CONTO
IDADES ÍMPARES E MÁGICAS
Ela ia completar 18 anos por aqueles
dias, a tarde chuvosa, na casa um silêncio assustador sem a mãe que saíra para buscar
uma encomenda na costureira. Maria foi conversar com a empregada, e depois de afagar
o gato, arrisco que só ele, entrou na sala. Esperou alguns minutos antes de abordar
a tia, que estava sentada em frente à janela absorta em sua leitura. Falou como se fosse mestra no assunto:
— Até os 7 anos é a infância, aos 13 anos começa o período da pré-adolescência, e já aos 17 estamos em plena juventude, três idades
impares e mágicas, que marcam profundamente minha vida, e acho que a vida de
quase todo mundo, e não tardo entrar nos 21, outro número ímpar, também mágico,
sendo dever que a mulher se case para constituir uma família. É ou não é, minha
tia, o que a senhora tem a dizer sobre isso?
— Fui pega de surpresa com tua colocação,
mas é certo, as idades que apontaste são realmente um marco na vida de cada
pessoa, difícil delimitar com segurança
a juventude, que pode se estender até depois dos 30 anos, e tem gente que não sai
da infância. Conheço quem envelheceu mantendo a cabeça jovem, o que pode ser bom, ou simplesmente
não levar a nada, a vida tem tempo e espaço para acontecer, temos que obedecer
a cronologia.
A sobrinha de dona Maura verificou ser
um livro policial que a tia lia, indagou sobre o texto e a autora:
— Não tenho atração pelo gênero policial, que acabo de ganhar de uma amiga, e enche-me de
curiosidade pela autora, a inglesa Agatha Christie, e em sua autobiografia soube
que ela começou a escrever incentivada pela mãe, durante a convalescênça de
uma doença. Como enfermeira na 2º Guerra passou a escrever nas horas vagas de seu
trabalho como enfermeira, trabalhando na fabricação de remédios, manipulava
produtos venenosos, se não fossem bem pesados e utilizados adequadamente. E foi
a causa da morte de alguns dos seus personagens, por envenenamento.
— Gosto também de biografias, certos escritores são tão intrigantes quanto seus livros. Mentes comuns, ou mais que isso, de repente começam a escrever e não param mais, às vezes se saindo bem na empreitada no sentido do sucesso, que o prazer é certo. Mas a coisa não acontece por acaso, há um tempo de hibernação. Quero ser escritora, mas já sonhei em ser pianista e bailarina. Sei que precisa ter talento, com o qual a pessoa nasce, e ainda ter vocação, que se adquire com o tempo. No meu caso, estou para descobrir no que vou me sair melhor. Talvez me realize simplesmente como mãe, o que a tia acha?
—
Acredito que podes ser o que quiseres, talento nessa família não falta, só
precisa haver determinação para realizar algo mais que viver o dia a dia, sem
maiores perspectivas de sucesso profissional e social. Como diz o poeta “tudo
vale a pena se a alma não é pequena.” Como mulher, se queres ter sucesso
profissional vai atrás, para não te sentires frustrada. Mas se é tua vocação, se tens a amorosidade para simplesmente cuidar
da casa, dos filhos, a família só tem a agradecer. Sem que esqueças que a sociedade precisa de
talentos em todas as áreas.
A casa começou a se encher de gente, tia e sobrinha foram ao encontro dos demais familiares, certas de que ganharam muito com a conversa que tiveram.
A chuva havia passado e o sol entrava pela janela.
A chuva havia passado e o sol entrava pela janela.
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