FICÇÃO
HOMENAGEM AO DIA DAS CRIANÇAS
MARIA NA ESCOLA
O verão chegou ao fim e com
ele lá se foram as queridas férias. Maria estava pronta para voltar ao seu
amado colégio, onde as coisas aconteciam para ela, de verdade.
Reencontrar as colegas era o que mais queria, não que houvesse maiores
aproximações umas com as outras. Evitavam-se as “colegagens”, o que significa não
estarem muito próximas, arquitetando algo fora dos padrões estabelecidos de “comportamento,
civilidade e ordem”, que não podia ser menos que 10 no boletim das notas. Mesmo assim o ambiente era propício a que se formassem grupos, e as amizades surgissem. As brincadeiras eram sem maldade, com uma boa convivência entre os colegas, e o essencial respeito para com os professores.
Maria
respirou longa e profundamente de felicidade apontando o lápis, enquanto olhava
os livros encadernados à sua frente sobre a carteira. A vida era muito boa, sem
dúvida. As meninas desabrochavam como flores sobre a influência saudável do
ambiente escolar. Contavam-se com bons professores e sua
capacidade para extrair o melhor das alunas. Os jovens de um modo
geral, meninos e meninas, considerados diamantes brutos a serem lapidados. No retorno às aulas Maria pôde notar alguma diferença entre as colegas: Júlia e Eunice não eram mais tão amigas como antes, a primeira passara as férias no Rio com as primas e voltara mudada, o cabelo cortada ventania e outras mudanças mais, parecia uma moça, e ganhou um séquito de aduladoras. Comentava-se que Berenice foi vista numa festa vestida como um bolo de noiva, e não é que ela estava noiva de verdade aos quinze anos? O ambiente escolar era o melhor possível, mas não deixava de haver intrigas, invejas, os males próprios da natureza humana.
Ao
chegar em casa Maria estava toda orgulhosa, apostando que naquele ano seria uma aluna merecedora dos melhores elogios, e ainda ser aplaudida, quando lesse em classe suas dissertações. Sentia-se vocacionada para escrever desde que leu nas férias as crônicas de Raquel de Queiroz na revista O Cruzeiro. Não ia deixar de participar das representações,
que aconteciam no meio e fim da ano, muito disputadas. Além dos trabalhos para as Missões, programados
conjuntamente com as matérias do currículo escolar. Ia cumprir a contento as tarefas que se comprometesse a realizar.
— Não
faltarão medalhas no meu peito — falou Maria, que de pronto recebeu reprimenda
da sua tia:
— É
grande vaidade falares dessa maneira, Maria. Teus anseios são dignos de
aprovação, mas apenas intentos, que ainda precisas realizar, repreendeu a tia para logo a seguir confirmar sua concordância, que naquele ano a sobrinha podia participar de um quadro nas representações do colégio. Maria ficou eufórica:
— Oh, minha tia, não quero ser uma provação para a senhora, tenho tanto medo de cometer erros que a desagradem! Lamento não ser uma menina exemplar, como a senhora deve ter sido, sempre sensata e generosa, como é até hoje. Digo, do fundo da minha alma, que quero ser cada vez melhor, sinto-me estimulada a progredir. Chego a ter medo de
nunca ser boa o suficiente. Mas não é esplêndido ser uma pessoa notável? Por me faltarem dons
necessários para ser popular, em compensação, posso contribuir para que o mundo seja melhor. Ser missionária, por exemplo, nada mais admirável, mas posso não ter talento suficiente par exercer tão importante atividade social. Além do mais os jovens têm que corresponder aos anseios dos pais que cuidam de lhes dar o necessário apoio, não é
mesmo?
Maria parecia um matraca, segundo a tia, que aproveitou para esclarecer a sobrinha, em alguns pontos:
—
Quero que saibas que vais ter colegas de diferentes índoles e posições sociais, que estão
no colégio, como tu estás, para serem instruídas, e também educadas, além da
educação que recebem em casa. Há as pessoas naturalmente boas, e outras que só
pensam em atrair simpatia e admiração, fora as que se diferenciam pelo poder político e econômico dos pais. Agradam de modo superficial, nada que cale fundo na alma. As virtudes
da bondade, do amor, da confiança, devem ser cultivadas, mesmo fora de moda nesse
nosso mundo atual, que perdeu a noção do certo e errado e tende a deturpar as almas inocentes das crianças com teorias absurdas, inclusive nas escolas. Quero que
sintas a vida de forma mais positiva, leve. Uma boa educação é favorável ao
crescimento pessoal, pela vivência ao longo da jornada, na família e, em especial, na escolar.
Maria
começava a entender os conflitos que existiam entre a vontade e o que se estabelece
socialmente como dever. Há mudanças que são bem vindas, e tem as que atentam
contra o que foi estabelecido culturalmente. Verdade que uma certa
liberdade no agir é tão importante quanto uma educação correta. Mas que ninguém se sentisse livre para discriminar as pessoas por seu nascimento, por sua fé. E se entrasse em jogo sua honra Maria não
hesitaria em enfrentar o oponente, tarefa dura, as pessoas ciumentas,
malvadas, costumam ser sub-reptícias, agem nas sombras.
- Nunca gasta teu precioso tempo em invejar o dinheiro ou uma possível superioridade intelectual, ou social, de quem quer que seja, conserva uma vida espiritualmente saudável, é o que vai te bastar.
Falou a tia, encerrando assim o primeiro dia de aula da sua sobrinha e afilhada Maria.
- Nunca gasta teu precioso tempo em invejar o dinheiro ou uma possível superioridade intelectual, ou social, de quem quer que seja, conserva uma vida espiritualmente saudável, é o que vai te bastar.
Falou a tia, encerrando assim o primeiro dia de aula da sua sobrinha e afilhada Maria.
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