SAUDADE DE MIM
Recordo de todas nós, crianças, que vivíamos em um mundo tão
diferente de hoje. Saudade de mim, não que eu queira voltar ao tempo da infância e juventude. Tempo
de navegar em um mar de calmaria, que de repente se tornou agitado. Raios por todos os
lados, era a guerra. Até que a tempestade amainou e veio ao encontro dos
navegantes um sinal de que se chegara à terra prometida, o que se pensava. Agigantou-se diante de nossos olhos a tecnologia nunca dantes imaginada, com as redes sociais e tudo o mais. A comunicação
garantida, e a diversão idem, uma outra selva a ser desbravada como fizeram os portugueses, colonizadores do nosso país. Hoje o Brasil comemorando 194 anos de Independência.
E lá estávamos, nos nossos verdes anos, felizes da
vida, os meninos no jogo de bola na rua, e as meninas pulando a “Amarelinha”na calçada,
indo de casa em casa, até chegarem ao céu. Ser feliz era mais fácil? A gente necessitava
de pouca coisa para se sentir bem; os adultos rodeados de crianças, e vice
versa. A prole devidamente colocada nos trilhos, ou seja, tratada com amor e rigor
para seguir em direção ao futuro. Éramos uma promessa, e, na medida do
possível, nos deram condições para a conquista
de um bom futuro, pelo trabalho e na constituição da família.
Ter uma
direção na vida era primordial. Apesar da falta do atual conforto, as pessoas sentiam-se
mais seguras, mesmo com possibilidade de sofrer doenças graves, sem poder
contar com as vacinas, nem a bendita penicilina, muito menos os
tranquilizantes. Sem telefone, objeto raro, e se escutava o rádio,
que tinha um som quase inaudível. O cinema de Chaplin açucarou nossa juventude. Poucos tinham carro e televisão não existia. Nem promessa de computador dentro das casas. E ninguém podia imaginar que tais
coisas iam um dia fazer tanta falta. Hoje nem pensar em viver sem a panaceia
tecnológica que nos envolve. Mas os pais e educadores estavam certos - o mundo
também - em não querer mimar os filhos, como hoje, de tantas crianças
abandonadas. Na medida do possível os pais
cuidavam bem de sua prole, que era conduzida para ser alguém na vida.
Não havia tanto perigo de se perder o sentido da existência! Tempos idos, vividos, sofridos, penso nele com carinho, e sinto vontade de consolar aquela criança, aquela jovem, assim como consolar os adultos, que passaram por tantas dificuldades, sofreram dores, sem reclamar. Uma tal de neurastenia atacava os adultos, e passava com o tempo. O tempo curava tudo. Hoje qualquer distúrbio é devidamente tratado, felizmente. Minha família menos sofrida, acredito, o pessoal gostava de rir, de levar tudo na brincadeira. Seria nossa herança judia. Como vou saber?
Uma pergunta
que não quer calar sobre a tecnologia é se ela teria vindo para nos facilitar a
vida. Ou se trata de uma parafernália para nos infernizar? Quanta bobagem a nos
tomar o precioso tempo. Surgiu há pouco o Pokémon Go, um game que une virtualidade e realidade, para fazer as
pessoas andarem por aí à caça dos monstrinhos, com possibilidade de serem
vítimas de atropelamento, assalto e etc. Um mundo violento e uma virtualidade sem noção. Dia a dia a
vida se complica e a paciência se esgota. Haja paciência e redobrada prudência,
virtudes rarefeitas no mundo atua!
Dia da Independência! Os
portugueses que aqui chegaram, por acaso, ficaram extasiados, e trataram de
colonizar essas terras maravilhosas do nosso primitivo Brasil. Assim como ficamos, hoje, extasiados com a maravilhosa e selvagem tecnologia, ironicamente
considerada civilizada, mas o quão necessita de se civilizar, inclusive as redes sociais. O Brasil tornou-se
independente de Portugal, mas quando poderemos comemorar a nossa independência como país livre da ignorância e da maldade, educado e sábio, realmente civilizado?
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