quarta-feira, 16 de agosto de 2023

 



                                          A BOA CONVERSA DE SEMPRE

 


campo de girassóis




O tempo está seco em Brasília, quando a umidade do ar chega a menos de 30%. Faz frio, e o cafezinho é indispensável para dar mais calor à conversa das aposentadas, que têm um encontro na sexta-feira da última semana de cada mês. Sentem falta das amigas que perderam, inclusive, para o Alzheimer. Mas as quatro, ali reunidas, desfrutam de uma cabeça saudável, o que mais importa a essa altura da vida. A mesa repleta de iguarias para acompanhar o café, cada uma mantendo sua preferência, e não faltam as ofertas de todo tipo de café. Marta e Cibele pedem um capuchino cada uma, enquanto Selma não dispensa o café com leite. Maria, depois de solicitar seu café forte e coado, quer saber o que as outras têm a dizer sobre o mundo atual em que vivem.

Animadas pela questão levantada, todas se mostram dispostas a dizer algo. Selma, a primeira a falar, é breve:

— Vivemos um tempo soberbo!

Marta segue a amiga, diz que se vive hoje um tempo “magnífico”. Cibele pensa um pouco, e acha simplesmente “generoso” o momento atual em que vive. No mesmo diapasão otimista, Maria fala do seu sentimento particular,  que são “fantásticos” os dias atuais, mas replica:

— Devemos nos explicar melhor, sendo comuns as queixas sobre o mundo que estaria indo de mal a pior. Os fatos não mentem, há as catástrofes climáticas e outras mais, que nos são fornecidas diuturnamente pelos veículos de comunicação. Dói ver tanta miséria no mundo, e o quanto é absurda essa guerra na Ucrânia.

Antes de obedecer á solicitação de Maria, Cibele sorve o último gole da sua bebida e já pediu outra xícara à moça que as atende maravilhosamente bem como sempre:

— Apesar de tudo de ruim que acontece, acho que temos muito a comemorar, isso se olharmos para os tempos difíceis do passado, quando as crianças iam à escola de pés descalços, e ainda trabalhavam, e em precárias situações. E sem as vacinas, o que seria de nós. Verdade que hoje nem tudo são flores, embora continuemos a cultivar nossos jardins, a colher os frutos da terra. Os ucranianos, como os brasileiros, fornecem alimento aos quatro cantos do mundo. Mas outra é a realidade da guerra. No Brasil felizmente podemos plantar e colher em paz. Que seja sempre assim. E não nos falte os girassóis para a produção do precioso óleo, e tudo o mais, que nos alimenta e dá conforto nessa nossa dura existência.

Marta parece se retratar sobre o “tempo magnífico” que falou antes:

— Minhas amigas, pensando melhor, que tempo louco esse nosso! Vocês certamente acompanham no noticiário a loucura que acontece, tanto aqui, quanto mundo afora. Em se tratando de celebridades, no momento duas figuras nacionais, Xuxa e Larissa Manuela, acabam de vir a público chorar as mágoas das pessoas que as acompanharam no início da carreira até atingirem o sucesso perseguido por elas. Ricas e famosas lastimam, todavia, os sofrimentos por que passaram. A primeira teria passado horrores nas mãos da empresária, como se não tivesse nem mãe, nem pai. A outra foram os próprios pais quem a trataram sem dó nem piedade, na opinião da “sofrida” filha, alçada lá no alto. Confortáveis na posição que ocupam, na verdade, são duas pessoas que não se cansam mesmo é de aparecer, ou melhor, torrar a paciência de quem não é “baba ovos” (os fãs para a apresentadora). Lindas ricas e famosas, tudo que queriam da vida, veem a público pedir que sintam pena delas, pobrezinhas. Dá pena mesmo, tudo por conta do sucesso e do dinheiro  decorrente, e para isso a rainha dos baixinhos era tratada como fantoche. A outra mimada pelos pais, que tinham a filha como veio de ouro.

Maria é católica e segue com um discurso engajado:

— O século XXI chegou arrasando em todos os sentidos. Mas, ou retrocedemos em nosso desequilíbrio, ou não se sabe aonde tudo isso vai dar. Santo Inácio dizia preferir “ser como os pratos equilibrados de uma balança pronto para seguir o curso apropriado da vida para a salvação da sua alma”. A salvação que pode significar simplesmente evolução. Somos seres humanos, e como tal devemos evoluir em razão e manter a fé. Em vez de cultuar o corpo, por exemplo, que as pessoas cultivem bem sua alma, sua mente, sigam o íntimo do seu coração preenchido pelo amor de Deus.

Palavras que calam na alma, e assim se finda a tarde, tão bem compartilhada. Despedem-se, até o próximo encontro.

 

 

 

 

 

 

 


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