quarta-feira, 25 de agosto de 2021

 

FICÇÃO


                  UM AMOR E NADA MAIS

 

        

S. Luís - Ma.


          Aos 17 anos Joana  se dera conta de que não era necessária para ninguém, também não pertencia a lugar algum. Tratou de buscar  um trabalho no Sul do país, tinha qualificação, e logo estava sentada à frente de uma pilha de processos para registrar a chegada e dar encaminhamento. Ah, mas ainda sentia saudade de casa, em especial, do irmão, bancário, que podia estar por perto, mas resolvera casar aos 19 anos, e voltar para Norte, morar numa cidadezinha do interior onde residia a noiva. 

       Antes de se estabelecer no Rio, Joana ficou alguns dias na casa de parentes, onde todos foram incrivelmente amáveis. Sentia-se então viva, tratada quase  como uma celebridade. Isso foi há dez anos atrás, e desde então, mesmo sozinha, não se sentia  afetada pela solidão. 

       Acabara de colocar a chaleira no fogo, começara a dourar o pãozinho lentamente na chapa. Antes havia dado uma espiada se o gato já comera a ração do dia. Era o que tinha para aquele início de manhã, fim de inverno, apenas isso. De súbito lhe veio à lembrança os dias mais patéticos de sua vida. Os encontros com Antenor, ao lado da prima, noiva de um oficial da marinha, a quem acompanhava nos seus passeios pela cidade. Nunca mais teve notícia do belo rapaz, que a deixou enamorada. Nunca esquecera o aceno dele ao longe. “Do perdido se tira o sentido”, pensou na ocasião. Escuta  a campainha tocar e vai atender.

         Estupefata, Joana ainda ensaiou fechar a porta na cara de Antenor, a chaleira apitava na cozinha, e o pãozinho podia queimar. Depois de fazê-lo entrar e atender o chamado da cozinha, olhou melhor para  o recém-chegado, que segurava sua mão, sem querer largar, reconhecendo o o rosto de suas lembranças. Ele também observava as feições da jovem mulher, que perdera as bochechas, mas não o encanto da face, quase sem marcas do tempo. E mesmo antes de sentarem, revelou-lhe estar ali para casar com ela:

       —Vim pedi-la em casamento.

      —O que...?

      — É o que estou falando: Aceita casar comigo?

      - Mas logo? 

     - Sem mais demora.

     Joana vivia adequadamente em seu elegante apartamento, com independência financeira,  bem emocionalmente. Fiel apenas a ela mesma, até que a morte chegasse, era o que pensava. Mas eis que chega  aquele moço por quem sonhava, para fazer-lhe companhia, nada melhor, aquilatou. “Tenho 39 anos, e estou mais viva que nunca”, disse para si mesma. Ele também não havia casado. E como era sina da família dela os casamentos intempestivos, que acabavam dando certo, declarou, firme e forte.

         —Sim, aceito.

 

   


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