos é um bem útil, e até mesmo o mais precioso para a pessoa. Ficar sem ele é uma grande perda. Um par de sapatos custa os olhos da cara hoje em dia, melhor que é um bem durável se souberem cuidar bem dele.

Outros tempos, Maria pensa, sabendo o exagero que há de sapatos nos armários das casas hoje em dia. Filhas e netas, por exemplo, não poupam dinheiro quando é para adquirir um novo modelo exposto nas vitrines das lojas seduzindo os consumidores. E tem gente que não consegue resistir. Mas ela mesma tem dois ou três pares que usa o ano todo. Gente antiga tem outra mentalidade, Maria aprendeu isso para nunca esquecer..