MINICONTO
“ENTREM CRIANÇAS!”
Fim
de ano, último dia de aula, Maria já começava a sentir saudade, depois da
despedida da professora, o que lhe veio a maior vontade de chorar. Mas tudo não ia acabar
assim, sem mais nem menos, como dizia sua avó, ainda tinha um restinho de dia
para ficarem juntas e teve a ideia de levar suas coleguinhas até sua casa, a
apenas dois quarteirões. O presépio já estava pronto, o que a mãe armava nos
primeiros dias de dezembro, desde que a avó presenteou-lhe com o primeiro de tantos outros.
O convite de Maria prontamente aceito, e lá se foi a turminha, uma dúzia, no máximo, meninos e meninas de 7 a 8 anos. Não há como lembrar como se deu a travessia, quem os conduziu, além da menina, lógico. Mas ficou gravado na memória o essencial, a chegada e a forma como foram todos convidados a atravessarem o jardinzinho e a entrarem: “Entrem crianças”. A avó divertiu-se com as palavras da neta e prontamente apresentou aos pequenos convidadas o que havia de mais importante no lar que era a presença do menino Jesus. Acontecimento para nunca mais ser esquecido. Faz setenta anos e nos fins de ano Maria sempre se lembra dessa ocorrência.
Como pássaros as crianças do Grupo Escolar iam em bando, mas havia nelas a intenção, de uma que conduzia as coleguinha na caminhada até o local indicado, para que conhecessem o presépio, ou apenas vissem sua casa. Fico a refletir sobre a divergência que há entre cientistas e moralistas, entre ciência natural e ciência moral. A intenção tem um caráter reflexivo. Havia uma intencionalidade coletiva, que pode ser um fenômeno natural, como a dos cães, gatos e pássaros, os humanos tendo muito em comum com os outros animais, a intenção diferente da intenção humana. O convite intencional feito na primeira pessoa, o compromisso que há, assim como a intencional aceitação das demais. É a intenção e a percepção social e moral, que caracterizam os humanos, diferenciando-os dos outros animais — e não as explicações funcionais dos evolucionistas e naturalistas, que afirmam vir das células o comando das crenças e emoções, o caso de Richard Dawkins, duramente combatido pela Mary Midgley, hoje com 98 anos, em sua filosofia moral.
CRIANÇAS, FELIZ NATAL!
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