A
BOA CONVERSA DE SEMPRE
O tempo
está seco em Brasília, quando a umidade do ar chega a menos de 30%. Faz frio, e
o cafezinho é indispensável para dar mais calor à conversa das aposentadas, que
têm um encontro na sexta-feira da última semana de cada mês. Sentem falta das
amigas que perderam, inclusive, para o Alzheimer. Mas as quatro, ali reunidas,
desfrutam de uma cabeça saudável, o que mais importa a essa altura da vida. A
mesa repleta de iguarias para acompanhar o café, cada uma mantendo sua
preferência, e não faltam as ofertas de todo tipo de café. Marta e Cibele pedem
um capuchino cada uma, enquanto Selma não dispensa o café com leite. Maria,
depois de solicitar seu café forte e coado, quer saber o que as outras têm a dizer
sobre o mundo atual em que vivem.
Animadas
pela questão levantada, todas se mostram dispostas a dizer algo. Selma, a
primeira a falar, é breve:
— Vivemos
um tempo soberbo!
Marta
segue a amiga, diz que se vive hoje um tempo “magnífico”. Cibele pensa um pouco,
e acha simplesmente “generoso” o momento atual em que vive. No mesmo diapasão otimista,
Maria fala do seu sentimento particular, que são “fantásticos” os dias atuais, mas
replica:
— Devemos
nos explicar melhor, sendo comuns as queixas sobre o mundo que estaria indo de
mal a pior. Os fatos não mentem, há as catástrofes climáticas e outras mais,
que nos são fornecidas diuturnamente pelos veículos de comunicação. Dói ver
tanta miséria no mundo, e o quanto é absurda essa guerra na Ucrânia.
Antes
de obedecer á solicitação de Maria, Cibele sorve o último gole da sua bebida e
já pediu outra xícara à moça que as atende maravilhosamente bem como sempre:
— Apesar
de tudo de ruim que acontece, acho que temos muito a comemorar, isso se
olharmos para os tempos difíceis do passado, quando as crianças iam à escola de
pés descalços, e ainda trabalhavam, e em precárias situações. E sem as vacinas,
o que seria de nós. Verdade que hoje nem tudo são flores, embora continuemos a cultivar
nossos jardins, a colher os frutos da terra. Os ucranianos, como os brasileiros,
fornecem alimento aos quatro cantos do mundo. Mas outra é a realidade da guerra.
No Brasil felizmente podemos plantar e colher em paz. Que seja sempre assim. E não nos falte os girassóis para a produção do precioso óleo, e tudo o mais, que nos alimenta e dá conforto nessa nossa dura existência.
Marta
parece se retratar sobre o “tempo magnífico” que falou antes:
— Minhas
amigas, pensando melhor, que tempo louco esse nosso! Vocês certamente acompanham
no noticiário a loucura que acontece, tanto aqui, quanto mundo afora. Em se
tratando de celebridades, no momento duas figuras nacionais, Xuxa e Larissa
Manuela, acabam de vir a público chorar as mágoas das pessoas que as acompanharam
no início da carreira até atingirem o sucesso perseguido por elas. Ricas e
famosas lastimam, todavia, os sofrimentos por que passaram. A primeira teria passado
horrores nas mãos da empresária, como se não tivesse nem mãe, nem pai. A outra foram
os próprios pais quem a trataram sem dó nem piedade, na opinião da “sofrida”
filha, alçada lá no alto. Confortáveis na posição que ocupam, na verdade, são duas
pessoas que não se cansam mesmo é de aparecer, ou melhor, torrar a paciência de
quem não é “baba ovos” (os fãs para a apresentadora). Lindas ricas e famosas,
tudo que queriam da vida, veem a público pedir que sintam pena delas,
pobrezinhas. Dá pena mesmo, tudo por conta do sucesso e do dinheiro decorrente, e para isso a rainha dos
baixinhos era tratada como fantoche. A outra mimada pelos pais, que tinham a
filha como veio de ouro.
Maria
é católica e segue com um discurso engajado:
— O
século XXI chegou arrasando em todos os sentidos. Mas, ou retrocedemos em nosso
desequilíbrio, ou não se sabe aonde tudo isso vai dar. Santo Inácio dizia
preferir “ser como os pratos equilibrados de uma balança pronto para seguir o curso
apropriado da vida para a salvação da sua alma”. A salvação que pode significar
simplesmente evolução. Somos seres humanos, e como tal devemos evoluir em razão
e manter a fé. Em vez de cultuar o corpo, por exemplo, que as pessoas cultivem
bem sua alma, sua mente, sigam o íntimo do seu coração preenchido pelo amor de
Deus.
Palavras
que calam na alma, e assim se finda a tarde, tão bem compartilhada. Despedem-se,
até o próximo encontro.
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