sábado, 17 de dezembro de 2022

 



 

                                  RECORDAR É VIVER




 

 Maria fica comovida com as palavras da coleguinha naquele novembro de 1950. “Nunca vou te esquecer” disse Socorro. O sino havia tocado no recreio para voltarem à sala de aula no último dia do segundo semestre do quarto ano primário. Encerrava-se um ciclo escolar, início das férias. Décadas se passaram, Maria lê no Facebook: “Lembra de mim?” E  dias depois: “Eu estou aqui!”. As mensagens vinham acompanhadas de fotos da mensageira com o marido comemorando bodas de ouro, também das viagens do casal pela Europa.

Cinco décadas e muitas foram mudanças pessoais e no mundo, a novidade da internet com suas redes sociais dando oportunidade para encontro e reencontros. Maria está encantada com a mocidade e alegria daquele senhora que se comunicava com ela, e procura pelo rosto que havia ficado perdido no tempo. Vasculha a mente, até que encontra a frase antiga e sua dona. E surpreendida com o enredo das suas vidas, que eram bem parecidos, Maria indaga a sorrir: “Quem copiou quem?” Vivem em diferentes cidades, e ainda se comunicam pela internet.  

 

Não ia ser fácil a caminhada, nem tão difícil, disso ela tinha certeza. Recém-casada, antes de partir com o marido Maria quis passar na Igreja para acender uma vela para a avó e rezar para a Mãe do céu, além de dar explicação a são Judas Tadeu sobre sua confiança nos dias que viriam pela frente. Do pouco que vivenciara até aquele momento e sem grande  experiência de vida era provável que mais adiante suas expectativas fossem superadas. Estava segura do que queria, assim como a pessoa que estava ao seu lado comungando o mesmo sonho. Quando ele chegou depois de algum tempo sem se verem dissiparam-se as dúvidas quanto a se unirem em casamento. Ela ficou surpresa ao saber que seu sentimento havia mudado, e para melhor, assim como acreditava que acontecia com o futuro companheiro de todo sua vida. 

 

Dezembro, e o terceiro casamento que Maria assistia naquele ano, os noivos já com algum tempo de convivência, como de praxe. Era a vez de ver seu neto conduzir a noiva ao altar para que a união deles recebesse a bênção de Deus. Após a cerimônia religiosa aquela linda festa em comemoração com os familiares e amigos dando início a uma nova etapa em suas vidas. O baile era uma novidade para os avós da noiva que observaram os recém-casados em feliz entrosamento, enquanto dançaram lindamente no salão. No passado casava-se ainda muito jovem, a união matrimonial como um ato de mais seriedade que felicidade. Dançar não fazia parte das bodas, que o casal devia com passos firmes cumprir o dever matrimonial da procriação. Sem esse doce bailar e alegre saltitar dos nubentes de hoje, que provoca inveja dos mais velhos presentes ao evento.  Maria na convicção que a felicidade tem um preço, sim, e não sai barato, ela mesma saudara com o marido todas as prestações.

 

 

 

 


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