quinta-feira, 29 de maio de 2025

 



 

                                                    PONTO DE VISTA

 




 

Vermeer é especialmente admirável na sua pintura Vista de Delft. O cenário idêntico ao da dramaturgia medieval, apresentado em três atos: o céu, a terra e o inferno. A metade superior do quadro ocupado por um céu parcialmente nublado. Logo abaixo, a cidade é vista de longe, às margens do rio Schie, com seu porto, e demais construções em ocre e castanho. Os telhados à esquerda pintados em vermelho intenso, enquanto à direita brilham edifícações em um suave amarelo, que reflete a luz do sol, e rompe as nuvens, dando destaca para a torre da Neunwe Kerk, que se eleva e afina na paisagem, entre outras torres menores. A catredal seria homenagem à eternidade das crenças,. onde descançam herois das guerras, além de abrigar o túmulo de Guilherme I de Orange. Profundas as raízes pagãs da Frísia, local em que cristãos e pagãos convertidos e batizados juntos fizeram sacrifícios ao deus Wotan. Os projetos arquitetônicos da cidade criados por gênios da matemática e geometria, que eram pessoas também devotas.  Refletem a riqueza cultural e econômica de Delft, uma cidade  pronta e acabada, de exuberância renascentista, já em decadência. A poluição que se nota nas águas turvas do rio recebendo detritos orgânicos, restolhos da produção, além de poluídos pelas embarcações de um  mundo mercadológico de conquistas além mar. 

Delft, com nome e espaço físico semelhante a Delfo,  morada de Dionísio, deus do vinho, como também Apolo, deus da lira e da inspiração. Apolo, conhecido como “aquele que enxerga à distância”, companheiro das Musas. O mérito que as musas têm da passagem do “caos” primitivo ao “cosmo”, responsáveis pela introdução do conceito de ordem e beleza no mundo. Jean de Vermeer, O Apolo de Delft  pinta as mulheres de Delft, dando a elas, suas musas, roupagem moderna. Elas ainda passíveis de discriminação, sujeitas a situações vexatórias, mas que expressam a vida ocidental que se transforma na modernidade. As mulheres inspiradas nas deusas da mitologia, e através delas o pintor revela uma civilidade, que passa a valorizar o feminino. A arte ligada ao rito, ao mito, e também às técnicas, que vão impulsionar o progresso.  Mas para os puritanos o dinheiro, que começa a circular, é uma abstração frequentemente associado à impureza, assim como tudo o que diz respeito aos negócios. Delft de grande concentração humana, com artistas e artesãos cada vez mais habilidosos e criativos, cuja produção é comercializada num processo de trocas, o que também acontecia globalmente entre o Oriente e o Ocidente. Floresciam oficinas das “artes e ofícios”, chamadas guildas, ou corporações de pintores, tecelões, armeiros, ourives, vidraceiros, trabalhadores, em suma. Vermeer pertencia à guilda de S. Lucas, que chegou a dirigir por duas vezes, onde pode ter trocado ideias para suas pinturas. 

  O rio que dividir a tela ao meio, serve também de metáfora para o reino subterrâneo, obscuro, que seria ultrapassado nos novos tempos, na plenitude da vida cristã e civilizada, no encontro, ou reencontro da fé com a razão. Ancorados no porto de Delft, as embarcações, que parecem emergir da escuridão, ou surgir das sombras, através da técnica do pontilhado utilizada pelo pintor.  Seria o pontilhado das pinturas de Vermeer representação dos “pontos metafísicos” de Leibniz? Unidades de força primitiva, obscura.. As embarcações parecem fantasmas que pairam na escuridão das águas, próprias para viagens gnósticas afinadas com o mundo dos mortos. O maior dos barcos seria de Dionísio, deus do vinho e da orgia, que beira a loucura. O barco menor o de Caronte, com a missão de levar os mortos para o Hades, em troca de uma moeda para a passagem. O outro barco, que emerge da escuridão das águas de Delft, pode ser a carcaça da embarcação da viagem ao Egito dos Argonáutas, da qual participou o teólogo, poeta e místico. Orfeu, filho de Apolo e Clio com a doçura do seu canto, natentativa de libertar Eurídice, que havia sido picada por uma serpente, e descido aos infernos, mas acaba por perder de vez a amada ao olhar para trás quando os dois atravessam os umbrais do império das sombras. Ovídio, por sua vez, fala das três Graças: Tália da abundância, Eufrasine da alegria e Aglae da radiância. Uma mitologia que retorna da antiguidade. 

 "É próprio do homem amar, como é próprio do sol iluminar." Vermeer impressiona mais ainda ao iluminar uma porção de terra, que toma a ponta esquerda do quadro. Seria  a terra da América, onde algumas pessoas estão desembarcadas,  os europeus em missão religiosa no Novo Mundo. É a barca Mayflower dos ingleses que vemos ancaorado naquela terra? O mais certo é que represente uma embarcação holandesa, que atravessara as águas tenebrosas do Atlântico para fundar a Nova Amsterdã nas novas em terras recém-descobertas. Caberia a eles levarem adiante o processo civilizatório cristão, expectativa que se confirmaria no futuro. Mas sobre essa porção de terra ensolarada também haverá sombras, uma vez que sobre elas também insidem as nuvens escuras lá no alto. O Brasil, colonizado pelos portugueses com sucesso, mas haveria de receber a visita dos protestantes holandeses, que fracassaram em seu empreendimento, mas deiaxarm marca de seus feitos. Promissor mundo, onde foi realizado um importante trabalho missionário católico na nossa abençoada América.  

 






























 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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