conto
AINDA
ONTEM
Aquele
olhar, o que queria dizer? Eulália a se perguntar sobre aquele marido que mirava
sua mulher com se a estranhasse, foi o que lhe ocorreu na ocasião. No fundo dava para simpatizar com eles, pareciam recém-casados, estavam sentados a sua frente. Afinal, o quanto se sabe sobre essa ou aquela pessoa, mesmo aquelas com quem convivemos? Pensando assim, Eulália enche-se de esperança, que tudo ia sair bem para aqueles dois. Passaram-se os anos e ela continuava a pensar na moça sorridente e feliz ao lado do rapaz, ele talvez a se questionar se ambos tinham ao seu lado a pessoa certa. Estavam
numa festa, e pelo que Eulália percebeu, a jovem esposa, por
intuição e até mesmo por sua credulidade feminina, acreditava que os dois foram
feitos um para o outro. Seu marido é que parecia estar menos confiante na vida que ora iniciavam, o futuro em aberto para ele e suas conquistas. Já a realização da
mulher ficava por conta da felicidade familiar, então vigente.
Firme
o chão que então se pisava, tanto para o casal, quanto para Eulália, que já chegava aos trinta anos e ainda
solteira, mesmo assim cheia de esperança no futuro, plena de fé no casamento. E sendo assim, naquele dia viu a
sua frente uma futura mãe corajosa, que acreditava no passo que dava, sem
qualquer imposição pessoal ou de fora. Tudo haveria de correr
como devia ser, sem qualquer ressentimento da parte da mulher para com o homem e
seu machismo, contra o que as feministas começavam a protestar, não aquela ali. Só estava intrigada com
aquele olhar de medo, quase sádico, do marido em direção a sua tranquila e segura
mulher. Mas eleó sabia que ela não era nem uma Poliana nem uma Malévola
Eram
dois jovens indefesos, predestinados, que inconscientemente pressentiam de
forma diferente a salvação, ou a perdição, vinda do futuro. E Eulália não podia
adivinhar o que ia realmente acontecer, seria o mesmo que prever um final para história ainda não escrita. Eles não estavam terminando alguma
coisa, mas no começo de suas vidas, inteiramente novas, o que é bem diferente. É
o modo correto de expressar a situação. Só mais tarde é que se pode ver tudo
com nitidez. De repente o culpado pode se transformar em inocente e o
inocente em culpado. Às vezes nunca se
fica sabendo se há culpado ou o inocente.
O certo
é que o inocente não deve sofrer. O quanto é grave deixar de levar em
consideração as questões ou implicações que podem minar, ou destruir as relação
familiares. Mas o que não se deve é antecipar o que pode acontecer. É
temerário querer especular. As coisas mudam de um momento para outro, o que pode ser alarmante. Muitos
segredos há para serem revelados, quase uma trama policial. É terrível que ninguém saiba identificar o
erro, para evitar, emendar, corrigi-lo. Os olhares trocados, os silêncios, a suspeita corroendo as
relações familiares, levando à destruição do amor e da confiança. Parece
exagero falar assim, mas não é.
Eulália
não podia julgar aqueles dois naquele momento. Até podia imaginar o casal no
futuro confessando um ao outro: ele suas dúvidas passadas, ela suas certezas. O
sucesso daquela relação, ou fracasso, naquele momento. Mas a preocupação
do homem e a confiança da mulher resultou no fiel da balança. De repente a paz, o o que eles mais
queriam, e gozar o futuro que ainda lhes restava, depois do dever cumprido traz. Os filhos criados e bem
encaminhados. Confortavelmente instalados, se estivessem em outro lugar, o
sentimento seria o mesmo, basta que tenham sido corajosos parceiros no amor e em
muitas conquistas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário