SOU FILHA ÚNICA
Tiveram o primeiro filho, outro veio logo a seguir, e só alguns anos depois, chegou o caçula da família Silva. Três homens, sem uma única filha, mesmo assim, por deliberação própria, encerrava aquela mãe seu tempo de dar luz. Poucos nascimentos para uma sociedade que exigia o maior número de filhos. O casal, em especial o pai, sentiu-se em dívida para com a sociedade, combinaram que iam criar duas filhas abandonadas pelos pais, sem condição financeira, ou imaturidade. Adolescentes engravidavam e davam os filhos para adoção.
Adotaram uma filha, depois
mais outra. Cinco filhos bastava, o dinheiro não era muito e quanto maior a família mais precisava de recursos. Os pais não estavam pensando em viajar, nem amealhar mais e mais
riqueza, o foco era nos filhos, a maior riqueza, o que se dizia na época.
Estavam certos? Pode ser que sim, ou talvez não. De saída entender que para ser
feliz depende única e exclusivamente da própria pessoa. Os filhos são criados
para o mundo, eles se vão um dia, podem até estar por perto, e os pais achar
que aquelas são suas crianças, ou seus aqueles jovens, o que não o são, eles têm a sua própria vida,
e é bom que seja assim.
Nada melhor que filhos
realizados e independentes, muito embora estejam ao lado da família para o
que der e vier. A filha mais velha casou e foi morar em outra cidade, depois o casal mudou-se para outro país. Uma certa
tarde, sentada no banco do parque em frente a sua casa Maria sentiu um estranhamento.
Pensou: Sou filha única, e pior, sem pais. Uma sensação de abandono, também de
liberdade. Naquela terra estrangeira viu a si mesma e tudo como se fosse pela
primeira vez, e era assim mesmo. Daí para frente foi de muita luta, mas de boas e definitivas conquistas, e o orgulho por tudo que enfrentou e construiu junto com seu companheiro
de toda a vida. Mas ela costuma dizer que não é parâmetro para ninguém se medir,
nem tampouco serve de exemplo para quem quer que seja.
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