domingo, 16 de fevereiro de 2025

                                                      


                                                            NÃO  MORRA!


                                           




                   Eu me lembro. Estava em S. Luís, quando me dei conta da pessoa que eu era, tantas vezes desmoronada, mas persistentemente reconstruída. Daí que pensei numa pessoa cuja vida seria idêntica a essas casas, antes belas e fagueiras, numa cidade idem, onde ela vivera quando jovem, e  a via agora em ruínas. É certo que o ser humano pode sozinho se reerguer, diferente do amontoado de tijolos e barro em que se transformaram as casas da tombada da capital maranhense. Pode o ser humano sem demora sair de uma situação difícil, ou ser longo o processo para refazer-se de algum fracasso. Mas não depende necessariamente da boa vontade do outro para voltar a ser como antes, diferente dessas residêencias, que dependem dos políticos interessados, ou interesseiros.

Sou eu mesma, como aquelas casas em ruína, abandonadas, antes de dar a volta por cima, o que fiz quantas vezes foi preciso. Já a cidade, que aos poucos se desfez, parece estar definitivamente relegada a um triste fim. À primeira vista parece que o tempo dela já passou, mesmo que ainda sejam fortes seus alicerces, com as paredes da frente das casas e sobrados de azulejos quase intactos. Ela mesma jamais imagina a morte de S. Luís onde viveu parte da sua história e a da própria cidade. E se existe ganho com a construção da nova cidade do outro lado da ponte, o quanto se ganharia com a preservação da antiga. Mesmo que nunca seja a mesma após a reforma,  vale a pena investir nos valiosos bens que se possui por herança, além das conquistas pessoais.

A Rua das Hortas desemboca na Praça Deodoro, e no lugar da antiga meia–morada da família, transformada em bangalô pela sanha reformista dos governos,  ergue-se um prédio comercial, assim como a casa ao lado. A quadra inteira sem os escombros em que se transformaram as casas desabadas nas outras quadras da rua, só uma ou outra salva das garras do  tempo. Atravesso a ponte e já estou na cidade nova, consolando-me com o belo por do sol que vejo da sacada do Hotel em frente ao mar. O mesmo mar onde jaz Gonçalves Dias, cujo navio naufragou na entrada de S. Luís, quando o poeta retornava de Europa com seu canto de saudade: ”Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá...Não permita Deus que eu morra sem que volte para lá...” Esse mesmo mar onde  também repousa o comandante das tropas holandesas, que em retirada da cidade após a derrota para os portugueses teria se jogado no mar, não sem antes proferir a famosa frase: “Só o mar é um túmulo digno para um almirante batavo.”  

Não morra!” Digo de coração para a minha amada S. Luís antes de retornar a Brasília. No meu próximo aniversário estarei de volta, como faço todo ano para comemorar o passado, o presente, e a torcer pelo futuro. Amem!

 

 

PRAÇA GONÇALVES DIAS







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