AMIGAS DE SEMPRE
Elas estão reunidas para o costumeiro encontro da última sexta-feira de cada mês. Sempre animadas, as três amigas conversam sobre o dia a dia como aposentadas e avós. Não costumam abordar temas que possam gerar polêmica, política, por exemplo. Nem falam de religião, cada um com sua fé, assim como as preferências partidárias. Maria lembra-se de uma parenta que dizia: “Gostos e cores não se discute.“ O passado vem à tona, ela fala de início:
— Parece falta do que fazer, mas, às vezes, me ponho a pensar no quanto algo que deixou de acontecer e teria me facilitado a vida. Certo que as dificuldades podem ser benéficas, ajudar no amadurecimento. Mas se tudo acaba bem, reclamar do que? Aos 18 anos eu estava em casa de parentes no Rio, sonhando ficar ali de vez, se conseguisse trabalho. Na mesma época, um amigo, com quem me correspondia, aguardava no Recife para ingressar no BB, sendo nomeado para Natal. De minha parte, teria o almejado primeiro emprego, mas retornei a S. Luís, entes de realizar meu intento.
Foi servida mais uma rodada de café, a pedido de Aurora, fanática pela rubiácea. Maria continuou:
— O que eu quero dizer é que se esse meu amigo, com quem me casei anos depois, se naquela época tivesse pedido transferência e ido ao meu encontro, não teríamos percorrido um longo caminho, até voltarmos ao Rio, já casados, para eu ser operada pelo renomado Dr. Valente, sucesso garantido. Ocasião em que Antenor foi requisitado para o recém-inaugurado Banco Central, e a transferência para Brasília. Um sonho que parecia tão distante. Mudamos não apenas de residência, mas de vida. Cumpriu-se o que fora determinado pelo destino, e nos tornássemos orgulhosos pioneiros na nova capital do país.
Aline fez um aparte:
— Não há quem não tenha passado por surpresas, imprevistos, até mesmo decepções. Mas guardar na memória as pessoas que tocaram nossa alma e de alguma forma nos fizeram melhores. Certo que as coisas acontecem ao fluir da vida. Ter paciência nas horas difíceis, abraçar a esperança, aprender a discernir o certo e o errado. E se possa encontrar do que nos faça feliz de verdade. Amadurecer, para dessa forma melhor saborear a vida.
Aurora fala a seguir:
— O que acabas de contar, Maria, me fez pensar que os instantes da vida são únicos, passam, e não voltam mais. O ontem já se foi, mas o que tem de ser acontecerá, e de forma diferente do imaginado. Ter esperança, e afastar a ansiedade, que atropela e muito nossos passos. Que de luz sejamos cobertos. Deus no comando.
Conclui Aline:
— Bendito pão de cada dia, benditas colheitas, benditas horas de trabalho e descanso, bendita paz de Deus. Esqueçamos as pedras no caminho, as travessias no deserto. Por fim, louvados sejam os sorrisos e os braços que se abrem para nós. Certo que há muito para louvar e bem menos a lastimar.
S. LUÍS - CARNAVAL DE RUA -TRADICIONAL FOFÃO |
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