ALGUÉM TEM QUE RESISTIR
Ela perguntou a sua tia filósofo se sua sobrinha era retrógrada,
embora Maria não pudesse exprimir bem o que sentia.
- Nem marciana, nem lunática, minha tia, mas pouco entendo esse novo ciclo de vida na terra. Parece que vivemos uma nova idade da pedra, o medo que sentimos por estarmos constantemente ameaçados, nessa selva que é a vida nas grandes cidades. Não somos selvagens, pelo que se sabe, vivendo no século XXI. De minha parte prefiro permanecer naquele nosso medieval. Pode ser?
- Pode, sim, filha, conquanto tão
longe e tão perto estejamos do canibal que um dia fomos. O ano
2000 para quem estava nos anos cinquenta, era quase uma eternidade chegar onde chegamos, e cá estamos. E ainda tem muita gente passando fome nesse lindo planeta terra, que os humanos teimam em destruir, sem dó nem piedade. Paradoxal e pantagruélica fome que temos para engolir tudo, sem mastigar - tudo mesmo. Isso é que não pode. A voracidade com que engolimos, não apenas a
carne sangrando no prato, muito mais sangue devoramos, não apenas o que sai daqueles pedaços de carne, que levamos à
boca. Devoramos nosso próprio sangue e de nossos irmãos.
Provocada, Maria pensa nos irracionais, mortos para saciar a fome humana. O assunto tão em voga era se havia necessidade, ou não, do homem matar para comer, ou matar para se defender. Falou para sua interlocutora:
- Tia, os veganos acreditam que os homens estão sempre prontos para a fazer
jorrar o sangue do sacrifício, seja de quem for. Mas se matamos para comer, há um beneplácito, somente quando for para a sobrevivência.Também podemos matar para nos defender, quando ameaçados de morte. Do contrário é
crime mesmo. Só os humanos, só nós, seres racionais, ainda sanguinários, matamos por ódio, vingança e tudo o mais. Embora nossa razão aponte o erro cometido, isso para quem tem boa consciência, não é mesmo?
- Querida sobrinha, como
resistir à carne, bem ou mal passada, em especial, ao ponto? Perguntam os carnívoros, a
maior parte da população mundial. Que me perdoem os que são contra o consumo de carne, inclusive, por acharem que dessa forma salvam o planeta. Também os que são contra as armas nas mãos da população. Quanto a mim, sou de opinião que devemos comer com moderação, mas nunca querer matar um semelhante, seja por qual motivo for. Matar não é preciso, viver é que é preciso. Diante da opção sanguinária, alguém tem que resistir.
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