sábado, 12 de junho de 2021

 FELIZ DIA DOS NAMORADOS


CONTO

              

 “O QUE ME DIZ DE FUGIRMOS?”


 De repente os dois corriam em desembalada por uma rua transversal rumo à civilização, essa era a sensação de Eva, após saírem daquele porão. Heitor havia falado para a namorada:

— O que me diz de fugirmos?

Ao passarem pelo corredor em direção à saída alguém perguntou:

— Para onde estão indo?

Emergiram do porão daquele prédio abandonado no centro da cidade, onde ela não tinha familiaridade, e o quanto era assustador o ambiente sombrio das salas vazias, e do salão subterrâneo.

Ela falou:

— Podia ser bem menos assustador tudo aquilo. Melhor não participar dessas coisas, mas o quanto é difícil ficar de fora em certas ocasiões, afinal temos que contestar as arbitrariedades dos poderosos.

Eva não estava com raiva, mas sentia pena. Coitado do Heitor, necessitado de mais excitação, e lá foram eles para aquele encontro clandestino. Ele orgulhoso de ser um rapaz preocupado com os desacertos do mundo. Depois desse dia não mais se viram. Apesar de tudo que Heitor passou e a própria Eva também teria passado, eles esperariam um pelo outro, não importava o tempo que demorasse?

Anos depois  reencontram-se, ela estava de passeio  na cidade natal, alguns encontros casuais, quando então ele comunica que tem uma surpresa, e a conduz até o centro histórico. O chegar á praça principal para em frente ao encantador prédio verdinho, cor da esperança, local do famoso clube recreativo, o Lítero. Ele lembra ter ficado a observá-la enquanto ela era requisitada pelos rapazes  presentes à festa dos seus quinze anos. Chegaram a ficar amigos, quase namorados, parceiros em algumas aventuras de uma juventude audaz. Daí ela partiu com a família.

Entram. Um pequeno lance de escada e estão no salão, penas uma mesa no centro, com uma garrafa de champanhe e duas taças.  Três músicos, postados no canto esquerdo do  salão vazio, começam a tocar. O casal brinda o momento, e começam a dançar a mesma valsa, que ele sonhou ter dançado com ela naquele dia festivo. Tudo para que soubesse o quanto fizera falta em sua vida, o tempo que ela passou fora.  Eva fica assustada, está noiva de um colega do trabalho, mas nunca o esquecera. Ia voltar para o Rio e ver o que acontecia, que decisão tomar.

 O tempo passa, estavam outra vez diante do mesmo prédio que se destacava no seu jovial verdinho, graça que o tempo não apagou. O casal sempre presente aos encontros semanais das pessoas na terceira idade, o clube desativado e o lindo salão alugado para eventos variados.

“Exatamente como eu imaginei...” Pensa Heitor.

— O que você disse?

—Nada.

Ele nega, saindo de seu devaneio. A seguir confirma:

— Foi em 1964, Eva. Lembra?

 

CLUBE LÍTERO - S. LUÍS - MA
 

 

 

 


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