MINICONTO
MELHOR TÊ-LOS, OU NÃO?
As três amigas eram vistas sempre juntas, desde o tempo em que estudaram para o concurso, passaram nos primeiros lugares, e sempre marcavam encontros para conversarem. Tinham orgulho do trabalho conquistado numa acirrada disputa, que só aumentou daí para frente, o que elas sempre comentam, pela dificuldade dos filhos ingressarem no mercado de trabalho, em especial, no tão cobiçado serviço público. A política sempre dá o que falar, no momento é a Reforma da Previdência que tramita no Congresso em regime de urgência, mas que sozinha não vai resolver o problema econômico e social do país, já comentaram sobre o assunto. Mas, nesta segunda, depois do feriado da Páscoa, vão falar sobre ter ou não filhos. Maria lança uma pergunta no ar, extraída da revista daquela semana:
-“É viável ter filhos?”
Depois de um breve silêncio, Enira se manifesta:
-Os moços de hoje evitam ter filhos, a alegação são os problemas atuais que os cercam, a devastação do meio ambiente, como tudo o mais que pode afetar de forma dramática a humanidade doravante. A população mundial em meados do século pode chegar aos dez bilhões. E em qual estado de educação e cultura? Diante da resposta desfavorável, boa parte da geração atual - apta para a procriação - perderam a vontade de ter filhos. Não que aconteça em escala mundial.
Católica praticante, Madalena, aproveita para argumentar a favor da geração de filhos, para ela, quanto mais melhor:
-Famílias sem filhos? Inconcebível, para as pessoas que têm fé em Deus e acredita no ser humano detentor da centelha divina. Um erro contra a natureza fazer sexo apenas por prazer. É o que respondo quando me chegam com a dúvida se é justo procriar nesse nosso mundo, que vai de ruim a pior. Bem verdade que os problemas se avolumam, mas compete aos cristãos não desistirem de lutar para o bem da humanidade, com sua fé, sua cultura.
Maria é defensora da natureza, trata de tomar posição sempre que tem oportunidade:
-Falta respeito para com a natureza, fonte de vida. O ser humano, que depende tanto dessa matriz, não respeita nem sua própria vida, que tentam rebaixar. Daí que é preciso, mesmo, ter coragem para pôr filhos no mundo.
-Ou seria covardia não querer enfrentar esse estado ruim de coisas?
Enira está revoltada, respira forte, devido à asma, e prossegue:
-Seguir os ditames da natureza e o que manda a fé, ou seja, procriar, mesmo sabendo de antemão que os filhos vão se defrontar com tanta coisa ruim, que há por aí? É muito sério o descaso para com a vida e seus valores. Melhor não arriscar.
Nem elas iam arriscar mais tempo na rua, a escuridão fazendo sumir a vermelhidão com que o pôr do sol anuncia a noite em Brasília.
O debate não teria fim - mas era a hora das mulheres voltarem para casa, antes que ficasse tarde.
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