sábado, 10 de julho de 2021


    ficção  com base na realidade

                               MITOLOGIA PARA OS DIAS ATUAIS



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  •                  Mirtes chega à livraria para sua visita semanal, dá de cara com uma nova publicação da obra de Charles Dickens. Era fã do autor, que temia por sua pátria industrializada, as fábricas queimando carvão para fazer as máquinas funcionarem a todo vapor, os trabalhadores suarentos e sujos voltando para um lar, longe de ser o ideal. Pega o livro de capa dura, e dá de cara com Mercedes que não via há algum tempo, desde o início da pandemia. Juntas pesquisam aqui e ali as novidades editorias, depois sobem ao mezanino para tomar o cafezinho. Após pedirem a bebida que mais aquece os brasileiros no inverno, o dia gelado, 
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  •                      Mirtes expõe suas próprias preocupações:
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  •                 — A vida impõe necessidades ao homem, que não quer apenas lutar pela sobrevivência, mas ter condições de ir além, por prazer e bem estar. Quer gozar de perfeita saúde, alcançar a almejada prosperidade e muito mais. Na Inglaterra do século XIX, os habitantes do campo deslocam-se para as cidades, atraídos pelo trabalho diferenciado nas fábricas, e outras condições de vida. Formam legiões de trabalhadores, mão de obra necessária para os avanços do progresso em vários campos de atividade. No Brasil, tornam-se cidadãos de uma pátria que ainda lutava para alcançar o reconhecimento do mundo, um gigante adormecido. 
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  •                       Às palavras da amiga Mercedes acrescenta:
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  •                -- O homem prospera, e quão longe ele quer chegar. Quanto maior a ambição e mais trabalho, melhores serão as possibilidades de sucesso, sempre acompanhado de uma sobrecarga. Nas fábricas, a produção vai crescer assim como a população nas cidades, que passa a consumir em larga escala. O homem, levado à exaustão, vai exaurir a natureza provedora da matéria prima a ser transformada em bens de consumo. As escolhas subordinadas ao aqui e agora. Liberdade e prosperidade impostas, onde o assédio acontece. A mulher trabalhadora vítima de assédio sexual, da violação dos seus direitos. No mundo em que vivemos hoje é corriqueiro o chamado feminicídio. 
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  •                Mirtes nunca deixa de ir à estante onde se acham as obras sobre a Grécia e sua mitologia, por coincidência, abre um livro que trata do mito de Filometa. Naquela semana, em S. Luís, deu-se finalmente o julgamento do crime hediondo contra Mariana Costa. O assassino da jovem maranhense é condenado a 39 anos de prisão. Com o livro em mãos Mirtes fala para amiga:

  •                       — Reza o mito que Filomena é raptada e violentada pelo cunhado, que lhe cortou a língua para que não falasse, quando então ela trata de bordar em segredo sua história no pano, enviado à irmã para vingá-la do hediondo crime. Mas fora o mito, que oportunidade de vingança é dada às mulheres na atualidade, mortas pelos violadores? A bela e digna Mariana Costa teve sua casa invadida pelo cunhado, que a estuprou e tirou-lhe a vida. Um crime que abalou a cidade e sua irmã em particular, que diante de tão grande perda promoveu protestos na capital maranhense. 

  •                      Mesmo que sua irmã não possa ter Mariana de volta há o consolo da exemplar punição do criminoso:
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  •                        — E que nunca nos falte essa força da Lei — concluem as duas amigas. 

  •                        Na guerra de Troia, as troianas foram feitas escravas sexuais dos gregos, da mesma forma nos dias atuais, na guerra da Croácia, as sérvias foram estupradas. 

  •                         Uma pergunta que fica: Melhorou o mundo para as mulheres?

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