CRÔNICA
DO MODO QUE SE COME
Há mudanças nos costumes a cada geração, as pessoas com suas eternas perdas e seus pontuais ganhos. Assim como acontece com a natureza, em processo de morte e renovação. As transformações do ser humano que continua o mesmo com sua precária vida e soberba imaginação. E bota precariedade e soberba nisso. Mesmo que haja o consenso sobre
o que seja bom e ruim, e se possa educar os hábitos, adquirir bons costumes. O padrão de beleza, por exemplo, que no passado prestigiava a
fartura de carnes, mudou para a atual estética da magreza, até o extremo da
anorexia. Quando o que se deve é cuidar da saúde, ter boa alimentação, estar atento ao que se consome, para ter uma vida saudável, o que aprendemos a valorizar depois dessa pandemia.
A geração dos anos cinquenta lia Monteiro Lobato, deleitada com suas histórias, e tinha uma fantástica infância, mesmo sem a fartura de alimentos, e o Visconde Sabugosa era magro, magérrimo, mas sabido que só ele... Foi a geração do Biotônico Fontoura, produto, sabe-se hoje, que provoca perda do apetite. Tinha também o Postazen, responsável pela obesidade de muita gente, até ser banido das prateleiras das farmácias. Os remédios para compensar a escassez de alimentos, e ainda criar as gordurinhas, tão apreciadas. Mas lembro minha avó lá em casa a repudiar tais medicamentos, e falar sempre que a boa alimentação é o melhor remédio para a saúde, o mais importante de tudo.
Outra geração, dos anos setenta, dessa feita leitora de O Tesouro da Juventude, que refletia o espírito da época, cuja meta era avançar a todo vapor na ciência e tecnologia. Tudo bem, mas o progresso, o que propiciou além do conforto de se estar livre de certas doenças? Trouxe a ilusão de que consumir era o ideal de vida, principalmente comer e comer, a mesa farta de produtos industrializados, o que tornou-se sinônimo de progresso, de riqueza. Sem mais aquela escassez de alimentos do passado, com a produção em grande escala no campo e nas fábricas.
Do modo que se come, ou se consome, se vive, ou seja, bem ou mal.
Nada contra a produção para o consumo de bilhões de habitantes, sem descuidar da preservação do ambiente. Mas o problema é a ânsia consumista de crianças e jovens, que acompanham os adultos em sua comilança. Ou então na sua falta de apetite, o que é também um problema. Hoje sobra comida em muitos lares, e faltar o alimento básico em outros tantos. Também é comum faltar envolvimento afetivo, o essencial amor, por se estar envolvido por demais na satisfação pessoal. É evidente que o homem moderno, de modo geral, ama errado, vive errado, sofre errado. Empanturrado de comida e também de artefatos de toda espécie, mas que requer educação, para conduzir sua vida com sabedoria, e menor estresse. Época de pandemia, que faz sofrer, mas ensina, que o maior esforço deva ser em prol do bem estar de todos, navegantes dessa mesma vida.
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