terça-feira, 25 de março de 2025

 



                   


          O CONCERTO










 

 

               Jean de Vermeer faz parte da extraordinária pintura holandeza do século XVII, um pintor de Delft, que na sua cidade natal, pinta  as mulheres na prática dos exercícios individuais da leitura, da escrita, da música, e que também interagem socialmente, de acordo com a nova situação republicana e reformista da Nação. Pinturas que dizem respeito à universal condição feminina, dotadas que são as mulheres de sensibilidade no sentido da elevação da alma, ou da vida, em suma. No quadro O Concerto duas jovens, certamente da próspera burguesia citadina, recebem aula de música com um mestre, até mesmo um maestro, encarregado de ensiná-las. O instrutor está sentado em frente ao piano e de costas, com o rosto oculto, para quem de fora observa a lição, tendo à esquerda uma das moças ao piano, enquanto a outra, a sua direita, canta seguindo o que está escrito no papel que tem em suas mãos. 

            As mais nobres ações humanas, às melhores técnicas, os sábios conceitos, as artes, tudo que a mente humana cria para enfrentar percalços, amenizar dores, até mesmo exorcizar os demônios vindos da modernidade, que então se inicia, assim como a República, que acaba e ser implantada no país. A vida urbana também requer mudanças, que vão bneficiar, em especial,  as mulheres, o que Vermeer apresenta em seus quadros, e neste mostra duas jovens recebendo aula em uma sala de música. Na parede estão penduradas duas telas de paisagens, em frente aos personagens encenados, além da paisagem, pintada no tampo do piano, dando sentido dúbio ao concerto. Uma das telas tem a vegetação  escura e selvagem, com apenas um terço do céu em azul. A outra tela é um esboço de A Alcoviteira pintada por Dick van Baburen,  pertencente à sogra de Vermeer. A obscura natureza, o irracionsl, que leva inquietação à alma, enquanto a luz nas mesmas telas lembra o orfismo.

          A primeira obra lírica encenada em teatros europeus foi “O Orfeu”, de Claudio Monteverdi (1607), inspirada no mito de Orfeu, o primeiro homem a receber a revelação de certos mistérios divinos, e os teria transmitidos a alguns iniciados em forma de poemas musicais. Mesmo diante da  decadência dos costumes e declínio da moral, sempre haverá esperança de superação. O esforço de cada um em particular e a capacidade de interagirem. Pessoas que se irmanam através das mais nobres ações humanas, das melhores técnicas, dos sábios conceitos, das artes, em suma; almas que se unem para enfrentar percalços, amenizar dores, até mesmo exorcizar os demônios,  ou mesmo as instintivas e cruéis ações do homem. E por ser apoteótica, quase selvagem, a extraordinária música de Wagner seria utilizada no futuro como propaganda do nazismo. A tragédia que foi Hitler para a humanidade. E é bom lembrar a descrença que ronda o nosso século XXI, uma modernidade que começou lá atrás, quando se passou a confiar como nunca na racionalidade. Mas em especial, acreditou-se na também humana capacidade de superação dos males, colocada a crédito, principalmente, dos valores preconizados pelos Cristianismo.

 

 

 

 

 

 

 


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