NÃO MORRA!
Sou
eu mesma, como aquelas casas em ruína, abandonadas, antes de dar a volta por
cima, o que fiz quantas vezes foi preciso. Já a cidade, que aos poucos se desfez,
parece estar definitivamente relegada a um triste fim. À primeira vista parece
que o tempo dela já passou, mesmo que ainda sejam fortes seus alicerces, com as
paredes da frente das casas e sobrados de azulejos quase intactos. Ela mesma
jamais imagina a morte de S. Luís onde viveu parte da sua história e a da
própria cidade. E se existe ganho com a construção da nova cidade do outro lado
da ponte, o quanto se ganharia com a preservação da antiga. Mesmo que nunca seja
a mesma após a reforma, vale a pena
investir nos valiosos bens que se possui por herança, além das
conquistas pessoais.
A Rua
das Hortas desemboca na Praça Deodoro, e no lugar da antiga meia–morada da família, transformada
em bangalô pela sanha reformista dos governos, ergue-se um prédio comercial, assim como a
casa ao lado. A quadra inteira sem os escombros em que se transformaram as casas desabadas nas outras quadras da rua, só uma ou outra salva das garras
do tempo. Atravesso a ponte e já estou na cidade nova, consolando-me com o belo por do sol que vejo da sacada do Hotel em frente ao mar. O mesmo mar onde
jaz Gonçalves Dias, cujo navio
naufragou na entrada de S. Luís, quando o poeta retornava de Europa com seu
canto de saudade: ”Minha terra tem
palmeiras onde canta o sabiá...Não permita Deus que eu morra sem que volte para
lá...” Esse mesmo mar onde também repousa
o comandante das tropas holandesas, que em retirada da cidade após a derrota
para os portugueses teria se jogado no mar, não sem antes proferir a famosa
frase: “Só o mar é um túmulo digno para
um almirante batavo.”
“Não morra!” Digo de coração para a minha amada S. Luís antes de retornar a Brasília. No meu próximo aniversário estarei de volta, como faço todo ano para comemorar o passado, o presente, e a torcer pelo
futuro. Amem!
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