quarta-feira, 8 de março de 2023

        8 de março- DIA INTERNACIONAL DA MULHER

         


         INTRODUÇÃO A VERMEER





Época de Ouro da pintura holandesa, da qual faz parte Johannes Vermeer de Delft, ao lado do também genial Rembrandt de Amsterdan. Século XVII, início da Era moderna, albores da ciência, condutora de um progresso nunca dantes imaginado para a humanidade. Século que abrigou cientistas do porte de Isaac Newton e Galileu. Os maiores influenciadores do pensamento moderno estiveram elucubrando naquele mundo mágico, livre do ateísmo, com Descartes, Hobbes, Pascal, Espinosa, Leibniz, Locke. No século anterior, a Cristandade sofrera ruptura causada pela Reforma de Lutero, que rejeita a arte como forma de expressão religiosa. A Igreja de Roma, em busca de uma saída honrosa para o grave impasse,  procura defender seus dogmas e sua ética, também quer salvar sua estética, refletida na deslumbrante capela Sistina, ápice da perfeição artística. 

O catolicismo continuaria no papel de mecenas das artes através do movimento barroco, expressão maior da Contrarreforma. O barroco italiano diferente do barroco da Holanda protestante. Convertido ao catolicismo após o casamento com uma católica e vizinho dos jesuítas, Vermeer apresenta em sua telas do barroco alegórico o rico e obscuro cotidiano da aristocracia holandesa, ao tempo em que surge uma incipiente burguesia urbana. Modelo de jovens, suas próprias filhas, que se exibiam ao expectador,  espécie de ensaio teatral para o drama da modernidade. Dramática modernidade, e a ideia de teatro, também do oculto, por trás das cortinas descerradas em algumas telas. E o xadrez no piso das telas sugere que se trata de um jogo de cena para a reflexão. O jogo e o lúdico característicos da arte barroca. A Holanda reformada segue o novo espírito de renovação da fé e dos costumes. Uma sociedade desbravadora de horizontes que experimenta o progresso  material para o homem moderno, naturalmente filosófico e mítico. 

O pintor no deleite de divulgar conceitos, também de fazer propaganda da produção moderna, que incluía o recém-inventados espelhos. O intuito precípuo de instruir, próprio da corrente artística a qual pertence o artista. A modernidade de Vermeer na promoção dos dons e dos dotes femininos, e que elas estejam bem informadas. Holanda republicana, de cultura nacional emergente, cujo maior empenho era adquirir o necessário para uma vida de conforto material  e dar conforto ao espírito. Uma conclamação para as mulheres preservarem sua integridade.  Arte como meio de promover a mulher, sobre a qual é contada uma história vivida e por viver. Doces os frutos da modernidade, amargas as irracionalidades vigentes, que não param de acontecer. Constantes os conflitos externos e as turbulências internas, não muito diferente do que acontece hoje. 

A sociedade chegava a tão elevado patamar social e econômico, contando com o respaldo da burguesia. As mulheres no dever de se habilitarem para o sucesso pessoal.  A vocação que as mulheres têm para a vida prática, produtiva, como também intelectual e criativa. Livres da total dependência do poder masculino. No exercício do amor, a mensagem de Vermeer em seus quadros, é que as mulheres evoluam do impulso instintivo para o agir consciente, olhar para o outro e entender suas verdadeiras intenções. As boas e as más intenções que as cercam, daí vermos algumas jovens constrangidas com as ofertas de bebidas, também estejam atentas  às mensagens recebidas por cartas e mesmo panfletos de propaganda que passam de mão em mão. Mulheres maduras que agem sem constrangimento ao tratarem com o outro sexo, uma vez que negociam os produto nas suas lojas, assim como o vinho nas tabernas. Diferente das jovens constrangidas em seus locais de abrigo, onde eles a assediam sem constrangimento. 

Janelas abertas e semiabertas para que as mulheres olhassem o mundo lá fora, que despontava, se expandia, que clareava também para elas, para uma vida verdadeiramente compartilhada. Confiassem as mulheres em si mesmas e  guardassem  a fé em Deus e no futuro. O fator econômico sobe ao palco da vida. Economia, ciência e arte, ou técnica, move o mundo, para que a humanidade siga em realmente em frente, na paz e prosperidade para todos, Mas que poder é esse do mercado? Vive-se o mito de Pandora, aberta a caixa, ou a casa, a oficina, o ateliê, o cérebro, ou a própria alma, tudo isso em  destaque nos quadro do pintor da produtiva cidade de Delft com seus famosos azulejos. Não tardariam a surgir a produção em grande escala nas fábricas, e um numeroso contingente de trabalhadoras.  A mulher livre para o acesso ao trabalho e ganhar seu próprio sustento. A sociedade progressista, em liberdade de costumes, mas que deve manter fé e ética, pilares da reforma protestante, e também da católica. A tendência é seguir os valores da  burguesia, que trata dos desejos terrenos, calcados na cultura da  inteligência e, na elevação do espírito. Já no século seguinte, em uma sociedade descuidada dos consagrados princípios que a deviam nortear, o extraordinário escritor e poeta Goethe exclama:  “A burrice não conhece nenhum cuidado."


Texto extraído de livro inédito da autora Revelando Vermeer  

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