REMBRANDT E VERMEER
Rembrandt pinta com cruel realismo o quadro O
Profeta Balaão e a Jumenta, como sempre, tratando o pintor de fato do Antigo
Testamento, em que o rei moabita manda Balaão lançar maldições contra os
israelitas. Para cumprir a ordem parte profeta montado numa jumenta, que em certo momento empaca. O que vemos então é um irado Balaão levar o relho contra o animal de boca aberta, cheia de dentes, que não queria seguir por aquele caminho. O instinto de preservação que se
rebela contra aquela racionalidade, as limitações da mente,
quando então o animal fala mais alto. Em Sansão Cego pelos Filisteus
Rembrandt mostra os soldados de uma facção inimiga enterrar um punhal nos olhos
de Sansão, que perdera sua força para lutar.
Vemos então Dalila assustada fugir do local com a cabeleira do herói bárbaro em
uma das mãos e a tesoura na outra, e que lança um último olhar para o amado
vencido, sob o peso da armadura de soldado combatente. Rembrandt em seus quadros segue a metáfora
bíblica dos horrores do passado, não muito distante do pintor naquele momento. O realismo barroco, humanista, dos pintores holandeses, que se teriam comunicado
com os maiores sábios do seu tempo, bem antenado com o mundo em que viviam.
Rembrandt, talvez por narcisismo, ou por lhe faltar
modelos de beleza, retratou sua expressiva fealdade em momentos diversos da
vida. Vermeer rodeado de beldades, filhas e modelos, teria apenas uma vez
exibido sua imagem, a sorrir para o observador da cena ao lado da cafetina, mas
tratou de esconder a face no Atelier, e tinha suas razões. O pintor de Delft
fez pouco mais de trinta brilhantes quadros, em curto tempo de vida, enquanto Rembrandt
viveu vinte anos mais, e deixou uma grande quantidade de obras. Como os
mercadores da Holanda, Rembrandt era protestante, enquanto Vermeer oscilando
entre o protestantismo, o jesuitismo e o agnosticismo, uma vez que na região em que viviam existia liberdade de pensamento, formada por uma massa imensa de
pessoas livres e, mesmo, sem crença alguma.
Vermeer e Rambrandt, dois artistas medievais irmanados num ideal
humanista. A ética e estética, a liberdade, em suma, que até hoje leva admiradores a se extasiarem com obras tão antigas e tão modernas, cujas mensagens não se esgotaram com o tempo, eternas.
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