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MARIA EM SEU PROPÓSITO
— Ah, minha irmã, desejo que não
faça mais previsões, tudo que você diz acaba acontecendo. E por favor, não
tente arrumar a vida de mais ninguém, suas interferências, se não são
desastrosas, causam embaraço, inclusive, a você mesma. Já pensou sobre isso?
Palavras
de Teresa para sua irmã de Maria, após ela tentar fazer o casamento de uma
amiga e o rapaz acabou apaixonado por outra pessoa não tão próxima, mais por
quem caiu de amores desde o primeiro encontro, acontece. Decepcionada, mas não
querendo entregar os pontos, Maria continuava com seus planos de unir os casais
que ela achava compatíveis. Às vezes, tentada a desfazer os incompatíveis, na
sua opinião, lógico. Estava perto de completar 30 trinta anos, ainda sem pressa
de casar. Respondeu:
– Meu
propósito é fazer o melhor em benefício do próximo. Além de ser um divertimento
para mim, que gosto de ajudar as pessoas. Como não torcer pela união de duas
pessoas que pareciam tão afins como Paulo e Joana? Paciência se nada acontece. Bom
interceder para que tudo dê certo, para que aconteçam mais uniões felizes. Quase
sempre tem que haver uma mãozinha secreta para impulsionar. Aceitar o que der e
vier não é bom, melhor ajudar a sorte, ter quem mova as pedras do tabuleiro, você
não acha? Planejei o encontro entre Rodrigo e uma outra amiga, Laura, e obtive
sucesso.
— Não
entendo o que você quer dizer com “sucesso’— comentou Aníbal, que sempre
aparecia para dar uma espiada nas amigas. Era a única pessoa que ousava contradizer
Maria nas suas elucubrações, sem que ela achasse ruim, considerada perfeita
para outra.
Aníbal
passou a conviver com aquela família a convite da tia Cândida, sua professora
de francês, irmã da mãe das moças, e era considera alcoviteira, achou que Maria
precisava conhecer seu talentoso aluno, que tinha belos olhos verdes. Ele continuou
a falar:
—Sabe-se que para alcançar o sucesso é preciso
esforço, dedicação, bem verdade que é bom estar atento aos sinais, e nem sempre
a gente enxerga, ou quer enxergar. Há os teimosos, que querem resolver tudo ao
seu modo. Se bem que esses vão aceitar melhor uma união diferente do esperado. Nunca
é um paraíso, mas que não seja um inferno.
Maria
era firme em seu propósito:
— Sempre
há algum talento nato, ou adquirido, para captar no ar os sentimentos,
até mesmo prever os acontecimentos. E não se dependa de um simples palpite, o
que é pouco inteligente. E entre não fazer nada e fazer algo o que você acha
melhor, Teresa?
Teresa
estava de casamento marcado para dali a dois meses, conhecera o futuro marido
quando começou a trabalhar, ele estava sentado na mesa ao lado. Esperou para
dar o lance certo, e ganhar a partida, assim como ela esperou para dar sua
breve, mas importante opinião na questão levantada:
—Duas
pessoas inteligentes podem seguir seu coração e traçar seu destino sem
interferências. E que haja honestidade. Convidemos Aníbal para almoçar conosco,
Maria, tem bobó de camarão e cuchá. E
deixemos que nosso amigo escolha sua própria esposa.
Foi
feito o convite, prontamente aceito:
—Com
todo o prazer, adivinhei que tinha hoje aquele cuchá, que Maria sabe fazer como ninguém.
Depois
da refeição o assunto casamento voltou à baila, afinal tinha acontecido as
bodas do príncipe inglês com uma plebeia, americana e mestiça. Aníbal cutucou outra
vez Maria:
—Um
casamento por amor, e amor à primeira vista, o de Henry e Megan. Mas está claro
que não foi apenas atração física. Encontro memorável quando os dois estavam na
África numa missão de ajuda humanitária, conversa vai, conversa vem, vão para a
cozinha. Surpresa maior, a moça é capaz de agradar o rapaz não apenas pela
suave beleza física, por tudo o mais. Perfeito.
Quanto
a Aníbal e Maria, ele tornou-se presença constante naquela casa, amigo dileto daquela
família, onde deixou-se prender pela inteligência e coração da sua futura
esposa, além do seu pendor culinário. Casaram algum tempo depois, que o amor, às
vezes, requer tempo de amadurecer.
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