CONTO
TEMPO, TEMPO, TEMPO!
É preciso falar de amor, da felicidade que proporciona, desses amores que fazem o coração transbordar de alegria, que enche a alma de satisfação. Há cobranças nesse sentindo, assunto que Edelvais estava tendo a ideia de abordar em seu próximo texto, foi então que pensou na sobrinha Clotilde, universitária de psicologia, que chegou logo a seguir, atraída pela força do pensamento da tia. Apreciavam trocar ideias uma com a outra. Nesse dia o diálogo foi o que segue:
— Tia Edelvais, como a senhora costuma fazer, estive pensando na sedutora Eva que se deixou levar pela conversa da serpente e levou Adão à desobediência, o
casal acabando expulso do Paraíso. Virgem Maria, a nova Eva, recebeu de José
compreensão para seu estado de gravidez. Situações que se equiparam, não é
mesmo tia? Dizem respeito ao exercício do amor e também da fé mística. E eis
que a modernidade faz surgir uma nova mulher, na realidade, anterior às crenças,
fera na tocaia para avançar na presa.
Era a deixa para uma troca de ideias, que a tia não se fez de rogada:
— Um segredo, o amor vem de Deus e Ele nos fala: “Estou aqui”. Tudo no
universo diz algo, e ainda mais, fala de amor. A vida é amor. Movimentos e
encantamentos da natureza para serem depurados com o amor pelo ser humano. Ora é
dia, ora é noite, e tem a chuva que cai para molhar o chão ressecado e refresca
a tarde quente. Tem as nuvens no céu azul anil e tem o sol em seu esplendor de
luz até que se ponha, dando lugar ao espetáculo das estrelas, e por aí vai.
— Sim, tia Edelvais, se
estamos aqui temos que aproveitar, mesmo sem entender as razões, e tudo que existe
tem uma razão de ser, não é diferente do amor que sentimos. Como disse o sábio
Pascal e virou lema, o coração tem razões
que a própria razão desconhece. O amor move o mundo, também o ódio, que é
seu oposto. A natureza parece indiferente, ou condescendente, ao ser racional envolvendo
esse pródigo planeta, de nome Terra, que usa e abusa da hospitalidade. Mas pode
acontecer uma radical reação aos abusos.
— Clotilde, é como se tivéssemos um rico armazém abarrotado de produtos
para serem por nós consumidos, a todo momento sendo o estoque reposto, para manter
o nível ideal, e nunca nos faltar nada. Mas que não falte amor nos corações
humanos, às vezes tão desumano. Nunca se esgote o amor, a fé. Seja eterno o
nosso tempo, tempo, tempo de amar. Até mesmo se estique o tempo, que sempre dá
tempo de ser feliz.
A tia Edelvais tinha acabado de falar, quando a sobrinha recebeu um
telefonema do marido avisando que ia sair mais cedo do trabalho e vinha
apanhá-la para pegarem um “cineminha”. Era um filme de amor como ela gostava,
só que ele não lembrava o nome. Clotilde resolveu aproveitar para dar um aviso
carinhoso àquele homem especial:
— Querido, não percamos tempo!
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