À
sombra de Simone Weil
ENCONTRO
DE RAIZ
Elas voltam a se encontrar depois dos dois últimos meses em que se desenrolou a campanha para o comando do país, numa eleição atípica, com um ex-presidente ainda com pendência na justiça, mas liberado pelo STF para concorrer à presidência com o outro candidato, que pretendia sua reeleição. Insultos de ambos as partes na TV, pareciam dois bandidos a se acusarem mutuamente — comentavam pelo whatsApp as três amigas, Maria, Sofia e Marta. Agora elas só tinham a lastimar a volta do petista, quando a vitória do outro candidato seria para elas um mal menor.
“A
vida continua e bola para frente”, disseram em uníssono, logo que se viram. Encontravam-se
sempre em uma cafeteria, excelentes locais em Brasília para as pessoas passarem
uma tarde prazerosa. Aquela, em especial, onde Maria inicia a conversa, em um quase
discurso, como a ocasião pedia:
— A compaixão pela família e pela
pátria é um sentimento que os brasileiros devem adotar neste momento em que há
decepção com o resultado nas urnas. Não perder para esse cruel infortúnio, mas levantar
a cabeça e ter esperança na grandeza da alma brasileira, o brilho com que está envolta.
E que os cidadãos dessa pátria amada não
deixem de acreditar no futuro.
—
Belas palavras, minha amiga — replicou Sofia. Que assim seja, e mesmo
acreditando no futuro do Brasil, imagino o que pode advir doravante . Mau maior
é esquecer o passado, e as pessoas irem em busca do que lhes possa ofertar em
compensação quanto a um novo governo que retorna com malignas artimanhas. Certo que a corrupção vai
continuar.
È a
vez de Marta interagir:
— O
ser humano tem fome de grandeza, não essa grandeza ofertada aos desafortunados,
submetidos a uma condição adversa. Nem o horror do nazismo, nem o calvário do comunismo. Ambas as ideologias indo contra a
racionalidade humana e ferem suas raízes espirituais. Chegamos a um país do absurdo.
Maria
voltou a falar:
— Mesmo
nas ocasiões mais desafortunadas, como essa em que se encontram os brasileiros
no momento, que procurem vivenciar a fraternidade, gerada pela compaixão. Temos
uma democracia, mesmo essa nossa, quase anarquia, mas que possa barrar as
outras duas malignas opções, o nazismo e o comunismo. O mundo precisa da paz
para sobreviver, e não se afogar no caos. Seja na prosperidade, seja no
infortúnio, que se adote o sentimento da fraternidade duradoura.
Sofia
vai adiante:
—
Que os jovens não percam o direito de levar no coração o sonho do futuro que bem
entendam. Que cada um em particular tenha chance de se realizar, mesmo que
parcialmente, já que as ambições juvenis, às vezes, sem limites das próprias
aptidões, diferentes em cada pessoa. Cumpram-se as melhores expectativas, e a
todos se ofereçam possibilidades de ascensão social. Os vegetais têm as raízes debaixo da terra, os
irracionais patinam sobre a terra, mas é superior o enraizamento do homem.
Foi-se
a tarde neste encontro de raiz, e elas partiram para suas casas e respectivas
famílias, bem mais esperançosas, afinal, para que servem as amizades senão para
isso mesmo, dar esperança?
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