Texto
Inspirado em Machado de Assis e Simone Weil
TEMPO, TEMPO, TEMPO!
BELEZA E ABANDONO - S. LUÍS - MA
Um após outro passam-se os dias, nunca iguais - e ninguém é o mesmo que foi. Maria observa o rosto no espelho, bem diferente de tempos atrás, sem ter como restaurar o semblante sereno daquela moça de antanho. Evidente o desejo que tem de se recompor. E sem medo do eco dessa atual linguagem virtual, criou uma personagem, mais ou menos fictícia, para suas impressões de um tempo sem maiores percalços, como a vida era pensada no passado, difícil que fosse. As pessoas com a estranha mania de serem severas umas com os outras, e nunca "passarem panos quentes", em seja quem for, até mesmo optar pela santidade, para não se perder.
Inspiração como oração, intuitiva e de discernimento, pacífica, em vez do discurso sombrio, criado no vazio das mentes em desesperança. A vida como trama, que costuma deixar fios soltos. O que importa é perceber, compreender, ter noção da materialidade das coisas e sua mecânica, também da espiritualidade ter essencial vivência. E o mais importante , não se deixar coagir, nem mesmo ser persuadido por medo, e se perca em essência. Certo que tudo mudo com o tempo até as pessoas, o que foram e não são mais. A força propulsora que é o tempo, do qual temos pouco, ou nenhum controle. Mas o que se intui é que o tempo leva a pessoa para onde pretende ir. A inspiração idem.
Tempo, tempo, tempo, muito tempo, e Maria está naquela idade de rememorar o passado, o que ela faz com certa frequência, a inspiração fluindo no deleite das horas. Lembra da primeira casa própria, que acabou ficando para trás, restando a frustração de não ter realizado com o marido aquele plano para expandirem a parte lateral e assim torná-la a casa mais bonita da rua. Classe média, seu capricho com as residências, as mulheres cuidando com exclusividade da família, satisfeitas em fazer brilhar não apenas a casa, mas, em especial, o marido e os filhos.
O pioneirismo das jovens como Maria, em meados do século passado, impulsionadas pelo sonho da realização profissional, que tiveram a influência dos colégios religiosos. As freiras eram mulheres de fé e avançadas, sim, mas diferente dos avanços atuais. "Casada ou puta", o que diziam à época, o que não era assim. As mulheres solteiras dedicadas ao ensino, e demais trabalhos realizados no interior do lar, mesmo casadas, contribuindo para o sustento da família. Havia ainda a vocação religiosa, como ainda hoje, quando as . mulheres já gozam da liberdade, para serem o que quiserem. Mas têm as que vão para o convento ter um compromisso superior com Deus. Quem sabe a melhor opção no mundo de hoje?
Os "testes psicológicos" eram pouco conhecido nos Brasil nos anos 50, e vale ressaltar o pioneirismo da Escola de Serviço Social na capital maranhense, onde as alunas foram submetidas a essa especial técnica, aplicada pela pela chiquérrima psicóloga Odila Soares, recém-chegada da Sorbonne. Foram ocupadas várias salas do belo casarão no Centro Histórico, onde funcionava a Escola. O resultado não seria revelado às alunas, certamente para evitar constrangimento, devido aos diferentes níveis intelectuais. Os testes tornaram comuns, conquanto mais ágeis e funcionais, hoje exigido até para a carteira de motorista.
Vejam só, não dá para esquecer, aquela vizinha que mantinha a casa impecável, onde os filhos, entre dois a sete anos, só entravam para dormir, ficavam o dia todo em outra construção no terreno atrás. Fácil deduzir que a bela casa da frente devia permanecer intocável. Inesquecível a visita dessas três crianças na casa ao lado, onde livres e soltas portaram-se como selvagens, derrubando as coisas, a começar pelo vaso no centro da mesa cujas flores acabaram em frangalhos. A jovem e inexperiente Maria ficou chocada com o vandalismo, fora prejuízo, Uma experiência que levou-a a concluir que educar não é, em tempo algum, simplesmente reprimir.
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