domingo, 4 de dezembro de 2022

 


 

 

       

                                                  DE AMOR E PAIXÃO 




 

— Quem somos nós para afirmar o que é e o que não é uma boa vida.  

Palavras ditas por uma parenta a Maria, que de imediato pensou na mãe e sua afirmação de que a pior vida era melhor que vida nenhuma, ou a morte. E no entendimento de quem fora a mãe,  e ela própria décadas atrás, quando não havia como querer outra vida senão casar e em contrapartida ter uma casa com marido e filhos para cuidar. O homem com seu próprio planejamento a cumprir, conquanto seu destino fosse encontrar sua companheira em algum ponto do caminho.

Pena que a avó de Maria nunca tenha obtido o perdão da filha, desde que  posicionou-se contra sua paixão e casamento. Não há como julgar pessoas que legaram grandes ensinamentos aos descendentes. Tem gente que goza da paixão pelo dinheiro e por tudo o que ele propicia. As mais sábias preferem viver de outra forma, sem essa questão de querer boa vida, ou ser feliz a qualquer custo. Depois de uma conversa nesse sentido Maria aos quinze anos recebeu um ultimato de Mário nos seus dezoito, que antes de partir  para estudar fora, despediu-se com um olhar, mais de compaixão que de paixão, e as míseras palavras:

— Temos um longo caminho a percorrer. Que eu possa mais adiante alcançar você, e você a mim. Não nos percamos de vista.

Maria deixou a vida fluir, cientes que qualquer caminho não ia servir para ela chegar a autossuficiência e vida plena, sua pretensão. Logo percebeu que o universo está pronto para cuidar das pessoas que sabem para onde quer ir. Importa ter meta a cumprir, sem deixar de dar espaço para as surpresas. Ter cuidado, que há as boas surpresas e as ruins. 

  Por descuido Maria havia perdido a oportunidade de um bom emprego, mas não ia perder a esperança, sempre viva dentro dela. Simplesmente recomeçava, no que ia se tornar mestra. Até alcançar a maturidade, inclusive, no amor. Maria agora observava sua própria vida, e a vida em sua volta, e verificou o quanto uma paixão pode ser decepcionante a longo prazo. Certo  que a vida pede atenção, cuidado, e que se desconfie dos aplausos e julgamentos apaixonados.

Ano de 2022, da Copa de futebol no Catar, e lá está o antigo casal, desfrutando o feliz reencontro de décadas atrás, e como todo o Brasil na torcida pela seleção de Tite. Sobre a paixão do torcedor pelo futebol o neurologista Conrad Estol aponta para as emoções despertadas pelo fanático ao assistir um jogo, que se semelham a "um coquetel de condutas anormais" no qual se mistura a paixão, similar a de Cristo que compreende a aceitação e sofrimento como essenciais  à vida. Maria, todavia, pensa na diferença entre a sensação vinda do instinto de competição, primitivo, o caso do futebol, enquanto nos eleva a nível de compaixão a outra sensação, ambas necessária para o equilíbrio das emoções. 

 Diferente da paixão do futebol, a  paixão de Cristo serve para despertar a compaixão, que se segue à sua paixão.  


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