sexta-feira, 16 de agosto de 2024

 

FICÇÃO




 

 

Deixa de inventar moda, Maria! “ Palavras da tia para a sobrinha, com a intensão de preservar o seu disciplinado universo ameaçado de ser corrompido por indisciplinares modismos. A regra adotada pela linda e conservadora Carmelitinha era não admitir a vulgaridade, nem a mutabilidade de um tempo, que incitava as pessoas a seguir a moda. E Maria queria apenas encurtar  suas saias acima do joelho e experimentar as blusas sem mangas. Considerando-se o início da modernidade pelas mudanças do vestuário e o futuro consumista, que avançava a passos largos.  As mulheres modernas com seu bom gosto, também com a melhoria da vida financeira, numa cidade tricentenária, que tentava a todo custo se  modernizar.

Maria teimava: Gosto não se discute.  Quando então a tia revidava. “Gosto se discute, sim.” A sociedade moderna sendo reestruturadas segundo o ditame da mudança, ou da moda, com sua lógica da sedução, da renovação permanente. Prestigiada a aparência e sua inconstância. A moda, em seus vários seguimentos, possibilitando a valorização do novo em detrimento do antigo, que chegaria ao auge na pós-modernidade. E seria, por conta da subjetividade do gosto, que o indivíduo se afirmaria socialmente, ou da falta de gosto que o diferençava dos demais. Questão de gosto e ponto. Uma revolução que ia subverter a mentalidade então vigente e seus valores tradicionais.

A tia de Maria, sem se dar conta disso tudo, e no futuro ia adoecer do mau de Alzheimer, em sua cidade natal, de onde nunca arredou pé. A antiga cidade também seria esquecida em grande parte viraria ruínas.  Hoje a sobrinha dá razão à tia, que deu à luz a meio time de futebol e não um time inteiro como o marido queria. Até que a moda é não ter filho. Digo isso porque passamos a viver o paradoxo da individualidade. Como a envelhecida tia de Maria, o mundo passou a viver sem memória. E mesmo com todo tecnologia  e ciência, possível de imaginar, na verdade, simples paliativos para suportar a decadência vigente no mundo.


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