VIENA, FRANÇA E BRASÍLIA
Iniciamos por Viena um passeio ao
Velho Mundo: meu marido, eu, nosso filho e esposa. Quatro viageiros tomados
pelo afã em ver de perto todos aqueles palácios, hoje museus; percorrer de ponta
a ponta os belos jardins vienenses, que se perpetuam no tempo; andar por ruas
tão bem arrumadas apesar da idade. E saber que desse cenário esplendoroso os Habsburgos
comandaram por longo tempo toda a Europa é de causar espanto, no mínimo. Guerras
não faltaram, duas grandes guerras, na história recente da humanidade, e não há
prova melhor da fé e resistência do povo austríaco que a bela Catedral de Viena,
salva dos bombardeios, quando tudo a sua volta desmoronou, a fé que sobrevive à
destruição do próprio homem, que ergue civilizações, mas também não mede
esforços para destruir o que cria de bom e de belo. Nem tudo, felizmente, e pudemos
admirar a estátua em homenagem a Mozart, nesse berço dos mais extraordinários músicos
de que se tem notícia que é a Áustria. Sem esquecer que ao pé do gênio da
música clássica um porta voz da música baiana, como o argentino se dizia ser, tocou
para nós seu tamborim, o que vinha fazendo pela Europa. Tais apresentações
proibidas nas ruas de Viena, queixou-se o artista ambulante. Por fim, quão
emocionante a visita que fizemos aos aposentos da bela rainha Isabel, conhecida
mundialmente como Sissi, que todos pensam ter ela apenas conhecido o lado bom
da vida, e saber, sim, da sua extrema vaidade, também do seu sofrimento, até
ser morta por um fanático anarquista, que queria acabar a punhaladas com a
nobreza existente no mundo, e não se intimidou diante de tanta encanto e
beleza.
Seguimos para Munique
de carro, desejo do nosso filho dirigir pelas estradas europeias. Uma parada em
Salzburg, imperdível de se ver, e constatar o que acontece no interior das cidades
europeias interessa tanto quanto o seu exterior, e que se saiba de antemão sobre
os espetáculos e eventos, entre os quais o famoso festival de Salzburg, em
setembro, ao qual Ângela Merckel sempre comparece ao lado do marido. E não haveríamos
de chegar na capital cultural da Alemanha sem antes nos perder na estrada, o GPS
que deixou de funcionar. Mas ao chegarmos eu pude dizer logo na entrada: “É a
cara da riqueza!” O tempo logo ficou nublado e algo estranho pairou no ar, talvez
a lembrança do passado nazista, que ainda faz sombra àqueles prédios do centro
antigo, com uma praça em homenagem aos mortos no holocausto. Notório, todavia,
o bem estar e progresso do povo alemão, a começar pelos táxis tão bem equipados,
que promovem segurança e conforta a passageiros e motoristas, e como eles são
honestos. Já os franceses!... Em viagem anterior, havia conhecido a encantadora
cidade alemã de Heidelberg, especialmente famosa pela secular universidade, onde
a filosofia reina soberana, e no século XX contou com a inteligência de Anna
Arendt e Heidegger. Pretendia revê-la, mas ficou para outra vez
Apenas dois dias na impecável cidade de
Barcelona, capital da comunidade autônoma da Catalunha, local dos Jogos
Olímpicos de 1992, e constatar as transformações que aconteceram na cidade para
o evento tornando-a referência de modernidade urbana. Ocorreu-me então o
pensamento que se eu fosse bem mais nova ia querer participar ali de algum
intercâmbio cultural. Mas dizem que sempre é tempo...De Barcelona a Madri menos
de três horas de viagem, nem sentimos o tempo passar no confortável trem-bala, transporte
que seria ideal para a travessia entre Rio e S. Paulo, promessa da presidente Dilma
Rousseff, que ela pode ou não concretizar, ameaçada que está de perder a reeleição
para Marina Silva, ou mesmo Aécio Neves,
numa possível reviravolta... Em Madri parecia nossa primeira vez, agora apreciando a cidade do sightseeing
tour, com guia eletrônico na língua de cada turista, facilidade e luxo que não
contamos anteriormente e faz as delícias dos que visitam a Europa, multidões
vindas do mundo tudo. Quarenta anos depois, rever a bela capital da Espanha foi
de uma felicidade indescritível, principalmente por estarmos, meu marido e eu,
vivos e com saúde. No museu do Prado lembranças ainda vivas, apenas algumas
mudanças que acontecem com o passar dos anos, lógico, mas lá estavam os mesmos
e eternos Velasquez, Murillo, e tantos outros expoentes da pintura mundial.
Inacreditável Toledo,
onde passamos apenas um dia, cidade que no passado foi considerada glória da
Espanha e capital da civilização, imortalizada por Cervantes, também o local
que El Greco escolheu para viver no final da vida e tema de muitas de suas
pinturas. Na época importante centro cultural, conhecido por sua tolerância
religiosa onde coexistiam na santa paz comunidades de judeus e mulçumanos. Localizada
no topo da montanha, Toledo é cercado de ruelas íngreme, onde artesãos se dedicam
ainda hoje a seu ofício, e compramos um Quixote esculpido em madeira para
enfeitar a estante do escritório, também uma pulseira com detalhes em ouro, por
pouco mais de cem euros. Tudo uma carestia para nosso real, e o turista tem que
evitar despesas supérfluas, o quanto possível, sem deixar de satisfazer certos
caprichos, a oportunidade pode ser única. Avistamos de longe a cidade nova que cresceu
do outro lado do rio Tejo.
Enfim Paris, e uma frase que escutei na infância nunca saiu da memória, o tanto que me
impressionou: “Paris é bela, meretriz devassa, que estrebucha e dança sobre a
latina raça. Alemanha burguesa honesta!” Comparação entre França e Alemanha feita
em plena Segunda Guerra, causa perplexidade a forma como foi feita, quando
sabemos hoje das atrocidades nazistas, antes ignoradas. A antiga fantasia
teutônica, a falsa glória, tão ambicionada, e que não mais existe, na moderna Alemanha
que adota a democráticas liberdade e justiça, e muito trabalho, que o anglo-saxão
não pensam mais em dominar ninguém, além de si mesmo. A latinidade é que sofre
problemas financeiros, fácil de resolver quando há paz. Assim é que Paris nos
encantou num belo fim de verão e começo de primavera, o sol a brilhar sobre
aquilo tudo, os prédios em impressionante unidade de estilo e beleza. E sentir
o esplendor do Rei Sol Luís XIV, que ainda brilha por lá, mesmo que os
franceses nesse século XXI sofram com sua economia, assim como os espanhóis, os
portugueses e quase toda a Europa do euro, pedindo reformas econômicas. Na
década de setenta houve mudanças pós-ditaduras de direita, oportunidade que
tiveram os socialistas de assumir o poder, e o tanto que decepcionaram. Com moderna
União Europeia foi adotado o liberalismo econômico, quando aconteceu o
espetacular progresso dos países pertencente ao bloco, atualmente em crise. Por
ironia do destino, a maior fonte de renda passou a ser o turismo, ao qual os
europeus concedem regalias, antes impossível, por exemplo, uma turista ser medicada
por um solícito atendente de plantão na farmácia, o meu caso, coisa proibitiva no
passado...
A grande novidade
para nós foi a bela pirâmide de cristal que serve de antessala para o Louvre, tendo
eu escolhido por acaso iniciar a visita ao museu pela ala em que estavam dois
quadros de Vermeer: “A Rendilheira” e “O Geógrafo”. Pintor das minhas
pesquisas, e seus quadros tão pequenos em tamanho, mas contendo extraordinária
arte. Os quadros disponíveis para serem fotografados pelos visitantes devido à
moderna proteção. A Mona Lisa de Leonardo Da Vince em uma sala imensa repleta
de curiosos, é um espetáculo à parte. Alta temporada, e gente de todos as
raças, de todos os cantos do planeta estavam de férias em Paris. Nos Champs
Èlysées as mulheres asiáticas em seus trajes de luxo, ou cobertas pela burca
passeiam e compram, compram, inclusive roupas íntimas, fascinadas pelo luxo
ocidental, o que dizem delas. A cultura é para todos, indiscriminadamente, e na
pequena igreja San Julian Le Pauvre, ao lado da rica Nôtre Dame, assistimos um
concerto de piano, mas no auge da performance do pianista, inesperadamente, um
casal atravessa sem cerimônia o recinto, passa em frente ao artista
interrompendo sua apresentação. É o caso de ter cuidado sobre o lugar onde se
pisa, ou melhor, informar-se antes de adentrar
um recinto!... Em Saint Michell os turistas matam a fome de cultura, e a
fome propriamente dita, nos muitos restaurantes existentes, ou compram
panquecas nos puxadinhos para degustarem andando de um lado para outro, sem
perder tempo e mais barato. Paris é tudo isso e muito, muito mais.
Apenas dezoito
dias na Europa, e estávamos de volta ao nosso Brasil. Chegar em casa é uma boa sensação,
melhor ainda ao sentir que nossa bagagem está bem maior do que ao partirmos, e
não devido a produtos de consumo. Trata-se de cultura. E já começamos a pensar
em novos roteiros. Estados Unidos, ou Inglaterra e Bélgica? Quem sabe os dois? É
nos dispormos a viajar, que o tempo urge.