O
CANTOR NOBEL DE LITERATURA-2016
Robert Allen Zimmeman, ou Bob Dylan, é o
homenageado pela Academia Sueca com o Prêmio Nobel de Literatura de 2016. O
cantor e compositor americano já havia abocanhado todos os prêmios no seu campo,
como 12 Grammy, o Globo de Ouro e até um Oscar. Mas os nostálgicos acadêmicos acharam
por bem aumentar o número de honrarias ao roqueiro, por ele haver “criado novas
expressões poéticas dentro da grande canção americana“, palavras da secretária
Sara Danius, que ainda se justificou citando Homero e Safo, poetas gregos, ao anunciar o nome
do premiado. Se era para causar impacto não deu outra coisa. Foram aplicados
critérios radicais para a premiação do autor de Blowin´in the Wind, provocando críticas à vetusta academia, que
deixou de fora, entre outros concorrentes da elite literária, o americano
Philip Roth e o japonês Huruki Murakami,
cotados já ha alguns anos ao prêmio.
A láurea concedida a Dylan causou certo constrangimento
àqueles que trabalham seus textos dentro do rigor literário e publicam obras de
reconhecido valor. Protestam por achar que escrever um livro, seja poesia,
romance, conto, é uma forma específica de expressão criativa, sem possível comparar as letras do talentoso roqueiro americano, por exemplo, com a poesia do
inglês John Keats (1795-1821). O escritor e jornalista Ednei Silvestre considerou
um absurdo, um descaso dado à palavra escrita, à literatura, o Nobel de 2016. Diogo
Maynard falou em disparate tal premiação. Acusaram o músico de “escrever balada
movido a LSD”. Dylan é um letrista que se pode dizer mutante e desconcertante, em
seus conceitos, mas tem a virtude de saber o que quer. No seu passado
contestador, o roqueiro dizia querer apenas sustentar a família, e em constante
mutação, e ficou de fora quando alguns se arregimentavam para a revolução, o
caso da ex-namorada de Dylan, Joan Baez.
Até agora o entendimento é que as
letras das músicas são feitas para acompanhar o som, e quando transcritas para
a página silenciosa de um livro, perde em qualidade literária, mesmo que as
letras de algumas canções tenham algo mais que suas costumeiras ligeirezas. Jerônimo
Teixeira, comentarista da Veja falou que o culto a Bob Dylan, a partir do
Nobel, transcende a área musical para ir em direção ao culto da palavra, em
qualquer área de aplicação, um vale tudo. Não há dúvida que o público ouvinte do
Rock é mais afeito ao som musical que às palavras, cantar e pular é sua praia. No
passado a boa música não devia ter letra, o caso da música clássica, pelo
encantamento que provoca, e não comporta som algum além do que está na pauta
musical. É o tal purismo a ser preservado na música, assim como na literatura.
Mas agora é o que atualmente se pretende abolir, ao que parece. São os novos tempos.
A
premiação do músico americano pode, inclusive, acalentar o sonho dos músicos brasileiros,
pois o que não falta é talento nem engajamento em Caetano Veloso, Chico Buarque
de Holanda, Gilberto Gil. E por que não o romântico Roberto Carlos? Vozes
brasileiras, que ainda ninguém ousou comparar com a voz do poeta Castro Alves, que
em versos magistrais defendeu os escravos e expressou a ambição maior do homem
pela liberdade. E como cabia bem o Nobel de Literatura para esse baiano
porreta. Bem como ao poeta maranhense, Antônio Gonçalves Dias, no seu oportuno
indianismo. Criada em 1864 por Alfred Nobel, químico e inventor da dinamite, nascido
em Estocolmo em 21 de outubro de 1833 ele destinou sua fortuna à premiação. Os citados gênios da música brasileira já receberam
muitas honrarias, faltam-lhes um prêmio da Academia Sueca, que pode ser, inclusive,
o Nobel da Paz, que neste ano de 2016 também
causou estranheza, mas essa é uma outra história.
Nota:
Bob Dylan ainda não se manifestou sobre o prêmio, e a Academia Sueca não sabe
até hoje se o cantor tem intenção de
comparecer à cerimônia de premiação e fazer o discurso de agradecimento,
como de praxe.
JOHN KEATS
“Desolado! As palavras ressoam
A levar-me de ti à minha solidão!
Adeus! A fantasia não ilude
Como dizem ela, a falsa ninfa.
Adeus! Adeus! Teu queixoso hino finda
Além das campinas, além dos riachos,
Além das colinas, já sepulto
Nas clareiras do vale próximo;
Foi uma ilusão, ou um devaneio?
Foi-se a melodia – acordei, ou durmo?”
Última
estrofe do poema ODE À MELANCOLIA
BOB DYLAN
“Quantas estradas um homem precisa andar
Antes que possam chamá-lo de homem?
Quantos mares uma pomba branca precisa
voar
Antes que ela possa descansar na areia?
Sim, e quantas balas de canhão precisam
voar
Até serem para sempre banidas?
A resposta, meu amigo, está soprando ao
vento.”
(Estrofe do poema BLOWIN´ON THE WIND)
“Tire este distintivo de mim
Eu não posso mais usá-lo
Está ficando escuro,
Escuro demais para enxergar
Sinto como se eu estivesse batendo à
porta do paraíso
Bate, bate, bate à porta do paraíso”.
(Dylan escreveu em seus versos a
última súplica de um xerife.)
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