segunda-feira, 30 de agosto de 2021
FICÇÃO
DAR E RECEBER
Hora do cafezinho, em conversa com Alice,
colega de trabalho, Clara expôs o que a afligiu por um tempo, e ainda a deixa
perplexa:
— Podiam até ter me derrubado, a certa altura
mal sabia quem eu era de verdade, e só senti isso quando pensei em desistir de
tudo. Estava sendo tratada quase como uma pessoa que não merecia atenção. E há quem
goste de provocar situações para que isso aconteça. E como é reconfortante nos
sentirmos aceitos, e não nos coíbam de ser quem somos de verdade, livres de
rótulos e expectativas frustrantes.
Alice
já havia passado por isso, aproveitou para tratar do assunto:
— Eu
também já me senti assim no passado, e sinto revolta até hoje. Procuro, ao
contrário, cultivar o dom de fazer cada um se sentir especial, que mereça atenção exclusiva. É uma delicadeza a
mais nesse mundo em que as pessoas se ignoram, ou se chocam umas com as outras.
Após
dar um gole no café, que acabara de ser servido, Clara foi adiante na conversa:
—Não
somos robôs, embora muita gente pareça ser com uma dessa máquina, criadas por
nós, e nos quer “esmagar”. Temos obrigação de educar a intuição e treinar nossa
mente, se quisermos vencer a batalha do saber contra a ignorância, o que leva tempo
e contínuo esforço. Não sermos limitados pelas expectativas dos outros. As
coisas acontecem, e nem sempre a gente pode ter o controle de tudo. Lembrei
agora quando meses atrás o médico disse que eu estava com câncer, fiquei perplexa
e com muito medo, mas em seguida pensei que ia vencer a batalha. Era uma luta
dura da vida contra a morte, e o inimigo está dentro de nós. Chegara a minha
hora, não de morrer, mas de lutar, e não deixei de acreditar que ia sair
vencedora. Além da fé contei com a ajuda de pessoas essenciais, inclusive meu
marido, atravessávamos um momento delicado no nosso relacionamento. Ter
consciência de que em algum momento a pessoa vai passar por momentos difíceis, seja
uma doença grave, ou coisa que o valha. É questão de arregimentar-se para a
luta que a vitória acontece.
Alice
enxugou os olhos das lágrimas que já escorriam pela face ainda jovem nos seus 63 anos, falou:
—A minha mais dura batalha até hoje foi quando lesionei a coluna, o que me obrigou a interromper um cotidiano, sempre corrido, que enchia meus dias. Fiquei incapacitada até de escovar os dentes, pentear o cabelo, e tudo o mais, totalmente dependente de outras pessoas, eu uma mulher tão amante da minha autonomia. Perguntava a mim mesma: O que eu fiz para merecer esse castigo? O que vou fazer da minha vida daqui por diante? Ansiosa e insegura, pensava que as pessoas podiam se afastar de mim e até deixar que eu morresse a míngua. Já começava a depressão pós-traumática, como falam os médicos. Ao contrário do que pensava, fui bem tratada, e, merecendo, ou não, recebi a atenção necessária para sobreviver. Curada da coluna e da depressão, aqui estou feliz da vida contando minha experiência para você, minha amiga, uma das pessoas que me deram seu indispensável apoio. Sou imensamente grata a você e a todos. A vida é isso, dar e receber.
quarta-feira, 25 de agosto de 2021
Ave Maria - G. Caccini - Moscow Boys' Choir DEBUT
FICÇÃO
UM AMOR E NADA MAIS
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S. Luís - Ma. |
Aos 17 anos Joana se dera conta de que não era necessária para ninguém, também não pertencia a lugar algum. Tratou de buscar um trabalho no Sul do país, tinha qualificação, e logo estava sentada à frente de uma pilha de processos para registrar a chegada e dar encaminhamento. Ah, mas ainda sentia saudade de casa, em especial, do irmão, bancário, que podia estar por perto, mas resolvera casar aos 19 anos, e voltar para Norte, morar numa cidadezinha do interior onde residia a noiva.
Antes de se estabelecer no Rio, Joana ficou alguns dias na casa de parentes, onde todos foram incrivelmente amáveis. Sentia-se então viva, tratada quase como uma celebridade. Isso foi há dez anos atrás, e desde então, mesmo sozinha, não se sentia afetada pela solidão.
Acabara de colocar a chaleira no fogo, começara a dourar o pãozinho lentamente na chapa. Antes havia dado uma espiada se o gato já comera a ração do dia. Era o que tinha para aquele início de manhã, fim de inverno, apenas isso. De súbito lhe veio à lembrança os dias mais patéticos de sua vida. Os encontros com Antenor, ao lado da prima, noiva de um oficial da marinha, a quem acompanhava nos seus passeios pela cidade. Nunca mais teve notícia do belo rapaz, que a deixou enamorada. Nunca esquecera o aceno dele ao longe. “Do perdido se tira o sentido”, pensou na ocasião. Escuta a campainha tocar e vai atender.
Estupefata, Joana ainda ensaiou fechar a porta na cara de Antenor, a chaleira apitava na cozinha, e o pãozinho podia queimar. Depois de fazê-lo entrar e atender o chamado da cozinha, olhou melhor para o recém-chegado, que segurava sua mão, sem querer largar, reconhecendo o o rosto de suas lembranças. Ele também observava as feições da jovem mulher, que perdera as bochechas, mas não o encanto da face, quase sem marcas do tempo. E mesmo antes de sentarem, revelou-lhe estar ali para casar com ela:
—Vim pedi-la em casamento.
—O que...?
— É o que estou falando: Aceita casar
comigo?
- Mas logo?
- Sem mais demora.
Joana vivia adequadamente em seu elegante apartamento, com independência financeira, bem emocionalmente. Fiel apenas a ela mesma, até que a morte chegasse, era o que pensava. Mas eis que chega aquele moço por quem sonhava, para fazer-lhe companhia, nada melhor, aquilatou. “Tenho 39 anos, e estou mais viva que nunca”, disse para si mesma. Ele também não havia casado. E como era sina da família dela os casamentos intempestivos, que acabavam dando certo, declarou, firme e forte.
—Sim, aceito.
domingo, 22 de agosto de 2021
PENSAMENTOS DE GRANDES PERSONALIDADES
PLATÃO
A filosofia é a mais sublime das músicas.
Aquele que despreza a religião suprime os alicerces da sociedade humana.
BLAISE PASCAL
Há um infinito de males; o bem é quase único.
Quanto mais nos marcam com fraquezas, mais autoridade
dão à nossa causa.
CARL GUSTAV JUNG
Os sonhos são manifestações da atividade criativa
inconsciente.
A psique (alma), como o corpo, é uma estrutura
extremamente histórica.
Uma neurose é sinal de acúmulo de energia no inconsciente
a ponto de ser uma carga capaz de explodir.
ALBERT EINSTEIN
Diante de Deus todos somos igualmente sábios e igualmente tolos.
A violência fascina os seres moralmente fracos.
Sem a convicção de uma harmonia íntima do Universo não poderia haver ciência.
CHARLES DARWIN
.A imaginação é uma das mais altas prerrogativas do homem.
A grande diferença entre o homem e o macaco é o senso
moral.
FERNANDO PESSOA
Ser poeta não é minha ambição; é a minha maneira de
estar sozinho.
Põe quanto és no mínimo que fazes.
A ciência descreve as coisas como são; a arte como são sentidas, como se
sente que são.
A finalidade da arte é elevar.
EDITH STEIN
FRIEDRICH NIETZSCHE
Os sentimentos
enganam; a razão corrige os erros.
O valor da vida não pode ser avaliado.
GALILEU GALILEI
A verdade é filha do tempo e não da autoridade.
O universo está escrito em linguagem matemática.
HERBERT SPENSER
A educação tem por objetivo a formação do caráter.
A sociedade tem por dever essencial defender a
individualidade de seus membros.
Ninguém pode ser
inteiramente feliz enquanto todos não possam ser felizes.
IMMANUEL KANT
Ser consequente é a máxima obrigação do filósofo.
Todo conhecimento inicia-se nos sentidos passa ao
entendimento e termina na Razão.
Amar o próximo quer dizer cumprir com satisfação todos
os deveres para com o próximo.
BARUCH SPINOZA
Quanto mais um homem preserva o seu ser e busca o que lhe é essencial, maior é sua virtude.
Os homens são mais dispostos à vingança do que a retribuir os benefícios.
TEIHARD DE CHARDIN
Quando Maria tomou Cristo nos braços ela estava soerguendo o mundo inteiro.
Deus é o coração de tudo.
Uma feliz infância eis a força do homem.
CHARLES CHAPLIN
O tempo é o melhor autor, sempre encontra um final perfeito.
Os melhores filmes são feitos com pedaços de vida — simplesmente.
ALBERT SCHWEIZER
Vivemos uma
época perigosa. O homem domina a natureza antes que tenha aprendido a dominar a
si mesmo.
sábado, 21 de agosto de 2021
QUARTETO DE MENTES AFINADAS
Dia 8 de março, dedicado à mulher, a historiadora e filósofa Marta dá início à conversa:
—Nada é tão simples, há uma complexidade de tudo
que existe e desafia nossa mente racional. O cérebro humano desenvolvido para pensar e
agir diferente dos outros animais. E o que ganhamos e
perdemos de ser como somos?
A assistente social Maria responde de pronto:
— Almejamos a imortalidade,
como se fôssemos deuses, mas nos deparamos com limitações e a morte. Nossa alma
transcendente, libertária, pertence a um corpo que tem limitações. Um paradoxo
sermos sensíveis e amorosos, também
insensíveis e cruéis. Portanto, o que somos mesmo é merecedores de compaixão.
Apressa-se a dona de casa Jovita a falar da compaixão, sua palavra predileta:
—Você falou em compaixão, Maria, e quão importante é desenvolvermos esse sentimento de real importância para nossas vidas. A compaixão pouco abordado na filosofia, seu conceito de humanidade a envolver o outro.
Rosália toma a palavra:
- Nessa jornada sobre a terra é importante ter o espírito
fortalecido, além de manter o corpo ágil. E se
devemos fazer alongamento, como aconselham os personal trainers, mais
importante ainda é exercitar a mente. Entender quem somos e dar atenção ao que
fazemos. Sem esquecer de atender ao chamado do alto.
Marta tinha dificuldade em sair da cama para enfrentar o dia, mas contava com a ajuda do marido, o que já havia confessado às amigas. Com mil atividade, às vezes, sentia-se exausta. Dessa feita declara:
— Lutar com afinco pela
realização pessoal, como faz meu marido é de se valorizar, mas saber que o sucesso
e o fracasso não mostram quem somos. Não aceitar de pronto um papel qualquer
que lhe é dado. Desenvolver os talentos, abraçar o conhecimento, valorizar o
trabalho, sem se preocupar em atender às expectativas dos outros.
Maria completa:
— Prêmios, riqueza
materiais, e tudo o mais, não sintetizam o nosso ser verdadeiro. A sobrecarga
que pode advir do trabalho árduo, e que se dê espaço à leveza das horas, aos
sentimentos, aos afetos. Mas como vivenciar tudo isso nesse mudo tumultuado em que vivemos?
Rosália é assessora parlamentar e acaba de receber uma mensagem no seu celular sobre a tomada de Cabul pelo movimento revolucionário Talibã. Depois de um um grave silêncio, os comentários naquela mesa, antes tão descontraída e feliz, passam a versar sobre a situação no distante Afeganistão, que mexia com o mundo todo. O retrocesso que ia acontecer naquele país quanto às questões femininas, as mulheres mandadas de volta para casa e obrigadas a usar burca conforme as leis do Islã.
A jovial Jovita encerra a conversa: