DUAS POESIAS DE WISLAVA SZYMBORSKA
PORTA DA PEDRA
Bato à porta da pedra.
—Sou eu, me deixa entrar.
Não busco em ti refúgio eterno.
Não sou infeliz.
Não sou uma sem-teto.
O meu mundo merece retorno.
Entro e saiu de mãos vazias.
E para provar que de fato estive presente,
não apresentarei senão palavras,
a que ninguém dará crédito.
Bato à porta da pedra.
—Sou eu, me deixa entrar.
Não posso esperar dois mil séculos
Para estar sob teu teto.
—Se não me acreditas—diz a pedra—
fala com a folha, ela dirá o mesmo que eu.
Como a gota d`água, ela dirá o mesmo que a folha.
Por fim pergunta ao cabelo da tua própria cabeça.
O riso se expande em mim, o riso, um riso enorme.
Bato à porta da pedra.
—Sou eu, me deixa entrar.
—Não tenho porta —diz a pedra.
Jamais saberei
o que A pensa de mim.
Se B acabou por me perdoar.
Por que razão fingia C que tudo estava bem.
Qual a quota-parte de D no silêncio de E.
O que espera F se acaso algo esperava.
Por que fingia G sabendo de tudo.
O que tinha H a esconder.
O que queria I acrescentar.
Se o fato de eu estar perto
teve algum significado
para J e K e para o resto do alfabeto.
E mais um pouco de Wislawa
.......
"Me desculpe tudo, por não estar em toda parte.
Me desculpem todos por não saber de cada um e cada uma.
Não me julguem má por tomar emprestado palavras patéticas
e depois me esforçar para fazê-las parecer leves."
......
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