DOS CÓDIGOS
S. João no Convento das Mercedes S. Luís Ma |
Ver sua
irmã Lindalva completamente devastada pela doença era uma experiência dolorosa
para Laurinda. Pensava na covardia do mal que se abate sobre a mente de uma
pessoa, fisicamente saudável. Na última vez que foi visitá-la já não falava mais,
apenas murmurava uma velha canção, depois apenas se movimentava sem parar, com o
olhar distante. Sempre sorria quando lhe acariciava o rosto, por poucos segundos,
logo voltava a olhar para o nada.
Por
trás daquele semblante alheio a tudo, havia vestígios da antiga beleza de corpo
e alma. Jamais comprometida com coisas banais, circunstâncias não a abalavam,
tão simples e ao mesmo tempo de modos refinados. O prazer que tinha de usar uma
peça demodé, que lhe caia bem. O
espelho era seu amigo, enquanto algumas mulheres nele se mirassem à espera de
um milagre.
Por
muito tempo acreditou-se que as damas deviam se ver no espelho com certa
desconfiança. O espelho como ferramenta de autoengano. Na história de Branca de
neve a madrasta falou: “Espelho, espelho meu
há alguém mais bela do que eu?” No caso da irmã mais velha de Laurinda, ela
não via quem a superasse, era, sim, a bela em tudo.
Tempos
dos códigos, e Laurinda lembrava sempre o código gustativo, consistia em enviar
iguarias aos amigos e familiares, por nada ou alguma coisa, por exemplo, como
pedido de desculpa por falha no convívio recente. Lindalva obedecia à risca os
códigos socialmente usados, além dos próprios.
Ainda solteira, encarregou Maria Pretinha de levar uma tigela de gemada para uma
tia, que penava com uma forte gripe. Gemas com açúcar batido à exaustão pela
própria empregada, acrescido do leite quente e da pitada de canela. A travessia
de um quarteirão, sendo entregue menos da metade do produto...
Boas
lembranças!...
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