sexta-feira, 31 de julho de 2020
quinta-feira, 30 de julho de 2020
BREVE ENCONTRO COM T.S.ELIOT
“Fiquem
em casa” ainda é o mais aconselhado, uma vez que o número de mortos pelo covid-19
se mantém em um patamar alto de contaminados e mortes. É bom ser prudente. As
amigas Aurora, Maria e Rosa Maria estão com máscaras e de posse do seus
vidrinhos de álcool gel para o encontro, que acontece após cinco meses de confinamento.
A
mesa acaba de ser servida pela moça do Café, que está devidamente mascarada, e parece feliz por sua
saúde e pela parcial volta ao trabalho. Resta ainda aguardar as vacinas, em
fase final de experimentação. Inédita a
rapidez da ciência. E continue assim quanto à solução das demais questões cruciais
do mundo moderno.
Saber
a direção do mundo, o caminho a seguir daqui para frente, o que as três amigas querem
debater naquele momento crucial para a humanidade. Aurora havia indicado o
livro Conservadorismo para as amigas,
e inicia o debate:
— Segundo
Roger Scruton uma experiência traumática nos faz mais realistas, sentir que o
ideal de vida transcende a matéria, e possamos ir em busca do que nos possa nortear,
amparar. O valor da arte, da literatura,
da música. Em especial, a religião, que supre o homem no seu esforço de
permanência. A herança espiritual da humanidade ameaçada pelo materialismo
moderno, em seu radicalismo.
Rosa
Maria invoca o poeta T. S. Eliot, citado pelo autor católico:
— Em Eliot
é evidente o sentimento de perda, em um cenário espiritualmente estéril, aflitivo,
pós Segunda Guerra. A pandemia do covid-19 encontrou um mundo de descrença e desesperança. Tempo do ateísmo, da saturação consumista
de informações, de crenças, de tudo o mais. Sinal de que temos de reverter essa dramática situação.
— O que fazer? Pergunta Maria.
Volta
Rosa Maria ao poeta de Quarto Quartetos:
— Reconhecer
o problema, e entender que temos bons e eternos recursos para combater um estado desalentador, que beira o caos. Buscar
pela herança cristã do catolicismo greco-romano, para enfrentar a desolação das
perdas humanas da atual pandemia,
também das guerras e da violência urbana. Perdem-se vidas e os valores civilizatórios,
que se esvaem no caos de uma modernidade
materialista, imediatista, socialista.
Maria
tem um amplo entendimento sobre os problemas emocionais, é escritora e trabalha
como voluntária na Igreja católica. Fala à suas amigas:
—Menos
política e mais ciência, mais fé, o de que precisamos. A “grande tradição” da
cultura, que engloba literatura , pintura, música, em especial, a
religião, entendida como cultura. Tudo que temos para usar contra os
utilitaristas e acadêmicos que conspiram para marginalizar os jovens nas
faculdades, afastá-los de Deus, e fazê-los seguir ideologias antissociais, malignas. O convite de
Scruton é como ele abraçar a grande tradição, ou seja, seguir o benéfico
conservadorismo, calcado na tradição cristã.
O modo
conservador de sentir o mundo, de ver uma luz no fim do túnel. Aurora está animada:
— E
se possa ter melhores dias pela frente. A vida sincera, de direita, conservadora,
ligada a Deus e aos bens espirituais, é um consolo, o que sinto profundamente. Foi essencial a volta de Platão
e Aristóteles em um momento crucial de início da vida moderna. A escolástica de
São Tomás de Aquino no passado, que nos vale hoje, mais do que nunca. “A
tradição que é um contínuo processo de adaptação do velho para o novo e do novo
para o velho”. Mais sinceridade e legalidade e menos originalidade. Torcer pela
legalidade, em vez da simples igualdade.
—Sigamos
em frente, confiantes, é o que desejo a todos. Respondem as duas Marias em
uníssono.
terça-feira, 21 de julho de 2020
sábado, 18 de julho de 2020
sexta-feira, 17 de julho de 2020
conto
MUNDO PÓS PANDEMIA
Após quatro
meses de distanciamento social, ocorre o momento dos primeiros encontros, sem
aglomerações, a pandemia perdeu a força, mas ainda requer cuidados. Cafeterias,
bares, restaurantes reiniciam suas atividades, com regras para evitar
contaminação. E se há o que festejar é terem as três amigas escapado de morrer vítima
do covid-19. Grandes as expectativas futuras, pouco alvissareiras, mas a vida
continua. É ter fé.
Três amigas se encontram. Maria perdeu o emprego; Aurora teve sua carga horária de trabalho e salário reduzidos; Rosa Maria lastima o fim da sua casa de eventos. Depois de simples acenos, sentam-se nas cadeiras do café, com a distância recomendada pelas autoridades de saúde, sem esquecerem as máscaras, ainda indispensáveis.
O saudoso cafezinho fumegava nas xícaras, e a bióloga Maria é quem primeiro fala:
—Estamos aqui vivas, graças ao nosso bom Deus. O mundo em crise com essa invasão pandêmica do novo coronavírus, um ataque que acontece de tempos em tempos. E, como sempre, encontra a humanidade despreparada para enfrentar o inimigo mortal, que costuma emigrar do irracional para o humano, basta que haja oportunidade, por exemplo, um mercado apinhado de animais vivos para serem comercializados, inclusive morcegos.
Rosa Maria, sempre risonha, seu humor agora percebido apenas pelo olhar devido a máscara. Pede a palavra:
— Nossa condição de racionais à prova mais uma vez. Não podemos relaxar, as pandemias serão cada vez mais frequentes, dizem os entendidos, os cientistas. Você, Maria, uma dessas pessoas entendidas no assunto. Os que lidam com o comércio, como eu, afetados, embora não diretamente pelo vírus, como tantas pessoas, que infelizmente faleceram. Encontramo-nos numa crise braba, difícil de superar, mas não impossível. E não se perca as esperanças, que Deus está vendo tudo.
Mesmo tendo que fechar seu comércio de vinte anos, Rosa Maria é ainda moça e vai poder recomeçar, mesmo do zero, como havia falado anteriormente.
Aurora é funcionária pública, para falar às amigas recorre a filosofia, fruto de suas leituras:
— Não é fácil viver nesse planeta habitado por seres de espécies diferentes, até mesmo antagônicos, que primam por invadir o espaço uns dos outros. E sabemos que há limites a observar. Os humanos, com suas especiais necessidades, precisam de costumes e instituições que estejam fundadas na razão e também em algo além da razão, sob pena de fracasso total. Temos que usar nossa própria razão com eficácia. E se podemos contar com nossa capacidade mental e racional, é mais importante ainda partilhar.
Maria volta a falar:
— Conserva esse insight, que o objetivo da vida é implantar no mente e na alma de cada pessoa as virtudes necessárias para viver bem individualmente e no exercício coletivo. Com a pandemia do covid-19, dolorosas restrições surgiram, o caso das regras de distanciamento entre as pessoas para evitar contaminação. Antes todos contaminados apenas pela amizade, pelo afeto. Um invisível vírus chega e acaba com esse nosso costume, difícil de acreditar e aceitar. No momento temos de aproveitar e degustar esse delicioso café, ainda bem que os campos cultivados vão bem, obrigado, a mãe natureza que pode nos alimentar, sendo preservada nossa saúde física e financeira, com a graça a Deus.
Palavras que acendem uma luz mais viva ainda no olhar de Rosa Maria, que responde:
— Os racionais nem sempre reconhecem seus direitos e o direito dos demais seres. As pessoas em desesperança. A alternativa humana para ter uma vida melhor fica-se sabendo que deve ser alicerçada na razão e na fé em Deus. A ciência que nos pode livrar de um vírus maligno, com a descoberta de uma vacina, e a religião que nos ensina, sim, a obedecer as leis naturais, suportar os sofrimentos e acreditar na ressurreição divina, também na nossa. O ressurgir dos mortos por conta da fé que anima as almas, ajuda a restabelecer as energias do corpo e nos dá força espiritual.
É a vez de Aurora expressar-se mais uma vez:
—Nesses primeiros encontros após o confinamento, em que a pandemia perde força, é hora de reiniciarmos nossas atividades. A humanidade um tanto desesperançada, ciente que a alternativa não é o igualitarismo romântico, nem a subjetividades sombrias. Mirar numa vida, como pode e tem de ser. Mirar na vida em particular e na humanidade como um todo.
A fé inquebrantável de Rosa Maria faz com que se manifeste com maior intensidade e consciência:
—O cristianismo não significa somente crença na encarnação e na ressurreição, mas também nas suas cerimônias, na poesia, na música, todas as manifestações da arte e da técnica. Que extraordinária as transmissões religiosas virtuais. A religião cristã que congrega milhões de estranhos a se reconhecerem como indivíduos e cooperarem para o bem comum, formar uma família, assim como uma sociedade mais justa. É a fé que anima as almas e restabelece as energias do corpo. Os novos reacionários, atuais conservadores, lutam, não pelo direito dos reis, como no passado, mas para que se conserve os direito de todos.
Um encontro pós pandemia, como muitos outros, a vida continua.
quinta-feira, 16 de julho de 2020
quarta-feira, 15 de julho de 2020
terça-feira, 14 de julho de 2020
PESQUISA DA PANDEMIA
SANTA SOFIA
“Com este sinal vencerás.” A
cruz era o sinal contido nas palavras ditas em sonho ao imperador Constantino.
O Império Romano em constantes guerras, de
305 a 324 não soube o que era a paz. A
igreja em terríveis perseguições que aconteciam mais
no Oriente. Foi uma estrondosa vitória, que dava aos cristãos o direito de liberdade de existência. Constantino
partia em combate tendo como símbolo a cruz, suas vitórias amparadas na fé
cristã. O convertido estava desgostoso com o paganismo, ainda mais com os bárbaros já nos arredores de Roma, resolve transferir
a capital do Império para o Oriente.
Constantino escolhe fundar
uma cidade em um pequeno burgo de Bizâncio seguindo aquela misteriosa ordem. Um
lugar excepcional, onde os gregos haviam fundado uma colônia marítima, que
prosperara modestamente. Fundava-se ali
uma “nova Roma”, com prerrogativas de capital, suplantando em muitos pontos
a antiga. Durante seis anos o imperador dedicou-se às obras, arregimentando
materiais preciosos e talentos em todo o império. Na nova capital, que recebeu
o nome de Constantinopla (atual Istambul), os
monumentos erigidos, superavam
todos os outros em medida e luxo: Santa Sofia, o Palácio e o Hipódromo;
respectivamente, residência dos três poderes que iam partilhar dos destinos da
nova capital do império: Deus, o Imperador e a plebe.
O imperado perdia todo o
contato com a antiga capital, que foi abandonada à própria sorte. O Império
divide-se. No Oriente a civilização bizantina recebia uma herança que se
desenvolveu ao longo dos séculos. No Ocidente a civilização romana desmorona diante
das investidas dos germanos e dos hunos. Roma declinava e perdia toda
sua importância econômica. A Igreja, deixada para trás, acabou por salvaguardar-se
do poder daqueles imperadores. A cidade de Constantinopla tornou-se a glória do poder de Bizâncio,
causando o futuro cisma grego. Na Cidade Eterna consagra-se o poder pontifício.
Santa Sofia - homenagem à
Sabedoria de Deus, é prova de um intenso fervor cristão, que ao longo do tempo esteve
sujeita a sérios percalços. Nos primeiros séculos da era cristã duas vezes
destruída por terremoto e pelo fogo. Reconstruída pelo imperador Justiniano
(532-537), nada restando da antiga igreja construída por Constantino, apenas o
local que se destaca há dois milênios na paisagem, e, em especial, na fé. No
meio do caminho de Santa Sofia estiveram os otomanos, em 1453 o sultão Mehemed II que assumiu
o controle do Império Romano do Oriente e transformou Santa Sofia em mesquita.
Entre 1204 a 1261 foi Santa Sofia convertida em catedral católica durante o Patriarcado Latino de Constantinopla
que se seguiu à Quarta Cruzada. Foi ali que em 1054, o cardeal Humberto
excomungou o patriarca Miguel I Celulário, iniciando o Grande Cisma do oriente
que perdura até hoje. Foi transformada em museu da recém-criada República da
Turquia. Soube-se há pouco que a antiga catedral cristã foi transformada outra vez em Mesquita. As Igrejas
ortodoxas declararam: “Uma grande perda para os cristãos de todo o mundo.”
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