FICÇÃO
CASAMENTO À ANTIGA
Até aquele momento Margarida
não havia pensado no sofrimento de sua única filha, quando então a viu a caminhar pela nave da igreja levando o único filho, em direção ao altar para casar. Por trás daqueles olhos fundos podia perceber a alma corajosa de sua filha, que nunca se deixou
abater, e falava sempre que a realidade, insuportável, que fosse, fazia parte da
vida.
Mesmo magoada pela vida, Eva não era uma derrotada — refletia sua mãe, enquanto acompanhava a cerimônia de casamento do neto. Nunca faltou coragem à moça apaixonada do passado, como também acontecia agora com seu filho. No caso de Eva, teria sido uma resposta a tudo que passara na infância? Disciplinada por um pai controlador, e por uma mãe empenhada, ao máximo, para a "felicidade" da filha, mas que não se esforçavam no amor e carinho, para construírem um lar onde a filha se sentisse feliz.
Mesmo magoada pela vida, Eva não era uma derrotada — refletia sua mãe, enquanto acompanhava a cerimônia de casamento do neto. Nunca faltou coragem à moça apaixonada do passado, como também acontecia agora com seu filho. No caso de Eva, teria sido uma resposta a tudo que passara na infância? Disciplinada por um pai controlador, e por uma mãe empenhada, ao máximo, para a "felicidade" da filha, mas que não se esforçavam no amor e carinho, para construírem um lar onde a filha se sentisse feliz.
Parecia um amor compulsivo de Eva por aquele rapaz, bem mais velho, que era empurrado
para um casamento apressado. Mais que tudo, tinha a moça apressa de se ver livre do que a oprimia.
O amor também pode ser opressor, qualquer amor, assim como o desamor. Houve resistência à união, que acorreu, mesmo sem o consentimento dos pais. E quando a filha foi receber a bênção da mãe após a
cerimônia, Margarida disse secamente:
— Espero
que você seja feliz.
Eva
respondeu:
—Tentarei,
sim, minha mãe, ser feliz.
Essa a relação mãe e filha. Nada de remorso, nada de autocomiseração. Uma
aceitação disciplinada da vida, e o compromisso pessoal de viver cada momento, como tinha
que ser. Dessa forma, Eva, aos dezessete anos, conquistou por lei o direito à
independência. Como mulher, era sua grande, e até mesmo única, chance de vitória na vida.
Margarida ficou na sala com o olhar perdido sobre a cadeira vazia à frente, na qual Eva estivera sentada na despedida. Ao ver partir a filha, sentiu quase
a mesma dor de um ano antes, quando seu marido, o pai de Eva, sucumbira à
depressão.
Com o tempo as feridas foram saradas. Ah, o abençoado tempo! Esse novo casamento fez a avó rememorar o passado...
Com o tempo as feridas foram saradas. Ah, o abençoado tempo! Esse novo casamento fez a avó rememorar o passado...