20 ANOS DEPOIS
Ainda no calor do escândalo que
envolveu o impeachment de Collor, outro fato mexeu com a opinião pública no
país, a divulgação pela imprensa do estrupo de uma criança ocorrido na Escola Base, localizada no bairro de Aclimação em S.Paulo. Os proprietários do pequeno estabelecimento de
ensino, o casal Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada, desde então
passaram a viver um inferno de acusações as mais escabrosas.
A rede Globo
iniciava sua trajetória como a maior emissora de televisão do país e divulgava
o desenrolar dos acontecimentos sobre o crime, junto com o SBT. Elucubrações, sem
nenhuma prova, além do testemunho de uma criança de 4 anos, com apenas
uma assadura. O medo dos pais que fizeram a criança confirmar o suposto estrupo. O
noticiário causava perplexidade, grave agressão a um ser indefeso, e os
responsáveis pessoas que pareciam isentas.
A aflição que os espectadores sentiam em ver um simpático
casal de professores exposto à execração
pública. Os cabelos de Aparecida Shimada já embranquecidos pelos anos de vida, trabalho e dedicação ao ofício no ramo da educação. No
mínimo uma avó, só não via isso quem não queria. Menos os repórteres, atrás de notícia,
dispostos a divulgar qualquer coisa para impactar, e nada melhor que o lado
torpe da vida, justamente onde ele não devia estar, e não estava naquela
escola, dirigida com dedicação, até que tudo desmoronou. A televisão líder de
audiência se fazia de defensora da moral e dos bons costumes, meio para o
domínio das consciências.
Culpados ou inocentes, não interessava verificar a verdade. A mídia televisiva era
soberana, como se dissesse aos espectadores, agora seremos os salvadores da
pátria, os novos educadores, o que na verdade se tornaria daí para frente. Junto
com a televisão, o delegado de polícia ganhava notoriedade. A Escola Base destruída,
e seus donos, a princípio atônitos, depois
indignados com tudo aquilo, sofriam um terrorismo, sem precedente. A
opinião pública manipulada pela grande imprensa.
Vinte anos se passaram, e só agora a
justiça concluiu o processo, estabelecendo a indenização a que os donos da Escola Base têm
direito, paga pelo Estado e a rede Globo, para reparar financeiramente o
erro cometido. Muita coisa mudou na imprensa, o jornalismo amadureceu, hoje na tentativa
de não cometer erros dessa natureza, informar com mais consciência e responsabilidade.
A fábula que a TV Globo e o SBT arrecadam com publicidade me leva a comparar Roberto
Marinho, já falecido, e Silvio Santos como Icushiro Shimada, que provou sua inocência, mas não
vai pôr a mão no dinheiro da indenização, pois logo morreu de câncer, não era
para menos.
Saúde e
dinheiro não falta para a mídia televisiva, que tem contribuído muito pouco para educação e cultura do povo. Ao contrário, ajuda a sociedade brasileira no seu processo de dissolução, e também a purgar seus erros da
forma como aconteceu no caso da Escola Base. Cadê a educação? Parece que
morreu junto com o sonho daqueles educadores, que um dia fundaram uma Escola de
Base e foram massacrados.
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