BREVE ENCONTRO COM T.S.ELIOT
“Fiquem
em casa” ainda é o mais aconselhado, uma vez que o número de mortos pelo covid-19
se mantém em um patamar alto de contaminados e mortes. É bom ser prudente. As
amigas Aurora, Maria e Rosa Maria estão com máscaras e de posse do seus
vidrinhos de álcool gel para o encontro, que acontece após cinco meses de confinamento.
A
mesa acaba de ser servida pela moça do Café, que está devidamente mascarada, e parece feliz por sua
saúde e pela parcial volta ao trabalho. Resta ainda aguardar as vacinas, em
fase final de experimentação. Inédita a
rapidez da ciência. E continue assim quanto à solução das demais questões cruciais
do mundo moderno.
Saber
a direção do mundo, o caminho a seguir daqui para frente, o que as três amigas querem
debater naquele momento crucial para a humanidade. Aurora havia indicado o
livro Conservadorismo para as amigas,
e inicia o debate:
— Segundo
Roger Scruton uma experiência traumática nos faz mais realistas, sentir que o
ideal de vida transcende a matéria, e possamos ir em busca do que nos possa nortear,
amparar. O valor da arte, da literatura,
da música. Em especial, a religião, que supre o homem no seu esforço de
permanência. A herança espiritual da humanidade ameaçada pelo materialismo
moderno, em seu radicalismo.
Rosa
Maria invoca o poeta T. S. Eliot, citado pelo autor católico:
— Em Eliot
é evidente o sentimento de perda, em um cenário espiritualmente estéril, aflitivo,
pós Segunda Guerra. A pandemia do covid-19 encontrou um mundo de descrença e desesperança. Tempo do ateísmo, da saturação consumista
de informações, de crenças, de tudo o mais. Sinal de que temos de reverter essa dramática situação.
— O que fazer? Pergunta Maria.
Volta
Rosa Maria ao poeta de Quarto Quartetos:
— Reconhecer
o problema, e entender que temos bons e eternos recursos para combater um estado desalentador, que beira o caos. Buscar
pela herança cristã do catolicismo greco-romano, para enfrentar a desolação das
perdas humanas da atual pandemia,
também das guerras e da violência urbana. Perdem-se vidas e os valores civilizatórios,
que se esvaem no caos de uma modernidade
materialista, imediatista, socialista.
Maria
tem um amplo entendimento sobre os problemas emocionais, é escritora e trabalha
como voluntária na Igreja católica. Fala à suas amigas:
—Menos
política e mais ciência, mais fé, o de que precisamos. A “grande tradição” da
cultura, que engloba literatura , pintura, música, em especial, a
religião, entendida como cultura. Tudo que temos para usar contra os
utilitaristas e acadêmicos que conspiram para marginalizar os jovens nas
faculdades, afastá-los de Deus, e fazê-los seguir ideologias antissociais, malignas. O convite de
Scruton é como ele abraçar a grande tradição, ou seja, seguir o benéfico
conservadorismo, calcado na tradição cristã.
O modo
conservador de sentir o mundo, de ver uma luz no fim do túnel. Aurora está animada:
— E
se possa ter melhores dias pela frente. A vida sincera, de direita, conservadora,
ligada a Deus e aos bens espirituais, é um consolo, o que sinto profundamente. Foi essencial a volta de Platão
e Aristóteles em um momento crucial de início da vida moderna. A escolástica de
São Tomás de Aquino no passado, que nos vale hoje, mais do que nunca. “A
tradição que é um contínuo processo de adaptação do velho para o novo e do novo
para o velho”. Mais sinceridade e legalidade e menos originalidade. Torcer pela
legalidade, em vez da simples igualdade.
—Sigamos
em frente, confiantes, é o que desejo a todos. Respondem as duas Marias em
uníssono.
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