O PLANO DE DEUS
Ladeira de S. Luís -Ma |
Mês de novembro, a expectativa ainda maior para os festejos desse fim de ano, debelada a pandemia, com a vacinação em massa. Clara, Sofia e Valdete são moradoras do mesmo Condomínio, e juntas compartilham um curso de
decoração para o Natal, oferecido pelo shopping da Barra. É o último dia de aula, a confraternização acontecendo em um dos 16 Cafés existentes no local. As moradoras da zona Norte já se despediram, com votos de boas festas e feliz entrada de
ano, iam pegar o metrô. A três continuam sentadas, Sofia dando início ao assunto que acha ser importante abordar no momento:
— Às vésperas dos 80, constato o quanto mudou o mundo e mudamos
nós. E se há o que comemorar, até abençoar, o caso do feito heroico dos cientistas contra o covid19, também há muita coisa que desmerece esse ser racional. O homem parece que endoidou de vez ao imaginar que pode tudo, e chego a pensar que essas maravilhas tecnológicas podem acelerar o caos em que se vive. E se não cuidarmos enquanto há tempo, esse nosso tempo de vida terrena logo chegará aos estertores. Vocês, o que acham?
Pega
de surpresa, Clara não diz nada, Valdete se adianta:
— Como seres humanos, possuímos o
livre arbítrio, sendo da competência de cada um fazer suas escolhas, e o quanto
de erros a gente comete hoje em dia, como também cometeram nossos antepassados.
Estive pensando sobre o motivo pelo qual as pessoas particularmente optam pelo
plano B, e outros planos mais, em detrimento do plano A, que é o plano de
Deus, e viria em primeiro lugar, no que acredito. Estamos chegando
às últimas letras do alfabeto.
Clara está com a sensibilidade
aguçada, passa por um momento delicado, duas mortes na família pelo covid19. Dá
seu aparte:
— Fatalidades acontecem, e ficamos,
às vezes, sem escolha, não sendo incomum deixar que escolham por nós. Até mesmo
nos deixamos levar pelos planos dos outros, em detrimento dos nossos, acontece consciente
ou inconscientemente. Tem o que nos atropela, tem o que nos escapa...
Valdete responde de pronto:
— Sim, o tanto que nos escapa das mãos, o que nos foge das vistas! Ainda nos iludimos ao
pensar que a escolha é nossa!... Às vezes é melhor assim, deixar irem pessoas e muita
coisa. Mas que fique o melhor de nós mesmas. Complica quando a gente se arvora
em querer resolver tudo, até mesmo ser o que não é. O homem atingiu
o auge da incompetência para viver. Desaprendeu de pensar, e tudo lhe
chega mastigado, através dos aparelhos, que hoje são extensão de si. Informação que não nos serve para nada.
Clara
já havia pedido outro cafezinho, e antes de falar oferece às demais, que vão
também degustar nova rodada da preciosa bebida acompanhada de salgadinhos.
— Queremos
harmonia e encontramos o caos; buscamos coerência e o que nos chega é essa
atual visão de vida desagregadora; almejamos o pertencimento e não encontramos
lugar que nos caiba por inteiro. O que não falta são as vozes contraditórias, que
tentam apagar a chama da fé e fazer brilhar as trevas.
Há
uma pausa, até que Sofia, a mais velha, sempre coerente, conclui:
— Temos que valorizar quem somos de verdade, e não dar muita atenção ao que está fora de nós. Ainda temos tempo. E vocês, que estão com cinquenta e sessenta anos, têm muito tempo. Natal, marco da nossa civilização, preparemos a melhor celebração, mesmo que 2021 tenha sido um ano difícil merece ser celebrado. Certo que, além do que planeja o homem, há o plano de Deus. Dá para iniciar o novo ano tendo em mente a frase: “Ir em frente, e, mais ainda, resistir”.
Hora da despedida, combinam então outro encontro para as compras, e mais um papinho como esse, ainda naquele ano.
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