FICÇÃO
“Deixa de inventar moda, Maria! “ Palavras
da tia para a sobrinha, com a intensão de preservar o seu disciplinado universo
ameaçado de ser corrompido por indisciplinares modismos. A regra adotada pela linda
e conservadora Carmelitinha era não admitir
a vulgaridade, nem a mutabilidade de um tempo, que incitava as pessoas a seguir
a moda. E Maria queria apenas encurtar suas saias acima do
joelho e experimentar as blusas sem mangas. Considerando-se o início da modernidade pelas mudanças do vestuário e o futuro consumista, que avançava a passos largos. As mulheres modernas com seu bom gosto, também
com a melhoria da vida financeira, numa cidade tricentenária, que tentava a
todo custo se modernizar.
Maria
teimava: Gosto não se discute. Quando então a tia revidava. “Gosto se discute, sim.” A sociedade moderna
sendo reestruturadas segundo o ditame da mudança, ou da moda, com sua lógica da
sedução, da renovação permanente. Prestigiada a aparência e sua inconstância. A
moda, em seus vários seguimentos, possibilitando a valorização do novo em
detrimento do antigo, que chegaria ao auge na pós-modernidade. E seria, por
conta da subjetividade do gosto, que o indivíduo se afirmaria socialmente, ou
da falta de gosto que o diferençava dos demais. Questão de gosto e ponto. Uma revolução
que ia subverter a mentalidade então vigente e seus valores tradicionais.
A tia
de Maria, sem se dar conta disso tudo, e no futuro ia adoecer do mau de Alzheimer,
em sua cidade natal, de onde nunca arredou pé. A antiga cidade também seria
esquecida em grande parte viraria ruínas. Hoje a
sobrinha dá razão à tia, que deu à luz a meio time de futebol e não um time
inteiro como o marido queria. Até que a moda é não ter filho. Digo isso porque
passamos a viver o paradoxo da individualidade. Como a envelhecida tia de
Maria, o mundo passou a viver sem memória. E mesmo com todo tecnologia e ciência, possível de imaginar, na verdade, simples
paliativos para suportar a decadência vigente no mundo.
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