REVELAÇÕES
A tio
já havia posto tranca nas portas e janelas, e a tia na sala de jantar fechara
seu livro. Maria assistia TV com os primos, finda a programação, não demorou subirem para dormir. Ela
estava há algum tempo na casa dos parentes, atingira a maioridade, e se sentia
constrangida por ainda não ter conseguido emprego. Devia voltar para casa dos
pais no Norte, mas ainda com a esperança que havia tudo de bom para acontecer.
Em princípio, queria ter seu próprio dinheiro, e parar de ser um peso a mais para a família.
Maria
era uma menina ambiciosa e receptiva. Sua tia torcia para vê-la bem na vida. Tinha
a solidariedade que precisava naquele momento, conquanto os tempos ainda não fossem
os sonhados para as mulheres, e elas pudessem obter o merecido reconhecimento
de seus dotes intelectuais, sua força de trabalho. Ela já tivera oportunidade de falar para a tia:
_ Desconfio que a senhora participou de algum desses movimentos sufragistas , não?
_ Poderia ter participado, sim, mas não tive oportunidade, as sufragistas se destacavam por defenderem direito de voto, ocorria na Europa.
Nem sempre os planos saem como a pessoa quer, mas como tem de ser, e naquele dia Maria dormiu com a ilusão de que no dia seguinte tudo continuaria na mesma, e podia se considerar no lucro, se as coisas não emaranhassem. Foi despertada com alguém ao seu lado, pensou que sonhava, mas a visão era real, a mãe estava de pé olhando para ela.
_ Desconfio que a senhora participou de algum desses movimentos sufragistas , não?
_ Poderia ter participado, sim, mas não tive oportunidade, as sufragistas se destacavam por defenderem direito de voto, ocorria na Europa.
Nem sempre os planos saem como a pessoa quer, mas como tem de ser, e naquele dia Maria dormiu com a ilusão de que no dia seguinte tudo continuaria na mesma, e podia se considerar no lucro, se as coisas não emaranhassem. Foi despertada com alguém ao seu lado, pensou que sonhava, mas a visão era real, a mãe estava de pé olhando para ela.
Dona Olga havia tirado uns dias de folga no
emprego, deixou os filhos menores aos cuidados da outra irmã, e estava ali para
ver a filha e também abraçar a sua irmã, Júlia, que não via há algum tempo. Já
havia passado em S. Paulo para ver o filho mais velho, que trabalhava no BB, e
acabara de ficar noivo de uma moça que ele conhecera numa aula de dança. Treinava os passos certos da dança de salão para não fazer feio nos bailes, apaixonou-se pela
professora. Um jovem apaixonado, e a mãe estava apreensiva, mas nada contra sua
escolha.
O ano
de 1957 parecia desperdiçado por Maria, mas ela ia quase todos os dias à
Biblioteca Nacional, oportunidade que tinha de frequentar ambiente tão lindo e especial.
Lia de tudo, e ficara fascinada pela história de amor entre Napoleão e Desirée.
Como não havia concurso à vista, ler era o que de melhor podia fazer, os
empregos raros, principalmente para a ala feminina. Paciência! D. Olga percebendo o
estado mental e espiritual da filha, falou-lhe:
—
Acho que deves voltar a frequentar a igreja, a religião certamente pode te ajudar a encontrar o caminho. E você não se sinta uma pessoa vazia, com dores na alma, que
trazem feridas ao coração. Saiba minha filha que a religião não pode ser
destruída pelo estudo, nem o raciocínio - que é importante -, suplantar a espiritualidade cristã. Mas ao se desviar de Deus, ou negar Sua existência só temos a perder, e nada a ganhar.
Havia confiança entre mãe e filha, embora uma modinha infantil incentive a rivalidade: “Sianinha diz que tem um sapato de fivela. / É mentira, ela não tem, o sapato é da mãe dela. Hahaha, hahaha, o sapato é da mãe dela”. Mas para Maria a mãe fazia as coisas entrarem nos eixos. Foram juntas à missa no domingo de Páscoa selar o amor filial e para com Deus. E fez mais, carregaram os mais novos para a igreja, sem se importarem em receber reprimenda. O cunhado de D. Olga se dizia ateu e que detestava problemas, mas apesar de ser uma pessoa de sucesso na carreira de professor, parecia que lhe faltava algo para ser feliz.
Na
semana seguinte estavam mãe e filha no Centro, eis que se encontram com Mario Morais, primeiro namorado de Maria, na sua cidade natal. Chega há pouco no Rio para resolver
um engano referente à sua admissão ao serviço público, referente à saúde As duas
acompanharam o rapaz na questão, rapidamente solucionada, e ele foi nomeado
para trabalhar no Rio. Mesmo que preferisse voltar para o nordeste, reconheceu que era melhor
ficar. Alguns encontros depois Lauro e Maria estavam outra vez namorando e logo
noivos. Alguém questionou:
—E o
emprego Maria?
—Esquece,
vou ficar em casa cuidando dos filhos.
Foi o
que aconteceu. E o casal está junto até hoje, com grandes aventuras para lembrar.
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