O MEMORIOSO
Tem gente
que grava na memória qualquer coisa, ditas em abordagens rápidas, fatos que acontecem
de somenos importância, nada que mereça atenção e cuidado. Pessoas há que se gabam
de ter uma memória prodigiosa. Mas a ciência nos informa que a inteligência é
seletiva, e seu grau não pode ser medido pela memória. Ter boa memória é muito
bom, sim, mas esquecer também é importante. No caso da internet, deletar.
Atitude hoje imperiosa, como os veículos de comunicação, onde a superficialidade
toma conta de tudo. Coisas que devem ser avaliadas precisam sofrer uma
peneirada, em vez de serem retidas.
A mente atravancada perde a capacidade
de interpretação e análise. Numa clicada e a internet traz o mundo para dentro
de casa, tudo que há de bom e também de ruim. As redes de televisões vinte e
quatro horas no ar, com todo tipo de informação, ou desinformação. Umberto Eco acaba
de fazer uma entrevista para Veja, e coloca a internet no lugar do personagem memorioso
de Borges, o Funes, que lembra tudo, não esquece nada. O escritor de “O Nome da Rosa” faz uma crítica
feroz contra a internet, onde ele diz que campeia a imbecilidade. Um cabotino
de primeira esse milanês. Mesmo assim lhe dou razão.
Penso na diferença que há entre memorioso
que tudo lembra e o memorialista, que seleciona o que é importante guardar na
memória. O critério que se deve ter sobre o que lembrar. E que inferno seria se a gente não tivesse
capacidade de esquecer. E parece que tem gente nesse inferno. Sempre tem alguém
que conhecemos e age como um memorioso, assim como sempre há um memorialista,
graças a Deus. A boa memória para informar dos fatos relevantes que acontecem na
família, por exemplo, que deve ter sua árvore genealógica, o que não seria
esnobismo.
A boa memória ajuda a inteligência. Mas
quanta inutilidade guarda o memorioso. Ele que chega de repente com uma frase dita,
ou um fato que teria acontecido e o outro não consegue, ou não quer lembrar? A
língua afiada, de quem tem o prazer de surpreender com sua memória, mas só
lembra do que o outro já esqueceu, deletou. Além de memoriosos, são imaginosos,
concebem na memória o que lhes convém. O certo é aproveitar bem o potencial da sua
memória, caso contrário, é uma tortura, uma fraude.
Não privar a mente do que é importante,
as verdades, que a todos interessam. Um bom exercício espiritual é descartar as
bobagens que não servem para nada, e focar no bem a ser praticado. A boa memória
é educada, disciplinada, não se presta a certas coisas, como fazer pegadinha
com os outros. A memória pode ser parceira, também trapaceira, cuidado com ela!
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