ATREVIDA
Era o cúmulo do atrevimento a sobrinha querer sair fantasiada de colombina no carnaval, e a pirralha só tinha quatro anos. A tia e madrinha ficava apavorada, coitada, pouco se atrevia a sair de casa. Nascemos, todavia, com o desafio
bíblico de crescer e multiplica, e para tal desiderato temos que ousar. Nos Evangelhos há o milagre da
multiplicação dos pães, e é quase isso que temos de realizar para que se cumpra
a ordem divina. O homem que tem fé e segue os mandamentos, além da obediência que
deve às leis civis da sociedade a que pertence. Nossa espécie animal que evolui
como indivíduo, civiliza-se, instigada pela fé e pela razão, das quais ela pode
dispor com livre arbítrio.
Se somos filho, neto, pai, primo, amigo,
membro de uma família humana, se somos todos irmãos, por nossa herança
biológica, também somos irmãos em espírito. Triste a sensação de orfandade, de
vazio, abandono, solidão. Pior de tudo é estar fora de si mesmo. Ninguém que
tente fugir dos limites impostos de per si e pelo espaço vital. Evitar ficar de
fora, ser esquecido, mesmo se estiver
por baixo. Quem se isola pode ser vítima das contingências, e mais ainda das
incoerências pessoais. Sábia natureza, e em cada etapa da vida - da infância à
velhice – ressurgimos renovados, mesmo na idade avançada.
Ser perseverante no ideal de
renovação, reagindo contra a moderna cultura da negação, que faz a pessoa ser menor
do que é, e ter menos que de direito. Nem
se iludir pela ambição, achar que pode tudo, acontece ao homem moderno, no
domínio da tecnologia e da ciência, com possibilidade de agir de maneira
equivocada na aplicação das riquezas extraídas da terra, e, em especial, da
mente. Garimpo necessário, mas requer todo cuidado para não degradar o ambiente,
esgotar os veios, provocar o fim de tudo...
Em um tempo não muito distante - quando
a menina quis brincar de princesa - almejava-se a imortalidade, que viria com o
livro, o filho, a árvore. Realizações que se confrontam com as inúmeras
possibilidades atuais. Mas sabemos que o mundo está em grave crise, talvez,
irremediável, a ponto de ser preferível o esquecimento, a ter de criar,
procriar, conservar. Com alarde fala-se em pós-civilização. Se ainda almejamos
a felicidade no amor, é o desamor, o ódio que parece mover o ser humano no
presente momento.
Atrevamo-nos
a uma nova vida, mas que ela seja abundante de acertos e bênçãos!
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